A alegria simples:
E tudo era alegria enquanto dançávamos, pois que a música era nossa, o ritmo ditávamos, os risos aumentavam, e os giros no salão também.
A euforia de nosso prazer se espalhava em todos, que se aproximavam e pediam:
- Mais! Mais!
A felicidade embebedou-me e o teto se foi longe, ao agachar-me para o beijo.
Gargalhadas, risos altos, aplausos – e nós, felizes a girar nossos sorrisos.
O garçom trouxe-nos as taças, e uma pausa se fez.
Saindo de lá, um conhecido solitário encontrou-nos e contou sua triste história.
Em tudo contrastava com nossa alegria, mas ela me disse:
- Não há razão nenhuma, a verdade é simples e basta ver.
Fingi não escutar, fingi não entender, apenas jurei que com ela não seria igual.
E descobri que uma decisão pode ser cega.
Só então entendi, enquanto o amigo falava, o por quê de sua palidez.
A loucura da festa:
E tudo era loucura enquanto dançávamos, nossos corpos pulsavam juntos e do modo que queríamos.
Nossa tonteira aumentava, o salão girava, a visão turvava.
A viagem não era só nossa, outros sedentos também pediam:
- Mais! Mais!
Em um mundo de pessoas com asas e paredes moles, o teto voou e no chão ficamos.
Gargalhadas, risos altos, aplausos – e nós, loucos, a girar nossas cabeças.
O garçom trouxe-nos as taças, mas nada mais cabia-nos.
Saindo de lá, um conhecido lúcido encontrou-nos e contou sua triste história.
Em tudo contrastava com nossos delírios, mas ela me disse:
- Não há razão nenhuma, a verdade é simples, não devemos fugir.
Fingi estar louco demais para compreender, apenas jurei que com ela não seria igual.
E descobri que a covardia embebeda.
Só então entendi, enquanto o amigo falava, o por quê de sua palidez.
A tristeza do fim:
E tudo era silêncio enquanto dançávamos, nosso abraço embalado era um réquiem de nós dois.
Girávamos no salão, em sentido contrário ao relógio. O luto era lento, suave e melódico, e não haviam mais risos e aplausos.
Eu estava surdo e jamais escutei quando ela pediu:
- Mais! Mais!
Em uma sala vazia, de paredes nuas, o teto se foi e enxerguei as trevas da noite.
O garçom trouxe-nos as taças, e não havia por quê beber.
Saindo de lá, um conhecido ferido encontrou-nos e contou sua triste história.
Não quis ouvir, não quis saber, apenas descobri que juras não evitam o igual.
Aprendi, tarde, que a mudez é fatal.
Só então enxerguei, enquanto o amigo falava, sua palidez de virgem vestal.
Só então enxerguei um tom mais branco de pálido.
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