O PT é como Átila, o Huno: por onde passa, nem a grama nasce. Por isso hoje as vacas comem árvores. |
A vida é um constante aprendizado e eu, nestes dias de John Wayne compulsório, percebi que o gado segue - tal qual nós, humanos - uma rotina própria, instintiva, em busca de segurança e conforto.
No momento em que escrevo estas linhas, não se completou meia hora em que eu estava ainda no pasto vazio, à esmo, falando sozinho como de hábito, a resmungar sobre meus erros e minha remissão improvável, diante de um melancólico sol poente e meu baio, entediado e farto de minhas lamúrias.
O gado já havia sido recolhido e muito me estranhou ver uma solitária vaquinha pastando longe, muito longe mesmo, destacada e esquecida pela boiada amiga. Pastava ao lado de uma cacimba no vale, farejava os ares e mugia, como em um chamado aos que já haviam se recolhido.
Naturalmente galopei até ela e a toquei em direção ao curral, mas "tocar" é força de expressão: apenas apontei seu focinho na direção certa e a vaca, diante da visão familiar, seguiu o resto do caminho sozinha e feliz.
Estava eu já abrindo a porteira para a “colega” entrar quando um mugido aflito, vindo de longe, me chamou atenção: ora essa, então ainda havia uma outra vaca solitária, esquecida, e que se apressava para chegar ao curral antes que eu o fechasse?
Recolhidas e em segurança, tratei de dar uma última ronda no pasto em busca de mais alguma “esquecida” que eventualmente pastasse ainda por lá. Enquanto meu pobre baio seguia em marcha andadeira, pensava eu no paralelo existente entre a situação da “Mococa” – assim batizei a vaquinha – e a minha própria.
Não me fixei no fato de a Mococa ter ficado para trás por interesse próprio – pastar em algum local preferido – ou simplesmente não ter se dado conta do horário pontual em que o instinto bovino as recolhe, inexoravelmente, ao curral. O fato é que ela estava sozinha e não gostara disso.
Sim, também eu estou sozinho e não gosto disso – agravado pelo fato incontornável de tal solidão ser resultante de minhas próprias ações, omissões e escolhas.
Neste momento o conceito do determinismo behaviorista não me pareceu tão mal como sempre o julgara: tivesse eu um mínimo de prudência e humildade e não teria, talvez, perdido a mulher que amo, o lar hoje inexistente, a família longínqua, minhas raízes, referências e origens. Teria sido mais paciente, compassivo e jamais emprestaria a tal comportamento a pecha de “bovino”, que ironicamente sempre dei.
Não aceitei que, em determinados momentos, a vida é o que é. Orgulhoso e arrogante, armei-me de meu poderoso livre arbítrio e proclamei-me senhor de meu destino – o mesmo, hoje, vergonhosamente conhecido pelos que me seguem nestas mal-traçadas.
São cinco e meia da tarde, a hora em que minha mãe fazia pontualmente o café – na pesada e mortífera cafeteira Bender – e me mandava na padaria, chamada “Casa Dois Marujos”, comprar três bisnagas, dois cigarros Chanceller e dois sacos de leite. Anos depois, neste mesmo horário, estava eu de volta da padaria do condomínio onde morava, sobraçando um saco de pãezinhos, cigarros e duas paçoquinhas para minha amada mulher, que me esperava em casa.
Me dei conta disso tudo e apontei Baião – meu cavalo – de volta para casa, numa busca instintiva do que não mais tenho.
Sim, eu tenho casa. Mas não tenho lar.
Conheço gente, mas não tenho família. Faço meu lanche, mas sem companhia. Conto como foi meu dia às paredes, sempre indiferentes. E não tenho a cumplicidade amiga de referências, raízes, história, quinze anos de casamento e, sequer, meu filho reclamando de qualquer coisa.
Percebi que não há o mal completo nem o bem absoluto – e, pior para meu orgulho – mesmo todo meu portentoso livre arbítrio não passa de opções já determinadas por Deus Pai, Todo Poderoso.
Certamente terei de rever o que andei garatujando sobre o tema, assunto do novo livro que ora escrevo. Ao fim e ao cabo, nada é relativo, pois tudo provém do Pai.
Humildade é prudência.
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