A palavra do título é um neologismo trôpego, que criei a partir da sigla VLT - Veículo Leve Sobre Trilhos, um simples bonde em traje esporte fino - que serviu como justificativa para os governantes cariocas condenarem o centro nervoso e econômico do Rio de Janeiro à morte, transformando suas principais artérias em "ruas de pedestres" - e é conhecida a repulsa que o ser humano médio sente por tais logradouros, a menos que não ultrapassem uma curta distância.
Tal medida, creio que proposital, terminou por provocar o esvaziamento do bairro, mais que centenário em suas funções e que hoje não passa de um deserto, destinado somente a servir como cenário de fotografias de turistas e passeios de alguns eleitores-zumbis, cativos. Entendido o conceito, aplicado com sucesso na antiga capital cultural do país, passemos adiante.
O Estado não quer o povo nas ruas, seja em seus afazeres cotidianos e, muito menos, sentindo-se íntimo das mesmas ao ponto de utilizá-las em protestos. A obra magna da engenharia social - a quarentena da COVID - "acostumou" e viciou o povo em supostas comodidades do home-office e abriu caminho para as mais absurdas e abusivas intromissões do Poder Oficial sobre nossa vida diária.
Deste modo, temos hoje o desgosto de ver estas estratégias se espalhando por diversas outras cidades, a ponto de governos, ONGS (sempre elas) e a cínica "sociedade civil organizada" se intrometerem até mesmo na mais singela das praias - sim, pasmem: praias - legislando, impondo e, pior, edificando nas mesmas, e tudo isso "para o nosso bem".
Recentemente, em um misto de saudosismo e curiosidade, resolvi revisitar a cidade de Arraial do Cabo, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, e que poderia ter deixado as ilhas gregas no chinelo, não fossem a incessante roubalheira, conveniências políticas, acordos espúrios e o inevitável QI 83 de seus governantes.
Milênios atrás, quando os dinossauros ainda caminhavam sobre a terra e os bichos falavam, eu era íntimo desta cidade e de suas praias. Ainda um gurí (piá pra vocês aí do Paraná, molequinho para brasileiros em geral), estava sempre à bordo de meu Jeep com meu pai, ora indo pela estrada, ora dirigindo direto pela praia, até alcançar a cidade e nosso objetivo: a Prainha, onde comíamos o inimitável filé de peixe do Carlão - verdadeiro cover de Jamelão, com sua voz potente e afinação - e tomávamos cerveja na varanda da casa de Lucy, que era construída diretamente sobre as areias da praia, bem no canto da mesma e quase já nas rochas do canto direito.
Também lembro de lá chegarmos nas lanchas de meu pai e mergulharmos em busca de peixes e mariscos, e tudo isso em um ambiente absolutamente natural, sem interferência da mão do homem. Contrariando a doutrinação atual, tratava-se de locais limpos, sem as fatídicas embalagens e sacolas plásticas de hoje, e onde haviam peixes, lagartos nas rochas, vegetação natural e tudo o mais necessário para que a considerássemos como nossas ilhas gregas ao alcance das mãos.
Mas então chegaram as ONGS, as "bandeiras azuis", a "preservação ambiental" e tudo isso motivado pelas hordas de farofeiros que, por onde passavam, sequer a grama nascia mais - sim, um problema real e que urgia resolução. Mas o que fazer quando a solução é pior que o problema? O que fazer quando tais farofeiros são bajulados, seduzidos e mimados pelos próprios governantes?
Resta-nos aceitar que tais governantes simplesmente destruirão tudo; em cada pedra, cada cacto e, se puderem, em cada peixe tentarão deixar uma placa de bronze com seu nome, declarando-se como "salvador da natureza". E assim aconteceu com Arraial do Cabo.
Se o amigo leitor é cardíaco e pensa em visitar o Arraial do Cabo, evite surpresas já sabendo que a prefeitura construiu um muro - sim, um MURO! - separando parte da praia do calçadão lá construído. A desculpa? Conter as preciosas dunas de areia, tão preciosas que incentivam o nascimento de vegetação da restinga sobre as mesmas, e que as transformarão, com o passar do tempo, em simples morros de terra.
Não satisfeitos, nesta mesma praia - dos Anjos - a Marinha do Brasil surtou (é o termo) e edificou enorme construção no canto esquerdo da praia, vedando a passagem de banhistas. Ao que parece, o antigo prédio do IPQM - Instituto de Pesquisas da Marinha - tornou-se pequeno para que suas pesquisadoras possam medir o crescimento das tartaruguinhas que por esta região desovam.
Ao invés de areia e praia, prédios para se alugar unidades para temporada; asfalto e calçadões, nos arremedos de Avenida Atlântica, e quiosques, quiosques e mais quiosques - todos vendendo a mesma coisa, pelo mesmo preço e alguns até - pasmem - em frente ao vergonhoso muro da prefeitura, que "contém a marcha das dunas". Você lá pode sentar, pedir uma cerveja e olhar para o muro. E é só.
Confesso que não tive disposição para tentar revisitar a Prainha, destino de maior sucesso da cidade. É mais fácil entrar na residência papal no Vaticano que acessar este local, o qual você terá de deixar o carro como pagamento de seu estacionamento, além de cumprir uma centena de burocracias - impostas pelo Estado, a prefeitura - para, finalmente, molhar os pés nas suas gélidas águas.
Mas, creia: tudo isso "é para seu bem", para "preservar o meio ambiente". É uma pena que tenham abominado a preservação de nosso bem-estar, mas o pagador de impostos é quem menos interessa, nesta sórdida equação.
Dou graças à Deus por estar de malas prontas para ir embora da Região dos Lagos, após um quarto de século vivendo por aqui.
Breve estarei de volta ao Rio, terra onde nascí e me criei.
E poderei andar de VLT.
Walter Biancardine
Nenhum comentário:
Postar um comentário