quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Depois não digam que não sabiam

A ausência de platéia na Audiência Pública realizada no Fórum de Cabo Frio nesta terça-feira foi o mais definitivo indicador de que o brasileiro médio crê piamente que já sabe de tudo.

O salário de um profissional é aferido, entre vários outros parâmetros, também pelas horas trabalhadas e o salário de um juiz de Direito e de uma promotora pública não são exatamente uma mixaria. Pois bem, ambos destinaram uma fração expressiva de seu dia para atender ao que, acreditavam, seria um concorrido evento repleto de eleitores portadores de questionamentos, dúvidas e ansiosos por esclarecimentos relativos ao belo emprego que darão à alguém neste 5 de outubro. Interessante notar como atualmente se fala em dinheiro público, mas ninguém se sentiu lesado ao não comparecer à um evento que beneficiaria a nós mesmos, e com isso jogar no ralo duas horas de salário de um juiz, de uma promotora, de um chefe de cartório, além dos custos referentes à utilização da sala do Tribunal do Júri, tudo pago por nós.

A verdade é que este tipo de questão não está na moda e por isso não foi comentada. Na moda está indagar sobre um governo que pagou milhares de reais por algo que custa trocados, por exemplo, sempre utilizando o poderoso refrão do “isto é dinheiro público”. Muito justo, havemos de convir. Mas e o custo invisível, que sangra os cofres tal qual essas faturas? Tudo bem, notas fiscais marotas podem ser estampadas em retumbantes manchetes, ao passo que horas de trabalho pagas por nós e jogadas no lixo só aparecerão na mente do leitor/eleitor se ele tiver a boa vontade de raciocinar e lembrar que tudo o que um servidor faz em seu horário de trabalho é pago pelo contribuinte.

E este é só o lado financeiro do “Desperdício Brasil”: a outra faceta é a arrogância tipicamente latina do macho que tudo sabe, incapaz da prudente humildade de dizer “não sei” e aprender em seu próprio benefício.

Milhões de reais foram gastos por você leitor, para organizar esse Dia Nacional da Audiência Pública em todo o país, e que ninguém compareceu – ao menos em Cabo Frio. Milhões de reais que poderiam ter um destino menos inglório se servissem ao menos para que você soubesse o que pode acontecer se o vencedor de uma eleição tiver seu registro cassado. E então? Assume o vice? Assume o segundo colocado? Ou serão feitas novas eleições?

Mas a desimportancia destes temas se refletiu no vazio da enorme e cara sala do Tribunal do Júri, vazio esse que é o espelho perfeito da consciência de cidadania de grande parte dos brasileiros.

Pensem bem, pois serão quatro longos anos pela frente – pouco tempo para quem escolhemos e tempo demais para quem repudiamos. Quatro longos anos, com tudo o que eles podem trazer de bom ou de ruim – e custeados por vocês, caros leitores.

Depois não digam que não sabiam...

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