sábado, 4 de janeiro de 2025

A PSIQUE CONSPIRA -


Tão inevitável quanto a morte ou o imposto de renda são os pensamentos sabotadores que, com frequência irritante, povoam minha cabeça. Aos meus olhos assim não os são, mas desta maneira os classifico para dar um ar de leveza e humor aos queixumes que insisto em redigir.

É algo compulsivo: e se eu tiver feito tudo errado? E se estou prejudicando quem nada tem a ver com isso? E se me vendi por um sonho? E se sou uma farsa?

Não há quem me critique com mais ferocidade do que eu mesmo, e se mais dúvidas desabonadoras aqui não posto, deve-se à simples vergonha da amplitude do mal que em mim encontro e que tanto prejudica a terceiros.

Nestes momentos o impulso covarde da fuga domina: não há melhor maneira de resolver dúvidas, aborrecimentos e decepções do que, simplesmente, abandonar tudo e sumir no mundo.

Pana mim não seria difícil, já que não guardo mais sonhos. Não tenho nenhum plano, nenhum projeto - mesmo meus livros inacabados os considero irrelevantes, dada a pífia vendagem daqueles publicados e nenhum benefício aos leitores. Possuo apenas uma única ambição, que seria aguardar meus dias finais com um teto sobre a cabeça, comida na geladeira e cigarros. Nada pretensioso, apenas que - em minha situação - é pedir demais.

Esta ambição é o que ainda me prende ao personagem que me tornei. Não fosse a mesma e talvez já estivesse de volta às estradas, caminhando sem rumo nos acostamentos e dormindo onde Deus permitisse - uma vida que conheço e não mais temo.

Sinto que a vida deste personagem está com os dias contados e pouco ou nada posso fazer. Hoje, hesito entre a tentação de dormir sob um teto com comida à mesa - projeto a cada dia mais inviável - ou a saída fácil das estradas.

Se insisto em ter o teto, estarei me vendendo? Se optar em ser digno, estarei sendo covarde?

Este filme já vai muito longo, está chato, nada trouxe de bom a mim ou ao mundo e anseio logo por seu fim, que demora demais.

Se bem me conheço, creio já saber a resposta.

Eu tentei, juro que tentei.



Walter Biancardine





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