E então, meu pai respirou fundo e disse:
- Bom...é isso. Vamos voltar pra casa!
Minha mãe seguiu ao lado dele e me chamou. Fui caminhando atrás e olhando em volta, já cansado e entediado por termos ficado ali tempo demais.
De fato, é um lugar muito bonito. Árvores, pastos imensos, pitorescos caminhos de chão batido e algumas cercas de arame farpado. Sim, lindo, mas solitário demais. Andamos horas sem ver nada além do capim colonião e troncos de árvores secas. Sem ver ninguém que não fosse o gado e cavalos, pastando sempre ao longe. Sem ouvirmos nada que não fosse os mugidos e relinchos, abafados pela distância, e o uivo do vento em nossos ouvidos.
Lindo sim, mas de uma solidão sepulcral. Gastamos tempo demais ali e o que era bonito virou angústia.
- Vamos voltar pra casa!
E aquela frase, dita por meu pai, nunca mais saiu de minha cabeça.
Ele abriu a porta do carro, puxou o encosto do banco para que eu fosse para o assento traseiro. Lá acomodado, o cheiro do produto de lustrar o couro do estofamento igualmente ficaria em minha memória, mesmo provocando enjoos terríveis em minha mãe. Meu pai deu a partida, um barulho que mais parecia de imenso navio, e seguimos estrada à fora comigo já antecipando a alegria de voltar para o que era meu – minha casa, meu quarto, meus brinquedos – e ver novamente todos os que, em minha implicância infantil, achava chatos: meus irmãos, minhas irmãs e até mesmo, eventualmente, tios, tias, primos e primas que por lá apareciam. Sim, tudo estaria de volta! O que era meu e sempre fora; minhas referências, minhas raízes, toda a história de minha – até então – curta vida!
Nada importava, eu estava indo de volta á minha casa, meu lar!
Miúdo demais para, sentado no banco, poder apreciar a paisagem pela janela do carro, adormeci e só dei conta de mim novamente quando meu celular tocou o despertador diário, às 8:30 da manhã.
Abri os olhos e vi que estou aqui. Nada de quarto, nada de irmãos ou irmãs, nada de pai ou mãe, nada de nada – não há um lar.
Saí de casa, olhei os campos – o mesmo pasto enorme e solitário de meu sonho – e, por morbidez ou masoquismo a frase do meu pai voltou-me à memória:
- Vamos voltar pra casa!
Nada aconteceu, apenas o silêncio. Respondi a mim mesmo, tal qual criança ainda fosse:
- Mas eu quero ir embora!
Mas não há casa para voltar.
NOTA POSTERIOR, de 30/08:
Somente agora dei-me conta da semelhança entre este artigo e a letra da música "Green, green grass of home" de Tom Jones, 1967.
"Then I awake and look around me
At four grey walls that surround me
And I realize, yes, I was only dreaming"
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