Por mais previsível que fosse a farsa dantesca, encenada ontem no palco da Primeira Turma do STF, ainda assim os efeitos sobre mim ultrapassaram o que esperava.
Sim, era pública, notória e sabida a condenação de Jair Messias Bolsonaro à guilhotina suprema, mas confesso que – talvez pelo acúmulo de enorme sucessão de absurdos jurídicos, políticos e criminais nestes tristes dias – a sentença, lida e saboreada com gosto pelos canibais de notória ignorância jurídica, tenha desabado com tamanho peso em minha cabeça. Para piorar, o assassinato do jovem e conhecidíssimo ativista conservador norte-americano Charlie Kirk – acontecido simultaneamente – disparou um inevitável retrospecto mental, que concluiu estarmos sendo, nós conservadores, caçados e exterminados um por um.
Tivemos a garotinha escocesa – 12 anos – que defendeu a si e sua irmã com um machado contra agressores muçulmanos e foi presa por isso; a menina refugiada ucraniana, esfaqueada no Metrô; candidatos à Presidência da República conservadores mortos a tiros, atentados contra Donald Trump e o próprio esfaqueamento de Bolsonaro – e ainda somos tratados pela maldita e porca grande mídia como “extremistas” ou “radicais” da “extrema-direita”, tal como anunciaram a morte de Kirk, pai de duas filhas e com apenas 31 anos.
Em boa hora penso ter renunciado às mãos que se estenderam em meu caminho – Carta de Notícias, ContraCultura e No Ponto do Fato – eis que o comprometimento de escrever exige o compromisso da periodicidade, e eu teria sido obrigado a escrever e comentar – entre todas as barbáries anunciadas acima – ainda sobre este meticuloso esquartejamento do cadáver político de Bolsonaro, e eu não teria estômago para tanto.
Digno de nota é percebermos que a guerra contra nossos expoentes – alguns já atingidos e mortos, enquanto outros jazem, agora, moribundos – configuram baixas idênticas naqueles alistados em seus propósitos. E assim me sinto.
Tal como algum circunspecto senhor, em aventura amorosa frustrada, se põe a murmurar que “isso nunca me aconteceu antes”, assim me surpreendo com minha própria reação: tais trevas jamais se abateram antes, sobre mim.
Tenho décadas de jornalismo e de análises políticas, já me engajei em lutas inglórias nas quais tudo perdi mas, ainda assim, continuei escrevendo, analisando e comentando – mas neste momento, faltam-me forças. Creio que a dimensão mundial da luta que travamos me era, anteriormente, um tanto quanto vaga e difusa, algo que mais soava como argumento que constatação – mas agora vejo sangue por toda a parte. Sim, o inimigo hoje aparece claramente, sem vergonha de exibir seus chifres e cascos, pois que já se considera vitorioso e pode mostrar sua verdadeira face – e ele nos persegue, com desejo insaciável de extermínio, em qualquer lugar do mundo em que estejamos: Escócia, Estados Unidos, Brasil – pouco importa.
Assisto, com um misto de piedade pela inocência evidente e raiva por suspeita de má-fé, discursos de gente anunciando providências jurídicas contra o STF, ou até mesmo pretensões de anistia e outros tantos, sem perceber que não se luta contra demônios usando armas de anjos.
Também vejo o povo inerme – o qual me incluo – apático e omisso, apenas aguardando seus bovinos líderes políticos ou religiosos apontarem o melhor caminho para o matadouro, esquecendo-se que Moisés não teria libertado os judeus do Egito se obedecesse, passivo, as leis do Faraó.
Por sorte sou sozinho, não tenho ninguém a pedir-me um amor e atenção que se secou em mim; também não tenho amigos que venham me visitar, chamar ao telefone ou obrigar-me a sorrisos impossíveis; e mesmo a casa onde habito é o retrato do que se passa pela alma, com o chão estalando de sujeira e descaso ao caminhar por ele.
E as panelas e pratos, empilhados na pia, são o saldo negativo das derrotas acumuladas.
Nenhuma intenção de varrer, lavar ou mesmo escrever.
Este artigo foi um surto.
Walter Biancardine
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