terça-feira, 25 de junho de 2024

JUDICIÁRIO NÃO PODE LEGISLAR -

 


Palavras do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Fux, durante a votação sobre a legalização do porte de drogas realizada hoje, naquela Corte:

Nós não somos Juízes eleitos. O Brasil não tem governo de Juízes”

Num Estado Democrático, a instância maior é o Parlamento”

Pior do que não saber direito, é um Juiz que não tem coerência”

Essa prática tem exposto o Judiciário, em especial o STF, a um protagonismo deletério, corroendo a credibilidade dos tribunais”

À parte o fato de Fux ser um juiz concursado e com antecedentes na magistratura – ao contrário da maioria do STF, o reprovado Toffoli inclusive – suas palavras nada trazem de novidade e são, para piorar, tardias.

Dizer o óbvio não eximirá o prezado Luís Fux de sua criminosa omissão – quiçá conivência – com todo o tenebroso e despótico cotidiano de arbitrariedades ditatoriais, praticadas por aquela Corte e, com especial destaque, para a dupla Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, este último merecendo destaque nas mídias ao cantar, junto à horda de bajuladores, uma modinha sertaneja deveras significativa: Evidências, de Chitãozinho e Xororó.

A função de um juiz é julgar, de acordo com a Constituição em primeiro lugar, e amparado por sua consciência. Entender como “a lei que vale” as distorções e sofismas na interpretação do entendimento das propostas, oriundas da vontade popular, e que são debatidas, retocadas, estudadas e principalmente, votadas e transformadas em lei pelo Legislativo – órgão que detém a exclusividade desta função, que lhe é precípua – é jogar no lixo o sistema de três poderes da República, ao impor que tal “interpretação das leis” é o que o legislador – e o povo – realmente teriam pretendido dizer com as mesmas.

Existe o entendimento que ninguém, em uma democracia, está acima das leis. Ora, se os responsáveis pela interpretação das mesmas exibem superioridade de poderes sobre aqueles que as criaram, e contam com a cumplicidade de partidos políticos, agremiações, ONG’s e a eterna e cúmplice grande mídia, então teremos a porta aberta para a pior das ditaduras: a ditadura das leis – ou melhor, de quem diz como elas realmente devem ser entendidas.

Não é de hoje que o bom senso pode, através da hipocrisia, ser utilizado como arma contra o povo: de fato, diz o senso comum que ninguém pode estar acima ou imune às leis, ou teremos um regime de exceção. Mas o que fazer quando nos damos conta que aqueles que interpretam as leis valem-se de seu próprio e tendencioso entendimento para distorcer – por vezes até inverter por completo – todo o arcabouço jurídico de um país, chegando mesmo a imobilizar o próprio Presidente da República ou vasto o elenco de proposições do Legislativo? Claro está que “juízes” que assim procedem valem-se, principalmente, da hipocrisia acima citada, a qual é massificada e tornada “senso comum” pela maior aliada de todos os regimes despóticos do planeta, a grande mídia.

Alguns poucos países, talvez mais previdentes que nós, simplesmente não adotam de maneira tão liberal o sistema de três poderes, limitando o Judiciário, se precavendo de eventuais “entendimentos” criadores de novas leis e controlando seu funcionamento como “poder” daquelas repúblicas. Entre eles podemos citar a Alemanha, cujo Tribunal Constitucional Federal é independente, mas seus juízes são eleitos por metade do Bundestag (câmara baixa) e metade do Bundesrat (câmara alta), mostrando um grau de controle legislativo.

Até mesmo na caótica Índia, onde a nomeação dos juízes da Suprema Corte e dos tribunais superiores é feita – tal como aqui no Brasil – pelo Presidente, a mesma deve obedecer às recomendações de um colégio de juízes e consultas prévias com diversos setores do governo.

Entretanto o Brasil diferencia-se dos países que adotam igual entendimento sobre o Judiciário – Estados Unidos podem ser exemplo, do qual copiamos integralmente tais características – pelo fato de suas Cortes constitucionais limitarem-se exclusivamente à constitucionalidade das causas a elas enviadas.

Muito se poderia discorrer sobre isso, incluindo a teratológica concessão de “foro privilegiado” a milhares – sim, milhares – de cargos e funções da República, mas devo focar em outra “jurixcrescência” que foi a legalização do porte de drogas, por parte do STF.

Vamos analisar em um português bem claro e simples, nossa “vulgata” tão acessível – embora de difícil compreensão por esquerdistas – o que ocorreu: os Ministros do STF, uma maioria de cidadãos que sequer são juízes, se reuniu e decidiu que o “nóia” pode circular por aí com os bolsos cheios da “marofa” – quantos quilos o maluco poderá levar decidirão depois, o que importa é que “liberou geral”.

Essa decisão foi simples, pois bastou “dar uma banana” para a lei – votada no Congresso – que proíbe o uso, consumo e transporte de substâncias ilícitas e dizer “pra galera” que, no fundo, o que essa lei quis dizer não era nada disso!

Ora, se já não me prendem por fumar uma cordilheira de maconha e nem de carregá-la em meus bolsos, é certo que em breve liberarão a venda da mesma – e aí será festa nas bocas (ou “biqueiras” pra vocês aí de Sampa) e uma legião de zumbis vai cair, chapada, nas ruas do Brasil tal e qual já acontece na Califórnia, EUA.

A lei proíbe, diz isso claramente, mas os “parça” do STF “entenderam” que não proíbe – e fim de papo. Ah, sim: e o mesmo vale para o aborto.

Voltando a um português mais decente, reafirmo a necessidade de colocarmos não apenas o STF, mas todo o Judiciário – pois que o autoritarismo permeia – sob prudente controle sem, contudo, deixá-lo como meros pretorianos de futuros governantes, repetindo o degradante papel que já prestam atualmente, a serviço de forças estrangeiras – legais ou ilegais, pouco importa.

Para encerrar, lembro da necessidade urgente do Congresso podar a gritante e ofensiva vaidade, o narcisismo doentio da maioria integrante daquela Corte, a fim de que tenhamos, ao menos, uma aparência de dignidade e possamos, com toda a liturgia e circunspecção necessárias, reduzi-los ao seu devido lugar na ordem constitucional da República do Brasil.

Sem testosterona, entretanto, nada poderemos esperar dos parlamentares.

Aguardemos o desenrolar dos vergonhosos e futuros acontecimentos.

O STF e o Congresso são pródigos em nos fazer corar. E sofrer.



Walter Biancardine




QUEM ACORDOU O POVO FOI OLAVO, NÃO BOLSONARO!


A torcida do São Paulo meteu um bandeirão homenageando o professor Olavo de Carvalho.

Me digam para qual outro FILÓSOFO, e em QUAL PAÍS DO MUNDO, uma coisa assim já foi feita?



OLAVO DE CARVALHO REENCARNOU?



PARA IRRITAR A "DIREITA LIMPINHA":

Olavo de Carvalho está hoje nos "trending tops" do X-Twitter!

Para irritar mais, parece que este garoto baixou o espírito de Olavo e deu a real pra seus coleguinhas de classe!

segunda-feira, 24 de junho de 2024

ÓDIO SELETIVO: NÃO SE DISCUTE, ELIMINA-SE -

Reportagem do jornal O Globo neste dia 22: 

O preparador físico Diego Falcão não faz mais parte da comissão técnica da seleção feminina de basquete do Brasil. O desligamento foi comunicado neste sábado, depois de reunião da Confederação Brasileira de Basquete (CBB) na sexta-feira. Falcão deixa o cargo após repercussão de suas publicações contra o aborto, nas redes sociais, e pedido feito pelas atletas.

Duas das principais jogadoras da seleção, Clarissa dos Santos e Damiris Dantas se posicionaram contra a permanência do preparador físico. Outras atletas também se posicionaram. As jogadoras foram ouvidas antes da decisão da CBB.

Vamos ao fato:

Em recente artigo escrevi que muito do apoio prestado pelos militantes às propostas absurdas da esquerda deve-se ao fato de, uma vez implantada a ditadura inevitável, nela possam exercer poder opressivo, como paga por sua “fidelidade”. 

(leia em  https://walterbiancardine.blogspot.com/2024/06/valores-verdadeiros-farinha-pouca-meu.html)

A demissão do preparador físico Diego Falcão é um exemplo evidente disso, por haver publicado em suas redes sociais ser contra o aborto – o que desagradou à ala vermelho-xiita das atletas daquela seleção de basquete: como recompensa por sua militância, as jogadoras Clarissa e Damiris receberam o prêmio da demissão inapelável do infeliz Falcão, seu desafeto, e neste exato momento ambas as meninas certamente sentem-se no ápice de seu “poder”, na atual ditadura em que vivemos.

Todo esquerdista, entretanto, sofre inevitavelmente de sequelas cognitivas e as citadas mocinhas não escaparam à regra. Conforme o leitor poderá ver no print que ilustra este artigo, a jogadora Damiris – cuja fúria excede a capacidade de discernir – urra contra o preparador Falcão e afirma que “o estupro é um crime grave”, esquecendo-se que em nenhum momento o ex-preparador defendeu o estupro. Pelo contrário, a postagem referia-se à defesa da vida do bebê – nenhuma relação com o crime de estupro! Mas, ao que parece, tal discernimento está além das capacidades mentais e interpretativas de um simples texto – matéria de 5ª série – da atleta.

Para completar, arremata a miséria vomitada em suas redes alegando que “é fundamental que as mulheres tenham o direito de decidir e expressar suas opiniões sobre isso” – e cobra a Confederação para que tome alguma atitude repressiva.

Ora, em que momento Falcão tolheu algum direito delas decidirem ou expressarem suas opiniões? Em nenhuma de suas postagens. Outra: tal direito de “decidir e expressar opiniões” é privativo das mulheres? Homens não opinam? Não tem – como elas gostam de dizer – “lugar de fala”?

O resultado é que a direção da Confederação, subserviente e bovina ao simples xilique de militantes extremistas, concluiu que seria melhor “obedecer aos peixinhos da ditadura do que ter de se haver com os ditadores de fato” e, para completar, ainda ser “cancelado” pela estridente e diminuta minoria de histéricos esquizofrênicos, eternamente refugiados nos jardins de Epicuro a viver as delícias de suas “personal dictatorships”.

O maior dano que toda ditadura provoca é a contaminação intelectual do povo, uns golfando suas pretensas superioridades e outros, mugindo em sua bovina e “previdente” obediência.

Esta ditadura, como qualquer outra, é uma merda.


Walter Biancardine




sábado, 22 de junho de 2024

CONGRESSO DOS EUA X STF: AS CONSEQUÊNCIAS DO CONFRONTO -

 


É, para mim, motivo de grande orgulho ser seguido no X-Twitter pela analista política Cissa Bailey, e creio ser desnecessário explicar toda a admiração que devoto à mesma, por suas análises e postura diante da vida.

Vi neste sábado, entretanto, postagem na qual expressava sua visão diante da carta expedida pelo congressista norte-americano Christopher H. Smith ao Ministro da Suprema Corte brasileira, Alexandre de Moraes, na qual solicita informações sobre as violações e atentados contra os direitos humanos e liberdade de expressão – incluindo a imposição de atos ilegais à empresas norte-americanas operantes no Brasil.

Segundo Cissa, “Carta de um congressista americano não representa TODO o congresso americano. Como dizemos aqui "you scratch my back, I'll scratch your back". Entendedores entenderão.

E é justamente nesta descrença expressada por Cissa que reside a diferença de nossas óticas: quem segue meus artigos, análises ou mesmo compra meus livros sabe perfeitamente que estou longe – muito longe – de ser considerado um otimista. As inúmeras cicatrizes da vida fizeram de mim um cético, pesadamente temperado pelo desalento do “Eclesiastes” bíblico.

Valho-me, entretanto, da sensação que tenho de ainda ser palpável – no povo e nas instituições norte-americanas – um mínimo apego a certas tradições, bem como vejo uma possibilidade da dinâmica própria daquele Congresso, aliada a um real comprometimento do congressista para com seus eleitores, fazer com que a repercussão e aderência às indagações de Chris Smith cresçam cada vez mais.

O congressista acima citado e autor das indagações à Alexandre de Moraes é republicano mas, segundo informações do próprio Paulo Figueiredo, não apoia Donald Trump e 55% de seus votos contemplam propostas criadas pelos democratas – o que, por si, já retira a pecha de “aliado de bolsonaristas”, expedido pela grande mídia brasileira.

Também é preciso lembrar do poder que os termos “direitos humanos” e “liberdade de expressão” possuem, perante a opinião pública e mesmo Congresso norte-americanos. Este pode ser o principal fator a desencadear a “dinâmica do Congresso” que citei acima, acrescida do fato da tal carta certamente ser muito bem vinda aos apoiadores de Trump em Washington, pela similaridade de abusos cometidos pelo judiciário brasileiro e o que ocorre nos Estados Unidos, desde a última eleição presidencial: dificilmente os republicanos aceitarão ser “garfados” novamente.

Estivéssemos falando sobre parlamentares e congresso brasileiro e eu endossaria, letra por letra, a descrença da excelente Cissa Bailey. Como falamos de Estados Unidos da América, ainda acredito em um mínimo de vergonha na cara, aliada à saudáveis pretensões eleitorais.

Cissa Bailey, entretanto, é cidadã norte americana, lá vive há anos e conhece muito mais a realidade daquele país do que eu, mero e obscuro escrevinhador e que jamais pôs os pés fora do Brasil. Vamos ver o que acontece.

Não é otimismo, mas quase uma aposta esperançosa.



Walter Biancardine






sexta-feira, 21 de junho de 2024

BOMBA CONTRA O STF! (Via Paulo Figueiredo, EUA)



Congresso dos EUA intima Alexandre de Moraes a explicar violações de direitos humanos em dez dias.

O Congresso dos Estados Unidos deu um prazo de dez dias úteis para o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes responder a questionamentos sobre supostas violações de direitos humanos no Brasil. A intimação foi feita por meio de uma carta enviada pelo congressista Christopher H. Smith, presidente da Subcomissão de Saúde Global, Direitos Humanos Globais e Organizações Internacionais.

Na carta, Smith solicita esclarecimentos sobre uma série de questões, incluindo censura prévia, restrições a jornalistas e mídia, perseguição a parlamentares e possíveis violações de devido processo legal. O congressista também questiona se houve ações contra indivíduos ou empresas fora da jurisdição brasileira, especialmente nos Estados Unidos.

Christopher H. Smith, conhecido por ser o congressista mais antigo dos Estados Unidos, tem um histórico de apresentar projetos de lei bem-sucedidos que sancionam governos estrangeiros por violações de direitos humanos. Um exemplo notável é a legislação que ele propôs contra o governo da Bielorrússia.

O pedido de esclarecimentos surge após uma audiência pública realizada em 7 de maio, intitulada "Brasil: Uma Crise de Democracia, Liberdade e Estado de Direito?". Segundo Smith, os testemunhos apresentados na audiência forneceram "fatos e evidências credíveis e substanciados" sobre problemas relacionados à democracia e direitos humanos no Brasil.

A carta foi também enviada a outras autoridades brasileiras, incluindo os presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados, do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral.

Smith afirma estar trabalhando em uma legislação relacionada a essas questões com outros membros da Câmara dos Representantes, ressaltando a urgência da resposta solicitada. Ele também enfatiza seu compromisso em fortalecer as relações entre os Estados Unidos e o Brasil.

Esta situação pode potencialmente impactar as relações diplomáticas entre os dois países e coloca em evidência as preocupações internacionais sobre o estado da democracia e dos direitos humanos no Brasil.

Abaixo a carta na íntegra: (já traduzido. Originais anexo, nas fotos acima)

"Ministro Alexandre de Moraes
Supremo Tribunal Federal
Praça dos Três Poderes
Brasília - DF - CEP 70175-900
gabmoraes@stf.jus.br

Assunto: Inquérito do Congresso dos Estados Unidos sobre Abusos de Direitos Humanos no Brasil
Prezado Ministro Alexandre de Moraes:

Escrevo-lhe na minha capacidade de Membro do Congresso e Presidente da Subcomissão de Saúde Global, Direitos Humanos Globais e Organizações Internacionais.

No dia 7 de maio, presidi uma audiência pública da subcomissão intitulada "Brasil: Uma Crise de Democracia, Liberdade e Estado de Direito?". O objetivo desta audiência foi discutir os alarmantes relatos de violações generalizadas dos direitos humanos cometidas por autoridades brasileiras, incluindo má conduta judicial, perseguição à oposição política, supressão da liberdade de expressão e silenciamento da mídia de oposição. 

Os testemunhos dados na audiência forneceram fatos e evidências credíveis e substanciados sobre esses problemas, e traçaram um quadro profundamente perturbador do estado da democracia e dos direitos humanos no Brasil. A audiência levantou sérias preocupações entre os membros do Congresso dos EUA sobre o estado da democracia no Brasil.

Devido à gravidade das questões, e para garantir que as relações entre os Estados Unidos e o Brasil sejam conduzidas com base em informações precisas, solicito respeitosamente que o senhor forneça esclarecimentos sobre os seguintes assuntos:

1. Existem atualmente jornalistas ou outros indivíduos cujo conteúdo está sujeito à censura prévia por sua ordem, incluindo, mas não se limitando a medidas como bloqueio de contas em redes sociais, remoção de sites ou conteúdo online, ou quaisquer outras ações que impeçam a publicação ou livre disseminação de informações?

2. O senhor tem conhecimento da emissão de quaisquer ordens que tenham resultado no fechamento ou suspensão das operações de veículos de comunicação no Brasil? Da mesma forma, o senhor tem conhecimento de quaisquer ações tomadas por uma entidade governamental que tenham dificultado jornalistas de exercer suas funções profissionais, como o congelamento de seus ativos financeiros ou a imposição de restrições às suas liberdades civis, incluindo ordens de prisão ou o cancelamento de seus passaportes?

3. Algum membro do parlamento brasileiro foi processado, investigado ou sujeito a medidas cautelares, como congelamento de bens ou restrições de viagem, devido a opiniões expressas ou ações tomadas no curso do exercício de suas funções parlamentares?

4. Em suas investigações e processos contra indivíduos, o senhor observou o devido processo legal, incluindo fazer as devidas notificações e citações em casos de indivíduos residentes nos Estados Unidos?

5. O senhor tem conhecimento de alguma instância de repressão transnacional, incluindo o uso de agências dos EUA ou organizações internacionais operando nos EUA, como a Interpol, para assediar indivíduos atualmente em território dos EUA e sob jurisdição dos EUA? Em 21 de maio, o Comitê Judiciário da Câmara enviou uma carta ao Diretor do FBI afirmando que o Comitê Judiciário havia encontrado evidências de que, agindo em nome do governo brasileiro, o FBI havia contatado dois residentes dos EUA, um dos quais era um jornalista alvo de ordens de censura emitidas por tribunais brasileiros. Por favor, compartilhe qualquer informação que o senhor tenha sobre este e outros casos.

6. O senhor solicitou dados ou emitiu ordens contra empresas ou indivíduos que não estão sob sua jurisdição geográfica, incluindo empresas ou indivíduos sob a jurisdição dos Estados Unidos da América?

7. O senhor exigiu que empresas ou indivíduos dos EUA cumprissem ordens cuja legalidade é questionável sob a lei brasileira, incluindo ordens que ameaçam empresas ou indivíduos dos EUA com ações legais contra seus funcionários, com multas ou com bloqueio, proibição e/ou desconexão deles no Brasil?

Solicito respeitosamente que o senhor forneça uma resposta dentro de dez dias úteis, pois estou atualmente trabalhando em legislação relacionada a este assunto com outros membros da Câmara.

Como o senhor deve saber, tive o prazer e o privilégio de viajar para o seu país, de conhecer e trabalhar em questões de direitos humanos e estado de direito com muitos brasileiros e brasileiros-americanos, e permaneço profundamente comprometido em fortalecer a relação entre os EUA e o Brasil.

Atenciosamente,

CHRISTOPHER H. SMITH
Membro do Congresso

CC:
Senador Rodrigo Pacheco, Presidente do Senado Federal
Deputado Arthur Lira, Presidente da Câmara dos Deputados
Ministro Luís Roberto Barroso, Presidente do Supremo Tribunal Federal
Ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha, Presidente do Tribunal Superior Eleitoral"

Matéria de autoria do jornalista Paulo Figueiredo, cuja iniciativa produziu o resultado acima.



quinta-feira, 20 de junho de 2024

TOFFOLI E SEUS 100 MILHÕES DE VOTOS -


Acompanhei o programa Oeste Sem Filtro hoje, das 18 às 20h, e logo depois ainda assisti Estúdio Oeste, iniciado às 20h, e ambos comentaram e criticaram a fala absurda do Ministro Dias Toffoli, do STF, na qual arrogava para si e seus pares a legitimidade popular resultante dos 100 milhões de votos - soma de votos dos presidentes que os indicaram ao cargo com os dos senadores que os aprovaram na sabatina.

Em ambos os programas, bem como em todos os demais que assisti em outros canais, todos criticaram em uníssono a fala do Ministro, inclusive desafiando-o para que perambulasse pela Av. Paulista e comprovasse tal "legitimidade". E nisso se resumiu todo o espanto de inúmeros e conceituados analistas.

Nenhum deles lembrou do básico: ainda que tal "legitimidade" para ocupar o cargo fosse válida, a função de Ministro de uma Corte superior e constitucional não concede aos seus titulares a faculdade de LEGISLAR, que é exatamente o que estão fazendo com a pauta de descriminalização das drogas.

O STF não pode, não está autorizado e muito menos possui qualquer legitimidade para, mediante sofismas retóricos e malabarismos no entendimento de leis vigentes, promulgar novas leis resultantes de seu único e exclusivo entendimento e interpretação sobre matérias já votadas no Congresso, pelos - estes sim - representantes da vontade do povo brasileiro.

O que o STF faz neste momento - e não é a primeira vez que assim procede - é ILEGAL e verdadeiro estupro às prerrogativas do Congresso, em clara violação da Constituição Federal e evidente exibição do regime ditatorial que impôs ao país.

O Congresso se tomará de vergonha na cara e reagirá?

Não, pois os parlamentares são julgados exatamente por este mesmo STF.

E todos - TODOS - tem o rabo preso.


Walter Biancardine



FILIPE G. MARTINS: TORTURA NUNCA MAIS -

 


A esquerda tem uma tradição histórica na exploração sensacionalista de seus cadáveres, ainda que produzidos por ela própria. Costumeiramente empregando táticas intimidatórias na tentativa de impor suas ideias – guerrilha, atentados, sequestros – o embate entre as partes inevitavelmente produzirá vítimas, e as mesmas sempre serão expostas na vitrine vitimista do marketing vermelho.

Ouvimos por décadas, aqui no Brasil, as lamentações pelo estudante Edson Luís, vitimado no conflito do restaurante “Calabouço (“podia ser seu filho”) e, revanchismo oportunizado pela abertura política, a infame “Comissão da Verdade”.

Livros foram escritos sobre suas “lutas inglórias”, nos quais o esquerdismo sempre era mostrado como um punhado de garotos inocentes, estudantes abnegados e armados apenas com pífio revólver .32 “roubado do avô”, querendo somente um mundo melhor e lutando contra as poderosas Forças Armadas brasileiras. E havia a tortura, que denunciavam – sim, o êxtase coitadista que não diferenciou o verdadeiro suplício de um “pau de arara” de um mero e duro tratamento policial: todos foram “torturados” e, portanto, deviam ser indenizados.

O fato é que a esquerda pretendeu tomar o poder via força bruta, com atentados, sequestros, bombas, assaltos a banco e guerrilhas, portanto as consequências se fizeram sentir.

E a direita?

Em primeiro lugar, a direita jamais tentou “tomar o poder”. Jamais constituiu-se de “células”, “comandos” – alguém lembra do “Grupo dos 11", de Leonel Brizola? - e confundir meras manifestações, sempre pacíficas se não infiltradas de esquerdistas, com “tentativas violentas de abolição do estado de direito” é esticar demais a corda. Igualmente, mesmo antes da assunção de Jair Bolsonaro à Presidência da República, a poderosa trincheira defensiva da esquerda já estava montada em todo o estamento burocrático – resultado de décadas de aparelhamento estatal – e o STF constituía sua linha de frente pois, como disse Rui Barbosa, “quando a ditadura é do Poder Judiciário, não há como lutar contra”.

E já nos idos de 2016 ou 2017 iniciava-se a intimidação, com pesada censura imposta às redes sociais, divulgação de calúnias objetivando a destruição de reputações e os infames “inquéritos” do STF – sempre iniciados mas nunca encerrados, pois que o medo é arma poderosa.

A índole sanguinária esquerdista não havia ainda, entretanto, sido satisfeita pois não haviam excusas para prender quem fosse, mas o golpe vermelho do 8 de janeiro – copiado à imagem e semelhança da farsa montada contra Donald Trump, no Capitólio – forneceu as razões, ainda que evidentemente inexistentes, para saciar tal fome da desgraça alheia.

Em nenhuma verdadeira democracia no mundo duas mil pessoas (número arredondado) foram presas de uma só vez, em manifestações. À parte a abominável perfídia empregada pelo Alto Comando do Exército nestas prisões (os detidos não foram informados de sua prisão mas, sim, que estavam sendo levados para local seguro), o fato é que as mesmas se deram em caráter indiscriminado, pouco importando se o detido era uma senhora portando apenas uma Bíblia ou pais e mães acompanhados de seus pequenos filhos. E, com o eterno apoio e cumplicidade da grande mídia, estava liberada a temporada de prisões injustificadas e orientadas apenas pela vontade soberana de Alexandre de Moraes, o Czar togado do soviete brasileiro.

A obsessão alexandrina em prender Jair Bolsonaro certamente faz de sua vida um inferno: seja sentado no vaso sanitário pela manhã ou viajando para uma de suas infindáveis “palestras” no exterior, a figura bolsonariana o persegue e domina seus pensamentos, tal qual paixão irrealizável por beldade distante. O derivativo é inevitável e, desesperado, encarcera todos aqueles que – segundo sua lógica abstrusa – podem fornecer alguma “evidência” de algum (qualquer um) ato supostamente “criminoso” do ex-Presidente. E como pode tal Ministro “encarcerar qualquer um” sem nenhum fundamento legal?

A lei? Ora, a lei… Dane-se a lei, a lei sou eu! - brada Alexandre, secundado e endossado por dez pares de mãos togadas, em aplauso regozijante pelo maravilhoso poder, auto-concedido a si próprios.

E tal redemoinho absolutista sugou Filipe G. Martins, acusado do tenebroso crime de ter sido assessor de Bolsonaro em seu governo.

A jovem mãe de duas crianças, presa perfidamente nas manifestações, bem como Filipe Martins, compartilham o inglório fardo de estarem presos segundo o único e invencível critério de assim ser o desejo de um Ministro do STF. A primeira é mantida no cárcere com o único propósito de intimidar o povo, amedrontando-o e fazendo com que desistam de novas demonstrações públicas de repulsa à tal ditadura. Já o desafortunado Filipe sofre o funesto cotidiano de resistir à solidão, à falta de lógica em tais ações, à desesperança, ao silêncio, a ter como única companhia as paredes e grades, dia após dia, um longo e angustiante dia após outro. E isso é – como o próprio sr. Gilmar, o Mendes, já outrora definira – tortura.

Pouco importa que tais arbítrios já tenham produzido mortos – Clezão é um deles, mas “esquecemo-nos” deste pobre homem – pois a sanha continuará até que Filipe, ensandecido pela solidão e desamparo, “confesse” qualquer coisa, pouco importando o que seja, desde que possa justificar a prisão de Bolsonaro.

Sim, a solidão compulsória é uma tortura e posso falar com conhecimento de causa, ainda que em posição infinitamente mais confortável que a do jovem Filipe.

Amarguras pessoais à parte, meu filho encontra-se bem e desfruta do amor e companhia de sua mãe – nada material falta ao mesmo, bem como não possui um pai que seja objeto de manchetes caluniosas e sensacionalistas nos principais jornais do país. Não sei se o jovem Filipe tem filhos mas, se os tem, em que condições estarão?

Meu degredo neste deserto foi fruto, entre outras coisas, de ser um personagem ativo em todo o processo que me exilou da vida em sociedade. E Filipe Martins, o que fez? Nada, apenas serviu em um governo que hoje é objeto de perseguição inquisitorial e descabida, este foi todo seu delito.

A mulher que eu amava segue bem, é uma profissional respeitada e bem sucedida em sua área de atuação; não sofre privações e, muito menos, embaraços por conta de seu (ex) marido. Mas e a jovem esposa de Filipe? Como se sustenta? Como enfrenta colegas de trabalho ou mesmo os pais de seus filhos, se já os tem?

Para minha família, sou apenas uma vaga e incômoda lembrança, à exceção de um irmão. E a família de Filipe? Por sua juventude, provavelmente ainda conta com seus amados pais vivos – e angustiados por sua situação. Como olham para o mundo, como enfrentam o cotidiano de trabalho, estudos, atividades sociais e toda essa mixórdia a qual chamamos “vida”? Com qual embaraço um pai ou mãe podem dizer “meu filho está preso”?

Por outro lado, se Filipe Martins tem sua alimentação fornecida pelo Estado em seu cárcere, minha maior preocupação é saber o quê comerei amanhã, dada minha situação. Mas ele sofre uma vergonha que não sofro, definha pelos amados que agonizam por ele enquanto eu, pela falta dos mesmos, despreocupo-me.

Tento enganar minha solidão e meu desejo de conversar vagando pelos pastos desertos de onde vivo, falando sozinho, rindo ou chorando de mim mesmo – e descarrego tudo isso escrevendo, estudando meus livros e buscando, como último lenitivo, distrações no YouTube ou demais redes sociais. Filipe Martins, não.

Nada dispõe o rapaz além de parcos metros quadrados de uma cela, sem caminhadas para espairecer, sem o gado distante para sorrir, sem a bela paisagem para admirar e – muito menos – sem poder escrever, estudar, saber das últimas nas redes sociais ou distrair-se com vídeos ou artigos. Nada além de paredes, escuridão e desesperança.

Para piorar, a solidão é amiga das horas e prima-irmã do tempo, fazendo nossos relógios caminharem lentos – já dizia Alceu Valença. E é sob esta ótica que atrevo-me a proclamar meu conhecimento sobre o sofrimento do pobre Filipe, pois a sensação de ser a única alma vivente em um universo de nada, cercado por coisa nenhuma e sem a menor esperança ou perspectiva que algo aconteça, é um processo enlouquecedor e que se fortalece com o – lento – passar dos dias, meses, quiçá anos.

Com toda a experiência de vida que tenho, somente eu sei o quanto me custa manter um perfeito (vá lá) equilíbrio emocional, a razão sã e uma psique intacta, diante de tanto nada, solidão e desesperança. Mesmo assim, tenho consciência que, se um dia voltar a desfrutar de uma vida normal as cicatrizes estarão presentes, pois não há ser humano que atravesse tal provação sem que profundas e dolorosas marcas tatuem seu corpo, sua alma e seus sentimentos. E Filipe Martins?

Não tenho respostas para esta última questão, bem como não as possuo relativas à inércia de um Congresso que nada faz para impor um ponto final em tanta barbárie, mortes, tortura e prisões arbitrárias, lançadas contra o povo por esta ditadura de toga.

Todos sabem que Lula voltou à Presidência para se vingar – e está se vingando. Todos sabem que a juristocracia vigente objetiva eliminar – entendam o eufemismo – metade do povo brasileiro, todo e qualquer um que destoe da nota lacradora e caótica, dominante em nosso atual processo de substituição de uma nação soberana por mera colônia chinesa e russa.

Todos nós sabemos disso, o Congresso sabe, o povo sabe, os políticos sabem mas Filipe Martins – bem como inúmeros cidadãos inocentes – continuam presos, na fila de espera para se tornarem cadáveres como o pobre Clezão, ou loucos disfuncionais que em nada ameacem o sistema.

Todos nós sabemos de tudo, mas o que fazemos é nada.

Que o bom Deus, Todo Poderoso, ampare Filipe Martins e sua família.



Walter Biancardine





terça-feira, 18 de junho de 2024

VALORES VERDADEIROS: FARINHA POUCA, MEU PIRÃO PRIMEIRO -


É fora de dúvidas que nossas conveniências pessoais sempre estão acima de quaisquer aspirações ideológicas; antes de buscarmos um mundo melhor, sempre cuidamos de garantir um “eu” satisfeito, seguro e confortável.

Mesmo o pensamento esquerdista – talvez o movimento mais avassalador registrado na história da sociedade – não conseguiria tamanha adesão e fidelidade sem o auxílio de dois poderosos fatores, extra-ideológicos mas garantidores da manutenção de seu contingente: as comezinhas esperanças (e promessas, ainda que veladas) de, uma vez “tomado o poder”, ganharem cargos no aparato estatal e a lisérgica adicção a filosofias e pensamentos que os desloquem e protejam da realidade, negando esta última com a convicção de assim procederem por “lógica racional e acadêmica”. Vamos traduzir e dissecar tais afirmações:

Em todo o mundo o ditado “quem tem padrinho não morre pagão” é uma realidade inegável, e isso se traduz no fato de que demonstrar engajamento e fidelidade, perante um grupo de aspirantes ao poder, certamente tornará este militante alguém digno de ocupar cargos em futuros governos revolucionários. Por óbvio que tal pensamento é universal e mesmo candidatos a prefeituras de diminutas cidades do interior valem-se de tal estratagema, diante de seus cabos eleitorais – os mais pragmáticos conhecem o teatro: um finge que promete, outro finge que acredita. Mas a esperança de obter seja o que for, sempre prevalece.

À parte o fato que governos esquerdistas sempre descambam para ditaduras – fazendo assim que o militante disponha de poderes arbitrários – tal é a dinâmica na luta individual pela sobrevivência, principalmente se temperada por ambições de alcançar alguma superioridade perante vizinhos: honestidade e retidão jamais foram a tônica a impulsionar tais “idealistas”. Assim, neste ponto, militantes de esquerda em nada se diferem de quaisquer outros ativistas políticos.

Vamos, então, analisar o segundo fator exposto acima: o mergulho de indivíduos e grupos em filosofias e pensamentos de fuga, que os coloquem à parte da realidade – algumas vezes até postando-se “superiores” – e seu habitat em um mundo próprio, dele e de seu pequeno círculo, em um cotidiano esquizofrênico e auto protetor.

A eficácia do amparo filosófico e até psicanalítico – eis que terapeutas são, em peso, esquerdistas – foi por demais comprovada nos anos 60 e 70. Obviamente o poderoso auxílio massificante da grande mídia, da indústria cinematográfica e das artes foi, igualmente, fundamental.

Vivemos, entretanto, em uma nova fase pós queda do muro de Berlim, com o pseudo “fim” do comunismo, e tal fato delineou a nova estratégia de arregimentar adeptos em um meio social que, nada mais tendo a perder e elevados em importância pela grande mídia, seriam fiéis eternamente: o lumpemproletariado.

Tal tipo de seres humanos – brindados com pomposo nome a substituir sua condição degradante – seriam os alvos perfeitos para a nova e poderosa droga mental, elaborada pela esquerda: o refúgio em um mundo próprio, de fantasias, proporcionado por intelectuais, professores e “influencers” digitais. E assim, em todos os meios de comunicação bem como nas artes, o culto à marginalidade, ao feio, ao disforme e mesmo à loucura pura e simples – palavra essa interditada na grande mídia, cujo conceito a psicanálise discretamente aboliu – ganhou espaço e tais delinquentes e desajustados tornaram-se ícones, no pesadelo felliniano dos dias atuais.

A difusão nos meios acadêmicos da marginalidade filosófica de Epicuro e seus jardins, onde desajustados e covardes se uniam em um mundo de fantasias impenetrável ao racional, permeou das universidades ao povão, através da grande mídia. Frases e conceitos como “você pode ser tudo o que quiser, basta querer” (gerações inteiras cresceram ouvindo isto, através da apresentadora Xuxa Meneghel em seu programa infantil) ou a abolição dos parâmetros de beleza – tanto pessoais quanto artísticos, arquitetônicos e de utensílios – coroavam a repetição hipnótica de músicas cujas letras resumem-se à palavrões, nomes de drogas ou mitificação do crime, sempre marcadas por pesada percussão ativadora de glândulas e sem nenhum traço de melodia, evitando-se de qualquer maneira a mais remota alusão ao que transcende.

O universo de ladrões, traficantes, prostitutas, degenerados, drogados, sociopatas, tarados e mesmo pobres pessoas loucas e disformes foi alçado à posição de “donos da verdade e da sabedoria”, impondo seus valores – ou a falta deles – à grande massa e criando, assim, gerações de zumbis incapazes de qualquer discernimento. No caso do Brasil e seu ridículo sistema de ensino, que resume-se a dar merenda e aprovar automaticamente qualquer aluno, independente de notas, tal estratégia obteve sucesso ainda maior e atingiu todas as classes sociais – mesmo os famosos “filhinhos de papais ricos” foram contaminados, adoeceram da demência preconizada por professores e grande mídia e hoje sonham, como maior ambição, morar em uma favela. No que diz respeito à esquerda, o ideal frankfurtiano da “destruição total de tudo” foi obtido com sucesso, ao menos nas terras tupiniquins.

Vamos agora fazer a mesma análise com aquele amontoado desconexo e confuso, que chamamos de “direita”.

Desnecessário reapresentar a miséria descrita nos primeiros parágrafos, onde militantes de esquerda e simpatizantes da direita se equivalem, disfarçando suas cobiças e ambições por trás de supostos ideais. Frisei a palavra “simpatizantes” para a direita pelo simples fato de tal pensamento não representar uma ideologia e, sim, apenas o resultado da evolução do homem em sociedade, ao longo dos milênios. Assim, a direita não possui livros como “Das Kapital” (Karl Marx), “Mein Kampf” (Adolf Hitler) ou quaisquer outras vitrines expositoras de um mundo melhor, o paraíso na terra vendido aos seus adeptos. E, se não há um “manual” bem como “mandamentos”, então não haverão “militantes” e, muito menos, fanáticos fundamentalistas.

Vale entretanto analisar a guinada, aparentemente mundial, à direita começando nos EUA com Donald Trump, seguido pelo Brasil com Bolsonaro, Argentina com Millei e, agora e surpreendentemente, a Europa (União Européia) capitaneada pela italiana Giorgia Meloni – deliciosamente sedutora em sua liderança, se me permitem o arroubo.

A bem da verdade os Estados Unidos da América posicionam-se como caso à parte, uma vez que podemos detectar um verdadeiro zelo dos eleitores em manter e preservar seus valores de classe média. Vale dizer que este conceito social de “classe média”, embora não criado pelos EUA, teve em seu território a maior massificação já vista em uma sociedade, adquirindo o papel de verdadeira e poderosa força motriz da nação e pouco disposta a abrir mão de suas conquistas em prol de “um mundo melhor” – eles já vivem em “um mundo melhor” e, por isso, conseguem detectar as artimanhas esquerdistas à milhas de distância.

Embora os países europeus igualmente possuam maioria populacional pertencente a citada classe, a mesma não exerce tão claramente seu poder motor da economia e, pior, um ambiente muito mais “acadêmico” que o norte americano os impele, com a força das justificativas intelectuais, a caírem nas tentações oferecidas pela esquerda e seu ninho universitário.

Mas se os desgostos impostos por economias decadentes não tiveram força suficiente para animar os “acadêmicos” europeus, os horrores da imigração muçulmana – verdadeira invasão de um país por outro, em contingente jamais visto – está, forçosamente, fazendo com que abram os olhos.

Podemos observar uma coordenação explícita nestes movimentos migratórios ao redor do mundo: líderes cripto-comunistas fazem vistas grossas – ou alegam razões humanitárias – e relaxam com suas fronteiras. Assim está sendo nos EUA, acolhendo milhares de latinos – maioria masculina e com antecedentes criminais – bem como em todos os países, outrora prósperos, da Comunidade Europeia, inundado por verdadeiro tsunami islâmico o qual impõe seus hábitos, leis, costumes e até idioma. Tal como nos EUA, estes muçulmanos são, em maioria absoluta, homens e os protagonistas únicos da onda de crimes (esfaqueamentos, assaltos, estupros) que se abateu em todas estas nações.

Somente a ameaça clara às suas vidas e de seus familiares impeliu os europeus à reação, fazendo com que a farsa da instituição “União Europeia” fosse percebida, verdadeiro conto do vigário que retirou a soberania dos países e entregou o poder à uma cúpula comuno-globalista que visa, apenas, o tão sonhado “governo único global”, juntamente com a ONU.

No Brasil, infelizmente, toda a repulsa ao PT deve-se ao fato de ter sido explicitado – através da Operação Lava Jato – que o mesmo não passava de uma quadrilha de ladrões. O brasileiro médio jamais compreendeu toda a ameaça representada pelo Foro de São Paulo e, muito menos, faz ideia do poder destrutivo contra seus valores e costumes que invade sua própria casa, todos os dias, pela TV e pelo rádio.

Se há algo em comum entre todos os exemplos citados acima é o fato da grande massa do povo só reagir – ainda que pesadamente dopado pela grande mídia – quando suas próprias vidas estão em jogo, seja pelo crime ou por uma miséria tão atroz que os expulse de suas próprias casas.

O século XX foi pesadamente dominado pela grande mídia, que sufocou toda e qualquer lembrança de valores, princípios ou ideais. Certamente ainda levará muito tempo – e sempre capitaneados pela internet – até que todos nós, pobres mortais comuns, nos vejamos defendendo valores e não, desesperados, a própria vida.

Se não calarem as redes sociais, este dia chegará.



Walter Biancardine





domingo, 16 de junho de 2024

ESTADO INTERVENTOR, O ABORTO E A PSIQUE HUMANA -

 


No livro “Introdução à Ciência do Direito”, o jurista Miguel Reale cunhou a expressão “jurisfação”, que seria o ato de tornar tudo em algo jurídico, e citava “a progressiva jurisfação da vida social”, onde as relações humanas se invalidavam perante as relações legais.

O filósofo Olavo de Carvalho – fonte deste artigo – considera tal processo avassalador, destituído de quaisquer limites, sendo a regulação legal a única verdade aceita. Ora, diz Olavo que um dos elementos fundamentais para a existência de uma democracia é um Poder Legislativo atuante e soberano perante o Executivo e Judiciário (visão a qual só concordo se o sistema de governo for parlamentarista). A instituição citada acima, entretanto, é composta por quase seiscentos eleitos, que gastam seus dias a elaborar novas leis e regulamentações. E quantas são feitas, ao longo de um ano? Podemos estimar algo em torno de vinte a trinta mil – aprovadas ou não.

Tais leis vão, progressivamente, regulamentando coisas que anteriormente não eram regulamentadas, fazendo com que a onipresença do Estado sobre cada detalhe de nossas vidas torne-se cada vez maior e chegando às raias do paroxismo em determinações como “a proibição do uso do saleiro em mesas de restaurantes”, objetivando “proteger o povo dos males da hipertensão”.

O fato é que a realidade em que vivemos é a do Estado cada vez mais dominante, regulador, interventor e travestindo este abuso em “garantias de nossos direitos e liberdades”, expressão muito cara às facções progressistas no Congresso.

O tempo traz o costume e terminamos por nos habituar ao fato real sempre substituído pela lei, não mais nos importando e chegando ao ponto de não sermos legalmente “ninguém”, se um documento oficial não provar o contrário. Ora, haverá maior prova de existência além de sua própria presença em algum lugar?

Em um romance de Luigi Pirandello, “O Falecido Matias Pascal”, o personagem-título cansa-se de sua vida, abandona tudo e desaparece. Tempos depois, porém, a saudade o vence e Matias retorna à sua cidade para descobrir, chocado, que era considerado morto – inclusive com o reconhecimento de sua antiga mulher. E não havia retorno, ele era agora considerado oficialmente “falecido” e não teria como reverter a situação.

Assim, o personagem descobre que os documentos que o declaravam morto continham uma realidade superior à de sua própria presença e existência. Ele era um “nada”, pois o mundo enxergava apenas papéis e carimbos.

Esta é a nossa triste realidade cotidiana, a “jurisfação” percebida por Miguel Reale: como é possível que o Estado diga a mim quem eu sou, assim me defina e imponha tal condição, independente de fatos palpáveis e notórios? Como é admissível que o Estado tutele cada ato de minha vida, como se eu fosse um incapaz mental?

Se a identidade oficial prevalece sobre os dados da experiência direta (eu, aqui), somos apenas quem a sociedade – o Estado – diz que somos, através de um documento. Assim, hoje não se concebe que um ser humano seja algo de “per se”, por si mesmo, sem o devido reconhecimento estatal. E este é o argumento básico, fundamental do movimento abortista e daqueles que o defendem: só somos humanos após o Estado nos conceder tal condição. Cabe, portanto, perguntar como tais pessoas e entidades consideram um bebê, ainda na barriga da mãe – alguém que ainda não possui “existência legal” devidamente reconhecida pelo Estado (e cautelosamente deixado na área de sombra pela ciência)? Eles mesmos respondem: um “feto”.

Ideia falsa, monstruosa porém irresistível, para eles.

Se vivemos todos em uma sociedade manietada sob tais conceitos, não há como argumentar contra abortistas pelo fato de falarmos sobre seres humanos e eles, de “fetos”. São pessoas que não enxergam suas próprias identidades, em si mesmos, mas tão somente naquilo que a sociedade o definiu. Se alguém crê que sua personalidade e identidade são concessões estatais, por que raios achará que um “feto” – que não possui ainda nada disso – será uma pessoa como ele?

Não há argumentos que convençam um abortista, pois é preciso mudar a percepção que tem de si mesmo – e isto é fruto da propagação endêmica das teses epicuristas nos anos 80, denunciada por Olavo de Carvalho em seu livro “O Jardim das Aflições”.

O ponto focal deste epicurismo, semeado pelo sinistro José Américo Motta Peçanha em suas palestras, é a sedutora proposta de que não devemos tentar entender ou nos adaptar à realidade mas, sim, criar a nossa própria e nela nos refugiarmos – uma esquizofrenia filosófica, mas confortável fuga que abriga covardes acadêmicos e ideológicos até os dias de hoje. Não à toa, 95% das mulheres favoráveis ao aborto possuem nível universitário e são, portanto, já devidamente doutrinadas: seus pobres cérebros sofreram a “laqueadura” progressista.

Diante de tal estado de coisas, não há como negar que estamos diante de uma avassaladora realidade, a qual só poderá ser modificada à custa de muito tempo, esforços e total correção em nosso sistema educacional.

Um Estado interventor sempre danifica a psique humana; os efeitos em nosso país ainda serão sentidos e sofridos por décadas.



Walter Biancardine




sábado, 15 de junho de 2024

UM PEQUENO PASSO PARA O HOMEM, MAS UM GRANDE PASSO PARA MIM -


Não sei se, por efeito da idade ou do aprendizado imposto por rigorosa e longa solidão, mas o fato é que antigos interesses - que sempre me acompanharam desde longínqua juventude - tornaram-se verdadeiros imperativos, em meus dias atuais.

Tenho mergulhado nos estudos de teologia, filosofia, sociologia, antropologia, história, arqueologia e mesmo dedicado profunda atenção às ciências naturais e às artes.

Isso, entretanto, não me afasta da pessoa comum que sempre fui - por vezes, demasiadamente comum - e os meus pés, firmemente plantados no chão da realidade, trazem-me a preocupação sobre que espécie de homem serei, se um dia sair da provação em que vivo, tiver um emprego e buscar o convívio dos antigos amigos.

Apavora-me a possibilidade de ser considerado um esnobe ou, pior, louco e incompreendido.

É verdade que, quanto mais adquirimos algum conhecimento, menos interesse dispensamos aos assuntos ditos "mundanos" (olha o esnobismo aí!) mas, à bem da verdade, sempre fui um desenturmado justamente por esta pouca atenção dispensada - não por precoce sabedoria mas por pura índole.

Neste momento, aguardo ser chamado para uma pequena intervenção cirúrgica mas programo meus dias posteriores - assim que estiver com a cara cicatrizada - a buscar trabalho de maneira incessante, garantindo minha estranha ambição de pagar um aluguel, contas de água, luz e, principalmente, tentando sentir-me novamente alguém integrado à sociedade - o fim de meus dias de náufrago, em uma ilha de mato cercada de solidão por todos os lados.

Que Deus preserve meus pés no chão e me conceda a graça de ser aceito em algum trabalho.

Inúmeros defeitos, que certamente possuo, não podem ser tão horríveis que me impeçam de trabalhar e viver dignamente.

O tempo dirá.


Walter Biancardine



terça-feira, 11 de junho de 2024

OS USUÁRIOS DAS REDES SOCIAIS E SUA CEGUEIRA SELETIVA -


Nem os próprios encastelados no poder conseguem disfarçar o incômodo e a inconveniência causada pelas redes sociais que, aliadas à simples celulares, retirou o monopólio da verdade das mãos de seus eternos cúmplices, a grande mídia e a cultura de massa.

Redes honestas, sem algoritmos censores e “políticas de uso”, tem até hoje o condão de desmentir as falácias empurradas por governos e jornais, e por isso – nada é a toa – o Rumble foi banido do Brasil, estando o X-Twitter por um fio de seguir o mesmo destino.

Existe, entretanto, o lado negro da força e ele se encontra em nós mesmos, em nossa infinita infantilidade ao preferirmos a alienação de “não nos aborrecermos com estes assuntos”. Sim, “de aborrecida já basta a vida” e as alegações são sempre iguais: “Para quê? Não vai adiantar mesmo, e ainda posso ser preso ou prejudicado em meu trabalho!”

Aliado a tal tendência bovina e passiva, os algoritmos trabalham furiosos em redes de maior relevância, como Facebook e YouTube – mas cabe ressaltar que esta última plataforma, de vídeos, ainda exibe alguns teimosos combatentes, na resistência por nossa liberdade e dignidade humana. Já o Facebook é o verdadeiro paraíso dos narco-ditadores e lacradores de plantão: se não censuradas e excluídas, as postagens de cunho social ou político – que não sejam lacradoras – são solenemente ignoradas pelos usuários, pouco importando se quem a postou possui uma rede de 5 mil “amigos” adicionados ao seu perfil: não merecem um único e mísero “like”.

As pessoas que assim se comportam, alegando que as redes sociais são “apenas um passatempo”, recusam-se a enxergar a poderosa arma que tem nas mãos, desprezam a única chance que temos – miraculosamente ainda a nossa disposição – de combater na verdadeira guerra cultural e social que atravessamos. Temos, nas mãos, poderoso canhão mas nos recusamos a usar.

“Guerra? Que guerra?”, perguntarão eles, alegando não existirem tanques e soldados nas ruas e travestindo a omissão covarde em algo que beira a demência. Se tais pessoas não aprenderam – e não sabem, ou se recusam a saber – o que é uma “guerra cultural”, é certo que tal ignorância é filha de sua fecunda covardia, pródiga em parir desculpas sem pé nem cabeça, desde que ele “não se aborreça”.

O resultado disso foi o surgimento de algumas “regras” – chamemos assim – para que uma postagem no Facebook seja bem sucedida, obtenha muitos “likes” e, até quem sabe, compartilhamentos. São elas:

1 – Nunca poste coisas sobre política, a menos que sejam “ações sociais maravilhosas do governo” ou atos políticos como a “Marcha da Maconha” ou “Orgulho Gay”.

2 – Publique fotografias suas, junto ao seu par e em poses bem românticas, com paisagens bem bonitas que vocês desfrutaram, em suas férias.

3 – Bom humor? Poste uma foto de seu prato, sempre bem cheio de comida.

4 – Receita de sucesso imediato: selfies ou – para mulheres – fotos onde, “por acaso”, a bunda apareça. Seguirão centenas de “likes” e os indefectíveis “lindo(a)”, “maravilhoso(a)”, “gato(a)” e até, quem sabe, um “demais”!, pouco importando se sua cara está em ruínas ou seu corpo seja um atentado a luxúria.

5 – Fotografe suas conquistas: um carro, moto ou, principalmente, a casa nova.

6 – Publique displays contendo frases de auto-ajuda ou imagens de santos.

7 – Fotos suas no trabalho ou academia também conseguem resultados muito bons, mostrando o quanto você é esforçado(a) e digno(a) de admiração.

8 – Eventualmente – mas muito eventualmente – publique fotos de um buraco na rua ou filme uma mendiga pedindo esmola nos semáforos. Isso emprestará a você a imagem de uma pessoa que tem “consciência social”.

Já há muitos anos firmei a convicção de que o melhor – ou o pior – de um país é seu povo e, a julgar pelo que vejo no Facebook ou Instagram, prefiro usar tais redes apenas como uma espécie de diário, para registrar o que vejo. É como a boa lição que aprendi na solidão: falar sozinho é uma poderosa terapia (tal qual escrever um diário) e por isso, diversas vezes edito o que postei para corrigir erros de digitação ou frases que não saíram claras o suficiente. Escrevo, escrevo, escrevo e, nesse ínterim, penso.

Não tenho mais motivos para usar o Facebook para nenhum outro objetivo que não seja um “copidesque” digital, pois a repercussão é nula. Já o YouTube, dei-me conta que ninguém quer saber o que digo e sim se o que falo é a opinião deles, saindo de outra boca – e, portanto, sem maiores consequências para o telespectador. 

Considerando toda a barbaridade que a plataforma acima fez comigo, ao desmonetizar-me e excluir 27 vídeos meus – proporcionando à UOL boa chance de me caluniar em suas matérias – decidi só utilizá-lo em casos de extrema emergência, pois não quero perder um local onde divulgo minhas ideias desde 2009 e que já obteve grande sucesso, ao denunciar a tentativa de assassinato contra Jair Bolsonaro, com quase 190 mil visualizações. 

O mesmo possui um grande valor sentimental para mim, também e principalmente pelo fato de meu professor - o filósofo Olavo de Carvalho - ter postado vídeos meus em seu próprio canal.

Hoje, a única rede que mantenho plenamente ativa é o X-Twitter, encontrando interatividade – sejam a favor ou contra – e obtendo seguidores como o Sr. Sepúlveda (PHVox), Cissa Bailey, Renato Barros, Tradutor de Direita, Fábio Talhari, Hermes Magnus (que denunciou o Mensalão), Contra Cultura, o jornalista português Sérgio Tavares, Cláudio Lessa, Folha Política, Prof. Borto, Canal da Belinha Nogueira e mais alguns outros, que admiro e me honram com sua adesão.

Para finalizar, acrescento que a consequência inevitável do acima exposto é fazer uso da vocação dada por Deus e escrever livros – sim, livros, pois toda a internet mundial pode sucumbir a uma simples falta de energia. E os livros podem ser lidos à luz de velas e deixados para filhos e netos.

Tenho minha página pessoal, minha conta (a terceira) no X-Twitter, um YouTube censurado e faço meus rascunhos no Facebook.

Feci quod potui. Faciant meliorem potentis.

(Fiz o que pude. Quem puder, faça melhor)



Walter Biancardine




domingo, 9 de junho de 2024

A CAVERNA DE PLATÃO E O CAMINHÃO FENEMÊ -

Tão poderosa foi a impressão causada pelo extinto e saudoso caminhão FNM (Fenemê, para os íntimos) em tempos idos que, até hoje, decorridos quase setenta anos de seu lançamento, ainda provoca sorrisos evocativos e serve como referência de força, brutalidade e poder.

Na realidade, o mesmo contava com um resistente motor de seis cilindros, fabricado sob licença da Alfa Romeo italiana, mas que entregava apenas 150 HP – potência bastante razoável para a época, mas nenhum exemplo de força exacerbada, já que os modestos Mercedes chegavam aos 100 HP.

Nos dias atuais podemos ver com facilidade, nas estradas, cavalos-mecânicos da Scania, Volvo ou mesmo Mercedes, arrastando incontáveis reboques – os famosos nove-eixos – com trinta metros de comprimento, mais de 70 toneladas sobre o lombo e despejando gloriosos 600 a 700 HP em nosso pobre asfalto. Mas, nem de longe, emanam a mesma impressão de força bruta e poder dos inesquecíveis FNM, cuja humilde potência era anabolizada por miraculoso conjunto de caixa de marchas e diferencial. Ora, ponha-se um Scania e um FNM, lado a lado e com motor ligado, e adivinhe qual dos dois irá impressionar mais o aficcionado? Sem dúvidas, nosso vovô das estradas.

E por quê? Por causa de seu impressionante ronco – um baixo-profundo em compasso lento e majestoso, poderoso barítono que, em rotações mais altas, fazia estremecer vidraças e corações ao ouvi-lo. Seu verdadeiro poder era “sensorial”.

É neste exato momento que entram Platão e sua famosa (no bom sentido, é claro) caverna.

Sem complicar demais, podemos dizer que as “sombras” projetadas nas paredes das cavernas – projetadas pelo que acontece na vida real, que se passa no exterior da mesma – podem ser entendidas como tudo o que sabemos do mundo através da grande mídia, sem jamais vermos com os próprios olhos o que realmente se passa. Uso essa interpretação, que também é válida, para direcionar o foco deste artigo e ainda acrescentar que esta mesma percepção – as sombras – podem igualmente ser lidas como as nossas impressões “sensoriais”.

E onde entra o “sensorial”, na atual conjuntura?

Ora, temos um consórcio midiático a mostrar tudo o que se passa sob uma única ótica, tendenciosa e ideológica. Do mesmo modo, toda a indústria cultural – cinema, teatro, livros, artes em geral – igualmente ecoa tais tendências. Considerando a carência de fontes alternativas, que empreste à realidade outros pontos de vista, nada mais natural ao ser humano que entender o exibido pelo grupo acima citado como “a verdade” e, pior, um “consenso” já estabelecido por pessoas “respeitáveis” e que jamais endossariam atos ou intenções – e ações – deploráveis e criminosas.

Vamos ao âmago da questão: qual o número de pessoas que, de fato, escrevem reportagens, livros, peças de teatro, pintam quadros, atuam em novelas de TV, cantam músicas ou – em posição supostamente superior – atuam politicamente em cargos públicos, eletivos ou não? Contando todo o contingente, disperso pelos diversos países do planeta Terra, chegaria a dois milhões?

Pois bem, tomemos este número. Se tanto, dois milhões de pessoas controlam, manipulam e moldam as opiniões, gostos, preferências, religiões e até a sexualidade de oito bilhões de pessoas (segundo estatísticas da ONU) em nosso planeta, e o número de “controladores” certamente é bem menor, pois a grossa maioria deste contingente é formado por pessoas já devidamente “hipnotizadas” doutrinariamente, e não daqueles que realmente decidem e mandam – estes não chegarão a uns 600 mil em toda a Terra. Seiscentos mil mandando em oito bilhões.

E temos, diante de nossos olhos, um Fenemê social a exibir potência e força que realmente não dispõe – os tais e pobres 150 HP, turbinados pela caixa de marchas chamada “grande mídia” e “cultura de massa”. O ronco impressiona, o barulho intimida. Mas é só.

Para exemplificar de modo mais palpável, suponhamos que o leitor faça uma determinada postagem em suas redes sociais. Logo depois, uma chuva de trinta, quarenta ou mais comentários aparecem, execrando seu ponto de vista e condenando o pobre coitado de todas as maneiras e adjetivos possíveis. A mais humana das reações será a certeza de que seu pensamento ou opinião postada é um absurdo completo, perversão condenável, e ele jamais se atreverá a cometer outra sandice como aquela, resguardando prudente silêncio ou, pior, fingindo concordância com o que não acredita.

Devemos notar, entretanto, que tal intimidação partiu de um universo de trinta ou quarenta pessoas, de algum modo relacionadas ao autor ou a amigos do autor. Pois bem, e os outros? E os outros (para ficarmos só no Brasil) 230 milhões de brasileiros, o que achariam de suas opiniões? Ele não sabe e, considerando seu trauma, provavelmente jamais saberá. Assim, em pequena escala, tivemos o mesmo “efeito Fenemê” do parágrafo anterior, exibindo um poder numérico que não tem e um suposto – mas inexistente – consenso dos “homens de bem”.

O fato é que o povo – seja em qualquer país ou sob qualquer regime – sempre será um Scania a carregar, com seus 700 HP, toda uma nação e governo nas costas mas deixando-se impressionar – e intimidar – pelos parcos 150 HP de um Fenemê, pilotado por meia dúzia de degenerados mas que conhecem muito bem, e sabem usar, todo o poder “impressionista” de seu ronco de trovão.

Que, aliás, é seu único poder.



Walter Biancardine



sábado, 8 de junho de 2024

A FOME INSACIÁVEL DE DINHEIRO -


O advento do Rock in Rio marca, ao menos no Brasil, o fim das apresentações tradicionais de cantores ou bandas, em casas de show consideradas “normais” para a época. Este “normal” significava uma lotação entre 200 a 700 pessoas, sendo capacidades como a última citada um mote de venda e oferecidas como “mega-shows”.

Aliado ao acima citado, a legislação de então permitia que candidatos a cargos eletivos, bem como prefeituras e governos estaduais, contratassem artistas pagos pelos dinheiros públicos – uma prévia da Lei Rouanet e, igualmente, verdadeiro sorvedouro monetário.

E isso foi o suficiente para que – cobiça desperta – o desejo de levar sua arte ao povo e o reconhecimento pelo mesmo fossem prontamente substituídos por obscenas visões de cordilheiras de dinheiros, proporcionadas por tais espetáculos que comportavam, por vezes, centenas de milhares de pessoas. As tradicionais “temporadas” de três, quatro meses – ou mesmo mais, em caso de grande sucesso – em casas de shows desapareceram, bem como as mesmas (citaria, no RJ, Canecão e Scala), desprezadas que hoje são por tais artistas, cujo foco não é mais o público: são multidões.

Tempos idos, sucesso era uma longa temporada de seis, sete meses com casa lotada – 600 pessoas por noite, e artistas trabalhando dura e diariamente, tal como o comum dos mortais. A recompensa era o reconhecimento público, muitas vezes com fãs que iam uma dúzia de vezes assistir o mesmo show, bem como generosa e merecida cobertura nos cadernos culturais de jornais e revistas. E o dinheiro, obviamente, além de merecido era bastante compensador.

Atualmente, a meca artística são eventos públicos – micaretas, révéillons, datas politicamente significativas, etc. Caso não estejam disponíveis ou haja algum impedimento legal, a mesma estrutura de lobby político que assessora tais artistas (sim, empresários foram trocados por lobistas) trata de conchavar com a grande mídia uma única e colossal apresentação, sempre em locais que impressionem o comum dos mortais, tais como estádios de futebol, praias de grande extensão ou mesmo logradouros públicos, desde que comportem multidões dignas de saírem no Jornal Nacional. E está feita a mágica: trabalha-se uma única noite e ganha-se milhões, não apenas do público mas, também e principalmente, de direitos de imagem, transmissão ou de patrocinadores, que lá estacionam seus pontos de venda, dos mais variados artigos – mais “variados” mesmo, acredite.

E o quê esse público vê, ou ouve? Nada. A experiência em um “mega-show” resume-se a enxergar o artista (distante uns 300 metros) pelo telão e ouvir um som péssimo, defasado e sem sincronia com o que acontece no palco – qualidade precária, aliada ao desconforto de hordas ensandecidas massacrando-nos com seus pulos e urros tribais, causando até ferimentos. Vale a pena?

Porém, a tal nível de deslocamento da realidade chegamos que, ao vermos um artista tocar e cantar em tímidos bares ou quiosques, sem tal aparato megalomaníaco e midiático, e concentrando-se em dar o que tem de melhor a seu público – cem, duzentas pessoas, uma “miséria” para os padrões atuais – o primeiro e automático sentimento que nos desperta é quase de piedade com tal “pobre alma”.

Mas não, esta é a verdadeira arte; é ir – como um dia disse Milton Nascimento – aonde o povo está.

O resto, que a Globo anuncia e transmite, é investimento.

Ou, pior, ação política.


Walter Biancardine



sexta-feira, 7 de junho de 2024

O SONHO DE UM FILME, A REALIDADE DO LIVRO -

 


Pouco importam severa autocrítica ou um niilismo pessimista com os quais sempre disfarcei, pretensamente frio e superior, uma despropositada e teimosa esperança em finais felizes – verdadeiro vício dos que tem a escrita por ofício.

Tamanho deslocamento da realidade, ao menos no tocante àquilo que de mais íntimo tento proteger, igual e certamente tem a companhia de outro cacoete profissional, acostumado que sou à vida sendo impressa em minha alma por experiências de terceiros: a absorção de personagens da ficção, atores políticos ou participantes de acontecimentos grandes o suficiente para merecerem livros, análises ou reportagens. Um longo viver termina por obrigar-nos a perguntar se o que vimos e achamos assim o fizemos por nós mesmos, ou através de olhos alheios.

Situações particularmente difíceis, aliadas à solidão compulsória e longa demais para suportarmos com a devida dignidade podem, eventualmente, causar a corrupção de nossos princípios e sentimentos mais secretos e fazer com que nos entreguemos à prostituição, à vida fácil do amor por determinados livros, filmes e histórias. Uma psique em fuga da realidade não encontra conforto apenas em seu conteúdo mas também – e pervertidamente – em seus personagens, violentando suas essências, personalidades e, baseando-nos apenas em situações ficcionais vagamente similares, emprestamos às suas personas a figura inalcançável ou mesmo inesquecível, irrecuperável, de um amor perdido para sempre.

Ultimamente tenho revisto, com bastante assiduidade, o antigo filme “Breakfast at Tiffany’s” (Bonequinha de Luxo), baseado em pequena novela do controverso escritor norte-americano Truman Capote. Assisti o mesmo pela primeira vez ainda adolescente, treze ou quatorze anos, em uma daquelas intermináveis reprises da TV passadas ao final da noite e, na ocasião, uma Audrey Hepburn silfídica, luxuosamente embalada por vestidos e roupas de Givenchy coroadas por sua beleza, alternante entre angelical e tentadora, imediatamente remeteu meus sentimentos mais escondidos a um amor, por mim considerado impossível, que cultivava desde tenra infância.

Sim, um verdadeiro escritor traz estes traços de nascença, mesmo antes de exercer sua profissão e isso pode ser uma lástima, a confundir todos os seus anos de vida posteriores, ainda que jamais adote – por prudência ou incompatibilidade com a pobreza – tal ofício.

É preciso dizer que a personagem, no filme, foi severamente “atenuada” por seus produtores em relação à obra original de Capote. Tal fato, aliado ao charme e à beleza exuberante da atriz e mais toda a atmosfera que a envolvia – o desejo indisfarçável por glamour, luxo e beleza – adesivaram à protagonista o status de “inatingível”, “inalcançável”, tal e qual sempre havia enxergado meu citado “amor impossível”.

Sim, da mesma maneira que o comum dos mortais suspirava diante das telas ao admirar uma Audrey, léguas acima de nossas pobres realidades cotidianas, também eu sonhava secretamente – e me conformava – com aquela que jamais poderia ter; bela habitante de um mundo superior e merecedora do mesmo por suas próprias qualidades, infinitamente mais refinadas e nobres que meus toscos mundo e viver.

E este foi o filme, este foi meu sonho.

Anos mais tarde, já adulto, li a pequena novela e vi que a personagem Holly Golightly (Audrey Hepburn) era apresentada em incontáveis degraus abaixo da encantadora garota mostrada no filme, sendo o mesmo livrinho recheado de sutis sugestões a temas que, depois, seriam – são, para ser exato – martelados por políticos, grupos e organizações de esquerda. Isso à parte, a mulher em si tal como é descrita, não apenas tem um fim diverso ao mostrado por Hollywood como, igualmente, exibe um comportamento bastante vulgar – para a época – e impermeável ao verdadeiro amor. Ou seja, do sonho cinematográfico despencamos para a história de uma garota de programa, sequer tão bela quanto a atriz que a encarnou. Sem querer emprestar demasiada “intensidade” à historieta de Truman Capote, ver o filme e só depois ler o livro seria como despertar de um sonho para a horrível realidade das carências humanas, em seu mais amplo espectro.

Seria um desacato – verdadeira calúnia – pretender aludir quaisquer deficiências de caráter a um amor que fracassou, apenas descrevo en passant o teor literário por desejar, com tal queda, significar a escuridão pessoal atravessada por aqueles que perderam amores; a queda do paraíso ao inferno, sem escalas, e a expulsão de um sonho para o ingresso ao pesadelo, ao desamparo e solidão – não à toa empreguei, no parágrafo acima, a expressão “a horrível realidade das carências humanas”.

Em meus cacoetes de escritor vejo, hoje, que passei uma juventude a sonhar com um filme; maravilhado e feliz vivi o mesmo já adulto mas, na velhice, ele acabou e sobrou-me apenas um livro, por demais desagradável – e sem nenhum personagem feminino, apenas a feira de vaidades e interesses que cercavam o protagonista, um aspirante a escritor o qual sequer chamava-se Fred.

E este foi o livro, este é meu pesadelo.

Ao menos, para o bem da sanidade mental, meu nome é verdadeiro.

Depois de tudo visto, tudo lido e vivido, aceitaria um café…



Walter Biancardine






quinta-feira, 6 de junho de 2024

LAMENTO, A TIFFANY’S FECHOU -


Existem certos insights que muitos de nós temos, de maneira eventual e sem nenhuma prévia e aparente razão, que por vezes nos fazem vislumbrar e compreender, deslumbrados, todo o aspecto de determinada situação. Em outras ocasiões tal epifania não se afigura tão maravilhosa – pelo contrário, nos ensombrece diante do triste, ou mesmo terrível, daquilo contido em tal e súbita percepção.

E o mesmo se deu comigo hoje, em uma manhã perfeitamente normal, na qual estava eu a escrever com uma das mãos e tomar o café da manhã com a outra. 

TV ligada, a desfilar vídeos aleatórios do YouTube sem que eu desse atenção, até que a escutei tocar a indefectível música Moon River. Neste momento abateu-se sobre mim, sobre o que ainda me resta de puro e verdadeiro nos sentimentos, a sombria certeza de que, para sempre, tomarei café sozinho: não mais uma Tiffany’s ao meu redor, não mais uma Audrey Hepburn a dar-me, com esmeraldas ainda sonolentas, seu doce “bom dia”. Não mais; nunca mais.

No filme “Breakfast at Tiffany’s” o personagem do ator George Peppard descobre-se apaixonado pela bela Audrey Hepburn e seus olhos de gazela. Reluta contra tais sentimentos, chega a abordar os mesmos com cinismo, pois bem sabe quem é a mulher que o destino irônico o fez amar, e tal luta interna – a inseparável distância – se desenrola ao longo da história. Mas havia um futuro pela frente, a insubstituível perspectiva de ainda ter tempo e vida diante de si.

Em meus dias não há mais Tiffany’s. Em lugar do cinismo adotei o escapismo, pois bem enxergo a viuvez por um coração que ainda vive e palpita – a inseparável distância.

E não há um futuro pela frente; meu insight foi a terrível certeza que os dias, os anos, o tempo, tudo passou e nada mais resta. 

A loja fechou, as prateleiras estão vazias, não há mais Audreys, fim do expediente.

Restam-me músicas e lembranças.

Coisa de velho.


There are no Audrey Hepburns in my Moonriver. 
The Tiffany's in my life went bankrupt.


Walter Biancardine