Ousei-me, no dia de ontem, relatar experiências e descobertas durante a faina de publicar desatinos em livro e o resultado me surpreendeu, por vários aspectos.
Em primeiro lugar, recebi e-mails. Considerava esta uma forma já defunta de comunicação, tal qual os antigos telegramas fonados ou mesmo simples ligações telefônicas. Em sua grande maioria – da imensidão de 14 mensagens – parabenizavam-me por meu début como escritor mas condenavam o teor geral da feira de vaidades ali descrita, alegando – com razão – que eu poderia desestimular outros calouros, como eu, a lançarem-se em tal aventura por receio de parecerem simples ególatras, em busca de aplausos.
E este segundo e último ponto foi toda a razão que levou-me de volta aos teclados, neste momento – não posso esconder mesmo um certo sentimento de vergonha por ter produzido, ainda que involuntariamente, tal temor.
Enxergo, em toda plenitude de seu poder, o pecado predileto do Encardido – como seja, a vaidade – e sei dos quantos e tamanhos atos que ela é capaz de impulsionar no pobre ser humano, eterno buscador da igualdade mas ansioso por exibir-se diferente. O que não vi e causou-me surpresa foi o desejo sincero de muitos, ansiosos por imprimirem em papel não apenas histórias que desejam contar como, também, seus pensamentos, teses, conjecturas e mesmo valores e conceitos.
Em um mundo cuja história recente e toda a informação circundante no globo terrestre pode ser apagada à primeira falta de energia elétrica, causa-me enorme alívio perceber a quantidade de pessoas tais como eu, antigas e retrógradas como muitos apontam, mas que creem piamente no dito latino que titula estas mal-traçadas: “Verba volant, scripta manent”, infelizmente popularizada por infame vampiro de nossa atualidade política.
Assistir um video do bom e velho Olavo de Carvalho é necessário e muito bom, mas se não tivermos seus livros à mão, todo o fundamento das palavras voláteis no YouTube se perderá ou não encontrará solo propício onde criar raízes.
Não há tecnologia que substitua o poder e a perenidade do papel impresso e encadernado – portador, em si, de uma moral e dignidade que nenhum site, arquivo PDF ou vídeo do YouTube jamais terá. Igualmente, o mesmo livro poderá ser lido até mesmo à luz de velas se assim exigido, bem como seu manuseio – a sensação tátil e o cheiro inconfundível – sempre nos predispõem a uma atenção mais benevolente que à uma tela de celular. Os anos passarão, haverá energia elétrica e sua falta, a internet virá, cairá, será em 5G ou G nenhum, mas os livros ficarão para nossos netos e – quiçá – bisnetos.
Assim, encerro esta em sonora mea culpa se tal impressão, contrária à pretensões literárias, causei. E vou além: peço que escrevam! Escrevam sempre, sobre tudo, sobre todos, e não hesitem em publicá-los – por mais que os preços cobrados pelas editoras tornem quase inviáveis os exemplares de autores iniciantes, que serão invariavelmente vendidos tão caros quanto um Shakespeare.
Não é à toa que nada acontece na política sem que, antes, não tenha sido imaginado, previsto, suposto, desejado ou mesmo temido em livros. George Orwell é uma prova disso.
Escrevam hoje, jovens. Vocês podem moldar nosso mundo de amanhã.
Walter Biancardine
viagem extraordinária ao passado, onde compreende que tudo o que amava era igual ao presente, e
que a vida real não tem o glamour das lembranças.
Da conturbada política dos anos 60 aos seus conceitos sobre o país, a família e Deus, ele
derruba os mitos de suas memórias, redescobre suas raízes e deve decidir entre dois amores:
uma é sua paixão de infância e outra é a resposta para sua vida.
Como escolher entre o desejo e a redenção?
Viver o passado pode nos ensinar?