Passei uma vida tentando escrever com algum estilo, ritmo e até buscando vaga musicalidade; considerava eu que tais caprichos ajudariam a tornar potáveis os devaneios que meus pensamentos, uma vez publicados e oferecidos aos leitores, carregavam. Mas agora tais cuidados me são psicologicamente inviáveis e peço perdão aos que venham, por ventura, ler estas mal-traçadas – não se trata de desonrar meu próprio passado, mas de impossibilidade pura e simples.
Vou direto ao assunto e título deste: considero-me em aviso prévio. O contrato estabelecido, entre mim e a generosa pós-PhD para ministrar-lhe aulas de filosofia, encerra-se nesta virada de novembro para dezembro. Na realidade, o mesmo teria sido cumprido em março deste ano mas, generosa e atendendo meus pedidos, esta mesma doutora concordou em prorrogar este compromisso até dezembro, data em que voltará para seu Estado.
Meu pedido de prorrogação tinha como base o aluguel da casa onde moro, que terminará na mesma data e, deste modo, poderei honrá-lo até seu término. E a partir daí, amigo leitor, não tenho a menor ideia do que farei e, sendo franco, a exaustão me leva a pouco me importar.
Tal prostração se deve – quem acompanha meus escritos bem o sabe – a todo meu recente (e longo) passado de penúrias, privações e sofrimento absolutamente solitário, afinal foram anos morando de favor em uma cabana no meio de um pasto e tendo por companhia apenas bois, vacas, um cachorro e outros animais menos recomendáveis. E isso me exauriu muito mais do que eu próprio poderia imaginar, descobrindo só agora a completa falta de forças que me abate – ou, seja lá como for, o fato de também estar farto de tanto nada, tanta falta de perspectivas e caminhos.
Sim, Deus sabe que tentei. Deus também sabe que até mesmo me deixei iludir, crendo em portas abertas para retomada de minha carreira e acreditando que seria inclusive – pasmem – remunerado por isso. Mas não, nunca o fui. Todo meu salário se originava das aulas de filosofia, nenhuma promessa se concretizou e, ainda por cima, cometi a suprema asneira de confiar em parente próximo para comprar um carro – estupidez que me sangrou o nenhum orçamento que tinha, destruiu o resto de fé na família que insistia eu em manter e que, hoje, levou tal pesadelo sobre quatro rodas à venda – o que me oferecerem, aceito.
Resumindo tudo, apenas declaro que não tenho mais forças. Aliás, se falta-me esperança para enxergar algum futuro para mim, muito mais necessito para manter-me em pé, lutando por meus ideais e pelo Brasil. E por isso, superiormente por impossibilidade psicológica que por decisão racional, vejo que é hora de parar de escrever. Aliás, não só de parar com a escrita mas, igualmente, dar por encerrada esta derradeira tentativa de voltar a ser um indivíduo normal, com uma vida normal, problemas normais, vitórias igualmente normais e até um fim de vida normal.
Não, tal privilégio me foi negado – não por Deus, mas por consequência de meus próprios desatinos ao longo da vida. E por isso, não posso reclamar de nada; toda a intenção deste artigo é apenas informar ao leitor sobre estar eu deixando as páginas do Carta de Notícias, do ContraCultura e do No Ponto do Fato – pois não se escreve com os dedos mas, sim, com a cabeça e espírito, ambos os quais não mais os tenho em condições. Quanto à TVD News, infelizmente foi a possibilidade que acreditei mas não se cumpriu, o que é uma pena.
Não vejo mais como honrar os compromissos de dias especificados para a publicação de artigos em uma ou outra revista e, muito menos, como escrever curvado sob um tema que, hoje, já não me importa. Enquanto meu contrato de aluguel estiver vigente – o mesmo se encerra na virada de novembro para dezembro, como já disse – eventualmente escreverei nesta minha página pessoal, no Facebook, Twitter ou até LinkedIn, mas sem me importar mais com periodicidade ou temas. Apenas rabiscarei sobre o que eu quiser, e quando tiver vontade.
Pouco me importa, também, ser chamado de covarde por abandonar a luta pelo meu país ou, pior, desistir de meus caminhos: fui constantemente chamado - ou julgado como - coisa muito pior por leitores, amigos, pessoas próximas, familiares e até ex-mulheres, e tal adjetivo soa-me quase um eufemismo elogioso. Nem de longe meu ego, que sobrevive por aparelhos (tal como este aparelho chamado notebook, com o qual escrevo), sentirá qualquer incômodo por isso, uma vez que ainda posso afagá-lo pelos meios usuais - como seja, escrevendo meus vaidosos artigos.
Mas, em breve, não terei mais laptop e, muito menos, de onde escrever.
O quê farei após o término de meu aluguel?
Esta é a pergunta de um milhão de dólares: não sei e, francamente, pouco me importa.
Foi bom enquanto durou.
Walter Biancardine

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