terça-feira, 21 de janeiro de 2025

O RESGATE DO BELO - UM ENSAIO FILOSÓFICO



Em tais e raras horas me alegro em ser o porco-espinho rejeitado e criticado por todos: no momento em que Donald Trump, não por me ouvir mas por ser o lógico a fazer, adota a postura de Roger Scruton e resgata a beleza que nos cerca, influencia nosso estado de espírito e que pode nos elevar – ou deprimir – nas posturas e atitudes cotidianas, as quais desenham nosso destino.

Ao me deparar com a Executive Order que determina a promoção do uso da arquitetura tradicional e clássica em edifícios cívicos, assinada ontem pelo novo presidente dos Estados Unidos, visando “elevar e embelezar os espaços públicos e enobrecer os Estados Unidos”, não me contenho e vejo-me obrigado a escrever este breve ensaio – vá lá – filosófico sobre a arquitetura clássica. Senão vejamos:

A arquitetura clássica, com sua harmonia, proporção e beleza notadamente atemporal, exerce uma influência profunda no estado de espírito das pessoas, e isto é fato. Desde as antigas civilizações gregas e romanas até os renascimentos subsequentes, tal estilo tem sido associado à ordem, à racionalidade e à elevação espiritual. A predominância da arquitetura clássica em espaços públicos e privados – agora determinada por Trump – não apenas embeleza o ambiente, mas também promove um senso de bem-estar, transcendência e conexão com princípios universais.

A Harmonia como Reflexo da Ordem Universal

A arquitetura clássica é fundamentada em bases matemáticas e geométricas que refletem a busca pela perfeição e pela ordem universal. Proporções como a ‘seção áurea’ e simetrias cuidadosamente planejadas transmitem uma sensação de equilíbrio e estabilidade, que se irradia e nos contagia: essa harmonia visual é mais do que um deleite para os olhos; ela ressoa com a mente e o espírito humanos, evocando uma experiência de serenidade e conexão com o cosmos.

A percepção de ordem em um edifício clássico certamente inspira as pessoas a buscar a ordem interna em suas próprias vidas – uma catástrofe, segundo as intenções preconizadas pelo esquerdismo mundial. A simetria das colunas, o ritmo das arcadas e a perfeição das cúpulas não são meros aspectos técnicos; são manifestações de uma aspiração mais elevada pela harmonia entre o mundo material e o espiritual, este último fator solenemente ignorado pela funesta ideologia citada.

A Beleza e o Transcendente

A experiência do belo tem sido historicamente associada à experiência do divino, e não há como se escapar do mesmo, para quem ainda é humano e possui um mínimo de sensibilidade.

Filósofos como Platão e Aristóteles criam que a beleza é uma janela para a verdade e o bem. A arquitetura clássica, ao buscar o ideal do belo, transcende a função prática dos edifícios e os transforma em espaços de contemplação e elevação espiritual, explicando plenamente as intenções do novo presidente norte americano.

Catedrais, templos e outros edifícios clássicos muitas vezes incorporam elementos que direcionam o olhar e o pensamento para o alto (vide a arquitetura gótica) simbolizando a aspiração humana por algo maior do que a existência terrena. Mesmo em contextos seculares, a grandiosidade e a elegância de uma construção clássica podem suscitar sentimentos de admiração e reverência, promovendo uma experiência que transcende o cotidiano.

Espaços Clássicos e o Bem-Estar

Apelemos: mesmo estudos ‘modernosos’ em psicologia ambiental confirmam que ambientes bem projetados podem melhorar significativamente o humor, a produtividade e o bem-estar geral das pessoas. A arquitetura clássica, com seus espaços abertos, iluminação natural e materiais nobres, cria ambientes que favorecem a calma e a reflexão. Em contraste com o caos e a desordem que muitas vezes caracterizam as paisagens urbanas modernas, os espaços clássicos oferecem um refúgio de ordem e beleza.

O Aspecto Espiritual

A influência transcendental da arquitetura clássica não se limita ao plano estético ou funcional. Ela também desempenha um papel espiritual ao conectar as pessoas a princípios eternos e imutáveis. Em um mundo frequentemente marcado pela impermanência e pela incerteza – ideais comuno-globalistas – a presença de edifícios clássicos serve como um lembrete tangível de que existem valores e ideais que resistem ao teste do tempo e nos jogam, de corpo e alma, nos braços do conservadorismo.

Além disso, esses espaços muitas vezes são projetados para fomentar a comunidade e o senso de pertencimento, como é o caso de praças, anfiteatros e outros locais de reunião. Essa dimensão social reforça a conexão entre o indivíduo e o coletivo, criando uma experiência que é, ao mesmo tempo, profundamente pessoal e universal.

A predominância da arquitetura clássica tem um impacto positivo no estado de espírito das pessoas, oferecendo-lhes um senso de ordem, beleza e transcendência. Ao harmonizar o material com o espiritual, o temporal com o eterno, essa forma de arquitetura não apenas embeleza o mundo físico, mas também enriquece a experiência humana em níveis profundos. Em última análise, a arquitetura clássica não é apenas um testemunho do gênio humano, mas também uma ponte para o divino.

Donald Trump e Roger Scruton

Vamos então, para finalizar este ensaio que já vai longo, dividir o pensamento de Sir Roger Scruton em pílulas as quais, uma vez deglutidas, farão com que o leitor compreenda – sem nenhuma dúvida restante – as reais intenções de Donald Trump.

Roger Scruton defendia a volta da beleza por acreditar que ela desempenha um papel essencial na experiência humana, na formação cultural e na elevação espiritual. Ele via a beleza como algo que transcende o utilitarismo e o materialismo atuais, sendo capaz de inspirar, conectar e dar sentido à vida. Sua defesa da beleza se baseava em várias premissas:

1. A Beleza como Necessidade Humana

Scruton argumentava que a beleza não é um luxo, mas uma necessidade espiritual. Ela proporciona consolo, ordem e sentido em um mundo muitas vezes caótico e fragmentado. Ele acreditava que a busca pelo belo era inerente à condição humana, ligando-nos ao transcendente e ao sagrado.

2. Crítica à Feiura e à Alienação Modernista

Ele criticava a arte e a arquitetura modernistas por priorizarem a funcionalidade ou o choque em detrimento da beleza. Para Scruton, a rejeição do belo resultava em espaços e obras que alienavam as pessoas, destruindo o vínculo entre o indivíduo e o ambiente.

3. A Beleza como Expressão de Valores Duradouros

Scruton via a beleza como uma expressão de valores universais e permanentes, como harmonia, proporção e ordem. Esses valores, segundo ele, são cruciais para a cultura e a civilização, pois ajudam a cultivar a virtude e a sabedoria.

4. A Beleza e o Sentido de Comunidade

Ele acreditava que a beleza tem um papel social, pois cria espaços e obras que inspiram o pertencimento e o respeito mútuo. A beleza na arquitetura, por exemplo, pode fomentar comunidades mais coesas e humanas.

5. O Belo e a Contemplação

Scruton defendia que a beleza convida à contemplação e à reflexão, em contraste com a cultura contemporânea de consumo rápido e descartável. Ela nos tira do imediatismo e nos conecta com algo maior e mais duradouro.

Em resumo, Roger Scruton via a beleza como um antídoto contra o niilismo e a fragmentação da modernidade, defendendo sua centralidade para a construção de uma vida significativa e de uma cultura rica e elevada. Ele considerava a restauração da beleza como uma missão cultural e moral.

Ao fim e ao cabo, eis acima uma amostra de como uma simples – e quiçá polêmica – Executive Order de um presidente recém-eleito pode esconder, em si, toneladas de bondades e graças salvadoras para seu povo, ato de nobreza o qual a classe política brasileira ainda se encontra a léguas de, sequer, cogitar, quanto mais ter a coragem de praticar. 

Caberá ao amigo leitor encher-se de brios e elevar seu nível de exigências quanto a seus representantes na política, para que os mesmos não se atenham a tratar – mal e porcamente, como sói acontecer – apenas questões financeiras ou constitucionais mas, também e sob idêntica importância e prioridade, todo um aspecto humano que foi jogado no lixo – e até mesmo louvado – como na inóspita e inaceitável Brasília, capital de uma República com iguais e pouco louváveis predicados.



Walter Biancardine






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