Não cabe aqui uma dissertação completa sobre a brilhante tese do filósofo Olavo de Carvalho, a qual denominou “As doze camadas da personalidade”; àqueles desejosos de aprofundarem-se no tema, basta consultar os escritos de meu saudoso professor.
Todavia, creio ser conveniente explicar – em um misto de justificativa pessoal, autocrítica e puxão de orelhas alheias – alguns pontos relativos a minha conduta nos últimos artigos, as quais podem ser facilmente classificadas como exemplos perfeitos de estagnação na quarta camada da personalidade. E em quê consiste tal camada?
Senão vejamos, segundo as palavras do próprio Olavo de Carvalho: “Nesta camada, o indivíduo se coloca como alguém muito especial, que tem direito a praticamente tudo. Se a demanda de afeto continua pela vida afora isto significa que a camada não foi resolvida. (…) Ele acredita que necessita de muito amor, de muito afeto, e não age em seu próprio benefício a não ser com o apoio alheio. (…) São pessoas que nunca se colocam em teste, pois fogem aos desafios. São os tímidos, os dependentes, que não querem vencer, que só querem ser amados. Na verdade, esses indivíduos não precisam de amor, como imaginam, e sim de dificuldades para que possam começar a ter respeito por si mesmos.”
Como exposto, o ponto base é a necessidade de ser aceito, amado, e, subsequentemente, a reação passional de tal indivíduo a ações ou acontecimentos que o contrariem, enquanto estacionado em tal camada. E onde entro eu, nisso?
Para você que é um leitor penitente, que insiste em ler de maneira assídua meus artigos, cabe o aviso que não são as eventuais lamentações sobre a perda do amor de minha vida que me situam na quarta camada. A dor de corno é ampla, geral e irrestrita, isenta de quaisquer diagnoses psicoterapêuticas e, portanto, todo cidadão normal tem o sacrossanto direito de chorar o cotovelo inflamado.
Entretanto, a decisão de – em nome da sinceridade – escrever somente sobre temas que me despertem reações emocionais mais intensas, esta sim, pode ser situada em tal estágio. São as reações passionais, embora no caso específico que cito – o meu – as mesmas sejam usadas com o propósito de provocar empatia dos leitores. Igualmente, valho-me de tal expediente nos momentos em que dedico-me a uivar, solitário, pela falta de minha amada e sobre isso já descrevi, creio que de maneira bastante compreensível, os motivos em artigo anterior.
Irrita-me, todavia, o comportamento de boa parte dos que me seguem – seja no YouTube, Instagram, Facebook ou mesmo nesta página – os quais podem ser perfeitamente encaixados na camada quatro e que, inclusive, foi objeto de diagnóstico do professor Olavo, ao afirmar que “a grande maioria do povo brasileiro está na quarta camada”: “o indivíduo se coloca como alguém muito especial, que tem direito a praticamente tudo.(…). Ele acredita que necessita de muito amor, de muito afeto, e não age em seu próprio benefício a não ser com o apoio alheio,(…) fogem aos desafios. São os tímidos, os dependentes, que não querem vencer, que só querem ser amados.”
Creio serem desnecessárias maiores explicações, com exceção de observar o fato de que as reações passionais em caso de contrariedade, características dos habitantes desta camada, estão ausentes no povo como um todo. As razões são óbvias e abrangem desde uma grande mídia instilando o medo até as ações efetivas da ditadura vigente, processando e prendendo descontentes – isto sim, um dado real. E, em um povo psicologicamente destruído após a falsemia de COVID, é perfeitamente compreensível.
Não estacionei na quarta camada, a mesma é por mim usada como um artifício de persuasão. E, se não disponho de diagnóstico clínico a oferecer (aguardo, ainda, que o SUS libere atendimento psicológico para minha suposta depressão), os fatos concretos, duros e brutais de meu cotidiano se encarregam de colocar-me, no mínimo, na quinta camada. E são tais fatos, perdoem-me, que provocam minha indignação com boa parte dos brasileiros: perdi a mulher que amava, perdi minha casa, minhas raízes, as pessoas que eu amava sumiram, já enviei mais de duas centenas de currículos (além de haver comparecido a mais de 20 entrevistas) e não há emprego; vivo uma solidão de náufrago – sem uma alma viva a quilômetros ao redor – não tenho condução para ir á civilização mais próxima, não vejo meu filho e vivo de bolsa-família (o que cobre apenas dez dias do mês).
Mas é apenas minha vida pessoal. Continuo acreditando no Brasil, tenho a fé absoluta que sairemos desta ditadura – mas, para isso, precisamos agir, ir às ruas, protestar!
Entretanto, olho em volta e tudo o que vejo é medo, reclamações chorosas, ânsias que apareça algum herói e resolva os problemas do Brasil, sem que tenhamos de fazer nada além de acompanhar nas redes sociais – e, quando a vitória estiver garantida, postar fotos enrolados na bandeira nacional, dizendo-se “um patriota lutador”.
Não creio que a grande maioria das pessoas tenha a vida que tenho, sofra o que sofro, em igual angústia, solidão e privação. Certamente possuem – ainda que com todas as lutas e dificuldades cotidianas – vidas normais.
O que falta para que, finalmente, ajam?
Walter Biancardine
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