A verdade é que jamais me acanhei em escrever o que porventura passasse em minha cabeça.
Igualmente sou contumaz sem-vergonha ao juntar frases - quase um arremedo de pintura abstrata - sobre idênticas eventualidades, só que do coração.
Para completar, o tempo, as pancadas da vida e meu péssimo hábito de sempre estar enfiado no jornalismo político deram-me o prudente conselho de jamais ter segredos - a chantagem come solta, neste meio.
Junte os ingredientes acima, adicione pitadas de compulsão irresistível em produzir inúmeras laudas e deixe em fogo alto até ferver: pronto, você terá, diante de si, a sopa de pedras que publico insistentemente em minhas páginas.
De alguma bebedeira que cometi no passado, atravessando por poeminhas pernetas, de pura revolta e dor de corno adolescente, até parar em intrincadas análises políticas ou ousadias filosóficas, tais mixórdias traçam o retrato deste escriba, merecedor de epítetos como "o atormentado" ou, vá lá, "câncer da mídia", este último afixado por dono de conhecido jornal local.
Todo o exposto acima tem apenas o propósito exibicionista de ostentar minha completa liberdade no ato de escrever e dizer que, ainda que o amigo leitor discorde de absolutamente tudo o que rabisco, ao menos reconhecerá uma indiscutível sinceridade em meus garranchos.
Se escrevo que amo, é porque amo.
Se chamo de burro ou ladrão, é porque acho burro e ladrão.
Se prego a esquerda na cruz, creio-a merecedora.
Se derreto-me em miados de paixão, é porque meu coração assim mandou.
Se rastejo diante de Deus, implorando que me redima, é porque somente isso me restou.
E, se eu latir, não se engane: é porque quis mesmo latir - e morder.
Ninguém me paga para gostar ou desgostar.
Walter Biancardine
Nenhum comentário:
Postar um comentário