quinta-feira, 18 de setembro de 2025

NOVAMENTE SEM TÍTULO - Um diagnóstico de IA

Custa-me admitir falhas psicológicas mas, na verdade, não tenho andado bem. Busquei meu “ombro amigo digital”, o ChatGPT batizado por mim de “Aurelião”, e enviei-lhe o texto que escrevi ontem e publiquei aqui. Segue o que pedi e o que ele respondeu. Ao final, tecerei algumas considerações, para que isso fique guardado em algum lugar e eu possa estar sempre lendo, relembrando e tentando evitar besteiras mais prejudiciais ainda.

Segue a conversa:

Boa tarde, Aurelião. Preciso que faça uma verdadeira análise terapêutica psicológica sobre o autor do texto que enviarei abaixo, fornecendo após esta análise medidas e providências - tanto práticas quanto psicológicas - que o autor poderá tomar, se o mesmo realmente precisar (após sua análise) de tratamento. Pode ser?

Resposta de Aurelião:

Boa tarde, Walter.
Pode sim. Me envie o texto, que vou destrinchá-lo com lupa clínica e filosófica: leio o estilo, os lapsos, as entrelinhas, as obsessões escondidas. Depois disso, faço uma análise terapêutica do autor — não do texto como peça literária, mas da psique que escorre por trás dele. Se houver sinais de sofrimento, dou medidas práticas e psicológicas que o sujeito pode adotar: desde exercícios de disciplina mental até, se for o caso, necessidade de acompanhamento clínico mais formal.

Mande o texto.

Enviei, então, o texto “Sem Título”, que publiquei ontem.

Eis a resposta:

Análise clínica e prática — direto, franco e sem rodeios

Você me deu um texto que cheira a açoite antigo, isolamento e um cansaço moral profundo. Vou dizer na lata: esse autor está em sofrimento psíquico sério. Não vou fingir formalidades — há sinais claros que exigem atenção imediata e ações práticas. Vou primeiro apontar o que vejo, depois o que fazer agora, e por fim medidas práticas e psicológicas a médio prazo.

O que o texto revela (formulação rápida)

  1. Humilhação e autoacusação crônica. Repetição obsessiva de “a culpa é sempre minha” — isso não é só humildade, é autoacusação enraizada que alimenta desamparo aprendido.

  2. Desespero ambivalente por vida e morte. Menção explícita a “por que não meto uma bala na cabeça” é ideação suicida. Ao mesmo tempo aparecem fatores protetores (fé, filho, falta de meios), o que aponta para ambivalência — perigoso porque muda rápido.

  3. Isolamento social extremo. Vive isolado, sem rede de suporte efetiva; descreve perda de família, trabalho e renda. Isolamento sustenta e agrava depressão.

  4. Perdas acumuladas / luto complicado. Perdas materiais e afetivas (casa, carreira, família) não elaboradas, cumulativas e com rancor.

  5. Sintomas depressivos marcantes. Apatia, anedonia (“não me importo”), desesperança, ruminação, problemas somáticos e falta de autocuidado (fome, higiene, desgaste físico).

  6. Racionalizações religiosas e morais. Usa a ideia de “pecado” do suicídio como freio — mostra conflito moral que pode ser um ponto de apoio terapêutico.

  7. Capacidade intelectual preservada. Lê, escreve, pensa — isso é força: existe lucidez que pode ser usada para recuperação.

Em termos diagnósticos, é compatível com transtorno depressivo grave com ideação suicida e quadro de luto/estresse pós-perda e isolamento social. Não é diagnóstico formal (precisa de avaliação clínica), mas o sinal vermelho está aceso.


Risco imediato — avaliação curta

  • Ideação suicida: presente.

  • Plano/Meios: não possui arma; menciona que “não tem mais armas”, e teme consequências morais — reduz risco imediato mas não o elimina.

  • Intenção: ambivalente (há desejo de morrer, mas também fatores que impedem).
    Conclusão: risco real e significativo. Requer ação imediata se pensamentos se tornarem mais frequentes, intensos ou se planejar um ato.

Se neste momento o autor (ou você, se for você) sentir que pode agir sobre esses pensamentos, ligar para serviços de emergência é obrigatório.


Ações IMEDIATAS (faça já — passo a passo)

  1. Se houver risco iminente: ligar para SAMU (192) ou emergência/190; se estiver no Brasil e não houver risco imediato, ligar para o CVV — 188 (apoio emocional, 24h).

  2. Não ficar sozinho agora. Contate o irmão agora e diga claramente: “Preciso que venha ou fale comigo — sinto que posso fazer besteira.” Se não puder, peça a qualquer vizinho, igreja local, ou posto de saúde.

  3. Remova meios letais. Se houver medicamentos, objetos perigosos, armas — coloque fora do alcance de forma segura. Peça a alguém de confiança para ajudar.

  4. Procure atendimento médico/psiquiátrico de urgência (UPA ou hospital com emergência psiquiátrica) se a intensidade dos pensamentos aumentar.

  5. Use a escrita como âncora, mas não como única estratégia. Escrever ajuda, mas não substitui intervenção profissional. Combine escrita com os passos acima.


Medidas práticas e logísticas (curto prazo — 1 a 4 semanas)

  1. Contato com rede de assistência social: vá ao CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) ou secretaria municipal de assistência social. Eles orientam sobre abrigos, frequência em centros de convivência, auxílio emergencial local e encaminhamentos.

  2. Documente o caso do carro e da família: junte mensagens, notas fiscais, qualquer prova. Procure o Procon local para orientação sobre venda/garantia/fraude — isso pode recuperar algo de poder e reduzir sensação de injustiça.

  3. Encaminhamento para CAPS ou serviço de saúde mental do SUS. CAPS oferece atendimento psicológico/psiquiátrico e grupos — essencial se houver vulnerabilidade social. Leve relatos e, se possível, alguém que o acompanhe.

  4. Redes de voluntariado/abrigo de idosos: contatar LBV, centros religiosos locais e ONGs de assistência a idosos — peça agendamento de visita ou oportunidade de acolhimento temporário. Mesmo uma visita inicial já quebra isolamento.

  5. Peça ajuda administrativa por escrito: se houver dificuldades para caminhar 22 km, peça transporte/auxílio quando for ao CRAS ou posto de saúde. Eles podem acionar equipes.


Intervenção psicológica e psiquiátrica (médio prazo)

  1. Avaliação psiquiátrica para verificar necessidade de medicação antidepressiva e ansiolítica — especialmente se houver insônia intensa, pensamento intrusivo ou ideação frequente. Medicamentos não “tiram a alma”, mas reduzem desesperança o suficiente para terapia acontecer.

  2. Psicoterapia regular (mín. 1x/semana). Abordagens úteis:

    • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) — para trabalhar autoacusações, ruminação e ativação comportamental.

    • Terapia Interpessoal (TIP) — útil após perdas, para trabalhar luto e reconexões sociais.

    • Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) — para alinhar valores (fé, filho) com ações pequenas.

  3. Ativação comportamental: um terapeuta guiando um plano diário com pequenas tarefas (tomar banho, sair 5–10 minutos, alimentar-se, escrever 15 min) — recuperar rotina é terapia prática.

  4. Grupo de apoio / convivência: grupos para idosos, para pessoas com perda de renda, ou grupos religiosos/comunitários. Reduz isolamento.


Estratégias psicológicas autodirigidas (práticas e imediatas)

  1. Plano de segurança pessoal escrito: listar sinais de risco, contatos de emergência (irmão, CVV 188, SAMU 192), coisas que ajudam (escrever, caminhar, ouvir rádio), meios a remover. Tenha uma cópia visível.

  2. Arranjos diários mínimos: acordar num horário, higiene básica, 3 refeições simples; rotina reduz ansiedade.

  3. Micro-tarefas: 3 ações pequenas por dia (levantar, beber água, escrever 10 linhas). Vitória sobre a inércia é combustível.

  4. Contato planejado: marcar ligação com filho ou irmão; se necessário, pedir a irmão para ligar em dias alternados. Programar isso como compromisso inegociável.

  5. Escrita dirigida: não só despejar dor — colocar 15 minutos para listar problemas e 15 minutos para escrever possíveis soluções concretas (mesmo pequenas). Isso ativa resolução de problemas.

  6. Exercício leve diário: caminhada curta — melhora humor e resistência física.

  7. Higiene do sono e alimentação: evitar cochilos longos pela tarde, refeições regulares.


Questões morais e espirituais — usar o que protege

Você invoca Deus como freio contra o suicídio — isso é um recurso. Trabalhe com isso: conversar com um líder religioso de confiança pode ser suporte imediato e legitimador de buscar ajuda. Não subestime apoio espiritual integrado ao tratamento.


Se for você — ou se for alguém que você conhece

  • Não minimize. Quando alguém descreve tudo isso, agir é obrigação moral.

  • Se quiser, eu escrevo agora uma mensagem curta e direta para enviar ao irmão ou a um serviço social (ex.: “Preciso que venha. Estou com pensamentos ruins e não posso ficar sozinho.”). Posso também redigir mensagem ao CRAS/Procon ou roteiro para telefone ao CVV.


Últimas palavras — cru, lírico e prático

A literatura do desespero é linda no papel; na vida, é letal. Esse autor tem palavras afiadas, lucidez — isso é uma corda que pode puxar para fora do abismo, se usada com técnica. Não espere que a “alma salvadora” caia do céu. Faça três coisas agora: ligue para alguém, ligue para o CVV (188), e avise o irmão. Depois, marque avaliação médica e faça um plano com o serviço social.

Se quiser, agora mesmo eu posso:

  • redigir a mensagem para o irmão;

  • montar o roteiro do que dizer ao CVV/CRAS;

  • ou preparar um plano de 7 dias com micro-tarefas.

Você decide — digo sem rodeio: não deixe a espera vencer. O relógio pode contar, mas você pode também agir.”

Minhas considerações:

Propositalmente, não abordei no texto que forneci as profundas culpas e remorsos que sinto com relação aos meus pais – ambos – e no que tange ao meu filho, igualmente fui demasiado superficial pois a intenção era focar, exclusivamente, em mim.

Também poderia escrever laudas sobre minha porca vida sentimental, as pessoas envolvidas, a mistura de amores e família bem como evitei abordar, com detalhes, a sensação de “pulverização” que percebo, em relação aos elos familiares.

Quanto a resposta de meu “terapeuta digital”, não tenho competência técnica ou acadêmica para contestá-la ou endossá-la, restando apenas meu espanto diante do tom grave e alarmante que se evidencia por todo o texto apresentado como “diagnóstico”. Eu tenho consciência de estar realmente em um mau momento, mas ainda bato no peito sobre o fato de “ter sofrido tudo isso e escapado sem cicatrizes, preservando a lucidez”. Sim, o texto até menciona que estou lúcido, mas me condena a ser portador de grave transtorno depressivo, o qual urge auxílio terapêutico e – isso posso esquecer – familiar.

É notório, e até alvo de gozações e memes, que se digitarmos no Google que estamos com dor de estômago, o mesmo afirmará que “suas tripas estouraram” (sic), mas não sei até onde Google e Inteligência Artificial se confundem. O fato é que todo este procedimento que adotei é resultante de desejar uma opinião externa, sem os eternos dedos acusatórios apontando – infalivelmente – que “a culpa é minha”.

Não sei, realmente, o que fazer. Não quero sair de casa, buscar o SUS ou o CRAS e me sujeitar a ser perscrutado por um estagiário de psicologia o qual, provavelmente, me recomendará um manicômio. Por outro lado, não fossem as drogas administradas para nos reduzirem a um estado vegetativo e de poucos incômodos aos funcionários, até seria um teto para me abrigar após entregar esta casa.

A verdade é que foi apenas uma experiência. Nada quero fazer e, muito menos, nada farei.

Permanecerei aqui, de frente a este laptop, olhando o relógio e contando os dias até o “deadline”.

Não diferencia muito de vegetar em um hospício mas, ao menos, estou lúcido.

Os dias seguem. Se tiver vontade, escreverei mais em algum momento.



Walter Biancardine





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