sexta-feira, 15 de agosto de 2025

AUTOCRÍTICA: SOU UM VIRA-LATAS FILOSÓFICO -


Os vales de trevas que regularmente atravesso sempre são acompanhados por apocalípticas enxaquêcas, que me reduzem á um estado mental quase vegetativo - como fosse eu um apreciador de funk, axé, pagode ou sertanejo universitário.


Entretanto, nos intervalos entre tais borrascas o pensamento se liberta mas - em meu caso - não voa: habitualmente mergulha em introspecções abissais as quais, longe de serem totalmente danosas, me ajudam a compreender a criatura mais esquisita que já tive o infortúnio de conhecer: eu mesmo.

Escrevi, recentemente, uma tresloucada ficção onde eu, Bukowski e Schoppenhauer enchíamos a cara em denso pileque filosófico, que me serviu como balança comparativa entre três vertentes de pensamento, duas delas - Charles e Arthur - bastante semelhantes aos meus próprios vagares em busca da verdade primeira.

Hoje cedo tive o desplante de relê-la e constatei, horrorizado, a inegável presença de mais um ser em minha cabeça - para mal dos pecados, uma pessoa a qual sempre abominei e cujo pensamento me causa revoltas: Jean-Paul Sartre e seu existencialismo nojento.

Sem chegar ao "erro cósmico" que Sartre considera o Ser Humano, confesso que - prudentemente - compartilho sua opinião que "a liberdade é uma sentença e que nascemos, todos, condenados á ela". Tal como Kant, Jean-Paul vê o homem como conseqüência daquilo que livremente escolhe: "Somos totalmente responsáveis por quem nos tornamos" - e minha auto-execração pela vida que atualmente levo reflete tal similaridade perfeitamente.

Governos, pais e mães, o demônio ou mesmo a genética, nada disso é responsável e, se sou hoje um merda, eu me fiz assim - diz o filósofo, e eu também.

Contrariamente, entretanto, Sartre diz que, ao agirmos, estamos dizendo ao mundo que "é assim que o Ser Humano deve ser" - longe de mim considerar-me tão importante, a ponto de tornar-me referência (ao menos positiva) para ninguém.

Para mal dos pecados, se investigar á fundo minha alma, nestes abismos encontrarei também pontos em comum com outros pensadores. Um exemplo é Hobbes, o qual jamais chegaria ao seu paroxismo (Homo omnia lupus - o homem é o lobo do homem). Também considero o homem perverso, mas nunca ao ponto de precisar de um Estado forte - o Leviatã - para domá-lo

Também farejo boas pitadas de John Locke, vendo o homem como um produto de sua criação - vide os filhos de funkeiros - mas nunca como uma tábula completamente rasa, ou estaria negando o Divino.

Pequena dose de Kant? Que seríamos conseqüências de nossas escolhas, tal como Sartre? Talvez, uma boa parte. Quem sabe até, como tempero desta salada absurda, algo de Maquiavel - que não desejava que fossemos maus, mas que soubéssemos com quem estamos lidando. Afinal, lucidez é fundamental.

Ao fim e ao cabo descobri, horrorizado, que sou um vira-latas filosófico, e talvez esta seja a razão de meus tormentos.

Creio que vou tirar a garrafa de Jack Daniel's do armário, neste fim de semana.

Alguém se habilita?


Walter Biancardine




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