Uma das situações mais constrangedoras que podem acontecer é quando duas pessoas chegam, ao mesmo tempo, contando versões diferentes da mesma novidade.
Não foi outra a sensação do eleitor cabo-friense ao se deparar com a divulgação, no mesmo dia, de duas pesquisas eleitorais apontando favoritos diferentes na preferência popular. E aí cabe a inevitável pergunta: quem está dizendo a verdade?
Buscar a verdade não é o objetivo deste modesto espaço; ela será revelada, inconteste, nos primeiros dias de outubro. O que impele um verdadeiro jornalista à ação – tendo a verdade como ponto já estabelecido – é a lógica pela qual o fato foi produzido, e são exatamente estes meandros que serão analisados agora, da forma mais simples, direta e objetiva possível.
Temos de um lado, em um quadro hipotético, um candidato que conta com ampla aceitação na preferência do povo, lançando-se à corrida pela cadeira de prefeito munido apenas de sua capacidade de arregimentar votos, de sua plataforma de governo, sua experiência, seu carisma e a competência de sua propaganda em conquistar os corações, além de, inevitavelmente, sua escassa reserva de recursos para custear tudo isso, muito embora um dos itens acima – o carisma – não possa ser comprado, para desespero de alguns. Ele, assim como os demais concorrentes no pleito, precisam de visibilidade, contando apenas com seus próprios meios e talentos, dependendo da propaganda para que suas idéias alcancem o povo. O candidato hipotético encontra nas pesquisas uma valiosa ferramenta de aferição de suas possibilidades, já que são necessariamente limitadas à um reduzido raio de ação em decorrência dele não contar com ações públicas, que produzam reações populares, e pela temerária ousadia da aventura ser custeada pelo seu bolso e dos seus simpatizantes.
No outro lado surge o concorrente que, eventualmente, contará com todo o apoio da máquina administrativa de um município. Não é segredo que é possível exercer pressões e coações de formas tão sutis que sequer podem ser motivos de uma queixa concreta. Também não é segredo a enorme força que toda essa estrutura possui, uma máquina prenhe de recursos, virtualmente inesgotável – a depender da índole de quem a conduz – até a exaustão de seus cofres, além da mais valiosa fonte de informação: o poder de interagir com o povo, através de suas ações públicas. Esta é a principal razão que diminui enormemente a importância das pesquisas de intenção de voto para o gestor público. Se em seu quadriênio de poder esse administrador não consegue, através de suas ações, quantificar seu grau de aprovação pelo povo ele exibirá o sintoma evidente de uma enorme insensibilidade para com o cidadão, de uma quase confissão de culpa relativa à ineficácia de seus feitos e sua cegueira política.
Com certeza o que assusta esse gestor no quadro hipotético acima, motivando seu apego às pesquisas, será a capacidade de mobilização demonstrada por eventual adversário que, sem contar com a décima parte de seu poder, ofusca todas as tentativas de mostrar-se simpático ao apagar das luzes de um quadriênio possivelmente estéril.
Deste modo, um governante que recorre à pesquisas discutíveis para demonstrar ao povo e a si mesmo sua aprovação, é um governante que expõe sem nenhuma vergonha sua fraqueza popular, um aleijão político que caminha – trôpego – sobre as muletas do endôsso teoricamente estatístico.
Toda a sua fé se resume na crença em números quiméricos, produzidos por critérios nebulosos e que poderiam ter o poder de mudar as escolhas de todo um povo.
E povo não vota
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