sábado, 26 de agosto de 2023

OS SEIS SENTIDOS DO AMOR


E os meus olhos viram uma verdadeira princesa, tal como nos contos de fada, e enlaçamos nossas pequenas mãos para entrarmos na igreja. E da inocência de crianças brotou o amor mais puro, que sequer o tempo, as sujeiras e cicatrizes da vida iriam manchar.

Apertei suas mãos – tão pequenas nestes dias, mas ainda assim hoje – e somente dezenas de anos depois pude tocá-la além disso. Minhas mãos sentiram sua pele, a ruivice adornada pelo ouro platinado de cabelos tão finos que perderam-se em minha alma, que já crescida, descobria outros encantos em tudo dela que pudesse encostar. Pele quente como o verão, refrescada pelo verde selvagem que então, finalmente, olhava para mim.

O calor tem cheiro, algo que nos enche por dentro e aquece; a mistura cosmética vencida pela paixão que farejei e jamais esqueci; a vaidade faceira derrotada pelo desejo. E mais não digo para não parecer cachorro, cheirando enlouquecido cada polegada de sua sorte, curvilínea e imerecida.

Mas, inevitável, descubro-me com a boca molhada. Gosto inesquecível e inconfessável, desejar devorá-la por completo, bebê-la de um só gole tal qual licor quente que nos amansa o sono. Não: mais que licor, uma fruta – frutas embriagam mas estas, em sua natureza, não devem ser bebidas.

E no tanto que meus sentidos percebiam isso, também mereci ouvir sua voz – tão suave – enlouquecer e enrouquecer, rugido de fera bravia que anunciava: o devorado era eu.

Tudo foi tão rápido que, sequer, pensei no que fazia. O que fiz, em desespero, quebrou o encanto da fada, e a fera recolheu-se, ferida.

Mas tal como as almas – não eternas, mas imortais – um amor assim é destino. Não importa o quanto eu viva, não importa mesmo se morro, pois tais destinos não foram traçados por vontade nossa.

Que venha a morte e tudo leve de mim. Mas nesse amor ela não tocará, pois é imortal.

E terei a eternidade para reconquistá-la.

Este é o sexto e verdadeiro sentido do amor.

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