Considerando o quanto este assunto é delicado não falarei sobre outras pessoas, apenas sobre mim e algumas resoluções que as circunstâncias me obrigam a tomar.
Ao longo de anos - décadas, para ser mais preciso - observei como a sucessão de acontecimentos se dá de maneira quase automática, com a infalibilidade (e consequente previsibilidade) de uma máquina: eventualmente desfruto de bons momentos, pequenos espaços de tempo onde sinto-me feliz e tranquilo, desfrutando boas companhias, bons lugares e imbuído da sensação de ser uma pessoa normal - a hoje tão comentada "sensação de pertencimento": sim, sinto-me um sujeito como outro qualquer, com seus problemas mas também com suas pequenas vitórias e prêmios, usuais a quaisquer indivíduos.
Pois, infalível e previsível como anunciei acima, após tais momentos é inevitável que alguma catástrofe - seja financeira, pessoal, emocional, sentimental, qualquer coisa - se abata sobre mim. E tal "revide" (assim mais parece) se dá de maneira imediata, segundos, minutos ou pouquíssimas horas após haver eu sentido alguma felicidade.
Vamos ao ponto: tive uma boa segunda-feira em Armação dos Búzios, na companhia da estimada pós-PhD Miss Jay - para a qual ministro toscas aulas de filosofia - que visitou a Região dos Lagos em momento de férias. Passeamos pela cidade, almoçamos em excelente restaurante (sou assim, só frequento lugares chiquérrimos - ainda mais quando pago por terceiros) e conversamos prazeirosamente.
Mas isso meu destino vira-lata não me deixaria impune, pois horas depois tive notícia de um imprevisto que causou verdadeira hemorragia financeira ao meu já eviscerado saldo bancário, condenando-me à pesadas e intermináveis prestações de penitência, pelo atrevimento de ter sido feliz.
Não falha: para cada minuto de felicidade, devo arcar com meses de imolação. E assim, novamente, se deu.
Já alcançando o nível da revolta desesperada contra o destino, atrevo-me a postar uma das fotos que a gentil senhorita tirou de minha pessoa, em pleno e rebelde ato de ser atrevidamente feliz. Mas esta é a última.
Doravante, seguirei a lição que os acontecimentos insistem em me dar, recolhendo-me ao meu devido lugar e jamais tendo, novamente, a ousadia de sentir-me feliz.
Existência de árvore: plantado imóvel em meu lugar, apenas observando calado, sem interagir ou esboçar sorrisos.
Os passarinhos, talvez, agradeçam.
Walter Biancardine
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