Sim, o frio é muito bom para tais divertimentos gastronômicos, mas é igualmente excelente para alimentarmos o cérebro - este órgão que costuma morrer à míngua nestes tristes e ignorantes trópicos.
A leitura pede o frio, a introspecção, o recolhimento e até o aconchego de bela poltrona, enrolado em cobertores e rodeado por fumegante xícara, para seu apropriado deleite e proveito. E isto é um fato, quase que estatisticamente comprovado: diga, de imediato, qual país de clima notoriamente abrasador você poderia citar como um expoente cultural ou, ao menos, cujo povo possua um arraigado hábito de leitura.
A resposta eu posso adivinhar: nenhum. Sim, pois é humanamente impossível ler com o suor pingando nas páginas do livro. Tudo o que queremos é uma água de coco gelada, mergulho na praia e o "otium sine dignitate" - preferencialmente rodeado de torneadas e desinibidas senhoritas, vestidas com seu fio dental.
O melhor conselho que posso dar é "refrigere-se". Venda um rim, mas instale um ar-condicionado em sua casa e só aceite trabalhar em locais que ofereçam o mesmo equipamento, ou o amigo correrá o sério risco - tristemente comum a todos os brasileiros - de ver sua massa cinzenta atrofiar até a necrose azulada dos espectadores de BBB.
O frio acultura, nos permite vestir roupas dignas e até nos obriga a um comportamento menos "tropical malemolente", eis que é extremamente deselegante remexer os quartos em uma cafeteria da Copenhagen.
Frio é vida!
Walter Biancardine
Nenhum comentário:
Postar um comentário