segunda-feira, 30 de junho de 2025

POR UM PUNHADO DE ESPERANÇA -


Ao contrário do que muitos possam pensar ou supor, não tenho nenhum vínculo empregatício com a TVD News, ContraCultura ou mesmo o Carta de Notícias: escrevo, divulgo, brigo e tento atrair o máximo de pessoas para os mesmos unicamente por ser a forma que me restou - agonizante - de tornar visíveis as verdades que a mídia tradicional esconde.


As redes sociais já começaram a garfar artigos (o Carta de Notícias sofreu a primeira mordida precisamente no dia de hoje) mas nos restam o ContraCultura, que é um site europeu, baseado em Lisboa, Portugal, e imune portanto aos arreganhos do Judiciário brasileiro.

O mesmo se dá com a emissora de TV, nossa conhecida TVD News, baseada na Flórida, USA, igualmente a salvo da temida jurisdição verde-amarela até pelo fato de ser um canal televisivo e, contra estes, ao menos por enquanto, ainda não miraram suas armas. Nestes, talvez, desfrutemos alguma liberdade durante algum tempo. Quanto? Não sei.

Já eu, como todos sabem, mantenho o Facebook, X-Twitter e Telegram apenas como forma de divulgar os citados acima, pois meu canal do YouTube encontra-se praticamente morto, desmonetizado em definitivo, 28 vídeos roubados e nada que eu poste lá terá o mínimo alcance, dado o "shadow ban" permanente instituído desde há muito tempo, contra mim.

Para finalizar, resta a pergunta: então, por quê insistir?

Na verdade, nem mesmo eu saberia responder. Não tenho esperanças de, ainda em vida, testemunhar quaisquer mudanças mas sinto que todos nós, que aprendemos algo, temos a obrigação moral, patriótica e cristã de orientar esta nova geração que vaga por aí tal qual zumbis do racional, múmias cognitivas e fósseis ideológicos. E esta orientação, este ensino, estes exemplos só poderão atingi-los através da mídia, pouco importando qual.

Não assistirei ao final do filme e sei que cairei antes.

Mas, se é para cair, então levarei muita gente comigo.


Walter Biancardine



sábado, 28 de junho de 2025

TODOS ESTÃO ERRADOS. CERTO, SÓ EU -


O título deste artigo resume o pensamento democrático da senhora Carmem L., que declarou-nos como "213 milhões de tiranos" a confrontar e impor nossa força descomunal e despótica sobre uma pobre e indefesa Corte Suprema.

Pesadelos kafkeanos à parte, ressalta aos olhos mais desavisados o desconhecimento (ou a inconveniência de lembrar) de um princípio basilar da democracia, onde a maioria exerce seus desejos sobre a minoria. Tal senhora nos diz, com tal declaração, que somos um oceano de pessoas - todo um povo, toda a vontade da maioria esmagadora de uma nação - a escolher uma suposta cegueira ignorante, preterindo as sábias decisões daquele colegiado.

Mas, ao fim e ao cabo, pouca ou nenhuma diferença faz. Tal expectoração rançosa é apenas um desabafo a secundar o total despotismo da mesma instituição onde habita e que, colocando-se no papel usurpado de legilsadores e, mesmo assim, ignorando a vontade da maioria, nos empurra garganta abaixo, ditatorialmente, seu totalitarismo despótico e absolutista.

Esta mesma expectoração, já citada, deixa ao menos a certeza - mesmo aos mais estúpidos - que vivemos em uma ditadura, onde pouco importa a vontade de 95% da população, e que a mesma de lá não sairá - não com bons modos.

Acordem e esqueçam novas leis, eleições ou - pior ainda - uma nova Constituição. Mesmo as manifestações marcadas para este domingo devem ser encaradas como algo a ser visto por povos e nações estrangeiras, e que disponham de meios para nos livrar (suprema humilhação, pois isso revela nossa passividade e inércia) da ditadura real e indiscutível que vivemos.

Façam, portanto, seus cartazes em inglês.


Walter Biancardine



sexta-feira, 27 de junho de 2025

A ESPADA DE DÂMOCLES E O SONHO -


Dâmocles foi um cortesão que invejava abertamente a vida de luxo, regalias e privilégios do rei Dionísio I, de Siracusa. 

Um dia, este rei o convidou a passar um dia sendo ele e desfrutando de tudo o que ambicionava. Pois bem, ao fartar-se em portentoso banquete, Dâmocles percebeu que no teto, por sobre sua cabeça, apenas um fio fino segurava enorme espada a qual, se caísse, o degolaria imediatamente.

Ciente dos riscos iminentes, da fragilidade e do quão provisório e passageiro este mesmo poder cercado de luxo pode ser, Dâmocles entendeu o recado e voltou para seu lugar.

Tal é o papel que a grande mídia - bem como acéfalos ainda detentores do poder de falar - se prestam, quando endossam e louvam a usurpação legislativa cometida pelo STF, bem como sua inegável exibição de poder ditatorial e despótico.

A deficiência cognitiva de uma Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, O Globo, CNN, GloboNews e mesmo parvos em carreira solo como um Reynaldo Azevedo, fez com que se colocassem, sem nenhuma vergonha ou se darem conta de seu suicídio profissional, em posição idêntica ao do infame Dâmocles. Esqueceram que a história pode ser adulterada mas não mudada, e que ao longo dos séculos, o fim inevitável de quem assim procedeu foi sofrer, invariavelmente e em sua própria pela, os mesmos arbítrios déspotas que procuraram louvar no passado. E a hora deles chegará.

Por outro lado, a fome cega das bestas-feras togadas tornou, com tal "decreto", inviável a presença de quaisquer redes sociais norte-americanas no Brasil, pois seu país de origem não permite que tais empresas - mesmo baseadas em solo estrangeiro - violem os princípios básicos legais daquela nação. 

Deste modo o X (Twitter), Meta (Facebook, Instagram, WhatsApp e outros) ou mesmo a poderosa Google se verão em posição conflitante com seu país de origem e - pior - sem que jamais censurem ninguém, pois as ordens virão diretamente de Brasilia e eles apenas levarão a culpa - testas de ferro do despotismo.

As plataformas digitais há muito superaram a mídia tradicional no "share" publicitário - por isso a dependência cada vez maior de tevês e jornais de verbas estatais. Se tais redes digitais saírem do país, a ilusão de que os anunciantes se voltarão para os meios tradicionais será vã e de curta duração: o público aboliu a TV aberta, pelo fato da absoluta maioria de seus canais dedicarem-se apenas á doutrinação, e logo os anunciantes deixarão de gastar seu dinheiro com algo que não dá retorno.

E aí será a consolidação deste pesadelo anunciado: a mídia tradicional começará a ser sangrada via censura, perda de patrocínios,, de nomes e gemerá sob o peso cada vez maior dos lustrosos sapatos italianos daquela "Corte".

Resta saber se o povo brasileiro, amplamente acostumado a engolir tudo calado, aceitará mais este estupro ou se correrá - feliz - para algum "FaceBrás", "InstaBrás" ou "XBrasil" instituído sob as rédeas dos togados.

Por óbvio toda a segunda parte deste artigo são apenas hipóteses, sonhos.

Mas os Dâmocles continuam se revelando.


Walter Biancardine



quinta-feira, 26 de junho de 2025

UM PALIATIVO CHAMADO TARCÍSIO -


Somente alienados ou aqueles que buscam, voluntariamente, não enxergar a realidade poderão alegar surpresa nos atos subsequentes à eventual eleição de Tarcísio de Freitas, para a Presidência da República.


Sua inegável competência administrativa à parte – e que será o ponto focal de sua administração, trazendo talvez uma vida menos difícil para o povo – o fato é que, em termos de liberdade de expressão, garantias individuais e usurpação do Legislativo pelo Supremo Tribunal Federal, nada será feito. E este é o acordo da “terceira via”.

A “ameaça” chamada Jair Bolsonaro já está neutralizada, seja pela sua irreversível inelegibilidade ou por sua fatídica condição física, causada pelo atentado esquerdista que quase o vitimou. Ainda que o ex-Presidente apontasse algum outro candidato de sua escolha – filhos, esposa, seja quem for – o mesmo igualmente seria barrado pelas ferozes e onipotentes garras do STF.

Abro aqui um parêntese para especular se, em algum momento, Bolsonaro apontaria Tarcísio como seu candidato: melhor que não, pois se assim proceder, demonstraria publicamente que se rendeu aos acordos da terceira via e do “Centrão”.

Arrisco uma previsão, a qual meus leitores poderão me cobrar, ao fim do mandato de Tarcísio: a situação econômica do país melhorará, talvez tenhamos até uma diminuição significativa nos índices de desemprego, a inflação será reduzida e algumas tentativas de realinhamento com os Estados Unidos – tímidas – poderão, eventualmente, ser feitas.

Mas nem uma palha sequer será movida para revogar o controle do Judiciário sobre a internet e as plataformas digitais; as quais serão verdadeiras “testas de ferro” de Alexandre de Moraes e sua sanha aleatória e caprichosa sobre quem censurar, banir, multar ou prender: ele determinará tais ações em “off” e as plataformas ficarão caladas, obedecendo e passando a imagem de estarem, simplesmente, praticando uma temerosa e preventiva “auto-censura”.

Deste modo, o quadro que teremos ao longo do quadriênio tarcísico será de um aparente progresso material, em contraponto às mais tenebrosas e opressoras medidas de cerceamento de quaisquer vozes e opiniões contrárias ao jugo do verdadeiro Poder: a ditadura do Judiciário, onde Tarcísio será apenas um gerente, um administrador que certamente cuidará bem do negócio, mas sem se intrometer nas idiossincrasias dos patrões togados. E para o povo em geral, o povão, isso basta.

Perguntará o leitor: e se Bolsonaro pudesse concorrer, faria algo diferente?

Eu respondo, desalentado, que não. Eleições, promulgações de emendas constitucionais, nova Constituição ou mesmo novas leis – nada disso é capaz de derrubar uma ditadura e quem nisto acreditar e assim intentar, sentirá na própria pele sua destituição do cargo e, mesmo, eventual prisão.

Alguns pensarão nas Forças Armadas, mas a cúpula da mesma já está prometida em casamento ao Supremo, tendo inclusive recebido polpudo dote matrimonial. Assim, igualmente, nada fará.

Sobrou um amontoado de Coronéis, pulverizados ao longo de todo o país e que, dificilmente, terão condições de se reunirem e articularem qualquer espécie de reação – além de estarem, no fundo de suas consciências, cometendo verdadeira “heresia” contra os dogmas militares de disciplina e subordinação.

Motins fardados, igualmente, estão fora de questão.

Restam os motins paisanos e a esperança de sermos secundados por poucos e eventuais alucinados de farda.

Mas aí já entramos no terreno dos sonhos.


Walter Biancardine



quarta-feira, 25 de junho de 2025

BONNER ACERTOU O ALVO MAS ERROU A MIRA -


Lamentando a queda drástica de audiência de um dos principais carros-chefe da programação da Rede Globo, o Jornal Nacional, o apresentador – e quiçá jornalista – Willian Bonner afirmou que “as redes sociais são um problema para a humanidade”.

Sim, Bonner acertou o alvo se ele referiu-se apenas aos vícios da mentira, boataria, falsas promessas, comércio sexual e enganações, espalhadas pelas principais plataformas hoje em dia. Mas errou a mira ao omitir o fato de que tais erros, inerentes à quase sempre pérfida natureza humana, apenas espelham as táticas desonestas e sujas praticadas, sem pudor, pelas próprias emissoras de TV – em especial a Globo, que outrora deteve o monopólio da opinião pública brasileira e hoje sobrevive às custas de aparelho (estatal) a injetar-lhe oxigênio.

Os queixumes globais refletem a agonia de um gigante moribundo, a ecoar pelos noticiários somente por suas gigantescas dimensões e importância pretérita. A verdade, entretanto, é que tais lamentos são compartilhados por todas as emissoras de TV brasileiras hoje, que padecem de um mal à muito custo ocultado: a TV aberta agoniza sim, mas não por questões de programação pobre, atrações que a ninguém atrai ou os costumeiros revezes típicos do entretenimento. Ela agoniza por total e absoluta falta de credibilidade – e, no caso global, já em fase de metástase, pois quando obriga seus artistas a compartilharem suas mentiras e apoios equivocados, transfere aos mesmos o vírus do descrédito, repulsa e rejeição. Não importa a emissora: tais artistas, contaminados, afastarão o público de qualquer estação de TV que trabalhem.

O quadro que o telespectador brasileiro enfrenta hoje, em seus lares e diante de suas tevês, é desanimador: emissoras de TV aberta a dedicarem seus dias apenas à doutrinação, defesa de ditaduras e engenharia social – sem programação infantil, sem quadros mais ingênuos como programas de culinária, moda ou nada em que não se possa enfiar vieses ideológicos no meio – ou os canais de TV a cabo, que reduzem a mente humana a parâmetros quase oligofrênicos ao tratar apenas de um só assunto, 24 horas ao dia: notícias, ciências, arqueologia, animais, e outros. E isso não é companhia, é quase uma aula obrigatória sobre assuntos que – passado o foco de nossas atenções – torna-se tedioso e maçante.

Restam as redes sociais, contaminadas por hábitos “click-bait” (caça-cliques) como histeria, risos teatrais e ensurdecedores simulando alegria, vocabulário pobre e errado ou denúncias portadoras de tanta ira fake que nos leva a perguntarmos: e por quê esses caras, sempre tão indignados, nada fazem e só reclamam? Para piorar, os canais das redes sociais foram criados exatamente para encarnar o mais puro suco da segmentação monotemática das emissoras de TV à cabo – ninguém aceitaria ver um Allan dos Santos ensinando a regular um carburador mas, por outro lado, assistir sua indignação por todo o dia é algo que ninguém merece (e não vai neste comentário nenhuma crítica ao mesmo, pois segue fazendo apenas o que se propôs).

E ainda existe um perigoso fator, a agravar tudo isso: o desejo explícito da atual ditadura do Judiciário em censurar os canais conservadores ou opositores do atual regime, que tratam de política nas redes sociais, sob a desculpa de “propagação de discursos de ódio”, divulgação de conteúdos indecentes ou nocivos e outras mentiras de igual jaez. O resultado, inevitável (pois tal censura virá, antes das eleições de 2026), é a extinção de tais canais, muitos deles excelentes, nos deixando apenas com as demências digitais de um Felipe Neto ou os todo-poderosos canais esquerdistas de política – e tais influencers conservadores ficarão sem emprego e sustento.

Para completar, as plataformas sociais são movidas por algoritmos e se você assiste um canal que trata de política, só aparecerão outros sobre o mesmo tema, em sua linha de sugestões – é o fim de seu livre-arbítrio para escolher ou a triste morte do acaso, que poderia nos fazer descobrir um canal novo, bom e que trata sobre jardinagem, por exemplo.

O nosso quadro atual: uma TV aberta doutrinadora, mentirosa, desacreditada e insuportável, dependente física e psiquicamente de verbas estatais; canais de TV a cabo monotemáticos, que aborrecem após meia hora assistindo e redes sociais tentando, desesperadamente, fazer o papel de cocaína no sangue de novatos, deixando-os “pilhados”, histéricos e oligofrênicos – e nisso se misturam tanto bons canais (que serão censurados) quanto os infames “caça-cliques”.

A antiga TV, aquela que nós (mais velhos) fomos criados – a companhia ao longo do dia, que nos trazia um leque variado de informações e entretenimento razoavelmente confiáveis, se perdeu. E esta é a causa mortis da Rede Globo de Televisão, bem como das demais emissoras, que tentam sobreviver aos arreganhos das verbas estatais, imitando-a.

A velha TV, oriunda do rádio e companheira de todas as horas, morreu e ninguém percebeu.

Até porque o cadáver, não recolhido, fede demais para sentirmos falta do defunto.

É hora de uma nova TV.



Walter Biancardine



sábado, 21 de junho de 2025

A "VÊ-ELETIZAÇÃO" DO RIO DE JANEIRO -



A palavra do título é um neologismo trôpego, que criei a partir da sigla VLT - Veículo Leve Sobre Trilhos, um simples bonde em traje esporte fino - que serviu como justificativa para os governantes cariocas condenarem o centro nervoso e econômico do Rio de Janeiro à morte, transformando suas principais artérias em "ruas de pedestres" - e é conhecida a repulsa que o ser humano médio sente por tais logradouros, a menos que não ultrapassem uma curta distância.

Tal medida, creio que proposital, terminou por provocar o esvaziamento do bairro, mais que centenário em suas funções e que hoje não passa de um deserto, destinado somente a servir como cenário de fotografias de turistas e passeios de alguns eleitores-zumbis, cativos. Entendido o conceito, aplicado com sucesso na antiga capital cultural do país, passemos adiante.

O Estado não quer o povo nas ruas, seja em seus afazeres cotidianos e, muito menos, sentindo-se íntimo das mesmas ao ponto de utilizá-las em protestos. A obra magna da engenharia social - a quarentena da COVID - "acostumou" e viciou o povo em supostas comodidades do home-office e abriu caminho para as mais absurdas e abusivas intromissões do Poder Oficial sobre nossa vida diária.

Deste modo, temos hoje o desgosto de ver estas estratégias se espalhando por diversas outras cidades, a ponto de governos, ONGS (sempre elas) e a cínica "sociedade civil organizada" se intrometerem até mesmo na mais singela das praias - sim, pasmem: praias - legislando, impondo e, pior, edificando nas mesmas, e tudo isso "para o nosso bem".

Recentemente, em um misto de saudosismo e curiosidade, resolvi revisitar a cidade de Arraial do Cabo, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, e que poderia ter deixado as ilhas gregas no chinelo, não fossem a incessante roubalheira, conveniências políticas, acordos espúrios e o inevitável QI 83 de seus governantes.

Milênios atrás, quando os dinossauros ainda caminhavam sobre a terra e os bichos falavam, eu era íntimo desta cidade e de suas praias. Ainda um gurí (piá pra vocês aí do Paraná, molequinho para brasileiros em geral), estava sempre à bordo de meu Jeep com meu pai, ora indo pela estrada, ora dirigindo direto pela praia, até alcançar a cidade e nosso objetivo: a Prainha, onde comíamos o inimitável filé de peixe do Carlão - verdadeiro cover de Jamelão, com sua voz potente e afinação - e tomávamos cerveja na varanda da casa de Lucy, que era construída diretamente sobre as areias da praia, bem no canto da mesma e quase já nas rochas do canto direito.

Também lembro de lá chegarmos nas lanchas de meu pai e mergulharmos em busca de peixes e mariscos, e tudo isso em um ambiente absolutamente natural, sem interferência da mão do homem. Contrariando a doutrinação atual, tratava-se de locais limpos, sem as fatídicas embalagens e sacolas plásticas de hoje, e onde haviam peixes, lagartos nas rochas, vegetação natural e tudo o mais necessário para que a considerássemos como nossas ilhas gregas ao alcance das mãos.

Mas então chegaram as ONGS, as "bandeiras azuis", a "preservação ambiental" e tudo isso motivado pelas hordas de farofeiros que, por onde passavam, sequer a grama nascia mais - sim, um problema real e que urgia resolução. Mas o que fazer quando a solução é pior que o problema? O que fazer quando tais farofeiros são bajulados, seduzidos e mimados pelos próprios governantes?

Resta-nos aceitar que tais governantes simplesmente destruirão tudo; em cada pedra, cada cacto e, se puderem, em cada peixe tentarão deixar uma placa de bronze com seu nome, declarando-se como "salvador da natureza". E assim aconteceu com Arraial do Cabo.

Se o amigo leitor é cardíaco e pensa em visitar o Arraial do Cabo, evite surpresas já sabendo que a prefeitura construiu um muro - sim, um MURO! - separando parte da praia do calçadão lá construído. A desculpa? Conter as preciosas dunas de areia, tão preciosas que incentivam o nascimento de vegetação da restinga sobre as mesmas, e que as transformarão, com o passar do tempo, em simples morros de terra.

Não satisfeitos, nesta mesma praia - dos Anjos - a Marinha do Brasil surtou (é o termo) e edificou enorme construção no canto esquerdo da praia, vedando a passagem de banhistas. Ao que parece, o antigo prédio do IPQM - Instituto de Pesquisas da Marinha - tornou-se pequeno para que suas pesquisadoras possam medir o crescimento das tartaruguinhas que por esta região desovam.

Ao invés de areia e praia, prédios para se alugar unidades para temporada; asfalto e calçadões, nos arremedos de Avenida Atlântica, e quiosques, quiosques e mais quiosques - todos vendendo a mesma coisa, pelo mesmo preço e alguns até - pasmem - em frente ao vergonhoso muro da prefeitura, que "contém a marcha das dunas". Você lá pode sentar, pedir uma cerveja e olhar para o muro. E é só.

Confesso que não tive disposição para tentar revisitar a Prainha, destino de maior sucesso da cidade. É mais fácil entrar na residência papal no Vaticano que acessar este local, o qual você terá de deixar o carro como pagamento de seu estacionamento, além de cumprir uma centena de burocracias - impostas pelo Estado, a prefeitura - para, finalmente, molhar os pés nas suas gélidas águas.

Mas, creia: tudo isso "é para seu bem", para "preservar o meio ambiente". É uma pena que tenham abominado a preservação de nosso bem-estar, mas o pagador de impostos é quem menos interessa, nesta sórdida equação.

Dou graças à Deus por estar de malas prontas para ir embora da Região dos Lagos, após um quarto de século vivendo por aqui.

Breve estarei de volta ao Rio, terra onde nascí e me criei.

E poderei andar de VLT.



Walter Biancardine



domingo, 15 de junho de 2025

COUNTRY ROADS, TAKE ME HOME TO THE PLACE I BELONG...


Meus dias de pastos desertos, bois, vacas e cavalgadas de pastoreio terminaram, mas só agora vejo que deixarão saudades.

Horizontes infinitos, o vento gelado ao nascer do sol, o cheiro de Baião - meu cavalo - e a sensação indescritível de liberdade sustentavam a solitude providencial, que terminou por me encaminhar a novos rumos na vida.

Agora, malas prontas, vivo a iminência de voltar para minha terra natal - asfalto, trânsito, buzinas, poluição - mas que, confesso, tem uma querência especial para mim.

Os pastos ficam para trás, meus dias de vaqueiro também - bem como a solidão.

Agora é hora de voltar ao mundo concreto e tratar da vida.

Em breve.


Walter Biancardine


quarta-feira, 11 de junho de 2025

ACABOU: CENSURA NAS REDES É IRREVERSÍVEL -


O obeso cérebro de Flávio "Gordola" Dino acaba de tornar irreversível, por 6X1, a obrigatoriedade das redes sociais se tornarem "editoras" do conteúdo postado por seus usuários - como se fossemos repórteres de um jornal.


Plataformas como YouTube e Facebook nunca tiveram escrúpulos em obedecer, ainda que de forma ilegal, os rosnados censores do Ovo de Moraes, mas agora passarão a fazer isso de forma muito mais feroz, persecutória (como sempre) e amparados pela lei, uma legislação feita por um tribunal de exceção.

Todos sabem das quase três dezenas de vídeos meus roubados pelo YouTube, minhas contas extintas no antigo Twitter e as insistentes censuras e bloqueios neste Facebook e por isso - não apenas por diletância - tenho cometido as sucessivas ousadias de postar ensaios filosóficos, ao menos até que os proíbam também.

Do mesmo modo, tenho escrito livros até que proíbam e vivido até que eu morra, pois quem poderia fazer algo - de fato, de direito, com poder e influência para isso - ocupa-se atualmente em convidar um ditador assassino para compor chapa em sua delirante candidatura a Presidência da República.

Entendam: o maior problema do Brasil não são seus ditadores, o narco-estado que somos, o tráfico de drogas, o crime organizado, as mortes, a corrupção ou o abandono urbano. Tudo isso pode ser resolvido, basta que exista vontade política.

O maior problema do Brasil é, creiam, seu povo.

Sim, somos nós, já delinquindo desde tenra infância e hipnotizados pela grande mídia, indústria cultural, sistema de ensino e demais fábricas de omissos-passivos, sempre cúmplices de qualquer corrupção ou desmando, desde que o favoreça.

O Brasil morreu, descanse em paz.

Agora somos súditos da China, Rússia, Islã e do narcotráfico. Um admirável mundo novo.


Walter Biancardine


EDUARDO PAES MATOU O CENTRO DO RIO -


Desde a Remodelação do Centro da Cidade por Eduardo Paes o local esvaziou, escritórios se mudaram e o local estagnou - e não foi só estagnação - foi uma espécie de morte clínica com aparência de modernização.


A chamada "Revitalização do Centro do Rio", especialmente na gestão de Eduardo Paes com o projeto “Porto Maravilha”, foi uma dessas cirurgias urbanísticas que arrancam o coração do paciente para depois dizerem que ele está mais saudável porque está com o rosto lavado.

Vamos por partes.

O que se prometeu:
* Um novo centro financeiro e cultural.

* Reocupação de áreas degradadas.

* Valorização do transporte público (VLT, ciclovias).

* Gentrificação “do bem”, segundo eles.

O que de fato aconteceu:
* A região central, sobretudo entre a Av. Rio Branco e a zona portuária, perdeu densidade demográfica e comercial.

* Escritórios tradicionais se mudaram para a Barra e para a Zona Sul, fugindo de uma área que virou um canteiro de obras eterno - e depois, um deserto modernoso.

* Pequenos comércios faliram aos montes por causa da longa duração das obras e da falta de circulação.

* O Porto Maravilha virou um projeto bonito no papel, com calçadões e museus cenográficos (como o Museu do Amanhã, aquele escorredor de pratos feito de concreto), mas sem vida real ao redor.

* A segurança continuou precária, e à noite a região virou terra de ninguém.

Em resumo:
Houve um esvaziamento real. O centro perdeu vitalidade, e a tal "revitalização" - termo de marketing usado para cobrir processos de expulsão econômica e deslocamento social - produziu um espaço artificial: bonito em foto aérea, impraticável no cotidiano.

A estética venceu a funcionalidade. Tiraram o caos criativo do centro e puseram no lugar um catálogo de urbanismo internacional, desses que agradam ONG de arquitetura em Oslo, mas não servem pra quem precisa pegar o ônibus às 6 da manhã e comer num boteco às 13h.

Um diagnóstico duro: o centro do Rio virou uma maquete ambulante. Bonita, mas fria, e sem alma.

E boa parte disso se deve às decisões tomadas durante a tal "remodelação", obra e graça das frescuras do socialistíssimo Eduardo Paes, o homem que matou o Centro nervoso do Rio de Janeiro.


Walter Biancardine



A CULPA É SÓ SUA, O RESTO É GNOSE MODERNA -



“Não sigo nenhuma religião, mas sou uma pessoa muito espiritualizada” – esta é a senha para identificar aquele que a pronunciou como alguém que deseja a salvação mas sem sacrifícios, já que os problemas em sua vida, as atribulações, adversidades e até mesmo tragédias jamais são provocadas ou contam com sua participação. Elas sempre serão vistas como frutos deste “mundo opressor”, de uma “sociedade injusta”, de “políticos safados” ou até mesmo como resultado de “pecados cometidos em vidas passadas” e que, neste momento, ele – tão bom e puro atualmente – está pagando.

Este deslocamento da culpa, o colocar-se em posição passiva e sofredora diante dos problemas é mais que o vitimismo que atualmente assola a sociedade, pois o mesmo tem suas raízes no velho e carcomido gnosticismo – sim, aquele, que pensávamos estar esquecido e sepultado. Somando-se à isso a vaidade de dizer-se bom e justo, temos a receita perfeita para o verdadeiro surto de um “neognosticimo” (chamemos assim) que parece estar grassando, principalmente, nas redes sociais.

Pois bem, tratemos do tal gnosticismo. Teoricamente, ele diz que se encontra a salvação pelo conhecimento, e não pela fé. Precisamos do conhecimento de que vivíamos em um mundo superior, sem sofrimento, até que um deus inferior - um demiurgo - criou este mundo e nele nos jogou. 

Deste modo, alegam eles, é necessário saber disso e também nos "lembrarmos" que Deus está dentro de nós, que temos um "instinto", um "âmago" divino e chega ao ponto de dizer que Jesus não veio nos ensinar, impor algo a ser seguido mas, isso sim, ser nosso amigo e caminhar conosco na senda do autoconhecimento do divino que há em nós, resultando que todo o mal do mundo se deve ao local (mundo do demiurgo) que vivemos, e que não temos nisso nenhuma culpa. 

Então, analisemos: como sabemos que vivíamos em um mundo melhor? Eles dirão que um mensageiro (anjo) nos revelou isso. Um anjo? Ora, então é preciso – antes de qualquer conhecimento – ter fé, fé e crença em anjos, e apenas isso já desmonta toda a narrativa! Para piorar, acrescenta a este "conhecimento" a certeza que há "algo divino" dentro de nós, uma "auto-divinização" que nos torna superiores, e que só sofremos em decorrência da ignorância deste fato, que nos coloca a mercê deste mundo mau do demiurgo – das circunstâncias. 

Penso que tal teoria não é uma doutrina religiosa, mas a expressão de um sentimento perfeitamente humano, pois todo e qualquer indivíduo já se sentiu preso, ilhado, encurralado em uma sucessão de acontecimentos terríveis. 

Para terminar, isentar-nos de culpa apontando o mundo mau ou as circunstâncias muito se assemelha às pregações mais vulgares, onde tudo de ruim que acontece ao crente é culpa do diabo, nunca dele ou de suas ações, atitudes ou escolhas. 

Analisemos por partes, pois.

1. “O gnosticismo parte do conhecimento, não da fé.”

Certo, mas logo tropeça em si mesmo. Esse “conhecimento” precisa ser crido antes de ser compreendido. E não é qualquer crença – é uma crença esotérica, oculta, supostamente revelada por intermediários (anjos, eons, Cristo como “Logos separado do corpo”, etc.).

Ou seja, não se trata de uma filosofia puramente racional, mas de uma mitologia que exige fé na narrativa antes de qualquer racionalização.

É fé disfarçada de conhecimento, ou se preferirmos, mito mascarado de episteme.

2. “Sabemos que vivíamos num mundo melhor por revelação.”

Perfeito. A ideia da queda prévia implica memória mítica – uma “anamnesis” platônica com febre mística. Mas vejamos:

    • Quem garante essa lembrança?

    • Se estamos presos no mundo do demiurgo e nossa alma foi mergulhada na matéria, como confiar que a mente ainda intui com clareza esse mundo perdido?

Aí mora o problema: o gnosticismo coloca toda a responsabilidade no esquecimento, mas depende de uma lembrança confiável para nos tirar dele. Contradição básica. É como dizer: “Você está dormindo profundamente, mas se se lembrar que está sonhando, acorda”. Mas quem lembra o que é acordar se nunca acordou?

3. “Deus está dentro de nós.”

A velha ladainha do “divino interior”, isso sempre seduz os vaidosos.

Mas o gnosticismo comete aqui o pecado da soberba espiritual: ele não apenas diz que há algo bom no homem, como diz que o homem já é parcialmente divino, apenas ignorante disso. Isso nos leva a duas consequências filosóficas perigosas:

    • Nega o pecado como escolha e responsabilidade.

    • Coloca a salvação como um processo de lembrança de superioridade, não de arrependimento de queda.

Ou seja, é pelagianismo esotérico com tempero oriental. O homem não é decaído, é apenas “esquecido” – e isso dissolve a ética, porque onde não há culpa, não há responsabilidade. E se o homem já é divino, que sentido tem corrigir sua conduta?

4. “Jesus veio para ser amigo, não mestre.”

Essa é uma inversão sentimentalista, e a crítica deve ser aguda:

Se Jesus é apenas guia interior e não redentor, ele não exige conversão, apenas aceitação de si mesmo.

Mas veja que isso é psicologia de autoajuda misturada com um pouco de Jung e um punhado de Paulo Coelho:

“Você é uma centelha divina, Jesus veio te mostrar o Deus que você é…”

Ora, isso não é religião – é espelho.

Não há outro, não há alteridade, não há “Tu” divino, apenas um Eu profundo e narcísico, onde a salvação é olhar para dentro como quem olha para um lago e vê Narciso com barba de profeta.

5. “Todo o mal vem do mundo, não de nós.”

Aqui está o ponto teológico mais frágil do gnosticismo – e talvez o mais covarde também.

A demonização da matéria (dualismo radical) resolve magicamente o problema do mal:

    • “Não foi você, foi o demiurgo.”

    • “Não foi o pecado, foi a prisão corporal.”

Como muito bem podemos notar, isso é idêntico à teologia do bode expiatório presente em seitas vulgares:

“Tudo que dá errado é culpa do capeta, do mundo, da inveja dos outros, do karma astral, das energias.”

Nada de culpa, nada de juízo, nada de cruz – só projeção.

É, no fundo, uma teodiceia ressentida, uma cosmologia do coitadismo.

6. “Gnosticismo não é religião, é expressão de um sentimento humano.”

Bingo, este é o coração da coisa. O gnosticismo, antes de ser um sistema de crença, é um lamento existencial. É a voz do homem preso no absurdo, querendo desesperadamente uma explicação que o isente da dor e da culpa. É o grito do escravo que, em vez de clamar por libertação, inventa que nunca deveria ter nascido nesse mundo. Ele não quer salvação, quer negação do real.

Por isso, o gnosticismo é menos um erro doutrinário e mais um estado de alma: um ressentimento metafísico contra a criação, um rancor espiritual contra o ser.

Conclusão:

O gnosticismo é um fracasso lógico, um desastre teológico e uma tentação psicológica.

Ele não salva, só anestesia.

E como toda anestesia, torna o paciente dócil enquanto a doença avança.


I. TEXTOS GNÓSTICOS ORIGINAIS – A SELVA DO MISTICISMO ESCORREGADIO

Os manuscritos de Nag Hammadi (descobertos em 1945 no Alto Egito) são uma verdadeira arca dos delírios gnósticos. Dentre os principais, temos:

1. Evangelho de Tomé

“Se conhecerdes a vós mesmos, então sereis conhecidos, e sabereis que sois filhos do Pai vivo.”

Aqui começa a ladainha do conhecimento interior como salvação. Nada de conversão, nada de metanóia. Só "saber quem se é". E quem somos? Centelhas divinas esquecidas. É autoajuda com incenso e um pouco de apócrifo.

2. Pistis Sophia

Um tratado empoeirado, uma novela cósmica onde Cristo sobe e desce 12 céus, falando em eons, arcontes, selos e senhas místicas. Não há cruz, nem sangue, nem pecado – apenas senhas esotéricas para vencer os guardiões do mundo inferior. Muito mais um RPG místico do que teologia.

“Dize-me as senhas da luz, para que eu passe pelas moradas do arconte.”

Ou seja: a salvação vira uma burocracia cósmica – se você souber as palavras certas, os seguranças do universo te deixam passar. É esoterismo cabalístico, revestido de mitologia cristã reciclada.

3. Evangelho da Verdade

Esse é quase “New Age avant la lettre”. Fala da ignorância como raiz do mal e da memória do Pai como cura. Cita Jesus, mas o reduz a um terapeuta celeste. O escândalo da cruz é apagado – substituído por um “retorno à fonte primordial do amor e da luz”. Parece bonito, mas é uma traição.

II. A VISÃO DO GNOSTICISMO – O RESUMO DOS DISPARATES

    1. O mundo material é obra de um deus menor, ignorante ou maligno (o Demiurgo).

    2. O verdadeiro Deus é puro espírito, inacessível, transcendente – e escondido.

    3. A alma humana é divina, mas prisioneira do corpo.

    4. A salvação vem por gnose: uma iluminação secreta que nos faz recordar quem somos.

    5. Jesus veio como mensageiro da gnose, não como redentor pelos pecados.

Resultado: nega-se a criação, a encarnação e a cruz. Troca-se tudo isso por um misticismo narcisista.

III. OS PADRES DA IGREJA – O CONTRA-ATAQUE FEROZ

1. Santo Irineu de Lião – Adversus Haereses

O mais impiedoso e sistemático dos anti-gnósticos entendeu logo: o gnosticismo não é só heresia – é blasfêmia contra a criação.

“Eles acusam o próprio Criador de ser mau, como se fosse possível desprezar a obra sem atacar o próprio Artífice.”

Irineu bate onde dói:

    • Se o mundo foi feito por um mau demiurgo, então o corpo de Cristo também é mau.

    • Se a salvação é só conhecimento, por que Cristo morreu? Por que sangrou?

    • Se o homem é divino por natureza, para que redenção?

Irineu expõe a incoerência ontológica dos gnósticos: eles querem o Cristo, mas negam tudo que torna Cristo necessário.

2. Tertuliano – o gladiador de Cristo

“Quid ergo Athenis et Hierosolymis? Quid academiae et ecclesiae?”

(“O que têm a ver Atenas e Jerusalém? A academia e a Igreja?”)

Tertuliano esmaga os gnósticos com um desprezo escatológico. Os chama de:

    • “Teólogos de palco”

    • “Charlatões da alma”

    • “Hereges com fome de novidade”

Para ele, o gnosticismo é curiosidade vã misturada com soberba intelectual. Acusa-os de serem pseudos-sábios que desprezam a simplicidade da fé cristã e o realismo da cruz.

3. Hipólito de Roma – Refutação de Todas as Heresias

Dá nomes aos bois e descreve cada vertente gnóstica como um delírio sincrético: Pitágoras, Platão, Zoroastro (sim, mas não se escandalize: estude), todos misturados num liquidificador herético.

Mostra que os gnósticos não têm unidade doutrinária: cada grupo inventa um cosmos próprio, com eons e genealogias esotéricas, tentando explicar o mal sem enfrentar a verdade: o mal vem da liberdade e da queda.

IV. O NÚCLEO FILOSÓFICO DO GNOSTICISMO – E O SEU ERRO MORTAL

A chave está aqui: o gnosticismo nega o real. Ele é, em essência, uma forma de niilismo transcendental.

Ele diz: “Se o mundo é mau, então ele não é verdadeiro.”

A resposta cristã é: “O mundo é bom, mas corrompido.”

A resposta gnóstica: “O mundo é falso, então eu me refugio no que não posso provar, mas quero crer.”

É a covardia metafísica do homem ressentido, que não suporta a dor e prefere uma mentira confortante a uma verdade redentora.

V. A APLICAÇÃO MODERNA – O RETORNO DO GNOSTICISMO

Olhe ao redor: o gnosticismo voltou – só trocou o nome.

    • Transumanismo: “Meu corpo é uma prisão, preciso superá-lo.”

    • Psicologia pop da Xuxa: “Você é perfeito, só precisa se lembrar disso.”

    • Espiritualismo gourmet: “Somos luz. Tudo é vibração. A culpa é da energia do ambiente.”

    • Cristianismo diluído: “Jesus é amor e aceitação, não cruz e exigência.”

Todos eles herdam o núcleo gnóstico:

“Não preciso mudar; só preciso despertar.”

VI. GNOSTICISMO COMO ARMA POLÍTICA – A MENTIRA REDENTORA DO RESSENTIDO

Se o gnosticismo antigo era uma fuga existencial do real, o moderno é uma engenharia social para destruir o real.

1. A Lógica Política do Gnosticismo

O filósofo alemão Eric Voegelin foi quem lançou a bigorna sobre a cabeça da serpente: para ele, o gnosticismo não morreu – reencarnou nas ideologias modernas.

“O gnóstico político acredita que o mundo é insuportável e que ele mesmo – com seu conhecimento iluminado – pode criar um mundo novo.”

O que temos aqui?

    • Um diagnóstico negativo absoluto da realidade (“o mundo é mau, o sistema é podre, a cultura é tóxica, a tradição é opressora”).

    • Uma salvação imanente, não mais no além, mas aqui e agora, operada pelo “iluminado” (o militante, o revolucionário, o justiceiro moral).

    • Uma auto-percepção messiânica: o gnóstico moderno é o "desperto", o "acordado", o “progressista esclarecido”, enquanto os outros são zumbis do patriarcado, da religião, da família ou da moral.

Assim nasce o redentor político: um falso cristo que não salva do pecado, mas promete libertar do mundo tal como ele é.

2. Exemplos Modernos do Gnosticismo Político

    • Marxismo: o proletariado é a centelha divina oprimida pelo demiurgo burguês. A revolução é a gnose que trará o paraíso terrestre.

    • Revolução sexual: o corpo (biológico) é uma prisão. A identidade (gênero, desejo, afeto) é a “verdade interior”. Liberdade é quebrar todas as formas.

    • Militância racial identitária: a pessoa é definida pelo trauma histórico e não por sua alma ou atos. A redenção vem por meio de políticas de “reparação” – ou seja, poder para corrigir uma realidade sempre má.

    • Ambientalismo gnóstico: o planeta “natural” é o Éden perdido. A civilização é o demiurgo destruidor. Só os “iluminados verdes” sabem como restaurar a harmonia.

Tudo isso forma o misticismo ideológico do ressentido: uma fé sem transcendência, um dogma sem céu, e uma cruz sem perdão — só com tribunal.

VII. O INVERSO DO SANTO: O INVASOR DA DIVINDADE – O INVEJOSO METAFÍSICO

Agora vamos à raiz venenosa: o invejoso metafísico.

1. Quem é ele?

O invejoso metafísico não quer o bem do outro – quer o mal da própria realidade. Ele inveja a ordem das coisas. Não suporta que exista algo maior que ele, mais belo que ele, mais permanente do que suas emoções mutantes.

Ele não quer ser igual a Deus no sentido de união amorosa – ele quer tomar o lugar de Deus. É Lúcifer, sim, mas também Adão diante da árvore:

“Sereis como deuses…”

O gnóstico é isso: um Adão que não pede perdão. Ele ressente-se da Queda, mas não quer Redenção. Quer revanche.

2. O gnóstico como tipo psicológico – perfis comuns:

    • O nefelibata narcisista: acha que é especial porque sofre. Veste a dor como manto régio. Diz: “o mundo é mau porque não me reconheceu.”

    • O rebelde acadêmico: despreza tudo que cheira a tradição. Chama Santo Agostinho de misógino e São Tomás de burocrata medieval. Mas cita Foucault como quem lê evangelho.

    • O militante ressentido: não ama o que defende – odeia o que combate. Vive para demolir, nunca para construir.

    • O espiritualista vazio: diz que “Jesus é amor”, mas nunca o cita como juiz. O Cristo que carrega é um espelho: ele ama o divino… em si mesmo.

3. A negação da culpa – e o triunfo do demônio inocente

Como bem notamos, o gnóstico moderno se isenta de toda culpa. O mal vem do sistema, das estruturas, do “mundo criado”. Não há pecado, apenas trauma. Não há responsabilidade, apenas circunstância.

Isso é teologicamente perverso: é a reabilitação de Lúcifer como vítima.

No fundo, o gnóstico diz:

“Não sou rebelde — fui expulso injustamente da luz.”

VIII. A RESPOSTA CRISTÃ TRADICIONAL – UM SOCO CONTRA O CÉREBRO CÍNICO

    1. O mundo é bom, mas ferido. Foi criado com amor, caiu por liberdade, e será redimido pelo sacrifício.

    2. A salvação vem de fora – da graça, não de uma luz interior autoinduzida.

    3. Cristo não é terapeuta esotérico, é Senhor e Juiz.

    4. O homem não é Deus esquecido. É criatura caída – e, mesmo assim, amada.

É por isso que o gnosticismo odeia a cruz:

    • Porque ela revela que o sofrimento é redentor.

    • Que a carne tem valor.

    • Que Deus se encarnou – e isso destrói toda ideia de que o corpo é vil.

    • Que o mal não é só fora: ele está dentro, e precisa ser vencido, não explicado.

Ao fim e ao cabo, temos acima um estudo que pode ser útil – tanto na compreensão de comportamentos que, por sua constância, acabaram por se “normalizar” quanto em momentos de reflexão e auto-crítica, corrigirmos eventuais deslizes que tenhamos cometido em nossas relações diárias.

Não há redenção sem sacrifício, nem salvação sem fé.

E para aqueles que, como eu, sofrem pela escassez desta última citada, resta andarmos pelo melhor caminho possível, ditado pelo discernimento, bom senso e juízo – mas sempre em alerta contra tais armadilhas, pois as mesmas podem vir de um simples comercial de TV ou de inocente vídeo do YouTube.

Prudência nunca é demais.


Walter Biancardine



terça-feira, 10 de junho de 2025

A SOLITUDE PROVIDENCIAL


Talvez alguns dos leitores já tenham percebido, ou sofrido em suas próprias peles, que quanto mais tempo um homem passa solteiro mais ele se torna forte, estratégico e livre. E não, não é solidão. É lapidação, construção silenciosa de um império interno.

Os mesmos leitores talvez tenham reparado também que existe um tipo de silêncio que não é vazio, mas uma expressão surda e, paradoxalmente, inescapável de poder. Pois digo que quanto mais um homem vive sozinho, mais ele se distancia da necessidade e se aproxima da maestria. Ele começa a enxergar que a solitude não é ausência de amor. É a presença de si mesmo. 

E é nesse espaço silencioso, longe das pressões sociais, longe da necessidade de aprovação, que ele aprende a ser o próprio porto seguro. A solteirice consciente é uma forja, onde o homem molda sua mente, afia sua disciplina e constrói uma vida que não depende de ninguém para ter sentido. 

Não é fuga, mas preparação. É ele se tornando dono do próprio destino sem ruídos, sem distrações, sem pressa.

A verdade é que quando o homem aprende a viver bem consigo mesmo, ele se torna um perigo para qualquer sistema que lucra com a carência pois um homem livre, que não precisa de ninguém para ser feliz, é um homem que ninguém controla. Ele escolhe com quem anda, o que consome, e o que constrói. E quando, e se, decidir se relacionar, será por abundância, nunca por carência. Será por escolha, e não por desespero. 

O tempo da solteirice consciente é o momento mais fértil da vida de um homem. É onde ele planta, onde ele cresce e onde, finalmente, entende que ser homem não é correr atrás de amor. É correr atrás de si mesmo.

Ser solteiro não é estar incompleto, mas estar inteiro o suficiente para se sustentar sozinho. Enquanto muitos enxergam como um período de carência, o homem consciente transforma em um período de construção.

Tem gente que acha que estar solteiro é estar perdido. Que é sinal de fracasso, de vazio. De alguém que não deu certo no amor.

Mas, na verdade, muitos homens hoje em dia escolheram a solitude não por desistência do amor, mas por entenderem que. antes de amar alguém, ele precisava aprender a ficar inteiro. Não é orgulho, nem isolamento: é maturidade. É aquele cara que acorda num sábado de manhã, faz seu café, senta em silêncio, olha pra dentro e percebe estar bem, seguro, sereno e confiante. Não depende de ninguém para ter um dia bom.

E nessa jornada, ele vai percebendo coisas que antes não via. Vai notando que quando ele está só, o tempo é dele. Os pensamentos são dele. O ritmo do dia é dele. Não tem que negociar a própria rotina. Não tem que disfarçar o que sente. Não tem que andar pisando em ovos. Ele pode mergulhar fundo em si mesmo, se reinventar, testar ideias, mudar de rota, recomeçar. E o mais curioso, quando um homem começa a gostar da própria companhia, tudo muda.

Ele come melhor, dorme melhor, pensa melhor. Não é porque estar solteiro ou solitário. Ele só aprendeu a se bastar. E isso não tem preço. Porque enquanto muitos estão tentando preencher um vazio com outra pessoa, ele está preenchendo com propósito. 

É claro que existem dias difíceis.

Existem certamente os dias em que bate o silêncio pesado, em que a cama parece grande demais. Mas até nesses momentos existe ouro escondido, porque é ali, na ausência do outro, que ele escuta com mais clareza a própria voz.

E nessa voz, vem respostas. Vem direção. Vem visão de futuro.

Ele só não se vende barato. Ele aprende a se valorizar. E por isso quando, e se, for amar de novo, vai fazer isso sem se apagar, sem se anular, sem se perder de si mesmo.

Ser solteiro não é estar pela metade. É estar tão inteiro que não precisa se desesperar pra ser aceito. E isso assusta.

Porque o sistema tá acostumado com homens dependentes, carentes, que fazem de tudo pra ter alguém. Mesmo que isso custe a liberdade, os sonhos e até o respeito próprio. Mas o homem que entendeu o valor de estar só, não tem mais pressa.

Ninguém vai lembrar de suas metas. Ninguém vai puxá-lo pelo braço quando a mente estiver pesada. Ele levanta porque precisa. Ele aprende a cozinhar porque cansou de viver de delivery. Aprende a limpar a própria casa porque entendeu que o ambiente onde ele vive molda o jeito que ele pensa. Aprende a olhar a fatura do cartão e pensar duas vezes antes de comprar por impulso.

Tudo isso em silêncio. Sem aplausos. Sem elogio. Sem ninguém dizendo “parabéns meu amigo”. Porque ele já entendeu: ou ele toma as rédeas, ou a vida passa por cima.

E é nessa rotina aparentemente simples, nesses pequenos hábitos, que ele constrói uma casca. Não de frieza, mas de autonomia. E quanto mais ele se cuida, mais ele se conhece.

Vai percebendo que certos gatilhos vêm sempre nos mesmos horários, nas mesmas situações. Começa a entender quando precisa de um descanso, quando está sabotando o próprio ritmo, quando está se traindo. Ele percebe quando está tentando fugir da dor com distração e quando realmente precisa relaxar. E isso só vem com o tempo consigo mesmo. Não é em dois meses de solteiro. Não é entre um romance e outro.

É no silêncio prolongado, quando não tem ninguém ao lado dizendo o que é certo ou errado, que ele aprende a confiar no próprio julgamento. Ele aprende que intuição não é mágica. É a experiência emocional acumulada que só se ativa quando ele presta atenção de verdade em si mesmo.

Essa liberdade, aos poucos, se transforma numa espécie de blindagem. Não porque ele se trancou emocionalmente, mas porque ele não depende mais de aplausos para seguir firme. O cara que se conhece de verdade não precisa mais provar nada.

Quando o homem para de gastar energia tentando consertar o que não depende só dele, algo por dentro começa a clarear. O tempo que antes era consumido em discussões, em justificativas, em expectativas frustradas, agora fica livre. E é nesse espaço livre que ele começa a se ver de fora, com mais calma. E essa liberdade emocional é o terreno fértil onde a independência financeira começa a florescer. Ele para de gastar para impressionar. Para de consumir como anestesia, começando a usar o dinheiro como ferramenta, não como distração. Cada tostão que sobra no fim do mês passa a ter um destino. Investimento, reserva, construção.

E isso não nasce de um curso milagroso. Nasce do silêncio, da clareza e da responsabilidade de saber que ninguém vai fazer por ele. 

Com o tempo, ele vai ganhando confiança. Aprende a dizer não sem culpa, porque entendeu que um sim mal dado custa muito caro. Vai se blindando de gastos emocionais, de relações que drenam, de hábitos que empobrecem. E quanto mais consciente fica do que realmente importa, mais ele começa a ganhar.

Não é só dinheiro. É poder de decisão. É visão estratégica.

Esse homem entende que amor é escolha, não necessidade. E enquanto ele não encontra alguém que caminhe na mesma frequência, ele segue. Não por orgulho, mas por maturidade. Ele não quer alguém para completar. Quer alguém para transbordar junto – e que tal observação fique como lembrete aos que eventualmente pensem estar este autor a defender o celibato e abominar a procriação e formação de famílias.

Pois o amor sem pressa é amor com critério, deixando de se enganar com carências disfarçadas de amor. Ele não entra em qualquer conexão só porque está carente ou quer companhia para passar o tempo. Ele aprendeu que o preço de se relacionar sem estar pronto é alto demais. Custa foco, custa paz, custa progresso. E agora que se reergueu com as próprias mãos, ele protege o que construiu. 

Ele sabe que um relacionamento saudável pode ser uma benção – que fique bem claro. Mas também sabe que um relacionamento mal escolhido pode atrasar a vida por anos. Por isso, ele espera.

E essa espera não é fraqueza, não é amargura. É sabedoria de quem entendeu que o tempo certo é mais importante do que o medo da solidão. Ele quer alguém que some, não que sugue. Alguém que caminhe ao lado, sem tentar mudar a direção. Ele quer profundidade, não distração. Presença, não cobrança. Ele não está à procura de perfeição, mas de verdade. Alguém que aceite a liberdade dele sem se sentir ameaçada. Alguém que entenda que o silêncio dele não é desinteresse, é paz. Que o espaço dele não é distância, é cuidado. E que amor não precisa ser um caos para ser intenso. Pode ser leve, pode ser consciente, pode ser construído devagar. Com respeito, com maturidade, com intenção. 

Esse homem sabe que relacionamento não é prêmio, nem fuga, é parceria. Ele não está esperando alguém para carregar, nem alguém para se escorar nele. 

Homem, se você está solteiro hoje, entenda, isso não é um castigo. É um convite para crescer, para dominar a si mesmo, para construir a versão mais potente de quem você nasceu para ser. Use esse tempo como um rei, usa o silêncio do castelo, planejando o próximo grande passo. 

Existe um poder bruto escondido. Nesse período em que ninguém o está chamando para a cama, ninguém cobra presença, ninguém ocupa seus pensamentos com jogos emocionais, esse silêncio é fértil. É nele que o seu foco começa a apontar para dentro.

É quando você se enxerga, de verdade, e percebe que já carrega tudo o que precisa para se levantar. Sem plateia, sem apoio, sem palmas. Só você, sua mente e o tempo. 

Esse é o solo onde a verdadeira grandeza brota. 


Walter Biancardine



sexta-feira, 6 de junho de 2025

TODOS DORMIRAM -

 


A pauta da anistia, que considero algo burro por não se perdoar inocentes, foi aparentemente esquecida.

A pauta do voto impresso desapareceu por completo, nas névoas da conveniência; e as tímidas proposições de impeachment contra o ditador Alexandre de Moraes, essas, foram cuidadosamente afogadas nas águas do medo e do rabo preso.

Que diabos, então, fazem hoje os políticos conservadores e "didireita" em Brasília?

Nada. A palavra de ordem é "deixa quieto", enquanto locupletam-se com nosso dinheiro e desfrutam dos privilégios da nata do crime organizado, no Brasil: o crime legalizado, legitimado pelo voto dos algoritmos.

Esse é o país que você vive, festejando as vitórias do Vasco ou sacolejando o derriére com um "proibidão".


Walter Biancardine



HOMENS SEM PROPÓSITOS SÃO MACACOS DEPRIMIDOS


Final de semana chegando, para uns é hora do churrasco e pagode enquanto, para outros, apresenta um bom momento para breves introspecções, aquele “balancete da vida” que periodicamente fazemos.

Sejam os aparentemente alienados frequentadores de churrasco ou os supostamente eruditos introspectivos, a verdade é que ambos escondem a agonia da falta de rumo, de objetivos, de propósito – a insuportável sensação de ser uma fraude, um fracasso, alguém que jamais chegará a alcançar os resultados (a maioria deles materiais) sonhados e gasta seu tempo sufocando a angústia em pequenos surtos de exibicionismo nas redes sociais.

Pois justamente nestes momentos depressores sempre bom é recorrer às muletas dos agonizantes que são os filósofos Kierkegaard, Nietzsche e Camus. O problema é que a grande maioria de leitores pode ceder às facilidades simplistas e valerem-se, na interpretação dos conceitos que exponho, de uma ótica destrutivamente niilista, enquanto outros, quase cínicos, exibirão satisfação íntima de burramente acharem-se “certos”.

Tais desvios à parte, vejamos:

"Toda escolha é a escolha errada" (Soren Kierkegaard)

"Não é a dor que mata. É o vazio" (Nietzsche)

Começo com a dupla acima para constatar que todos perseguem o sucesso, mas perambulam vazios de sentido.

A falta de um verdadeiro propósito na vida encalha o ser humano que, na maioria das vezes, se dá conta disso apenas na velhice – ou em crises de ansiedade e depressão, se for jovem.

Ainda amparado por Nietzsche, vale seu ensinamento: "Aquele que tem um porquê, suporta qualquer como".

O problema é que nem sempre – ou raramente – temos um porquê. E aí entra o outro filósofo citado, Albert Camus: "Temos de viver como se tivéssemos um propósito, ainda que seja de nossa própria invenção", pois a vida não tem manual de instruções nem nenhuma garantia que dará certo, ainda mais em um país como o Brasil, onde tudo conspira para que ninguém vença na vida – mas sobre isso falarei em outro artigo.

Sim, amigo leitor: como vimos, o sistema te quebra e ainda diz que a culpa é sua.

Esteja você entupindo-se de churrasco e cerveja Glacial ou recolhido à biblioteca de sua casa, aproveite para pensar. Um ideal, um propósito, em tese teria mais poder em nos tirar da cama que a necessidade de pagar o aluguel.

Tais palavras são belas, mas a realidade é que hoje persigo trabalho, não ideais. E não, não se trata de “paralaxe cognitiva” do professor Olavo de Carvalho, mas do fato de somente organismos vivos, mantidos assim pelo alimento e teto, poderem parar e conceber tais ideais.

Primeiro sobreviva. Depois, jamais deixe de acreditar e buscar o que deseja para si mesmo.

Ou terminará seus dias no churrascão com Glacial gelada.

Bom final de semana!


Walter Biancardine


quinta-feira, 5 de junho de 2025

OBITUÁRIO DE UM PAÍS CHAMADO BRASIL

 


No dia 4 de junho de 2025, data do massacre da Praça da Paz Celestial na China, o Brasil morreu mais uma vez – desta feita com transmissão ao vivo e direito a tapinhas nas costas entre os coveiros togados e do Congresso omisso e apavorado. Em votação praticamente decidida de antemão, será aprovado o novo pacote de censura digital, uma emenda velada e venenosa ao Marco Civil da Internet, que agora servirá não mais à proteção das liberdades civis, mas à consagração de um regime de vigilância e silenciamento sem precedentes.

A esquerda esfrega as mãos, os isentões baixam os olhos, e o Supremo Tribunal Federal – com Alexandre de Moraes à frente – confirma seu papel de verdadeira Junta Militar do século XXI: só que sem farda, sem quartel, e com uma verve stalinista que faria inveja ao DOPS.

No mesmo país em que um humorista é condenado por contar piadas, o funkeiro MC Pose do Rodo – apologista do crime, reincidente, profundamente envolvido no tráfico de drogas e símbolo ambulante da degradação moral – é libertado e celebrado como mártir cultural. A mensagem é clara: piada com minorias, cadeia; incitação à bandidagem, palmas. Ria de um gordo, português, gay ou papagaio e será crucificado. Cante sobre matar policiais e será premiado com likes e liberação judicial.

A coisa toda ganhou contornos definitivos esta semana, com a liberação (tardia) das gravações do interrogatório conduzido por Alexandre de Moraes. Ali, o Brasil pôde assistir a um ministro da Suprema Corte ameaçar diretamente dois cidadãos – Aldo Rebelo, ex-ministro de Estado, e Jair Bolsonaro, ex-presidente da República – com prisão imediata, caso não se dobrassem à humilhação inquisitorial da hora. Sem advogado, sem respeito, sem decoro. A toga virou porrete. A caneta, punhal.

O STF já não se dá mais ao trabalho de fingir. Não julga – impõe. Não interpreta – reescreve. Não aplica – fabrica. E o Legislativo? Cúmplice, com bolsos cheios e calças sujas. O Executivo? Sócio oculto. As instituições não funcionam. Ou melhor, funcionam sim, mas contra o povo.

O AI-5 DIGITAL: A CENSURA LEGALIZADA

Sob o pretexto de combater "fake news", o Estado passará a decidir o que é verdade, o que pode ser dito, o que pode ser pensado. A liberdade de expressão, cláusula pétrea da Constituição, será reduzida a pó. As big techs, antes defensoras da liberdade digital, agora se curvam ao arbítrio togado. O Twitter, rebatizado de X, foi multado em R$ 28,6 milhões por descumprir ordens de censura. O Telegram foi bloqueado por não deletar conteúdos que desagradam ao STF. O influenciador Monark teve suas redes sociais apagadas por determinação de Alexandre de Moraes, que também ordenou a remoção de postagens de parlamentares eleitos pelo povo, e hoje a internet brasileira, tal como a conhecemos, será calada.

A verdade, entretanto, é como a água que desce das montanhas: não se detém e termina por encontrar o melhor caminho até o mar. O que será feito dos poucos (e bons) canais conservadores do YouTube? Sim, serão calados, mas existe uma perigosa brecha, situada em um nível muito mais delicado de se calar, que é a TV de sinal aberto – eles censurarão um canal de TV?

É o que podemos apostar que não o farão. A TVD News, único canal abertamente conservador do país e única emissora de TV com sinal aberto (via parabólica, canal 581), já repete programas importantes como a Rádio Auriverde, TimeLine (o sucessor do Terça Livre, com Allan dos Santos e Lacombe) e Revista Oeste – e este certamente será o escoadouro de outros mais influenciadores, importantes e conservadores, que poderão migrar em massa para a TV aberta.

Terá o STF o despudor de censurar um canal de TV? Exporá ao mundo, de maneira tão explícita, a ditadura brasileira?

É o que veremos.

TUDO DEPENDE DE QUE LADO VOCÊ ESTÁ

Relembremos: o funkeiro MC Pose do Rodo, um apologista da marginalidade, da vulgaridade e da dissolução moral, foi solto. Saiu comemorando sua liberdade com sorrisinhos diante das câmeras e aclamação popular – sim, a turba furiosa o aplaudiu – liberdade esta que não se estende, curiosamente, a quem usa palavras para provocar o riso ou o pensamento. Léo Lins, humorista, foi condenado a oito anos de prisão por contar piadas. Sim, piadas, e pouco importa de que lado ele esteja, pois a lição que fica é que o escorpião acaba por picar quem o salva da enchente – “está em minha natureza”, diz ele, segundo a fábula.

Pior ainda são as gravações liberadas, que registram Alexandre de Moraes em ação durante os interrogatórios de Jair Bolsonaro e Aldo Rebelo. A postura ditatorial é escancarada: ameaças de prisão, desrespeito processual, abuso de autoridade. Um espetáculo grotesco que nem os militares de 1964 ousaram encenar com tamanha desfaçatez.

Por outro lado, acaba de ser decretada por – sempre ele – Alexandre de Moraes, a prisão da deputada Carla Zambelli, que em boa hora saiu do país. O abuso é flagrante, pouco importando se você gosta dela, de Leo Lins ou de qualquer outro: a serpente chegará até você.

O VEREDITO FINAL

O Brasil morreu. Foi assassinado por aqueles que deveriam protegê-lo. O STF, que deveria ser o guardião da Constituição, tornou-se seu algoz. A liberdade, a justiça e a democracia foram enterradas junto com Clezão, um dos mártires da ditadura togada. Resta-nos apenas a memória do que poderíamos ter sido.

Tudo isso, é claro, é apenas mais um capítulo da nossa interminável agonia institucional. Desde que derrubaram Dom Pedro II – o último estadista legítimo que tivemos – o que se seguiu foram regimes de fachada, democracias de papelão, e tiranias episódicas disfarçadas de progresso. A tal “Nova República”, parida sob o signo do Foro de São Paulo e amamentada por ONGs globalistas, foi apenas a mais recente prostituta institucional vestida de dama da liberdade.

E que ninguém espere das “gloriosas” Forças Armadas qualquer tipo de salvação. Quando a temperatura subir e o povo finalmente perceber que está trancado numa jaula com ar-condicionado desligado, as tropas não sairão às ruas para garantir seus direitos. Sairão – como sempre fizeram desde 1889 – para obedecer à ordem do poder de turno. Desta vez, a ordem virá de cima, direto do STF: conter os subversivos. Prender os “golpistas”. Acabar o serviço.

Aqui jaz o Brasil. Uma nação rica em solo, pobre em espírito, e há muito tempo órfã de sua identidade. Que nos reste ao menos a coragem de lembrar: liberdade não se pede, exige-se.

E tirania não se denuncia apenas — enfrenta-se.



Walter Biancardine