Por ocasião de sua eleição á presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), o Ministro Luís Roberto Barroso declarou, em entrevista ao jornal O Globo – reportagem de Mariana Muniz, Marlen Couto e Bernardo Mello publicada ontem, dia 24 de setembro de 2023 – seus planos para o mandato frente ao órgão:
- Minha gestão terá três eixos (…), e manter relacionamento com todos os segmentos da sociedade, para ouvir os anseios e necessidades – resumiu o Ministro ao O Globo.
Dono de afamado histórico relativo à falas polêmicas – as quais incluem o “Eleiçâo não se ganha, se toma”, “Derrotamos o bolsonarismo” ou “Perdeu, Mané” – a declaração de Barroso, objeto deste artigo, não pode ser entendida como gafe ou descuido, oriundo de conversa corriqueira entre amigos, já que a mesma foi pronunciada diante da imprensa brasileira.
Enquanto o autoritarismo de um Alexandre de Moraes é sentido, principalmente, através de seus atos, já que as palavras nunca foram seu forte - coisa difícil de crer em um advogado, teoricamente autor de tantos livros – o viés totalitarista de Barroso é explicitado, em grande parte, por suas falas.
Dono de personalidade nitidamente contida, reprimida ao longo de toda uma vida por exigências sociais e profissionais, Luís Roberto Barroso deixa escapar, entretanto e eventualmente, traços de seu eu interior – verdades muito mais descontraídas, epifanias vestidas como sílfides esvoaçantes, que bailam e pululam ao seu redor – em momentos de euforia emocional.
Tal balé da alma não esconde, todavia, seu viés claramente autoritário na instituição a qual faz ele parte integrante, terminando por resvalar em promessas demagógicas ao povo, típicas de figuras coronelistas do Poder Executivo – prefeitos, governadores, presidentes da República ou ditadores vigentes. Atender anseios? Ouvir as necessidades? O Judiciário – teoricamente imparcial, cego e justo – se curvará aos “desejos do povo”? O quê isso significa? Que mudará as leis, ou sua interpretação, para “atender” a sofrida população brasileira?
Como analogia eu diria – de forma aparentemente exagerada mas que o atento leitor já entenderá – que seria tal qual um Papa mudar, ou interpretar, as Sagradas Escrituras para atender abortistas, gays em busca de matrimônio religioso ou mulheres ambicionando o sacerdócio. Ora, o mais conhecido filhote da Revolução Francesa – eu diria “Involução Francesa” – o Iluminismo, adota como premissa que o cérebro do homem tomou o lugar de uma crença arcaica chamada “Deus”, logo, o homem é Deus. E não é preciso muito esforço para recordar as constantes referências – principalmente feitas pelo Dr. Barroso – ao iluminismo, emprestando mesmo ao STF o caráter de Poder Moderador e… iluminista! Assim, os ilustres togados da mais alta Corte de Justiça do Brasil seriam os Papas do novo deus, a Razão Humana.
E, vestidos como Papas modernos, acrescidos do poder Executivo que exercem descaradamente, mostram-se ditadores liberais, democráticos e lacradores, jamais se furtando a “ouvir e atender os anseios e necessidades do povo”.
Tomando emprestado antiga brincadeira esquerdista, eu diria:
“ - Deus morreu, Marx morreu e eu mesmo já não me sinto muito bem…”
Walter Biancardine
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