quarta-feira, 30 de abril de 2025

VALORES E PRINCÍPIOS NÃO SÃO ETERNOS -

 


A imagem que ilustra este artigo, feita através da Inteligência Artificial, é uma conveniente síntese do que pretendo discorrer aqui: mostra os dois maiores ícones norte-americanos que conseguiram transmitir ao mundo os tais valores e princípios.

John Wayne – talvez um verdadeiro símbolo dos Estados Unidos do pós-guerra e declaradamente republicano – que jamais interpretou papéis de personagens covardes ou traidores, juntamente com Clint Eastwood, epítome do individualismo, bravura, cabeça fria e coragem em um balcão de bar, como a beberem após concluírem terem feito a sua parte – e sabedores que tudo o que pregaram não permanecerá.

Pergunte a qualquer homem ou mulher de seus trinta anos quem são estes dois nomes e a resposta será um sorridente “não sei, isso é coisa de velho”. Sim, o tempo passa e os artistas acabam por cair no esquecimento, mas o lado negro do incansável relógio da vida é que – tal qual artistas – os ideais, conceitos morais e (obviamente) valores e princípios também se vão, com o vento dos anos.

Imagine ser um egípcio “old school”, adorador do Faraó e seus gatos, crendo na certeza da vida após a morte e, por isso, pronto a entregar a sua própria após o passamento de seu senhor. Os novos tempos que vieram depois não o assustariam? Não acharia tudo isso uma indecência, heresia e pura decadência? Mas eles vieram, levaram todo esse universo embora e restaram apenas as pirâmides.

Mesmo o maior império que a humanidade já conheceu, Roma, também passou: seus costumes, o que consideravam correto, normal, moral – incluindo escravos gregos letrados, que educavam os filhos de famílias abastadas – bem como suas conquistas tecnológicas que incluíam água encanada e quente, sistemas de esgoto e um arcabouço legal que, este sim e por conveniência ainda perdura, mesmo que grotescamente vilipendiado. E Roma, seus valores, sua moral e seus princípios também passaram.

Seria cansativo e tedioso enumerar os incontáveis impérios e civilizações que, um dia, dominaram o mundo, impuseram seus costumes mas apagaram como chama de vela ao vento.

Pois este ciclo é imutável; tudo passa e mesmo estruturas conceituais de uma sociedade – sempre consideradas lógicas e eternas – se foram. Terminaram por ceder às forças esmagadoras de novos reinos que traziam novos princípios e ideias, impondo-os pela força das espadas e braços guerreiros.

Talvez seja este momento de agonia que vivemos hoje, onde pequeno amontoado de conservadores tenta manter vivo – ainda que, literalmente, por aparelhos – um sistema moribundo que está sendo vencido (e esta é a ironia) não pela “força das espadas e braços guerreiros”, mas por noticiários de TV, filmes no cinema, peças de teatro e até propagandas: jamais nossa fragilidade mental foi tão exposta, tão evidente e, por consequência, tão usada.

Os “novos impérios” sabem, hoje, que não mais são necessárias armas, guerras e sangue para subjugar todo um sistema civilizatório: basta meia-dúzia de “luminares” afirmando qualquer absurdo, para que seja alvo de matérias de jornal comentando-o, depois virão os filmes de cinema sobre o mesmo e explicando que não é tão mal assim e, por fim, comerciais de TV banalizando-o – e estará completado o ciclo de normalização e dominação das vontades alienígenas.

Certamente, no passado, alguns egípcios – ou mesmo romanos – que se consideravam “tradicionalistas” revoltaram-se contra os “novos tempos”. Se reuniram, planejaram, conspiraram mas nada foi obtido, pois as forças que se opunham eram deveras maiores. Tal somos nós, conservadores, hoje – com a diferença de sermos completamente desfibrados, sem vestígios de coragem moral e física, já nascidos e criados sob influência da poderosa arma exploradora de nossa fragilidade humana, como seja, a grande mídia e a cultura de massa. Materialmente, tal arma sequer existe mas, em efeitos e resultados, é verdadeiro veneno a corroer a alma e o tônus do ser humano. E estamos em vias de capitulação.

Não temos mais um John Wayne a lutar conosco e mesmo um Clint Eastwood acaba de completar 95 anos – sequer é justo esperar por ele. Há, no momento, um Donald Trump, uma Giorgia Meloni, um Bukele e mais um rarefeito punhado de líderes, com prazo de validade determinado por lei ou pela curta duração da vida humana. Mas, e depois?

Não sei vocês mas, quanto a mim, seria um glorioso réquiem de minha porca existência sentar neste balcão e beber uns tragos junto dos senhores Wayne e Eastwood, mas sequer isso é possível.

Terei de beber sozinho.

O tempo não pára e tudo leva consigo.


Walter Biancardine



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