quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

NÃO OUVIMOS, MAS SABEMOS QUE CHAMOU -

 


Começo este artigo com um relato de uma jovem – uma garota – que mal descobriu-se suave borboleta, após longos anos sentindo-se lagarta. As belas asas, que sempre nos chamam atenção por motivos errados, fizeram com que a mesma alçasse mistico voo em direção a Deus, chamada por Santa Therezinha de Lisieux – sim, a mesma de minha devoção e, pela semelhança de experiências e com a devida autorização, narro aqui sua experiência.

Minha história de conversão ao Catolicismo: um relato.

Nasci em uma família protestante, porém meu pai nunca foi muito presente na Igreja. Meus avós eram membros ativos sendo diáconos, e minha mãe tesoureira. Quando criança, sempre comentavam que eu seria pastora, pois amava aprender sobre Cristo.

No entanto, uma curiosidade sempre se houve presente dentro de meu coração. Quando passávamos por uma Igreja Católica, ou uma missa na TV acontecia, uma Sofia pequeninha ia assistir escondida dos pais. A Igreja me atraiu primeiramente pela beleza, ainda na infância.

Durante minha adolescência, por volta dos 12/13 anos, fui diagnosticada com depressão. E perdi o interesse pela Igreja evangélica, meus avós haviam se afastado há um tempo por escândalos que eles haviam presenciado, e minha mãe não ia mais. Nisso, eu fui ficando mais distante…

Em 2020, foi decretada a pandemia e completei 13 anos. Foi um período tenso, estava sem amigas e escola. O medo de que algo acontecesse com meus pais, o isolamento agravou minha depressão, e comecei a me sentir ainda pior comigo mesma.

Quando eu tinha 14 anos, atentei contra minha própria vida pela primeira vez. Não tive uma mudança de chave, e sim um sentimento de culpa. Os médicos da emergência me olhavam com desprezo, como se eu quisesse atenção. Meus pais e avós todos preocupados comigo, e eu me sentia pior.

O sentimento de infelicidade e fracasso me rodeavam, eu me sentia indigna do amor. Como podia uma garota que sempre teve do bom e do melhor desejar a morte? Foi em uma noite, depois de dias mal dormidos que tive um sonho. E ele mudou tudo.

Nele, eu recebia uma rosa de uma mulher que eu ainda não conhecia. Ela me beijava na bochecha, e dizia que Deus me amava. Acordei chorando como nunca, e eu sabia que aquela mulher era uma Santa. Pesquisei na internet, e era mesmo: Santa Teresinha!

Eu não podia acreditar, tentava pensar que era coisa da minha cabeça. Para mim, isso era coisa de filmes ou grande profetas. Acordei minha mãe chorando, e contei tudo à ela. Minha mãe que até então era protestante me disse: ‘Sonhei que você estava curada essa noite.’

Naquele momento tive certeza, Deus estava comigo. Ele nunca me abandonou na verdade, eu que havia o abandonado. E que arrependimento! Minha mãe no começo se incomodou, ela possuía os pensamentos protestantes contra a Igreja, mas hoje em dia isso mudou.

Bom, eu continuei estudando sobre a Igreja, e cada vez mais me via apaixonada por toda a história dela. Nesse tempo, fui na minha primeira Missa. Lembro até hoje o quanto eu chorei sentindo Cristo de novo em mim.

No ano seguinte, eu me mudei para um colégio católico por motivos relacionados a saúde mental. E conheci o Padre que, até hoje, vejo como grande amigo! Ele me ajudou a entender os sacramentos, me indicava livros sobre a fé, e me ensinou a rezar o terço.

E assim, que me converti realmente. Acredito que nossa conversão é diária, e devemos sempre lutar contra nossos vícios. Ainda estou longe de ser a católica que desejo ser, mas hoje me sinto completa.

Muito obrigada por lerem”.



O poder de Deus não toca apenas as almas sensíveis, frágeis e quase etéreas; Ele também se faz sentir diante dos brutos, daqueles que viveram demais e – pelo tanto viver – cometeram toda a sorte de pecados, perdendo a delicadeza e anestesiando-se diante de um mundo que apenas enxerga como um simplório dualismo: guerra ou esbórnia.

A delicada mocinha que escreveu o relato acima chama-se Sofia – “sabedoria” em grego – e batizei-a, para mim mesmo, como “Sofia Hildegard”, aproveitando seu nickname no X-Twitter.

O que dizer de experiências de vida tão precoces e extremas? Como absorver o Divino, a mão estendida por Deus, através de Sta. Therezinha, à ela em seus piores momentos? A verdade é que existem acontecimentos acima dos mais hábeis e talentosos escritores ou mesmo poetas: não há como descrever, traduzir ou – pior – tentar entender Deus pois, se houvesse, o divino se rebaixaria ao meramente humano.

Vejo a doce Sofia Hildegard como um elefante que admira uma rosa. Não há como chegar perto, tentar descobrir – em egoísta impulso – as profundidades de sua alma (sim, eu gostaria de sentir, ver e enlevar-me com tudo o que a inebria, vindo dos céus) sem que a brutalidade das minhas patas a esmague. Resta-me apenas a rendição ao poder, não apenas de Deus mas, igualmente, de Santa Therezinha, que jurou “gastar seu céu” ajudando pobres humanos e fazendo milagres.

E assim foi comigo, um empedernido, cínico e debochado ateu, que arriscava propositalmente a vida em desvairios, apenas para provar-me “autossuficiente”. Gastei décadas de minha vida em sórdidos “bate-bocas” com Deus – apesar de meu propalado ateísmo – provocando-O, testando-O e mesmo abusando de Sua piedade e paciência.

Mas o Pai não faz distinção, e tal como enviou Tereza de Lisieux para a suave borboleta que pretendera perder-se, igualmente recomendou o calcinado bruto que vos escreve aos cuidados da mesma – e ela, com um simples olhar, converteu-me.

Tal prodígio se deu em um dos muitos e abissais vales que atravessava – e foram demasiados – em minha vida, levando-me a buscar abrigo dentro de uma igreja a fim de encontrar, ainda que por um único minuto, paz de espírito.

Sentei-me no banco, fechei os olhos e – como todo descrente – aguardei para ver se “um milagre” aconteceria comigo. Nada. Desalentado e já ruminando alguns argumentos cínicos, resolvi dar uma volta pela nave da igreja, apenas pelo fato de gostar da arquitetura e das obras de arte – à parte todos os meus então infrutíferos estudos na teologia. Pois foi justamente neste perambular – impossível chamar de “acaso” – que me deparei com a imagem de Santa Therezinha de Lisieux, e seus olhos me aprisionaram.

Não entenda o leitor tal frase como uma figura de linguagem, pois foi mais que isso, foi um fato: preso, postado diante da imagem e sem conseguir tirar os (meus) olhos dos olhos dela, confesso ser impossível lembrar o quanto tempo ali fiquei.

E tudo mudou.

Eu, que – por incúria ou desleixo dos pais – jamais fora batizado, assim me fiz aos cinquenta e sete anos, sendo ainda crismado. Um verdadeiro desabamento aconteceu dentro de mim, inclusive intelectualmente, fazendo com que – repentinamente – toda a Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino fizesse sentido e, mais, fosse a única proposição plausível.

Para piorar, no dia em que marquei uma audiência com o padre, senti os perfurantes olhos de Santa Therezinha me acompanhando, do momento em que subi as escadas até a hora em que fechei a porta da sala do pároco. O que dizer disso?

Fosse eu o velho encruado de sempre, simplesmente debitaria na conta de alucinação paranoica, agravada por terrível complexo de superioridade – afinal, uma santa olhava para mim.

Mas não sou mais este ser; hoje percebo-me uma outra pessoa, diferente daquela que, um dia, deliberadamente escolheu “saber o gosto que o mal tem” e saiu vivo – mais que vivo, redimido por Santa Therezinha e Deus.

Como não sentir-me perdoado, purificado e próximo da doce Sofia de Hildegard?

Não há como explicar Deus. Resta-nos vivê-lo.



Walter Biancardine



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