Que o amigo leitor não se assuste com o título; não se trata de haver eu aderido ao globalismo, às abstrusas ideias marxistas da Escola de Frankfurt ou adotado um arremedo da dialética de Hegel, pregando a destruição de tudo – inclusive do homem, visando o “Ubermensch” (1) – a fim de que, do nada resultante, apareça algo de bom e novo.
A questão se reveste de um caráter mais profundo e espiritual, e peço a atenção dos que me prestigiam com a leitura para algumas citações e correlações – analogias, poderia dizer – que farei abaixo.
Vamos começar pelo básico: Hegel acreditava não existirem verdades absolutas, prontas e objetivas. Sempre haveria um embate entre ideias, e uma nova – e melhor – surgiria como resultado. Consequentemente, em sua tese, o mundo está em constante mutação na sua forma de pensar, com ideias sendo combatidas por opostos e parindo novas ideias, as sínteses. Todavia, elas não permanecerão assim pois aparecerão outras ideias, contrariando-as, e assim por diante.
O marxismo cultural da Escola de Frankfurt abraçou este pensamento e não é de se espantar que, como resultante das teses de um de seus frutos – Antônio Gramsci – seja percebida a clara intenção, subjetiva, de total destruição dos valores, conceitos e padrões que balizam e sustentam a civilização judaico-cristã ocidental, as "novas ideias" combatendo as "antigas".
Ora, por outro lado é fácil perceber que, nas Sagradas Escrituras, o deserto – leia-se “o nada” – quase atinge as dimensões e profundidades de verdadeiro personagem, sendo recorrente não apenas fugas como auto-exílios e retiradas voluntárias para tal lugar, a fim de meditar. Descontado o fato de que são nas escaldantes areias do mesmo o local onde, costumeiramente, as maiores revelações são feitas aos escolhidos, seu simbolismo primário é o “esvaziamento” completo de si mesmo, buscado pelos que para lá acorrem.
Tal “esvaziamento” pode ser entendido como uma “destruição completa de tudo”, tudo o que houver dentro daquele homem, para que algo novo e bom surja. E é justamente neste ponto que se dão as diferenças que colocam tais “destruições” em planos antagônicos: uma de caráter meramente ideológico, estratégico e de domínio sobre o próximo - nietszcheano - enquanto a outra objetiva algo muito mais elevado: uma faxina interna, espiritual; o esvaziar-se de tudo de ruim que a vida nos cumulou para que os valores, princípios e as verdades eternas (e dane-se Hegel) aflorem e nos conduzam. Temos então nada menos que a Palavra de Deus nos lembrando da necessidade periódica de tal faxina em nós mesmos – e, quando insisto no fato que o cristianismo é a mais introspectiva das religiões, muita gente enxerga-me como louco ou, simplesmente, debocha.
Ora, pude sofrer uma experiência pessoal da necessidade e eficácia de tal “esvaziamento” após dez meses de solidão absoluta, onde senti dentro de mim a citada faxina ocorrer. Valores, princípios, conceitos e o correto pensar ocuparam meu íntimo, antes repleto de ideias prontas, julgamentos contraídos da virose midiática e, principalmente, retornou-me a clareza ao enxergar – na sua inegável verdade primeira – as ações e pensamentos humanos. Nada mais natural que a chocante constatação de que nutri vã paixão por alguém que jamais compartilhara o “idem velle, idem nolle” comigo tivesse, como resultado, a desaparição súbita, completa e irreversível de tais sentimentos – ao fim e ao cabo vivo, hoje, em estado de “alforria” e de alegre e confiante expectativa no porvir, coisa impensável até poucos dias atrás. (2)
Esperando ser perdoado por despencar das alturas bíblicas para o chão de pedra de minha realidade pessoal, prossigo em direção ao principal intuito deste artigo, que é a suposição de que o Brasil – mais especificamente o brasileiro – atravessa, neste momento, o seu “deserto” patriótico.
Desnecessário dizer que há muito o que purgar, nas areias solitárias de nosso “reset”. Por anos fomos contaminados com conceitos, ideias e valores que nenhuma correspondência fazem ao que sempre fomos e vivemos, desde que o Brasil é Brasil. Diariamente assistimos tudo aquilo que nos é caro ser, debochadamente, jogado na lata do lixo pela grande mídia, sob a alegação de serem “coisas antigas, ultrapassadas”. Em acréscimo, obrigaram-nos a aceitar a transformação de uma sociedade em verdadeiro bordel, prenhe de drogas, doenças, crimes e – coroando tudo isso – a instalação desavergonhada de uma ditadura judiciária que a tudo comanda, incentiva e favorece.
Nos dias que correm – coisa jamais imaginada – temos justificável medo de enviar nossos filhos às escolas e faculdades, eis que desvirtuadas foram de suas finalidades precípuas e, hoje, dedicam-se exclusivamente a lavarem os pobres e jovens cérebros, adestrando-os como cães, obedientes ao apito midiático da ditadura vigente. Um sistema de ensino assim, perverso, imoral e mau – causador de danos reais á capacidade cognitiva juvenil – apenas faz coro á anomia institucional que vivemos, já que as mesmas – todas – foram completamente tomadas por hordas de gafanhotos vermelhos, ao longo dos mais de quarenta anos passados, desde a “redemocratização”.
Não mais temos valores, conceitos e tradições. Não mais temos liberdade para expressarmos nossas opiniões, se divergentes das permitidas. Não mais temos liberdade para escolher nossos representantes políticos – e crer que lá permanecerão sem que “cortes superiores” os extirpem. Não mais podemos andar nas ruas, pois o crime impera. Não mais temos o direito á propriedade privada e, sequer, á vida, já que o aborto está em pauta.
E tal quadro de coisas pode ser chamado de “destruição completa de tudo”, conforme pregado pela Escola de Frankfurt.
Os brasileiros estão, neste momento, no deserto – embora contra a vontade. Nada mais temos, nada mais podemos, nada mais somos. É a hora em que as verdades absolutas – e, novamente, dane-se Hegel – podem aflorar na consciência dos milhões majoritários de cidadãos e impeli-los às ações corretas, à uma verdadeira re-fundação do país – pois o original é morto.
São Tomás de Aquino ensina que “toda ação, se destinada a restabelecer a verdade, não só é bem vinda como necessária”, e ninguém poderá acusar o santo Doutor católico de “ter pensamentos revolucionários”. Assim, creio estar chegando a hora em que, após esvaziarmo-nos – ainda que compulsoriamente – nos desertos impostos pela esquerda, precisemos tomar atitudes incisivas rumo á verdade e ao bem.
O Eclesiastes diz que “há a hora de plantar, hora de colher; hora da paz e hora da guerra”.
O marxismo já impôs seu “great reset” no Brasil.
É hora de sairmos do deserto e lutarmos.
Walter Biancardine
(2) Para uma análise mais detalhada do referido acontecimento, consultar https://walterbiancardine.blogspot.com/2023/09/hiroshima-em-meu-peito-gracas-deus.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário