É um crepúsculo que não me abandona, trazendo sempre noites de culpa e remorso.
Busco permanecer em pé convencendo-me que, se não há mais razões para perambular pelos vazios que me cercam, devo eu, entretanto, o pagamento por tantos males que causei. Sim, preciso me redimir, penso, emprestando um nome mais bonito às tais pendências e tentando crer que, antes de ir, manda a vergonha que eu as pague.
Olho o passado e dou conta de ter vivido tal como um drogado, alguém cujo egoísmo o entorpeceu durante décadas e que, só agora, beirando a sobriedade da velhice e internado em solidão, percebe o desprezível que foi e o farrapo moral que tornou-se.
Sim, são muitas dívidas, há muito o que pagar – ou do que me redimir, como digo em franca auto piedade.
Mas sei somar 2 + 2, compreendi minhas limitações, fraquezas e incapacidades. E, em um raciocínio puramente contábil, concluo que a quitação de tais débitos é impossível – é hora de declarar falência e retirar-me do ramo.
Não tenho, entretanto, coragem – o paradoxo de faltar bravura para ser covarde.
Permanecerei tal qual pano de chão, esquecido em algum canto, até que um desespero impulsivo seja mais forte que a resiliência que traveste o medo.
Sigo cumprindo minha longa sentença de entardeceres.
Não preciso de um 6 de setembro para lembrar de comprar o pão.
trouxeram a aridez
em minha vida;
Não foram escolhidas,
ao gosto do freguês,
Nem o tempo, a miséria,
muito menos a solidão sofrida.
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