sábado, 26 de agosto de 2023

SETE DE SETEMBRO: EU VOU

 


Em dias de judiciário putrefato e desacreditado, notório e atuante capanga na instauração da mais perigosa ditadura que o Brasil já viu, um pobre e míope desembargador alcança seus quinze minutos de fama ao aconselhar que os brasileiros não compareçam ao tradicional desfile cívico, em comemoração ao grito inútil da independência, dado por nosso primeiro e atormentado Pedro, Imperador.

Replicado exaustivamente nas redes sociais e endossado por comentaristas corajosos da Jovem Pan Baurú, renomados mas completamente desprovidos de senso da dinâmica histórica que nos envolve, tal apelo apenas nos eternizará no papel de bovinos passivos e medrosos, fornecendo graciosamente aos ditadores de plantão a certeza de nosso medo e submissão, ingrediente essencial à manutenção de qualquer sistema arbitrário como o nosso.

Alegam os de têmpera mais fraca que irmos às ruas poderá render-nos prisões, agressões e, talvez, até borrachadas nas costas, dadas pelos mesmos bravos periquitos que tanto aplaudimos em passado muito recente.

Talvez sim, talvez não – se nosso comportamento, indubitavelmente, demostrar que ali estamos em absoluta mas discordante paz, exercendo o sacrossanto direito não apenas de ver um desfile como, inclusive e principalmente, demonstrarmos nosso nojo e repúdio relativo aos integrantes de sua cúpula.

E como faremos isso? De maneira simples, mas extremamente eficaz – inclusive sob as óticas da política, dos Generais e, principalmente, da grande mídia: ao passarem as tropas, que todos se postem de costas para as mesmas, não voltando até que todo o destacamento tenha terminado seu desfile.

Simples assim; sem faixas e cartazes comprometedores, sem gritos e provocações, sem atitudes bruscas ou intimidadoras. Apenas demonstraremos nosso nojo, nosso asco moral a depravados de farda, merecedores de um Conselho de Guerra por traição à Pátria, que ousam posar de heróis em uma farsa vermelha cujo enredo, por demais conhecido e repetido em toda a América Latina, já o sabemos de cor e salteado.

Os bravos amigos da Jovem Pan Baurú – talvez a única do grupo que ainda mantém a testosterona original da empresa que desbancou a Rede Globo – não conseguem enxergar a verdadeira bofetada na cara que Generais, políticos e autoridades receberiam, se tal acontecer? Ou a pandemia histérica do medo igualmente já tomou seus corações?

É preciso lembrar que nada de errado estaremos fazendo, apenas nos postaremos de costas – e nada, ninguém ou nenhuma lei nos obriga a ficar de frente.

Lembremos também, para finalizar, que o medo é contagioso: basta um covarde, entre centenas de bravos, para que todos se encolham.

Eu vou no desfile de sete de setembro.

De costas.



Walter Biancardine



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