Um bom conselho aos jovens aspirantes a analistas políticos é
que jamais tentem descobrir alguma lógica oculta, por trás das ações
de partidos e líderes de esquerda: não há lógica. O que existe é
a dialética, que os permite tirar proveito de toda e qualquer
situação proveniente da aprovação – ou não aprovação – de
suas propostas e teses. Cabe acrescentar que não se trata da
dialética socrática e sim marxista, uma delinquência do pensamento
grego.
No Brasil dos anos 60 e 70 vivemos a era do “sexo, drogas e rock
and roll”, onde expoentes esquerdistas defendiam o amor livre,
liberação das drogas e a derrubada dos “tabus” da moralidade
cristã, por eles condenada como retrógrada e raiz de complexos,
traumas e distúrbios psicológicos – academicamente amparados
pelas teses de um ideólogo marxista que acabou ganhando notoriedade
em outro ramo, o Dr. Siegmund Freud.
As consequências de tais propostas todos conhecemos: uma legião
de filhos sem pai, de homens em idade produtiva inutilizados para o
trabalho em consequência do uso de drogas, o surgimento do crime
organizado – financiado pelos milhões do narcotráfico – e o
naufrágio de valores e princípios tradicionais em qualquer povo
ocidental: família, Deus, propriedade, pátria.
Desnecessário dizer que a esquerda lucrou, e muito, com suas
propostas “avant garde”. Todos queriam essa “liberação
geral”, o brasileiro – como disse Millôr Fernandes –
tornou-se sueco com a mulher do próximo e mineiro com a dele
próprio. E isso alavancou a popularidade vermelha, sobretudo no
extrato mais jovem da população que, ao amadurecer (anos 80 e 90),
terminou por entregar-lhes o Poder e plantar FHC, Lula e Dilma na
Presidência da República.
Ora, qualquer pessoa dotada de um mínimo de senso questionaria a
mudança radical de bandeiras políticas empregadas pela esquerda
neste período: vivíamos então a era da “ética” na política,
da “geração saúde” – teoricamente livre de drogas mas nada
além de narcisistas contumazes – e a substituição dos conceitos
morais por uma palavra – já citada acima – que tornou-se muito
popular: a ética, além do “politicamente correto”. Vale lembrar que é muito mais aceitável socialmente a mudança de um conceito ético ou politicamente correto, que um padrão moral.
Assim, todos se
lembram dos inúmeros militantes que se elegeram defendendo as “mães
solteiras”, os dependentes químicos e até – pasmem – o
combate à criminalidade descontrolada nos grandes centros urbanos. O
PT tornou-se o partido da “ética na política” e os anacrônicos
valores morais foram substituídos pelo “politicamente correto”
que, em sua ferocidade gentil excluía, relegava ao ostracismo e
até – baseado em leis que eles próprios criaram – condenava à
prisão todos os que não adotassem suas regras de linguagem (a
“novilíngua da esquerda) ou de comportamento.
Em suma, lucraram defendendo a “puteirização” da sociedade
e, depois, empunhando a bandeira da ética – diria Lulu Santos,
“gente fina, elegante e sincera” – para combater os males que
eles mesmos criaram.
Tal dialética delinquente concedeu à esquerda o dom de lucrar
sempre, seja qual for o resultado de suas propostas: se o sexo livre
é bom mas não permitido, lucram defendendo-o. Se, depois, uma horda de mães
solteiras arrastam-se com seus filhos, lucram com “programas de
apoio” e leis que as favoreçam. E se seus filhos tornam-se
fronteiriços à marginalidade, lucram com a implantação de aulas
de capoeira, bater tambor em lata, dança funk e futebol como forma
de “afastá-los da criminalidade” – sempre sob o beneplácito
dos chefes do tráfico nas favelas.
Neste exato momento, vivemos a vergonha de ter um presidente de esquerda, a mesma esquerda que usou os judeus como minorias, vítimas da opressão nazista, e que agora os aponta como - pasmem - nazistas genocidas, promotores do "holocausto" contra terroristas do Hamas. E a esquerda aplaude.
Como conseguem isso, perguntará o leitor, impressionado com tal
mágica?
Basta que este mesmo leitor, tão atento em observar tais
contradições inconciliáveis, note que os defensores do amor livre
empregaram a mesma linguagem, os mesmos termos, expressões,
vocabulários e entonações já definitivamente consagrados e
vinculados à lembrança inconsciente daquela velha esquerda
“boazinha” e defensora dos pobres e oprimidos. A linguagem é
tudo, seja ela escrita, falada ou sugerida em cenas de TV.
Para provar o que digo – e que o bom Deus me perdoe – segue
abaixo um texto que, antes de perceber o absurdo que propõe,
remeterá o leitor a algo “bíblico”:
“E eis que vos tenho dado o pensamento, para que decidais o que
fazer e o que escolher; também vos dei a carne, para que dela tire
teu sustento, teu caminhar e tuas delícias. Ora, por que vos daria
um corpo se, dele, não fosse lícito empregá-lo no pão de cada dia
ou nos momentos de desfrute, junto daquele que bem lhe aprouver?”
Qualquer um que leia o texto acima –
antes de julgá-lo – o identificará com a Bíblia. Embora seja uma
escancarada pregação de podridões (prostituição, masturbação,
sexo com qualquer um), esta correlação já estará feita. E esta é
a técnica amplamente utilizada pelos esquerdistas até hoje, seja em
um linguajar mais acadêmico ou mesmo em algo mais acessível, tal
como colunas de opinião em jornais ou – pior – nas matérias dos
mesmos: adestramento pavloviano.
E os cérebros que acolhem amorosamente
tais barbaridades já estão, de antemão, preparados e prontos para
isso. Em outros artigos já escrevi sobre a incapacidade de enxergar
o mundo real, causada pela plena implantação do epicurismo, da fuga
para um mundo próprio e imaginário, levada à efeito pela grande
mídia e pela cultura de massa (vide Olavo de Carvalho “O Jardim
das Aflições”). Alienados, ansiosos pela palavra de um líder que
não os deixe contaminar pelo mundo real, tais pessoas imediatamente
identificam o “linguajar amigo” e o adotam automaticamente,
pavlovianamente treinados tal como citei, desde a infância, à obediência ao
“apito” do bom treinador.
O quão diabólico tudo isso nos parece
é a exata medida do único objetivo da esquerda: o poder, custe o
que custar, seja por qual meio for, imune à vergonha, remorsos ou
quaisquer sentimentos humanos. Todo e qualquer esquerdista não passa de um indisfarçável hipócrita, que sacrificaria a própria mãe em prol de suas taras, complexos, ambições e idiossincrasias disfarçadas de "ideologia".
Na verdade, tal fato é co-morbidade
inerente e, por isso, o conservadorismo
jamais desenvolveu a sordidez estratégica marxista, já que reflete
apenas o resultado – não o ideal – de milênios da evolução
humana em sociedade.
Aos jovens analistas políticos,
termino repetindo o conselho de jamais tentar encaixar as ações
esquerdistas dentro do pensamento humano tradicional: não especulem o que pretendem com tal ou qual proposição –
independente do resultado, eles ganham.
Lembrem-se: a língua da serpente é
bífida, bipartida, dois lados. O problema não é somente o que propõem,
mas o simples fato de proporem algo.
Walter Biancardine