Sim, pois chegou a minha vez de cantar o refrigerante “Samba do Avião”, do mesmo Tom Jobim que ensinou meu quase irmão Luís Antônio – The House of Rock and Roll” – a tocar piano.
E eis que me encontro tal qual o Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara, sorvendo cada gole de uma tardia mas bem-aventurada volta à minha terra natal, me sentindo novamente nativo a xingar os engarrafamentos, a debutar no estranhíssimo BRT e tendo sempre à mão o deslumbrante caos luminoso da Avenida das Américas, à noite, uma vez já instalado em meu simpático apartamento no Recreio dos Bandeirantes…
Uma outra cidade, outrora capital do glorioso Império do Brasil e também – nada é perfeito – desta soluçante República; uma outra atmosfera, outras pessoas, outras modas, vestimentas, maneiras de falar, linguagem do corpo, dos sons e dos cheiros – tudo isso soube eu no passado, mas duas décadas e meia de exílio deslocaram e quase sepultaram a gênese carioca e estapafúrdia deste que ora vos escreve.
“Este artigo é só porquê/ Rio eu gosto de você/ A morena vai sambar/ Seu corpo todo balançar” enquanto eu, da janela do carro, as vejo em um desfile propositalmente blasé, pela orla da praia.
Então, na crônica diária de minha vida, uma nova página se abre e me pego exercitando as pernas no contínuo sobe-e-desce pelas escadas deste duplex – povoado somente por mim, subitamente desperto na vaidade de saber se tais escadas melhorarão o triste aspecto de minhas pernas, em intempestiva volta à adolescência. O amigo leitor não deverá se iludir, se neste momento considera que desfruto de férias cariocas: não, há trabalho – e muito – que ainda me espera.
Trata-se, porém, do saudoso abraço que dou à cidade que me pariu, mostrou a vida e pôs-me a correr o mundo. E a quanto tempo não a via…
Rio de sol, de céu, de mar… Dentro de mais um minuto estaremos no Galeão…
Aperte o cinto, vamos chegar… E vamos aterrar.
Estou de volta, Rio.
Walter Biancardine
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