Longe de mim ser, ou sequer parecer, ingrato aos generosos William Saliba (Carta de Notícias), Paulo Hasse (ContraCultura) ou Hermínio Naddeo e Maria Rosa (No Ponto do Fato), que me estenderam generosas mãos para me resgatarem do limbo e me levarem de volta à mídia, oferecendo-me espaços irrestritos em suas prestigiadas publicações para que, neles, cometesse meus desatinos. Não, isso nunca.
A verdade, entretanto, é que por questões de coerência e manutenção de um mínimo de qualidade ao oferecer algo ao leitor, mandou-me a prudência que renunciasse a tais honras – mais verdade ainda é o fato que se escreve com a cabeça, motivado pelo espírito (inspiração) e dispensando horas em retoques destinados às devidas clareza de expressão, ritmo da narrativa e, se possível, alguma musicalidade e compasso no texto – somados aos compromissos da pontualidade, dos prazos de entrega e da já citada qualidade, que jamais seriam cumpridos uma vez que vivo, agora, sob agonizante contagem regressiva, a qual pouca folga oferece para que me sinta à vontade em escrever.
Se tenho alguma tradição a manter é a de que jamais escondi meus sucessos e fracassos – até mesmo por comezinhas questões políticas locais, pois todos sabemos que a chantagem é usual neste meio. Assim, não seria agora que começaria a fazê-lo, esperando que o leitor, ao ler este relato, jamais o interprete como lamúria, vitimismo ou um cínico e disfarçado pedido de ajuda – não mesmo, até porque todos os pedidos que eu poderia fazer, já os gastei.
O fato é público e notório: não tenho emprego, ofereci um total de mais de 250 currículos mas a idade – somada às minhas notórias posições políticas – barraram quaisquer pretensões; de uma mesa de revisor ou copidesque ao balcão de lojas de ferragens, a negativa – ou pior, o silêncio – foi unânime.
Sim, tive bons momentos quando a generosa Doutora Professora PhD Miss Jay encantou-se com meus devaneios filosóficos e convidou-me para uma série de palestras – das quais auferi dinheiro suficiente para comprar meu pobre carro, iludido por boa fé no vendedor – e, em sequência, contratou-me como seu professor on-line de filosofia – e este é meu rendimento atual.
Não posso, entretanto, condená-la a ser minha aluna para todo o sempre. Findo este ano letivo, a mesma voltará para seu distante local de moradia, assumirá novos e importantes encargos e nosso contrato terminará – e, com este contrato, cessará também todo o resto: meu aluguel e a vida quase civilizada que consegui desfrutar por estas breves “férias”, após anos morando no meio do nada e cercado por bois e vacas.
Esta é a contagem regressiva, e também razão de não mais conseguir me comprometer com prazos ou mesmo qualidade daquilo que escrevo. Cada dia é menos um, no qual pude viver de maneira quase normal e, por mais que a vida tenha me endurecido (e o niilismo tenha feito com que eu beirasse o cinismo), confesso não mais ter forças suficientes para não me deixar afetar – sim, estou velho, 61 anos não são 61 dias.
Ao fim e ao cabo, resta-me a obrigação moral de dar alguma satisfação aos poucos abnegados que ainda gastam seu tempo e fosfato lendo meus devaneios, pois ao findar o mês de novembro, entregarei a casa, não mais terei meios de escrever e desconheço o que virá depois.
Nunca é demais repetir: este artigo é tão somente uma satisfação que dou aos leitores, jamais um sonso e disfarçado pedido de ajuda, pois nada é mais desprezível do que o vitimismo que tanto critico em minhas linhas, o qual sempre sobrevive e lucra – da forma mais abjeta – com a piedade alheia. Nada quero e nada peço, e isto resume tudo.
Minha moral com Deus é zero, jamais fui um bom rapaz e – com justiça – pouco posso ou devo esperar. Resta, ainda assim e por questões de sanidade mental, a confortável fuga de contar com a piedade Divina. Sim, quem sabe?
Se eu puder, estejam certos: voltarei a escrever. Se não, então será o rotineiro “tudo como dantes, no quartel de Abrantes” – nenhuma novidade que eu já não tenha experimentado.
Um grande abraço, querido e abnegado leitor.
Walter Biancardine
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