terça-feira, 31 de dezembro de 2024

31 DE JANEIRO DE 2024: O SOFRIMENTO ACABOU?


Parece que 2024, ao menos aqui na região, quis se despedir com sol - sol não, um maçarico bico 8 na vertical, torrando tudo e todos que ousem se expor.

Se ontem relatei, com raiva, o festival de gente atafulhando-se nas estradas, chafurdando no barro, bebendo cerveja até azedar e ouvindo pancadões, hoje meu desgosto atingiu o paroxismo: sim, o verão faz o brasileiro entrar no cio e o sol propicia a busca de semelhantes para acasalar.

Mas o desejo procriatório de tais espécies me irrita? Não exatamente, o que me tira do sério são seus rituais e danças de acasalamento.

"Senta, senta, senta, senta, senta" repetidos, como inspirado refrão, 948 vezes ao longo da música - minto, dos guinchos gravados que clamam por fêmeas - acompanhados sempre de um baixo sintético, cuja potência nos sons graves sempre desmonta peças e partes da lataria dos carros nos quais são instalados, e tocados em um volume que julgo ser possível ouví-los de Piracicaba - SP, isso sim é o que me irrita.

Mas está sol, é virada de ano e não só jovens nóias dedicam-se à busca do acasalamento: circunspectos adultos - em seus eternos uniformes de bermudas cargo, camisa sem mangas e sandálias Havaianas - também se dedicam, discretamente, a sacudirem suas enormes barrigas e insinuarem que "estão na pista pra negócio". Por óbvio que tais "amadurecidos" anseiam por uma "novinha", que os faça abandonar seu casamento de 20 anos, comprar um carro novo (velho), óculos escuros, correntes prateadas e desfilar nas melhores ruas de chão das redondezas exibindo a ambos - a novinha e os velhinhos (carro e motorista).

É tiro e queda, pois em questão de minutos - principalmente se um nóia der sobregiro em sua potente CG125 e fizer o escape dar tiros - legiões de periguetes se aproximarão, na intenção de escolherem quem de pior puderem encontrar. Sim, sempre o pior, ou não terão como engravidar, fazer os pais construírem um puxadinho pra ela, o nóia meter o pé no mundo e ela poder viver sozinha e sair quando quiser, dando pra quem quiser. Ah, claro: as pensões alimentícias se acumulam e ajudam muito no orçamento. Aliás, são o único orçamento.

Tais rituais de acasalamento, sempre aumentados no verão e carnaval, são reproduzidos desde a grande mutação genética do brasileiro, ocorrida em meados da virada dos anos 70 para os 80, do século passado, quando o cromossomo VNC (Vergonha Na Cara) evoluiu para as variantes TNA (Tô Nem Aí) e QSF (Que Se F*), dando origem a toda essa nova espécie.

É certo que a mutação não se deu, ainda, por completo pois muitos pais e mães de família ainda votam em Bolsonaro, aplaudem o mito, frequentam até mesmo igrejas e anseiam por um Lula na cadeia.

Mas sempre terão uma filha, galinha e grávida, a exigir o tal puxadinho e um filho nóia, que trabalha no nobre ofício de "vapor", para "aqueles minino" alí de baixo.

Assim, o Brasil cumpre sua sina de deixar entrar e sair os anos, sem que nada mude ou melhore na qualidade da população que o habita. O país pode até mudar, mas o povo, jamais.

Não perca tempo desejando entregar um mundo melhor para seus filhos.

Crie vergonha na cara e entregue filhos melhores ao mundo.



Walter Biancardine



segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

CRISE? DÓLAR A R$6,50? DITADURA? E DAÍ? EU QUERO É BEBER, ACASALAR E REBOLAR!


Hoje, 30 de dezembro de 2024, cometi a imprudência de ir a um mercado comprar algumas pequenas coisas que me faltavam, para que eu possa ilhar-me em casa e dela só sair lá pelo dia 2 ou 3 de janeiro.

Moro agora em Unamar, 2º distrito de Cabo Frio e a poucos passos da rodovia que liga Macaé e Rio das Ostras ao município de São Pedro da Aldeia, servindo como artéria para quem segue em direção a Cabo Frio, Armação dos Búzios e Arraial do Cabo.

Resumindo a mixórdia: estrada engarrafada em ambos os sentidos, tráfego alucinante de desesperados, gargalhando ao som ensurdecedor de pancadões e famílias de 83 membros atulhados em bólidos como Monzas, Escorts, Fiat Uno e outros, com as malas e bagageiros abarrotados de isopores, sacos de gelo e incontáveis engradados de cerveja.

A rua que margeia a estrada não tem calçamento. Para fugir do engarrafamento, viajantes adentram a mesma e, juntos com os moradores locais, fazem verdadeiro rally pelos enormes buracos - buracos não, crateras - inundados de lama, caminho este que mal permite o trânsito de pessoas a pé, acreditem.

E pus-me a imaginar: por quê diabos meus vizinhos locais não se unem e intimam os vereadores, sob pena de não mais pagarem IPTU, que calcem a rua lateral? Mas imediatamente veio-me à lembrança o meu próprio contrato de aluguel: "não paga IPTU". E entendi que preferem trafegar no pantanal a pagar qualquer coisa.

Sim, pois "a situação está horrível" e "ninguém tem dinheiro pra nada", gemem ao alegar. Mas impossível é aceitar tais argumentos quando olho a rodovia e a vejo completamente paralisada, entupida de automóveis de turistas, que vieram fazer seu passeio de fim de ano e tirar muitas fotos para o Instagram e Facebook, só pra matar os amigos de inveja e mostrarem como são "ricos e felizes".

É um tiro n'água dizer "fazuéli!" e o governo, sempre ladrão e ditatorial, sabe muito bem que ainda pode nos espremer mais, muito mais.

Enquanto as estradas se entupirem nos feriados, finais de ano e carnavais, os sanguessugas federais terão a garantia de que ainda há muita gordura a se extrair desse povo.

Enquanto os bares estiverem lotados de beberrões, com mesas repletas de cascos de cerveja Glacial e rindo desesperadamente, ainda haverá muito sangue a se chupar.

Enquanto pais de família acharem vantagem não pagar IPTU - ainda que sua mulher e filhos andem na lama - para comprarem cerveja, fazerem churrasco, embebedarem-se e fingirem que acasalam, o Brasil será sempre a mesma imensa e eterna favela, pontilhada de minúsculas ilhas de civilização.

Enquanto o brasileiro não evoluir à condição de homo sapiens e constituir uma civilização, nosso destino será - literalmente - a lama.

Não reclame do 2025 que virá. Eles sabem que ainda há muito o que tirar de nós.


Walter Biancardine



domingo, 29 de dezembro de 2024

A ROTINA DO BRILHO -


Todo aquele que trabalha ou pratica atividades sujeitas ao julgamento do público já se deu conta - e cuidadosamente "esqueceu" de comentar - que é impossível ser "brilhante" todos os dias.

Artistas, escritores, atletas ou mesmo advogados (submetidos à julgamentos muito mais fatais) sabem perfeitamente quando apresentam um desempenho fantástico, que arranque aplausos de admiração, e quando arrastam-se em meio à mediocridade de ideias, cabeça vazia e árida de inspiração. Sim, naquele dia específico, o cidadão "não estava bem" e ponto, assim é a vida.

O problema é a avaliação e cobrança daqueles que nos assistem ou mesmo lêem: é uma cobrança, ao fim das contas, até justa pois vendemo-nos como um "produto para consumo", e o comprador não aceita pagar mais por menos.

O tempo de labuta e a experiência, entretanto, acabam por nos fornecer algumas saídas - gambiarras, é a verdade - das quais podemos nos valer, em tais e secos momentos.

No meu caso, como escritor, jornalista e aprendiz estagiário "trainee" na filosofia, também desenvolvi meus próprios macetes: em tais dias, busco textos antigos e os refaço ou mesmo misturo dois ou mais artigos pretéritos; recorto trechos dos mesmos e os compilo em forma de "reflexões" e rezo para que ninguém note aquilo que eu mesmo considero quase uma fraude - nada pior que um elevado padrão de qualidade, auto-imposto.

Mas é quando adentro na seara filosófica que a coisa se torna pior pois, para mim, o filosofar é quase oriundo de uma "inspiração"; como se fosse eu um poeta e vagasse em busca das musas, que me elevariam às alturas necessárias para a composição de minhas - no caso - teses.

Aprendi, com meu professor Olavo de Carvalho, a filosofar para minha própria salvação e sobrevivência. Mas, a bem da verdade, não são todos os dias que estou disposto a salvar-me. Assim, posso assumir a obrigação de escrever artigos e crônicas diárias e, neles, me sairei melhor ou pior segundo as vicissitudes que já mencionei.

Mas, para este pobre e porco aprendiz de filósofo, não há como filosofar 365 dias por ano. Nem mesmo pela salvação de meu espírito e psique - e talvez, por isso, eu seja o que sou.

Esta confissão profissional é uma dívida que tento pagar aos meus escassos leitores que, certamente, já se deram conta da montanha-russa contida na qualidade de meus escritos.

Com tal obrigação moral cumprida, sinto-me mais à vontade para seguir em frente, pedindo a Deus - e às musas também - que iluminem as trevas que em mim habitam, para continuar produzindo artigos e teses - vá lá - que sejam úteis e acrescentem alguma coisa aos caridosos que ainda gastam seu tempo comigo.

Um feliz e inspirado 2025 para todos nós!



Walter Biancardine




sábado, 28 de dezembro de 2024

COMO FOI SEU 2024? COMO SERÁ SEU 2025?


Livre arbítrio é tudo aquilo que planejamos, prometemos ou idealizamos, principalmente nestas vésperas de Révéillon: novo emprego, dietas, novos amores e por aí vai.

Nos sentimos poderosos, donos de nossos próprios narizes, firmes e determinados no novo ano que inicia - mas, por via das dúvidas, pulamos sete ondas, usamos branco ou amarelo e pedimos a Deus que tudo se realize. E isto configura nosso livre arbítrio e o novo 2025.

Determinismo - o velho e cruel destino - encarna-se, nestes dias, no terrível 2024 que passamos. Sonhos e casamentos desfeitos, empregos perdidos, saldos bancários hemorrágicos e toda uma série de desgraças que, conformados, suspiramos: "era o destino, mesmo".

Do triunfante livre arbítrio ao desconsolado determinismo, onde ficamos? O quê escolhemos?

Pedir a Deus um bom novo ano? Mas não temos livre arbítrio?

Esconjurar um 2024 maldito, cuja força do destino sobrepujou nossas mais fervorosas orações?

E nossas vitórias no ano que agora finda? Não temos mérito? Foi apenas o destino?

O que escolher? Deus, livre arbítrio, determinismo ou os três juntos?

Pois esta é a maior "pegadinha" filosófica já lançada, e que incontáveis pensadores insistem em cair.

Como a mesma não tem solução lógica, tranque-se no banheiro e reflita quando puder.



Walter Biancardine



sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

DESAFIOS QUE SE IMPÕEM -


O prefeito eleito Dr. Serginho tem, diante de si, verdadeira sucata que é a cidade de Cabo Frio, corroída por anos de administração esquerdista e populista, mais focada em obtenção de proveitos próprios e na manutenção de eleitores, encabrestados por sacos de cimento, telhas, bujões de gás e - para os mais ativos - portarias municipais.

À parte a imensa tarefa que se descortina diante do futuro mandatário, penso sempre haver lugar para a lembrança de alguns pontos básicos, os quais são os verdadeiros pilares da criação de empregos, arrecadação farta e mudança da já citada "mentalidade de cabresto", por parte de alguns cidadãos.

Áreas como o turismo podem e devem ser completamente reformuladas: por mais cruel que possa parecer, o antigo ditado "trabalhar para patrão pobre é pedir esmolas para dois" é verdadeiro e, neste setor, se aplica à perfeição.

De nada valem hordas de ônibus de excursão - populares "farofeiros", os quais tem os mesmos direitos de passear que todos os demais - se não promovemos, criamos ou incentivamos eventos que tragam visitantes de alto poder aquisitivo, que não terão comedimento em gastar seu dinheiro por toda a cidade - assim fez Armação dos Búzios e se deu muito bem.

Campeonatos de pesca submarina, regatas (temos uma das melhores raias do mundo), criação de campos de pouso para ultraleves, feiras literárias aos moldes da FLIP de Paraty ou até festivais de jazz podem trazer gastadores de dinheiro que gerarão empregos e polpuda arrecadação, para o município.

Paralelo a isso, é preciso mudar urgentemente o triste resultado mental de décadas de coronelismo esquerdista por sobre nossas finas e brancas areias.

A criação de institutos municipais de complemento e formação estudantil para adolescentes do ensino médio é vital: nestes locais, através de PPP (Parceria Público-Privada) serão ministradas noções - à profundidade possível - de filosofia, conhecimento básico dos fundamentos teológicos cristãos além de aulas de economia doméstica e metodologias de preparo para inserção do jovem no mercado de trabalho.

Regras básicas de etiqueta (a sempre necessária "boa educação"), compreensão do comportamento do indivíduo na sociedade e suas consequências bem como até mesmo noções de como trajar-se em locais públicos - sim, infelizmente chegamos a isso - podem ser administradas.

Coroando tudo isso, uma parte essencial: preparo acadêmico para o ENEM, que atenderá milhares de estudantes não apenas de Cabo Frio mas, também, de locais vizinhos.

Por óbvio o Prefeito Serginho tem, diante de si, tarefa hercúlea a ser realizada mas penso que, de maneira alguma, tais pilares básicos na criação de cidadãos melhores, trabalhadores e responsáveis pode ser relegada.

Fica aqui a sugestão e meus melhores votos ao nosso novo e conservador Prefeito, Dr. Serginho.


Walter Biancardine



quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

OVO MANDA, FARDA BAIXA AS CALÇAS -


O cúmulo do ridículo aconteceu: Voldemort deu 48 horas para que o Exército - sim, a corporação - explique por quê os militares, presos pela fraude do suposto golpe do 8 de janeiro, estão recebendo visitas diárias em suas celas.

Esta é a paga de quem se prostitui, recebendo a recompensa em seu próprio corpo tal qual a Bíblia nos ensina.

Um Alto Comando desfibrado, carreirista e frouxo, afeminado pelo positivismo desde os tempos do Império - por isso o derrubou - e prostituído pelas cintas-liga e espartilhos do comunismo globalista, nada mais merece além de tal humilhação.

O pagamento do michê - fazer vistas grossas, ouvidos moucos e praticar o carreirismo o mais cínico possível - é, agora, sofrer que um psicopata siderado pelo poder atropele até mesmo a Justiça Militar - única instituição com poder de julgar e condenar militares - e imponha seus caprichos, para que a farda rosa-oliva os cumpra passiva e gostosamente, entre gemidos e imprecações de lascívia.

Lamento pela corporação, pelos praças e oficiais: tal destino humilhante não mereciam. Mas gargalho descontroladamente, em pleno extase de deboche, diante do ridículo, pútrido e feminil Alto Comando, que não perde uma única oportunidade de sofrer um vexame.

A ditadura de toga - agora ladeada pelo 9 dedos, que invadiu prerrogativas do Legislativo de todos os Estados brasileiros e restringiu as armas dos policiais - brevemente extinguirá as Forças Armadas, substituídas que serão pela tão sonhada "Guarda Nacional Bolivariana", a guarda pessoal da Corte, sem nenhum treinamento mas totalmente dementizados pela doutrinação esquerdista. E eles matarão dissidentes com muito maior desenvoltura que qualquer policial diante de um traficante.

O calendário é óbvio, e antes do final do ano de 2025 Bolsonaro será preso, já que em hipótese alguma poderá atuar como cabo eleitoral de quem seja.

Houve tempos em que torci por uma intervenção militar. Hoje, conhecendo o teor de tal Alto Comando pó de arroz, dou graças à Deus que não tenha havido.

E que os excelentíssimos generais, com seus peitinhos cravejados de medalhas e condecorações, cumpram seu dever ficando de quatro para o psicopata de toga.

Não vai doer nada, os senhores já estão acostumados.


Walter Biancardine



quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Quem Papai Noel trará?


UM FELIZ NATAL A TODOS!!!

(Santa bring my baby back to me - Elvis Presley)

EVENTOS DE NATAL E DECISÕES DE ANO NOVO -


Os finais de ano são épocas péssimas para mim. Há sempre um arrependimento, dívidas morais insolvíveis, mal-entendidos que assim permanecerão e até amizades e amores perdidos, os quais nem mesmo novenas trarão de volta – ou nos farão desejar que voltem.

Para piorar, a alegria automática de vizinhos – acionada a cada feriado ou data comemorativa – me entope olhos e ouvidos com sua barulhenta e vulgar gritaria; gargalhadas insofríveis e vocabulário de estivadores sempre complementarão o quadro o qual, pudesse eu, sequer veria ou escutaria.

Este ano, entretanto, foi um pouco diferente. À parte o fato de ter eu dado alguns tímidos passos adiante – realmente isso, em nada, mudaria meu péssimo estado de espírito – o que acendeu alguma luz em minhas trevas natalinas foi a aparição de graciosa senhorita, a qual não devo declinar o nome e que, visitando-me, convidou este escriba a assistir a Missa Solene de Natal, na Matriz Auxiliar de Cabo Frio.

É indiscutível o tanto que tenho a agradecer a Deus, que olhou para mim através da intercessão de Sta. Therezinha de Lisieux. Confesso, entretanto, que a ideia me atraiu principalmente pela companhia que eu teria e, também, pelo fato de poder ver gente – sim, pasmem: gente.

Na Matriz divisei figuras conhecidas, como o Prefeito eleito Dr. Serginho e mesmo seu secretário de governo, Alfredo Gonçalves. Vi centenas e centenas de cabeças, enchendo as dependências da espaçosa Nave – um tanto assemelhada a um teatro, confesso – e, finalmente, me senti como parte integrante da sociedade. Sim, pude saber que havia voltado ao convívio humano normal; as pessoas me enxergavam, cumprimentavam, falavam comigo.

Conhecedora profunda da liturgia católica, minha graciosa companhia orientava o que este impenitente deveria fazer: persignar-se, ajoelhar, ficar de pé e assim por diante. E tentei balbuciar toscos agradecimentos por todo o feito em mim, suplicando que me mantenha digno de tal e tamanho perdão concedido.

Cheguei de volta a minha casa já tarde da noite mas, ainda assim, tive tempo e lucidez para tecer algumas decisões as quais, se tudo der certo, tentarei cumprir neste 2025: a primeira coisa será voltar a fazer vídeos no YouTube. Não se espantem; mesmo com 28 deles removidos, submetido a um eterno “shadow ban” e com o canal definitivamente desmonetizado, a verdade é que não posso simplesmente abdicar de uma plataforma que permite a poucos e eventuais desconhecidos acessarem o que tenho a dizer. Que sejam poucos, mas sempre serão mais alguns.

A outra decisão tomada será a firme determinação – uma promessa, que seja – de voltar a escrever os livros que deixei pela metade, acabrunhado que estava em meio a tamanha surra que levava da vida. Estou de pé, tenho um teto sobre minha cabeça, posso comer comidas normais – não mais os eternos sanduíches, único meio sem fogões ou geladeiras disponíveis – e não ando mais a pé.

E por último, mas não menos importante, devo prestar séria atenção a quem me cerca pois não estou mais sozinho. Embora a solidão faça parte de meu DNA e dela precise em muitos momentos, a rotina do deserto se foi, e é hora de apreciar quem veio ao meu encontro neste Natal.

Afinal, segundo a graciosa senhorita, ela “apenas quis me ver”.

E quem me acompanha lembrou-se do que isto quer dizer.


Walter Biancardine



terça-feira, 24 de dezembro de 2024

FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO 1957!

 



Abundam no YouTube canais como este acima, principalmente em épocas natalinas.

Em ousados sonhos, mesclam estilos e lembranças de um passado seguro, acolhedor, com elementos futuríscos exatamente ao estilo dos antigos filmes de ficção científica dos anos 50/60.

Como não notar os enormes automóveis rabos-de-peixe? Os eletrodomésticos e utensílios de cozinha que nós, os mais velhos, assistiamos nossas mães servirem-se? A maneira de se vestir nestes vídeos, tanto de homens quanto mulheres, nos chuta violentamente ao glamour de um passado em que sonhávamos ser logo adultos e poder, finalmente, adentrar aquele fantástico mundo dos adultos.

Tais filmes nos esfregam na cara o charme, a sofisticação e a sensação de segurança e acolhimento do passado - e isso não significa riqueza, mas hábitos e pessoas decentes.

Fácil é concluir que vivemos em uma sociedade esquizofrênica, onde a grande maioria de nós anseia retornar ao "way-of-life" de anos passados, mas a grande mídia e a cultura de massa nos violentam - diuturna e incansavelmente - à promiscuidade holocáustica, suja, escura, dos escombros de uma civilização que eles, e só eles, rejeitam.

Temo a reação do leitor ao afirmar que o mundo precisa, realmente, de uma guerra - uma grande, devastadora e apocalíptica guerra que nos faça reerguer, das sobras de um mundo podre e destruído por tais tarados ideológicos, como um novo e lindo lugar para se viver, com valores e princípios regendo a vida que realmente queremos.

O ambiente nos contamina, a grande mídia e a cultura de massa dão o toque final.

Havemos, pois, que impor o que, de fato, queremos.

Tenham um bom Natal ouvindo discos em suas vitrolas, tirando os presentes das crianças da mala de seus rabos-de-peixe e presenteando suas esposas com gracioso colar de pérolas, enquanto ela ajeita sua gravata e oferece-lhe um vinho.

Tal como um dia foi.

Feliz Natal e próspero 1957!


Walter Biancardine






segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

TIC-TAC


O papel é meu melhor amigo: com ele desabafo, conto meus medos, fracassos, vitórias e até alguns planos. Nele também deposito minhas neuras, tornando-o diplomado na nobre terapêutica dos malucos sem fundos suficientes para um analista de carne e osso.

E é hora da terapia, já que a angústia pré-natalina se apossou do meu ser, fazendo com que eu deseje adiantar o relógio - bem como o calendário - para meados de janeiro, ao menos.

Não, não quero saber de sinos badalando, árvores de Natal - até porque não tenho nenhuma - renas ou mesmo presentes, que só um amigo muito oculto (tão oculto que sequer conseguiria vê-lo por perto) traria para mim.

Do mesmo modo o Ano-Novo, atualmente, me repugna: mais um ano que se vai, menos um ano que tenho de vida - comemorar o quê?

Os finais de ano se transformaram, para mim, em dolorosa expectativa de uma aniquiladora explosão de lembranças, coisas mal-resolvidas, obrigação em ser gentil e sinto-me, na verdade, como se estivesse acorrentado a frente de uma bomba-relógio, que tudo destruirá na sequência de três detonações fatais: Natal, Ano Novo e aniversário - e eis a tríade do terror.

Desejo a todos um Feliz Natal e próspero Ano Novo, mas não os quero. Na realidade, sequer desejo o verão - a sempre suarenta e superpovoada estação de alucinados, cumprindo suas obrigações de gritarem e mostrarem ao mundo como são felizes e ricos.

O que quero é a paz do inverno, e seu frio que acorda minha alma.

Cobertores, café quente e livros são coisas que só podem ser verdadeiramente desfrutadas à sós, e sob temperaturas glaciais.

Suar é para adolescentes, e a introspecção trazida pela solidão exige o frio.

Anseio pelas águas de março, fechando o verão.


Walter Biancardine



domingo, 22 de dezembro de 2024

KEEP ON BURNING...



"Keep boiling", they say...
"Keep on burning", they say...
I'm trying...
I swear I'm trying...
But the past turn off my fire.

Walter Biancardine



SE FECHAR OS OLHOS, O NATAL PASSA MAIS RÁPIDO?



O glorioso dia do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo tem, para minhas empedernidas lembranças de infância, somente o gosto de casa cheia, mesa farta e presentes - previamente suplicados durante o ano inteiro.

Nenhuma criança imagina-se já velho, nenhum adolescente especula como será sua ceia aos sessenta anos e todo jovem crê-se imune à solidão - eu, inclusive.

Pois eis que é chegada a hora; olho em volta e nada ou ninguém vejo. Impossibilitado momentaneamente de ver meu filho - novamente uma calamidade imperdoável - sigo derivando e relembrando os antigos natais de infância. E é aí que o bicho pega.

Refugio-me vivendo uma ceia virtual, de hologramas da memória, pois as árvores que me cercavam e davam sua sombra se foram, todas.

Natal é família; pais, filhos e netos reunidos, e nada sobrou da minha.

Natal é hora de rever amigos, brindar com eles e não tenho mais nenhum.

Natal é hora do suave vinho com a amada, e sou só.

Talvez fechando os olhos passe mais rápido, e eu só acorde em 2025.

Feliz Natal para quem tem o privilégio e o tormento de ter uma família - bebam um Jack Daniel's por mim!


Walter Biancardine





sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

SR. PREFEITO, EU NÃO ENTENDI -


Lendo o exemplar desta semana no jornal Folha dos Lagos, me deparei com a notícia que o Prefeito eleito de Cabo Frio, Dr. Serginho, nomeou Carlos Ernesto Lopes – popular Carlão – para o cargo de futuro Secretário de Cultura do município.

Confesso que tal escolha me surpreendeu, não só pelo personagem envolvido – que, entre outras atitudes condenáveis, fundou a ridícula “Secretaria Paralela de Cultura de Cabo Frio por conta de suas contrariedades com o titular da pasta, José Luís Facury, e danou a incluir pessoas das redes sociais na página da mesma (eu, inclusive, que trabalhava na Secretaria oficial e não o autorizei a isso), bem como desferia pesadas e críticas contra a gestão da Cultura, resvalando até mesmo no então Prefeito, Alair Corrêa – o qual só não foi diretamente atingido por conta do medo.

Sem esmiuçar detalhes de suas desavenças com Facury, restrinjo meu constrangimento somente ao fato de ver uma pessoa com atitudes explicitamente subversivas – tentar depor um Secretário e fundar um órgão administrativo municipal em paralelo – ser nomeado, agora e como quase “prêmio”, para o cargo que tanto almejava.

Minto: meu constrangimento vai mais além.

Imagino a surpresa de Alair Corrêa, apoiador da candidatura do hoje quase Prefeito (questão de dias), ao saber que tal tipo de pessoa – que caluniou seus secretários, tentou mandar nas escolhas de Alair como Prefeito e ainda adotou as atitudes condenáveis descritas acima – será o novo Secretário de Cultura.

Do mesmo modo, sinto um inevitável temor que o querido Dr. Serginho – votei nele e suas convicções ideológicas são bastante semelhantes às minhas – esteja enveredando por um caminho sobejamente conhecido de nós, mais velhos, e que foi adotado pelos governos do regime militar: entregar a Cultura para a esquerda, como “válvula de escape” (busquem as teorias do Gen. Golbery do Couto e Silva, que desgraçaram nosso país).

Quero crer que nos anos das misérias realizadas pelo sr. Carlão (2013 - 2016) nosso Prefeito estivesse pouco ou nada envolvido com as miudezas da política cabofriense e, por isso, talvez não conheça este fato – mas basta perguntar ao ex-Prefeito Alair Corrêa e ele contará.

Igualmente, jovem e cheio de forças, nosso Prefeito provavelmente não era nascido nos anos mais pesados do regime militar e, certamente, desconhece o verdadeiro suicídio patriótico que generais medrosos e positivistas infligiram ao Brasil, ao entregar o ensino, as artes e a cultura nas mãos de comunistas impiedosos – e que resultaram no Brasil lacrador de hoje.

Tenho certeza das boas intenções de Serginho e não o deixarei de apoiar por isso. Apenas desejo expressar meu pasmo por tal e desavisada decisão, que em nada contribuirá para nossa cultura além de promover alguns batuques, oficinas de capoeira e doutrinação esquerdista.

Mais que isso: como prova de meu desejo sincero de novos tempos para Cabo Frio, deixo aqui a sugestão que crie uma PPP – Parceria Público-Privada – instituindo uma espécie de “Conservatório Municipal de Cultura”, destinado aos alunos da rede pública e privada de ensino médio e que fomente o ensino filosófico, teológico, cidadania, economia doméstica e as muito necessárias aulas de apoio aos aspirantes ao ENEM.

Tal conservatório pode e deve ter o apoio da Igreja Católica e evangélica, bem como daqueles empresários que tenham o desprendimento de deixar mais que um mundo melhor para seus filhos: é para aqueles que desejem deixar filhos melhores para o mundo.

Reconsidere suas escolhas, estimado Prefeito. Votei e votarei novamente no senhor, enquanto se mantiver fiel aos ideais conservadores – jamais esquecerei o senhor e Bolsonaro juntos – e tudo o que escrevi acima é o pouco que posso fazer em nome de dias melhores.

É impossível agradar a todos, tal como é impossível servir a dois senhores.

E é motivo de orgulho para mim, hoje, saber que Cabo Frio tem um Prefeito conservador, com um caminho já apontado para destinos muito mais altos.


Walter Biancardine



terça-feira, 17 de dezembro de 2024

UM FELIZ NATAL PARA TODOS - E PARA MIM TAMBÉM!


Foram dois anos, dois longos e áridos anos aprisionado em meio a bois, vacas, cavalos, pastos, árvores - tudo, menos gente.

Dois anos recluso em minha solidão, atravessando o mais escaldante deserto de privações e desamparo que um ser humano poderia suportar, mas eu sabia que a dor passaria quando eu aprendesse - e o mal acabaria, quando merecesse.

Pouco sei se aprendi ou sequer mereço, mas fui resgatado em meu oblívio; as cicatrizes jamais irão embora mas, ao menos, as lições igualmente permanecerão, também. 

Que Deus me faça humilde e sabedor que nada sei, para que possa continuar a estudar, aprender, escrever e usar um dos únicos dons que Ele me deu.

Que Deus me mantenha ciente de que aquele que não vive para servir, não serve para viver.

E que Deus jamais se arrependa de haver me resgatado do opróbrio - há que se trabalhar, e muito.

Passarei, enfim, um Natal sob meu próprio teto e isso é algo que, há apenas um ano atrás, sequer atreveria imaginar: era somente eu, um pobre cachorro, bois, vacas e pastos. E se hoje sou eu ainda sozinho, como duvidar quem o Senhor poderá me trazer, no futuro?

Um Feliz Natal para todos, como jamais soube antes desejar!


Walter Biancardine 



segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

COVARDIA CULPOSA -


Embora não haja dolo, apenas culpa, ainda assim causa-me pasmo assistir renomados jornalistas da Oeste Sem Filtro defenderem fortemente a concessão de anistia aos presos políticos, encarcerados injustamente pelo fraudulento 8 de janeiro.

NÃO SE ANISTIA INOCENTES! E vou além: ressalvadas circunstâncias personalíssimas (saúde e etc.), aconselharia aos presos que, uma vez concedida a mesma – o que muito duvido – adotassem a firme recusa de tal benefício, pois seria a mais baixa humilhação, além de confissão implícita de uma culpa que não carregam.

Lembrou o jornalista Augusto Nunes a vergonhosa conjuntura política que provocou a promulgação do AI-5, no dia 13 de dezembro de 1968, e ressaltou ser a data idêntica ao nascimento do carrasco da pátria, Alexandre Imorais - e eis quando a data torna-se destino.

Ressaltou Nunes que a assinatura do ato, mercê de um Costa e Silva pré-derrame e apático, teria sido forçada pela assim chamada "linha dura" das Forças Armadas, e esbravejava pelo fato do STF - mais precisamente Imorais – ter cassado todas as liberdades do país e imposto uma ditadura apenas com a força de uma caneta, sem tropas, armas ou tanques, para melhor e mais convincente argumentação.

O que o nobre Augusto se esqueceu é que as Forças Armadas, hoje, são outras; seu Alto Comando está gostosamente sentado ao colo do ditador togado e nada deseja com assuntos tais como legalidade, honra e vergonha na cara. 

Não bastasse a frouxidão feminil da caserna, esqueceu-se o jornalista de outro e trágico fato: o artigo 142 – tantas vezes suplicado pelos brasileiros a Bolsonaro – pode ser invocado, constitucionalmente, pelos líderes de qualquer um dos Três Poderes da República. E o chefe do Judiciário chama-se Lewandowski, o homem que impichou Dilma Roussef mas rasgou seu julgamento – e a Constituição – ao meio, mantendo-a elegível, eleitoralmente.

O quê a Oeste Sem Filtro quer, afinal?

Que se conceda anistia a inocentes que, deste modo, estarão admitindo o cometimento de crimes jamais praticados?

Que Alexandre Imorais mande Lewandowski requerer o artigo 142, o qual será mansamente aprovado no Congresso, para assim reinar melhor?

Ou que as Forças Armadas se amotinem, prendam todos seus oficiais-Generais e se rebelem, invadam Brasília e ponham um fim neste sinistro cabaré da luz vermelha, que se transformou nossa República?

Das três opções acima, a única com alguma possibilidade é a do artigo 142, nas mãos do Judiciário.

E não se dá ideias ao inimigo. 

Melhor que Augusto Nunes mude de assunto ou cale a boca.


Walter Biancardine 



sábado, 14 de dezembro de 2024

GENERAL PRESO E ALTO COMANDO DIZ “AMÉM” -


Direto ao ponto: a farda nada mais manda neste país, prestando-se ao papel de meros jagunços serviçais da aristocracia togada – uns lixos verde-oliva que, uma vez cumprida suas obrigações, devem voltar para suas senzalas.

Longe de ser uma sucessão de desacatos, o parágrafo inicial apenas descreve a realidade humilhante das Forças Armadas brasileiras, jogadas neste esgoto por obra e graça da passividade carreirista de comandantes como Tomás Paiva e outros biltres de igual teor e forma, que ostentam o galardão de “Alto Comando”. Bela porcaria.

A prisão do General Braga Netto – fato inédito na história deste país – é a coroação da passividade afeminada e entreguista deste Alto Comando; a mesma foi determinada por razões pífias (como todas, em uma ditadura) tais como “obstrução de justiça” e por tentar “saber detalhes da delação do Tenente Coronel Mauro Cid”. 

O detalhe é que, segundo os noticiários, este mesmo Cid é que teria informado aos carrascos de toga que Braga Netto andava bisbilhotando sua delação – ou é mais um covarde fardado ou é mera intriga vil (não seria a primeira) da imprensa brasileira. Detalhes de delações apenas a Rede Globo possui a permissão de vazar.

Vamos repetir: Braga Netto é um General de quatro estrelas, o mais alto posto na carreira militar, e a Inquisição Togada pouco se lixou para isso, mandando prendê-lo e confiscando seus celulares, devassando suas conversas e entregando tal material para que a assessoria de imprensa da ditadura – a Rede Globo – faça o que sempre fez: invente calúnias, crie factóides e humilhe, a não mais poder, a grande e recente vítima do revanchismo esquerdista.

Houve tempos, recentes, em que tal abuso geraria grandes preocupações e abalos em toda a sociedade mas, diante de um Alto Comando tão afeminado, positivista a perder de vista e carreirista, resta ao brasileiro a infeliz certeza que a farda – rosa oliva – nada fará.

Está explicada nossa suprema humilhação de acendermos velas e dedicarmos orações, todos os dias, para que um estrangeiro – Donald Trump – nos tire de uma situação a qual não fomos homens suficientes para sairmos dela, por conta própria.

O Brasil encontrou um subsolo, no fundo de seu poço moral.

As vergonhas não param.


Walter Biancardine




segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

VIAGEM DECISIVA -


Em meu último artigo relatei recentíssima viagem que fiz ao Rio de Janeiro, usando-a como pano de fundo para diversas reflexões que me vieram à cabeça, estrada a fora – manias de ex-caminhoneiro, ex-motociclista e ex-andarilho, perdido na vida.

Sob o feitiço que as estradas sempre exerceram sobre mim, murmurei quanto à solidão, resmunguei privações e apertos, grunhi a respeito do isolamento de tudo e todos e, principalmente, rosnei contra um incerto, duvidoso e improvável futuro amoroso – romances, beijos e descobertas fascinantes são para jovens, e pouco se me dá o filme de Clint Eastwood (As Pontes de Madison) tentar resgatar, ao nível do viável, um romance entre criaturas com mais rugas que anos restantes de vida.

Contei, no artigo anterior, que a estrada acabou sem que meus pensamentos corrosivos cessassem, mas não disse tudo: a verdade é que, antes de rumar para casa, algum mórbido impulso levou-me ao bar do grande amigo, quase irmão e já falecido Rei do Rock, Luís Antônio, dono do The House of Rock and Roll, em Armação dos Búzios.

Adentrei o local – palco de tantas lembranças, alegrias inesquecíveis e companhias idem – e lá encontrei circunspecto rapaz, funcionário do bar, que consertava algumas cadeiras para a noite promissora. Narrei-lhe ínfima parte de minha história com a casa e com o Rei do Rock, o mesmo se espantou e prontamente se dispôs a tirar algumas fotografias minhas, o que muito agradeci.

Pensei nos anos passados, pensei em meu “brother” Luís Antônio, lembrei mesmo de minha vida errática sobre enorme motocicleta estradeira – escudo de motoclube nas costas – a perambular pelas estradas e desfrutar da viciante sensação de estar vivo sobre a terra. Mas lembrei também de pessoas que se foram, dos erros que cometi e tais “insights” foram suficientes para encerrar minha breve carreira como modelo do The House: chega de fotos, é hora de ir para casa.

O tempo não pára e, muito menos, anda para trás.

Tal viagem ao Rio – decisiva, como diz o título deste – teve o condão de ser um ponto final e definitivo em longo rastro de sangue que espalhei ao longo do caminho trilhado, pouco me importando com a repulsiva hemorragia de mágoas, solidões e tristezas que deixava pingar pelo chão. Ainda que anêmico, percebi-me curado: não mais passados, não mais assuntos irresolvíveis – se assim me parecem, assim serão.

E me dei conta que estas são as fundações para que se possa construir uma nova vida – solo sepulto, compactado e firme – com outros amores e novas alegrias.

Não sei quando nem como será, mas Deus não usa relógio: na hora certa, um amor baterá à minha porta e ela será explícita: “apenas quis te ver”.

Bendita seja esta viagem, que me abriu os olhos e ressuscitou meu coração.

Minha vida sempre foi, de fato, uma longa, longa estrada.


Walter Biancardine




domingo, 8 de dezembro de 2024

NADA É COMPLETO -


Os dias recentes tem sido corridos com a mudança de casa e toda uma rotina de vida para retomar, sempre sendo obrigado a lembrar de hábitos que perdi ou pequenos luxos há muito sepultados por longos anos de vida de náufrago – uma ilha de solidão, desesperança e miséria, cercado de pastos vazios por todos os lados.

Voltava eu de viagem ao Rio de Janeiro, onde fui cumprir obrigações profissionais e, ao atravessar a ponte Rio-Niterói, foi inevitável a lembrança que aquele Rio não mais era meu: excetuando meu filho Victor, nada mais tenho por lá. Os antigos amigos sumiram no mundo, muitos mesmo morreram e a velha turma de Copacabana se evanesceu, com os anos.

Igualmente desapareceu meu viço, o brilho e entusiasmo da juventude onde nada me parecia impossível e havia toda uma vida pela frente, para pôr em prática os mais loucos projetos ou sonhos, inclusive amorosos.

Não, esse tempo se foi. Ainda que tenha conseguido sobrepujar os desertos em torno, o agreste sempre habita a alma dos velhos, e doeu-me a falta de um amor.

Lembrei do conselho daquele que foi minha salvação, única mão estendida no momento mais miserável de minha existência, Alair Corrêa: “Esqueça tudo o que passou, rapaz. Esqueça as mágoas, esqueça as privações, a fome, o desamparo e agradeça tudo o que Deus tem te presenteado. Agora, vá e viva sua nova vida”, disse ele, na sabedoria de seus oitenta e vários anos de vida.

Dirigindo meu carro, vento fresco no rosto e a caminho de minha própria casa, orei em silêncio, agradecendo. E, confesso, algumas lágrimas indisfarçáveis vieram-me aos olhos em plena praça de pedágio da ponte, com todos olhando para mim.

Mas é da natureza vil do ser humano jamais dar-se por satisfeito ou contente com as bênçãos recebidas e em nada sou diferente do resto desta corja, a quem costumamos chamar de “humanidade”: eu também não estou satisfeito, sempre falta algo e a mim, agora, falta-me alguém.

Pela estrada vim pensando: onde um velho de minha idade poderá arranjar companhia? Uma mulher que dele goste e com ele se preocupe, que tenha não só atrativos físicos mas – em meu caso específico – possua e use igualmente cérebro e cultura para que, nestes anos cada vez mais platônicos da existência, possa eu sublimar a carne pelos debates filosóficos, teológicos ou mesmo quaisquer faits divers, desde que abordados com inteligência?

Não bastasse a inexistência de “locais de paquera” para velhos, ainda existe o agravante de que realmente ninguém conheço – jamais tive “amigas” (verdadeira abominação hipócrita, pois homens não tem amizade com mulheres) e, pior, trabalho em casa e sozinho, sequer existindo a possibilidade de surgir uma colega de trabalho interessante e em minha faixa etária.

Para ser justo e não afirmar a total ausência de “colegas de trabalho” (vá lá), existem as palestras que tenho comparecido no Rio de Janeiro, a convite da graciosa e pós-doutoranda Miss Jay. Creio, entretanto, que tal senhorita não apenas deva ter outros interesses que não sejam a escavação de fósseis paleolíticos como eu, bem como, certamente, desfrutará de verdadeira renca de solicitantes ao redor – notoriamente mais jovens que o brontossauro autor destas linhas.

A estrada acabou, cheguei em casa, guardei o carro na garagem e abri a porta – uma casa vazia.

Se lembranças de um passado decrépito ainda me perseguem, tal tormento é só um e chama-se “solidão”. Não tenho vergonha em reclamar nem de elocubrar meios de sair da mesma, afinal dizem que “sempre há um sapato velho para o pé cansado”.

Apenas espero que meu sapato velho – que Deus há de provir, perdoado o abuso – venha com um formoso intelecto e rechonchudo estofo cultural.

Cansei de arriscar dialéticas com bois e vacas.

Eles sempre vencem.


Walter Biancardine



quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

TURNING BACK THE OLD AND GOOD TIMES -


São terríveis as coisas que fazemos pela última vez e disso não nos damos conta.

Sim, houve uma última vez que fui ao The House of Rock and Roll ver e ouvir meu amigo, quase irmão e rei do rock nas horas vagas, Luís Antônio.

Um último "oh, yeah!" no momento em que cheguei e ele estava no palco. Um último Creedence Clearwater cantado para mim, pois ele sabia que eu gostava. Uma última vez em que ligou o motor de sua Harley Davidson no meio da música. Uma última vez em que sentou à minha mesa no intervalo, para saber das novas.

E houve um último abraço na hora de ir embora - certamente mal percebi, de bêbado que estava - e um último "vai pela sombra, bonitão", sabendo que eu estava em minha moto estradeira.

Jurei nunca mais voltar após sua partida deste mundo, mas voltei.

Jurei nunca mais respirar aquele ar, rescendendo a tantas memórias; dias e gentes que se foram, amores que se suicidaram por incúria, noites que amanheceram em terríveis dias de tempestades.

Mas de que servem as juras, se não podemos quebrá-las?

Luís Antônio, meu brôu, fui à sua casa hoje, bonitão.

E quase achei que você estava lá.







Walter Biancardine