quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Credo!

Credo, quia absurdum est

(Creio, porque é absurdo)


Ao longo do tempo, os fatos tem demonstrado que a história nem sempre obedece à um encadeamento lógico e conseqüente, conforme gostaria Friederich Meinecke e seu Historicismo.

Um exemplo clássico é o assassinato do presidente (era assim que então se denominava os governadores de um Estado) da Paraíba, João Pessoa: é bem melhor para a História Oficial defender a hipótese de um assassinato político – já que ele era um dos tripés da Aliança Liberal, que tramava a derrubada do governo de Washington Luis e a subseqüente revolução de 30 – do que ter de admitir que as balas que perfuraram seu peito vieram de um homem enfurecido com a Polícia do defunto, por ter entrado em sua casa e levado diversas fotografias dele, em poses e situações eróticas junto à sua amante, a poetisa Anaíde Beiriz.

Um outro exemplo, um pouco mais recente, envolve o jornalista Assis Chateaubriand, sua filha Teresa e o então Presidente Getúlio Vargas: enfurecido por ter sido vítima de uma bela chifrada de sua mulher à época, Cora Acuña, com quem teve a menina chamada Teresa, o jornalista tentou, por todos os meios, vingar-se sem medir esforços, chegando até mesmo a pretender a expulsão da mãe de sua filha do Brasil, já que sua nacionalidade era argentina. Sem conseguir seu intento, Chateaubriand – sabe-se lá como – arrancou de Getúlio Vargas um decreto, que estabelecia a guarda de filhos menores ao pai, em caso de discussão do assunto em juízo. O absurdo ficou conhecido como “lei Teresoca”, e Chateau conseguiu o que queria: a guarda da menina.

Resultaria em um grosso calhamaço a compilação de, pelo menos, dez por cento de todos os atropelos à lógica e ao bom senso que influenciaram o curso natural dos acontecimentos no Brasil. E, em verdade, devo aos leitores a explicação do porquê de um assunto tão sem nexo: ele me veio à mente ao saber, por fontes da Boca Maldita, que determinadas pessoas na cidade estariam tentando cometer atropelo semelhante.

Vimos acima que, se a história não nos convém, mudamos a história. Se a lei não nos favorece, mudamos as leis. E se aqueles que aplicam as leis – promotores, juízes ou até mesmo desembargadores – não nos são subservientes, mudamos os mesmos. E este é, precisamente o teor e motivo destas mal-traçadas.

Anotem o que digo: Cabo Frio vive hoje imerso em trevas filosóficas, onde conceitos como Direito, Democracia, Liberdade ou Interesse Público jazem nas ruas, desabrigados e órfãos justamente daqueles que juraram amparar, fomentar e atuar dentro destes mesmos conceitos.

Ao que parece, o Judiciário é hoje uma pedra no sapato de indivíduos que crêem ser seu poder temporal superior ao poder da lei e justiça. E se o Judiciário agoniza e dobra a espinha aos arreganhos de pequenos ditadores, as portas se escancaram para a implantação do mais feroz e trevoso absolutismo pós-moderno.

Sem Justiça não há democracia, sem democracia não há liberdade e sem liberdade não há vida. Inteligente, pelo menos.

Vamos aguardar e ver em que toda essa grotesca teratologia advocatícia vai resultar, pois em breve ganhará as manchetes dos jornais e o povo saberá de tudo.

Ai de ti, Justiça, ai de ti, imprensa: as sempre primeiras vítimas de todos os arrotos de importância, mesmo dos mais medíocres dos poderosos.

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