terça-feira, 4 de novembro de 2025

A TORMENTA É BELA QUANDO ESCRITA, NÃO QUANDO VIVIDA -


Todo aquele que possui uma sensibilidade ligeramente mais apurada pode encontrar beleza e, talvez, até mesmo lições ao ler os escritos de um atormentado. A aflição nos despe da vergonha, do pudor, e passamos a exorcizar de forma pública - eis que ao redor nada ou ninguém resta - os fantasmas que perseguem nossa alma.

Sim, a depender do talento e sensibilidade do atormentado, realmente poderemos colher algumas preciosidades, entre os escombros daquilo que o pobre infeliz chama de "vida" e na qual desfilam procissões de sofrimentos, dúvidas, aflições, frustrações e angústias. Tais hemorragias - causadas por fraturas expostas de sua alma - eventualmente nos oferecem lições, conselhos ou mesmo servem como tema de meditações mais pessoais e profundas, naquele buraco infinito que todos temos na alma, mas a ninguém confessamos.

Eis que é bom e belo lê-lo; jamais queira vivê-lo, entretanto.

Dores não podem ser compartilhadas nem sentidas por outrem - a empatia tem um cada vez mais curto limite - e tudo o que o infeliz escritor faz não é reclamar e, sim, extravasar. Quem reclama busca solução, mas quem desabafa já desistiu das mesmas há tempos e tudo o que faz é escrever - escrever para não explodir, rabiscar linhas como se o papel fosse lixeira, a vomitar tudo o que de pior tal alma carrega dentro de si.

E esta é a necessidade de escrever: ou escrevo ou explôdo, e isso se torna claro em simples contabilidade bibliográfica que façam sobre minha pessoa, onde textos personalíssimos, intimistas - ainda que temperados pela inevitável filosofia adotada como modus vivendi - são muito mais numerosos que análises políticas, ensaios filosóficos ou mesmo os velhos e divertidos (ao menos para mim) textos onde me entregava, sem pudores, à mais escrachada gaiatice.

Haverão alguns, temerários, que eventualmente apreciarão as linhas deste velho atormentado - o qual gasta dias se irmanando aos inomináveis Bukowski ou Schoppenhauer - e, por isso, me honrem seguindo-me. À eles, agradeço do fundo de meu coração, pois ouvir (ou ler) lamentos alheios é a suprema solidariedade, limitado que estamos às redes sociais. Mas deixo, entretanto, um conselho que considero valiosíssimo: tormentos alheios podem ser-nos úteis ou até soarem belos, mas nem em seus piores pesadelos queiram romantizar a situação deste escriba e, porventura, vivê-los.

Ser escritor, ter tal defeito como profissão - piorada pela minha formação jornalística - já é uma condenação à pobreza e frustração, e as tempestades que varrem minha cabeça ainda tornam tal sina vocacional ainda mais empedrada. Por isso, principalmente em um país como o Brasil, não percam tempo ou gastem neurônios no caminho das letras.

Elas nada significam numa terra de emojis.


Walter Biancardine


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