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Foto divulgada pela outrora gloriosa Academia Brasileira de Letras |
Agosto, o eterno mês do desgosto, jamais passa impune. Levou-nos agora Veríssimo, o filho Luís Fernando - sim, aquele que a gente lia suas crônicas na última página da Revista de Domingo, do Jornal do Brasil.
Não esconderei a enorme influência que ele teve não apenas em meu vício por crônicas mas, igualmente, por haver eu já imitado alguns temas insólitos que o mesmo explorou em seus escritos, plagiando-o: certa feita redigi um conto inteiro com auxílio de um velhíssimo dicionário luso-brasileiro, de 1949, chamado "Lello Universal", do qual retirei palavras vetustas e castiças e usando-as guiado, exclusivamente, pelo seu som tal qual ele já o fizera, uma vez. A depender do que soava, usava-a como denotativo de algo que se passava na história. Qual outra explicação para escrever que "o Rei, debochado, olhava seus súditos enquanto coçava seu estrôncio"?Estrôncio é um elemento químico e a química literária brasileira se empobrece cada vez mais, com a partida de escritores que - pasmem - sabiam escrever e, não apenas, sabiam também como construir narrativas, embalar o leitor e conduzí-lo em seu mundo imaginativo.
Ilustro esta humilde condolência me valendo de imagem divulgada pela Academia Brasileira de Letras - outrora gloriosa instituição, que abrigou nomes como os de Machado de Assis, Euclides da Cunha, Rachel de Queiroz e Guimarães Rosa, mas que hoje perde-se em mesuras e floreios demagógicos, nomeando excrescências como Fernanda Montenegro e até uma Míriam Leitão - para deixar minhas sinceras condolências à família de Veríssimo e, também, a todos os brasileiros.
Um país no qual escritores morrem de fome e um Twitter é considerado "textão", não pode ser levado a sério.
Walter Biancardine
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