É algo compulsivo: e se eu tiver feito tudo errado? E se estou prejudicando quem nada tem a ver com isso? E se me vendi por um sonho? E se sou uma farsa?
Não há quem me critique com mais ferocidade do que eu mesmo, e se mais dúvidas desabonadoras aqui não posto, deve-se à simples vergonha da amplitude do mal que em mim encontro e que tanto prejudica a terceiros.
Nestes momentos o impulso covarde da fuga domina: não há melhor maneira de resolver dúvidas, aborrecimentos e decepções do que, simplesmente, abandonar tudo e sumir no mundo.
Pana mim não seria difícil, já que não guardo mais sonhos. Não tenho nenhum plano, nenhum projeto - mesmo meus livros inacabados os considero irrelevantes, dada a pífia vendagem daqueles publicados e nenhum benefício aos leitores. Possuo apenas uma única ambição, que seria aguardar meus dias finais com um teto sobre a cabeça, comida na geladeira e cigarros. Nada pretensioso, apenas que - em minha situação - é pedir demais.
Esta ambição é o que ainda me prende ao personagem que me tornei. Não fosse a mesma e talvez já estivesse de volta às estradas, caminhando sem rumo nos acostamentos e dormindo onde Deus permitisse - uma vida que conheço e não mais temo.
Sinto que a vida deste personagem está com os dias contados e pouco ou nada posso fazer. Hoje, hesito entre a tentação de dormir sob um teto com comida à mesa - projeto a cada dia mais inviável - ou a saída fácil das estradas.
Se insisto em ter o teto, estarei me vendendo? Se optar em ser digno, estarei sendo covarde?
Este filme já vai muito longo, está chato, nada trouxe de bom a mim ou ao mundo e anseio logo por seu fim, que demora demais.
Se bem me conheço, creio já saber a resposta.
Eu tentei, juro que tentei.
Walter Biancardine
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