A quase totalidade dos brasileiros não consegue entender sequer metade do que dizemos e, talvez por isso, tenha em tão baixa consideração as palavras que saem de sua boca, as que escreve ou mesmo as que repete – falando ou escrevendo – de terceiros.
Já faz parte de nossa rotina ouvirmos pessoas dizerem barbaridades despreocupadamente, sem nenhum constrangimento. Se confrontadas à evidências da asneira dita, inevitavelmente refugiam-se em sorrisos e alegações que “não entendemos, foi apenas força de expressão/sentido figurado/modo de dizer”. E ainda reclamam que levamos tudo muito a sério!
Pior ficou com o advento das redes sociais, onde o irresponsável compartilha algum texto onde sequer 10% foi por ele compreendido, os mesmos 10% foram entendidos erradamente e, para completar, o infeliz incauto sequer leu o restante escrito, repleto invariavelmente de asneiras, absurdos ou mentiras. E, como estamos em redes sociais e blindados atrás de um monitor ou celular, ao serem contestados reagem sempre de maneira furiosa, tão overdosed de testosterona que cegaria um Olavo de Carvalho.
É preciso entender e aceitar a imensa, pesadíssima responsabilidade que temos sobre cada sílaba por nós proferida, afinal a capacidade de dizer algo e de compreendermos o que nos foi dito é primordial distinção que nos afasta dos quadrúpedes. Palavras não podem ser “desditas”, pois seus efeitos não podem ser “desproduzidos”: no máximo, a asneira – se não causadora de desgraças pelo desentendimento – será “compreendida” pelo ouvinte tolerante, sempre recheada de alegações semi-irritadas de que ele “leva tudo muito á sério, era só um modo de dizer”. Se escritas, todo o exposto acima será multiplicado á enésima potência, pois não há como “desescrever” (apesar dos asnos atuais recorrerem á fácil remoção de seus “posts”).
Toda a miséria acima exposta tem por objetivo servir de alerta à nossa “despreocupação” em nossas conversas, ao uso abusivo e irresponsável de “figuras de linguagem” ou “sentido figurado” que distinguem um bate-papo no bar, com amigos, de uma conversa de trabalho, estudos, negócios ou mesmo em momentos privados em que o entendimento claro – devido a seriedade da ocasião – assim o exige.
Uma pessoa que não vê nenhum problema em ir á um encontro de trabalho vestindo bermudas e camisa de malha traduz, em seu aspecto, sua clara irresponsabilidade sobre o que diz.
A palavra é o bem mais precioso que possuímos. Como confiar em alguém assim?
“Descontração e malemolência só nos levaram à merda. Quem sabe um pouco de seriedade não nos empurre á frente?”
Walter Biancardine
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