sábado, 26 de julho de 2025

VOU CHAMAR UM NEGÃO -

 


Não há aquele que, em um momento difícil da vida e sentindo-se injustiçado, não tenha rosnado a imprecação “vou chamar um negão pra dar um jeito nisso”.

Fazendo parte do imaginário popular e já integrado na categoria de “lenda urbana”, recorrer ao auxílio de um negão para seu desforço sequer necessita maiores explicações – excetuando-se o fato que a espécie (negão mesmo, preto retinto, dois metros de altura por um de largura) encontra-se em franca extinção, vítima do alastramento dos pardos, que tomaram conta do país mas jamais conseguiram se igualar aos seus avós em termos de amizade, simpatia, fidelidade e – por que não – força física.

Um dos raros e últimos exemplares manifestou-se ontem, na Praça dos Três Poderes em Brasília – também alcunhada de “Praça das Três Perfídias” – na pessoa do sr. Hélio Negão, deputado Federal e possuidor de fidelidade quase canina a Bolsonaro e aos ideais do povo brasileiro.

Nada falou. Não fez discursos inflamados, não hasteou bandeiras ou soltou fogos, sequer cogitou o auxílio de carros de som ou convocação partidária. Era ele, sua boca amordaçada por esparadrapos e, cobrindo seus dois metros de altura e (imagino) uns cem quilos, vestia significativa e definidora camisa com a bandeira de Israel. E a eloquência de seu silêncio superou os gritos mais altos de quaisquer alto-falantes que pusessem à sua disposição.

Hélio Negão sabe que não é um gênio, tampouco um erudito. Certamente jamais leu Olavo de Carvalho, Suma Teológica ou qualquer livro com mais de trinta páginas – mas ele traz em si, em seu DNA genuinamente brasileiro, a herança genética da liberdade e a revolta contra o arbítrio, abusos e injustiças – e não é preciso ser nenhum intelectual para sentir tal força brotando dentro de si, quando se testemunha descalabros como os ultimamente acontecidos.

Apenas o Negão tem coragem, e isso fez toda a diferença: a soma de sua disposição com a consciência meritória de não apelar para argumentos ideológicos, metafísicos, filosóficos – nada, apenas um mudo e ensurdecedor “QUERO SER LIVRE, PORRA!”

Hélio Negão é a prova que “chamar um negão” dá certo. Escondido em Roma (estranhamente na Embaixada do Brasil), Alexandre de Moraes intimidou-se diante do gigante moral que o afrontava, restando-lhe apenas passar mais um explícito recibo de sua covardia e totalitarismo.

Apoiando-se nas muletas do inquérito do fim do mundo para justificar seu “frisson” diante do negão impassível e mudo, Alexandre ordenou, lá da cidade das sete colinas e protegido por hordas de seguranças, todo o oceano atlântico e mais o mar Mediterrâneo, através de tosco e errático bilhete, mais uma proibição. O quê proibia? Tanto faz. Proibia qualquer coisa que o desagrade ou, como fez Hélio Negão, que provoque novo descontrole do esfíncter e o faça borrar as calças novamente.

Moral da história: Cabeça de Ovo quis quebrar Bolsonaro para sempre, mas o que conseguiu foi fazer o maior líder político do Brasil chamar um negão, seu amigo, para dar um jeito nele.

E conseguiu.

Deus salve os negões do Brasil.


Walter Biancardine



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