Que o amigo leitor me perdoe, mas começo a segunda-feira já virado no Jiraya. Acordo, tomo café, vejo o que se passa no Brasil e no mundo, sento para escrever e só aí percebo: escrever para quê? Para quem? Tecer criticas? Não passa de uma reclamação, e quem reclama quer providências - de quem? Fazer análises políticas soa mais chique, mas para quem ler e fazer o quê com isso? Metade não entende e a outra metade odeia. Ensaios filosóficos? Só se for para mim mesmo, por minha própria salvação, pois em um país em que se acha um Twitter longo demais, é perda de tempo tentar ser mais profundo que um pires.
E só então me dou conta que me comporto como um prisoneiro de um vício - a compulsão de escrever, relatar, analisar, e que termina por não interessar a ninguém pois bom mesmo é saber se o Vasco foi rebaixado de novo. O viciado sabe que só se lasca, ao satisfazer sua gana. Mas segue mesmo assim, pois é um vício - destrutivo, maligno, que afasta amigos, parentes, destrói relacionamentos e nos marca como leprosos ao convívio humano. Mas é preciso escrever.
Faço isso há décadas, e me sinto tal qual aquele antigo meme da velhinha viciada na marofa, que alega fumar há 40 anos e até hoje não se viciou. O quê consegui escrevendo? Abrir os olhos de alguém? Conscientizar inocentes que estavam sendo usados? Mostrar que nem sempre o novo, o moderno, é bom e que temos milênios de uma tradição mais que provada à nossa disposição? Não, ninguém mudou por minha causa - se em algum momento leram o que escrevo ou viram meus antigos vídeos, foi muito mais para ver suas próprias opiniões saindo de minha caneta ou boca, do que para aprender algo.
Também escreví livros. Best sellers? Longe disso: o que ganhei com eles deu para comprar dez pãezinhos e duas mariolas. Meu canal no YouTube, que ainda me rendia o suficiente para ajudar no supermercado - embora não tenha aberto o pensamento de ninguém - foi desmonetizado e me roubaram 28 vídeos; calado para sempre, em suma.
E é neste momento que penso: para quê? Para quê, meu Deus?
Certamente aparecerão amigos gentis que dirão para eu continuar, que o que faço ajuda as pessoas, que é uma missão ou até mesmo - ninguém é perfeito - que gostam muito do meu estilo de escrever. Agradeço, mas o Brasil continua o mesmo e nada mudou.
Então, por quê diabos continuo insistindo em escrever?
Ao fim e ao cabo, talvez seja pelo mais reles e vil dos motivos: pelo meu ego. Por me sentir importante ao ver meu nome estampado em publicações do Brasil e da Europa, ou na capa de meus livros - vaidade, pura vaidade em uma insana masturbação ególatra. Sei que nada causo, nada mudo, nada ajudo - aliás, nem eu nem ninguém, pois a muralha da omissão do brasileiro é intransponível - mas insisto, apenas pelo prazer solitário que, depois de velho, transferiu-se do banheiro para meu escritório. E exclamo, orgulhoso: "Eis meu nome impresso! E consegui X visualizações!" Sim, muitos visualizaram e... o que aconteceu? Nada. Sequer comentários. O silêncio ensurdecedor da indiferença.
Isso significa que vou parar, dar um basta nisso tudo e mudar de vida?Tarde demais. Não há como mudar de vida já em sua reta final, aos 61 anos. Continuarei escrevendo, dando as pequenas e ilusórias alegrias ao meu ego, mentindo para mim mesmo e fingindo que ajudo em algo, pois escrever é a única coisa que sei fazer - todas as minhas outras habilidades ficaram para trás, pois estou velho demais para isso.
E é neste estado de espírito que começo minha semana, buscando desesperadamente aquelas postagens de motivação e autoajuda que muita gente gosta de publicar - e que, aprendi, são muito mais para motivar a si mesmo que aos outros - para tentar me animar para mais sete dias de espancamento de um sistema assassino e narcotraficante.
Com toda a doçura do coração, digo: boa semana a todos!
Walter Biancardine


Nenhum comentário:
Postar um comentário