sexta-feira, 25 de abril de 2025

QUEM É QUE VAI PAGAR POR ISSO?


Um café, um cigarro, um trago
tudo isso não é vício;
são companheiros da solidão -
Mas isso só foi no início;
hoje em dia somos todos escravos
quem é que vai pagar por isso?” 

Esta música de meu amigo Lobão, “Revanche”, dá uma ideia de como me sinto e serve de gancho oportuno para escrever o que tenho a dizer neste momento, àqueles que ainda se dão ao trabalho de ler meus escritos.

Nada a dizer quanto ao café, cigarro e eventuais tragos – não me queixo deles e, como o próprio Big Wolf admitiu, “são companheiros da solidão”. O que me traz aos escritos é a nenhuma esperança de poder, ainda em vida, enxergar algum resultado das lutas e batalhas políticas que travo há mais de uma década, além da inconfessável vergonha de ser obrigado a admitir a derrota – sim, pois perdi a guerra.

Não me iludo: o Brasil jamais voltará a ser o que foi um dia. Vivo o fim de uma era onde as liberdades serão, cada vez, mais cerceadas e combatidas; tenho o difícil dever de aceitar a vitória do sistema, onde a ditadura está consolidada e colocará na Presidência da República apenas aqueles fantoches decorativos que cumpram seu papel de mostrar ao mundo “a normalidade do estado de direito no país”, através de urnas fraudulentas e judiciário onipotente.

Não há o que se esperar das Forças Armadas, eis que seu Alto-Comando está devidamente cooptado e regiamente pago por sua omissão – e se não temos armas, nada temos.

Do mesmo modo o povo brasileiro mal percebe, esta é que é a verdade, a situação em que estamos e se limita a queixar-se do preço dos supermercados e os impostos da Shein e dos Iphones. Certamente, um dia, nos acostumaremos – pois o brasileiro a tudo se acostuma, desde que não tenha de levantar do sofá para isso. E mesmo que nos revoltássemos, o que faríamos após termos sido trouxas o suficiente para entregarmos nossas armas na “Campanha do Desarmamento”?

A CNBB – porco sindicato de padres militantes – tomou conta da Igreja e pastores interessam-se apenas pelo dízimo e nada mais. O sistema de ensino está nas mãos deles, produzindo toneladas anuais de analfabetos funcionais, verdadeiros estúpidos sequelados intelectualmente, incapazes sequer de assinar o próprio nome. E a grande mídia nos fornece o “pão e circo” que mantém, com eficiência, 210 milhões de imbecis sob cabresto e entorpecidos por bundas e barrigas tanquinho.

Na internet, os “influencers” descobriram rendoso filão: ser “resistência”, queixar-se de Alexandre de Moraes e faturar milhares de reais com isso, no YouTube – jamais se interessariam em convocar atos de desobediência civil ou algo assim, pois estariam jogando suas subsistências no lixo.

Até aí – e poderia mesmo acrescentar muito mais fatos – a maioria de nós tem conhecimento, mas igualmente mantém ainda viva a chama da esperança, crendo desesperadamente (pois não há outra coisa a fazer além de crer) que tudo terá um fim e “Tio Trump” nos livrará disso.

Mas e eu?

Quanto a mim, não consigo me livrar da lucidez e do pensamento lógico, e ambos me mostram as nenhumas possibilidades de reverter tal situação – é a guerra perdida, que falei.

Para completar – e serei egoísta sim, pois jamais tive a pretensão de ser algum mártir ou santo – vejo hoje, com clareza, que joguei minha vida fora. Todas as portas da mídia estão fechadas para mim, pois nenhuns escrúpulos tive em expor indecentemente meu pensamento político. Do mesmo modo, gastei anos – décadas – preciosas de minha existência dando a cara para baterem, me condenando à solidão e isolamento ao invés de cuidar de minha subsistência e arranjar algum bom emprego. Ao fim e ao cabo, minha profissão hoje de nada me serve, pois nela não tenho mais oportunidades. Para piorar, aos 61 anos é evidente que em nenhuma outra ocupação serei aproveitado, pois sou um “provecto ancião” no mercado de trabalho.

Resumindo: joguei minha vida fora e em nada ajudei o Brasil. Tudo à toa, tudo jogado no lixo – esforços, sacrifícios, privações – minha vida inteira, enfim.

Assim, neste momento comunico que não mais escreverei nada sobre política. Nada consegui mudar, de nada valeu abrir os olhos de quem poderá somente sofrer comigo e nada mais, e nenhuma vírgula acrescentei ou retirei da dinâmica implacável do sistema. Caso continue escrevendo – velho vício que creio ser quase impossível abandonar – nada terei a dizer sobre togas, Brasília, Trump ou o que for. Me dedicarei apenas a ensaios filosóficos, crônicas do dia-a-dia e, é claro, alguns romances que tenho em mente escrever – e é só. Tardiamente aprendi.

Quanto ao pão de cada dia?

Não faço a menor ideia. Apenas cansei de apanhar.

Estou cansado, muito cansado.



Walter Biancardine



2 comentários:

Anônimo disse...

Também estou muito cansada, enojada e afins. "Quem é q vai pagar por isso?".

Walter Biancardine disse...

É o que sinto. Obrigado por seu comentário, é sempre muito importante para mim.