quinta-feira, 6 de novembro de 2025


Escrevi que Deus não usa relógio. Tentei até explicar amores. Muita gente não entendeu. Eu não me entendi. Muitos não sabem. Eu também não - mas sou teimoso.

Por isso piso, repiso, bato no mesmo prego e esmurro a mesma ponta de faca.
Eu tento.

O AMOR, O RELÓGIO E ALGUM TROCADO PRA DAR GARANTIA -
Muito já se disse sobre o amor, mas quase tudo foi ruído de ferida. Poetas o cantaram, santos o ofereceram, filósofos o desconfiaram – e no fim ninguém saiu ileso. Porque o amor, quando é verdadeiro, não é um sentimento: é uma ferida aberta por onde o eterno tenta entrar.

Amar é sempre sofrer um pouco – não por castigo, mas por grandeza. Só o que ultrapassa os limites da carne pode doer assim. O amor é o peso do infinito sobre um coração finito.

Santo Agostinho, que sabia mais de lágrimas do que de definições, dizia que “amamos para não morrer”. E estava certo: o amor é a recusa da morte. É o protesto do espírito contra o relógio. Todo amante, no fundo, quer que o instante dure para sempre – e é por isso que ele se desespera.

Mas Deus, com sua ironia amorosa, fez o tempo para ensinar-nos a esperar. E é aí que o amor se torna mais divino: quando aprende a ser paciente sem deixar de arder.

As almas certas nem sempre se encontram na hora certa. Às vezes o amor chega tarde, como uma bênção fora de sincronia. Um está preso a deveres, o outro a feridas; um está pronto, o outro já cansado. E o mundo, cruelmente pontual, fecha as portas que o coração abriu.

Não é tragédia – é liturgia. O amor humano é sacramento imperfeito do Amor divino: contém a forma da eternidade, mas dentro de um vaso que se quebra. E cada desencontro é um lembrete de que o Céu ainda não começou.

Pascal escreveu que “o coração tem razões que a razão ignora”.
Talvez a razão do amor seja justamente essa ignorância: amar é aceitar o mistério de não entender, e ainda assim permanecer.

C.S. Lewis via no amor a escola da renúncia: não para sufocar o desejo, mas para purificá-lo. Ele dizia que o amor só é pleno quando suporta o risco da perda.
E esse é o ponto em que o humano se toca com o divino – quando amamos não para possuir, mas para servir, para permanecer mesmo na ausência.

Há quem diga que o amor é só uma ilusão biológica. Pobre ilusão essa, que atravessa séculos, destrói impérios e consola moribundos.

Rilke, que sabia das solidões humanas, dizia que amar é “guardar o outro no coração como uma tarefa”. E é isso: uma tarefa. Sagrada, cansativa, luminosa.
O amor não é um consolo, é convocação.
Não é uma pausa na vida, é o próprio campo de batalha onde alma e tempo duelam pelo direito de permanecer.

Deus não nos quer anestesiados de felicidade, mas maduros de esperança.
E maturidade, neste mundo, é saber sofrer com elegância, sem se embrutecer.
Porque o cinismo é a apostasia dos que amaram mal.

No fim, o amor é a pedagogia mais sublime da perda. Ensina-nos a morrer um pouco a cada dia – e ainda assim agradecer pela vida.
Chorar é rezar com os olhos.

E o amor, mesmo quando falha, não é um fracasso – é um ensaio da eternidade.
Que ele doa, sim. Mas que doa como um coração crescendo.


O AMOR TEM SEDE DE SANGUE -
O amor entrou no quarto com botas de chuva, pisou o tapete da inocência e estourou o vidro da janela. Se vestia de riso, trouxe a cicuta, o sono leve e o pensamento pesado.

Você quis um alguém para sempre – imbecil de fé – que veio como espelho quebrado, te refletindo mil vezes e devolvendo metade com cortes, com sangue e rotina.

Sussurrou juras de amor e você engoliu, sorrindo, sem ver o limo da promessa.

E você virou mesa posta, prato servido, a comida que gosta – e o garfo tremeu antes do brinde.

Porque amar é isso: domar o fogo com as mãos nuas, servir a ceia e ter sede no meio da festa.

O amor dói quando nos joga na cara: imortais só quando sonhamos – e quando a chama apaga, sobra a fuligem da pele desejada, só as gotas da vela fumegante são testemunhas.
Se deite no colo, encontre abrigo, e acorde no abismo da própria ausência.
Sangue escorre, não só da carne, mas da alma que se jurou indestrutível.

O tempo é carrasco e amante, vestido de sonho, fez ar condicionado no inferno, cantou “amor, amor” e fechou a porta.
Almas certas chegam tarde – uma tombou, outra foi embora. Uma traz o alforje, a outra os grilhões.
E o amor humano, esse pobre idólatra, sempre perde contra o relógio.

Mas eu digo verdades, o amor vale mesmo assim. Vale porque é o bom combate, vale porque, no fim, sobreviver ao amor não é fugir da dor – é dançar com ela, olhar nos olhos e dizer: “sou teu espelho quebrado, ainda assim me refaço”.

Então sim: o amor tem sede de sangue, que só se sacia na febre.

O amor bebe ternura – e no fel, na ferida, encontra-se o resíduo de divino: todo amor que hover nessa vida.

Porque amar é morrer todos os dias, querer levantar para o café da manhã com o outro.

E algum trocado, pra dar garantia.


Walter Biancardine


quarta-feira, 5 de novembro de 2025

DEUS NÃO USA RELÓGIO -


I – O tempo que não passa em Deus
Deus não usa relógio.
Essa frase, dita ao acaso, soa como consolo de beato – mas é, na verdade, um abismo metafísico.
O homem mede tudo em horas; Deus, em essências.
O que para nós é demora, para Ele é medida justa. O que chamamos de acaso, Ele chama de providência.

Santo Tomás de Aquino, na Summa Theologica (I, q.10, a.1), define a eternidade como “posse total, simultânea e perfeita da vida sem fim”.
A eternidade, portanto, não é tempo estendido ao infinito; é ausência de tempo.
Deus, sendo ato puro, não “espera” nada, pois já contém em Si toda a plenitude do ser.
Mas nós esperamos.

E nesse hiato entre o eterno e o temporal se instala a tragédia humana.
Deus traça o fio da providência sobre uma tapeçaria que só vemos pelo avesso: nós enxergamos o nó, Ele vê o desenho.

II – A lentidão divina e a pressa humana
Deus governa o tempo sem ser governado por ele – e isso fere a alma moderna, que só sabe amar o que é instantâneo, imediato, bom para sair no Instagram.

Vivemos sob o tirano tique-taque da urgência metabolizada pelo vício em dopamina cibernética. Queremos promessas com prazo de entrega, bênçãos com data de validade, amores sem espera.

Nosso drama é exigir que o eterno se comporte como um aplicativo, bastando clicar e obter.
Mas a Providência, ensina Santo Agostinho, é uma pedagogia e Ela não se apressa, eis que o tempo é uma ferramenta educativa. Em Confissões (XI, 13), o bispo de Hipona escreve:

“O que é o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; se quero explicá-lo a quem me pergunta, já não sei.”

Eis o espanto de quem compreende que o tempo é o lugar da nossa ignorância.


A eternidade, para nós, é incomunicável; só a sentimos em lampejos – na oração, no amor, na arte, no arrependimento. E Deus nos educa por meio desses mesmos lampejos: ora atrasando, ora adiantando, suspendendo o relógio, até que o coração aprenda o ritmo certo.

III – O descompasso das bênçãos tardias
Quantas vezes o homem recebe tarde demais aquilo que mais desejou?
A oportunidade que chega depois da juventude, o reconhecimento quando o vigor já secou, o amor quando o corpo já cansou – é a maldição do “tarde demais”, que tantos tomam por crueldade divina.

Mas talvez não seja crueldade – talvez seja uma forma superior de justiça.
Santo Tomás de Aquino, ao tratar da providência (Summa contra Gentiles, III, 94), explica que Deus permite certos males aparentes para um bem maior, invisível a quem sofre, pois a alma que recebe tarde aprende a desejar corretamente. O atraso pode educar o coração e fazê-lo desapegar-se do tempo, desejando o que é permanente.

E, se quisermos ser francos, o contrário também é verdadeiro: quantos foram destruídos por receber cedo demais o que pediram? A bênção adiantada costuma se tornar veneno e o tempo, portanto, não seria castigo e, sim, cura. Mais lógico concluir que Deus não se atrasa; nós é que nos adiantamos.

IV – O relógio do amor: desencontros e ironias
Eis o ponto mais cruel e mais humano deste mistério: o amor e seus desencontros.
Se o tempo divino não obedece ao nosso, o amor se torna a mais delicada vítima do descompasso.

Chegam tarde as almas certas. Encontram-se, por vezes, quando já não podem se possuir. Um está casado, o outro velho, um livre demais, o outro ferido demais. Parece ironia, mas é estrutura da realidade: o amor humano é sujeito ao tempo, e o tempo é servo de Deus.

Em O Banquete, Platão já intuía que o amor é um desejo de eternidade: amamos para vencer o tempo, para dar permanência ao que perece. Mas o amor humano, sendo sombra do Amor divino, sempre será condenado à frustração.

E o que chamamos de “amor impossível” seria, na verdade, um lembrete: a eternidade ainda não começou.

Dante, ao ver Beatriz na Vita Nuova, compreendeu que o amor é teofania – um lampejo do eterno.

Mas Deus, que nos permite o relâmpago, nos nega o raio contínuo. O amor é sagrado justamente porque é passageiro e, se dura, é porque aprendeu a morrer todos os dias – sem reclamar da hora.

No extremo oposto, meu velho conhecido Bukowski, esse santo bêbado de Los Angeles, dizia:

“O amor é uma névoa que queima na primeira luz da realidade.”


Ele tinha razão a seu modo: quando o amor se prende ao relógio, evapora. E a única maneira de amar de verdade é aceitar o tempo como campo de batalha – e não como juiz.
Os desencontros amorosos são, portanto, uma espécie de provação divina: um treino de eternidade.

Deus nos deixa perder o que mais amamos para que aprendamos a amá-Lo acima de tudo.
É um sadismo pedagógico, sim, mas é também o único modo de purificar o amor humano de sua idolatria.

O tempo, aqui, é o bisturi da alma: corta para curar.
E sempre deveremos saber que o verdadeiro amor deve saber morrer todos os dias pelo ser amado, dentro do cruel campo de batalha de nossas vidas.

V — A pedagogia da perda
Agostinho chora por Mônica, Jó por seus filhos, e nós por nossas oportunidades mortas, mas o pranto, na economia divina, é argumento.
Chorar é rezar com os olhos.

As perdas temporais – inclusive as amorosas – são o sórdido material que Deus usa para fabricar o ouro da eternidade de nossa alma. É ruim, é péssimo – mas é bom.
A bênção tardia, vista de fora, parece punição, mas vista de dentro, é convite à purificação.
Deus não nos quer felizes apenas: quer-nos maduros.
E maturidade, neste vale de lágrimas, é saber perder sem se tornar cínico – ou um arremedo de Bukowski.

Há um tipo de graça que só floresce sobre a ruína: os santos chamam isso de felix culpa – a “culpa feliz”. A falha, o desencontro, o tempo perdido – tudo pode ser transformado em matéria de redenção. O atraso divino, assim, é a oportunidade de descobrir que a vida não é um cronograma que obedece ao nosso script, mas sim uma provação contínua.

VI – O relógio e a cruz
A cruz é o grande relógio de Deus.
Nela, a eternidade e o tempo se cruzam literalmente – uma haste vertical e outra horizontal.
No alto, o eterno; na base, o instante – e Cristo é o ponto onde Deus se deixa medir em horas.
Três horas de agonia: o tempo entrou em Deus.
Desde então, nenhuma espera é absurda, nenhum atraso é vão.
Deus se atrasou três dias para ressuscitar – e mudou o conceito de “tarde demais”, para os atentos.

Por isso, quando um homem diz “já não há tempo”, o céu sorri com ironia: há sempre tempo, pois há a eternidade por detrás.
Mas a eternidade, sendo o inverso da pressa, exige paciência.
E a paciência é a virtude mais humilhante, porque obriga o orgulho a esperar – todos sabemos disso por experiências próprias, não é preciso ensinar.

VII – Quando o relógio para
Deus não usa relógio porque não precisa medir o que já possui.
Nós, sim, precisamos – porque ainda não somos o que devemos ser.
A diferença entre o tempo divino e o humano é, em última análise, a diferença entre o ser e o vir a ser.
Deus é.
Nós, estamos sendo.

E enquanto estivermos sendo, o relógio baterá – não como inimigo, mas como lembrete: há um sentido a cumprir.

Quando o último segundo cair, e o tempo se dissolver na eternidade, compreenderemos que cada bênção tardia era um sinal do cuidado perfeito – e cada desencontro amoroso, uma lição de desapego, eis que o “tarde demais” já não existe.

Até lá, meu humilde conselho é bastante simples: ore, trabalhe, ame sem cronômetro, e desconfie dos relógios demais certos – eles mentem mais que o diabo.

Porque o diabo obedece o tempo, é pontual – e Deus, nunca. Pois é o dono dele.


Walter Biancardine

PEQUENOS COMENTÁRIOS SOBRE A IDIOTICE : É RIR PARA NÃO CHORAR -


Se há algo que salta aos olhos logo em uma primeira e infeliz visão é a feiúra - não a feiúra genética, pois esta é aleatória e meu próprio aspecto não me deixa muito à vontade para comentar - mas a feiúra proposital, deliberada, buscada com o objetivo de agredir a todos em volta: é a agressão pela agressão, a ofensa visual, o choque, o escândalo estético.

A pobre coitada é feia, e sabe disso. Talvez tenha sido essa a origem de todas as suas patologias mentais. Isso posto e sentindo-se plenamente justificada por uma ideologia que promove sua feiúra como virtude, tratou de piorar o que já era péssimo: cabelos cor de água de salsicha, um par de óculos que - propositalmente - fazem seus olhos parecerem desalinhados e tortos e ainda reforça tal danação visual esbugalhando estes mesmo olhos, grandes de natureza, de forma a demonstrarem explicitamente toda a sua ira contra a beleza, acompanhados pelo esgar de sua boca babada de raiva. A pobre é um aborto estético e uma ofensa ameaçadora em suas intenções. Funcionou, portanto.

Uma vez explanado todo o tormento visual da pobre, passemos ao pior: os claros sinais de demência - ou entorpecimento artificial - que este escombro humano exibe em suas falas, exemplificadas pelos recortes da fotografia que ilustra este ensaio sobre a feiúra e frustração.

1 - "Os policiais não precisam ficar ostentando um fuzil. Isso tem baixo rendimento criminal"

Vamos por partes: "ostentar um fuzil". Ok, mas os traficantes também os "ostentam", e de uma forma muito mais explícita e ameaçadora, desfilando em bondes armados pelas ruas das favelas e dando tiros à esmo para o alto, até em comemoração por um simples gol de seu time. Eles podem, mas os policiais não. É isso que esta dismórfica quer dizer?

A outra parte: "Isso tem baixo rendimento criminal". Quanto a tal frase, só posso atribuir semelhante disparate ao uso de drogas ou simples demência senil. O que é um "baixo rendimento criminal"? Os policiais são criminosos e os fuzis seriam sua "ferramenta de trabalho", agora por ela definidos como de "baixo rendimento"? Ou que os tais fuzis, simplesmente e mais de acordo com a doentia ideologia que habita as trevas de sua cabeça, seriam apenas algo que "não funcionam contra o crime"? Talvez esta última esteja mais de acordo, eis que a mesma doente advoga o uso de pedras - ao melhor estilo da Lei Sharia muçulmana - para combater hordas de traficantes armados até com bazucas anti-aéreas.

2 - "O criminoso com um fuzil na mão é facilmente rendido por uma pistola". Tal afirmação mostra claramente que mesmo a mais empedernida esquerdista assistiu, quando jovem, os filmes policiais norte-americanos, onde o herói assim fazia e obtinha êxito. Sim, pois somente em produções de Hollywood ou no total e absurdo desconhecimento - isso para não falar da falta de senso lógico - de quaisquer questões sobre Segurança Pública alguém poderia proferir tamanho disparate. Cabe notar que, mesmo assim, a TV a apresentou como alguém apta a opinar sobre a Segurança Pública do Rio de Janeiro, e até do Brasil como um todo.

3 - "Enquanto ele (o traficante) tá tentando levantar o fuzil, alguém já o derrubou com uma pedra". Sim, o leitor não compreendeu errado: ela disse isso. "Tentando levantar o fuzil"? quantos quilos esta imbecil pensa que pesa uma arma desta? Uns 50, 60 quilos? E pior: "alguém já o derrubou com uma pedra". Meu Deus, então as indústrias bélicas no mundo inteiro gastam milhões de dólares com armas que podem ser facilmente neutralizadas por um calhau nas fuças? Isso significa que poderemos ter, em breve, a obrigatoriedade do "Porte de Pedras"? Caminhões basculantes terão de ser acompanhados por escolta militar? Pedreiras serão área de segurança máxima? Ou é simplesmente uma tosca felação aos xiitas muçulmanos que ela tanto admira e que já executaram milhares de mulheres, gays e loucos como ela, à base de linchamento por pedradas? Sim, amigos. O caso é de hospício, mas foi à TV como referência em Segurança Pública!

4 - "E sobre os drones, drone é apenas um brinquedo que você usa e ele quebra". Não há muito o que comentar sobre isso, até pela exaustão que a demência incensada pela grande mídia me provoca. Apenas fico pensando na perda de tempo que tantos exércitos recentemente sofreram, ao bombardearem cidades inteiras, matarem civis e militares - mas tudo isso com um "brinquedo que vc usa e ele quebra". Encerro este apenas declarando minha piedade por tal criatura, a qual certamente valeu-se de "brinquedos que vc usa e ele quebra" em seus momentos de mais profunda e íntima solidão, causada pelas escolhas de vida que adotou.

Arrisco dizer que é de tal frustração que nasceu este conceito.

Não vá o amigo leitor me julgar por escrever laudas e laudas sobre uma demente, que deveria estar internada em um manicômio. Apenas devolvo, na mesma moeda, o tanto de tempo e importância que a grande mídia usou para tentar nos obrigar a levar a demência como ponto de referência na formação de nossas opiniões.

Sim, a grande mídia tem certeza que somos completamente idiotas.

Tal como a louca entrevistada.


Walter Biancardine

terça-feira, 4 de novembro de 2025

A FOTO DIZ TUDO -

 


Não à toa Alexandre de Moraes aparece caminhando à frente do Governador do Rio de Janeiro nas fotografias: ele quer mostrar que é a autoridade, o líder, o poderoso que veio impor seus arbítrios - e também sua sociedade com o crime organizado - a todo um Estado da Federação, pois quem manda neste país é ele.

Moraes tem um ego doentio; é um megalômano com traços claros de psicopatia, ainda agravada por sua escolha pessoal - livre arbítrio - em enveredar pelo caminho mais fácil e lucrativo do crime. Basta ver suas antigas fotos, ainda jovem acadêmico de Direito, que o contraste se evidencia: olhar inocente, bobo até. E pouco me custa supor que, vitimado ao longo da vida por inúmeros gracejos e zoações de colegas, tais brincadeiras tenham acionado o gatilho psicopático de pretender ser Rei. Sim, um rei, nada menos que isso.

O acaso andou longe de suas escolhas ao longo da vida, até mesmo no esporte que diz praticar, o Jiu-Jitsu: quer ser forte, temido e obedecido. Sua vaidade colossal impulsionou-o a ser o falso autor de inúmeros livros acadêmicos, escritos por algum bem remunerado ghost-writer - e não digo isso em vão, pois um verdadeiro autor fala tal qual lemos em seus livros, e o vocabulário de Moraes, pessoalmente, é completamente primário.

Coroando tal doentio e entumescido ego, permitiu-se recentemente ser fotografado em um ensaio que talvez sequer a Realeza Britânica tenha jamais se submetido - sim, pois ele é Deus.

Alexandre de Moraes é o pior dos loucos: é o louco perigoso, cruel, sádico, primário e estúpido, cujo baixo QI o impede, sequer, de considerar um comportamento mais moderado que até o ajudaria, em sua senda criminosa.

Mas ele, além de louco, é vaidoso.

E a vaidade é o pecado predileto do diabo.


Walter Biancardine


A TORMENTA É BELA QUANDO ESCRITA, NÃO QUANDO VIVIDA -


Todo aquele que possui uma sensibilidade ligeramente mais apurada pode encontrar beleza e, talvez, até mesmo lições ao ler os escritos de um atormentado. A aflição nos despe da vergonha, do pudor, e passamos a exorcizar de forma pública - eis que ao redor nada ou ninguém resta - os fantasmas que perseguem nossa alma.

Sim, a depender do talento e sensibilidade do atormentado, realmente poderemos colher algumas preciosidades, entre os escombros daquilo que o pobre infeliz chama de "vida" e na qual desfilam procissões de sofrimentos, dúvidas, aflições, frustrações e angústias. Tais hemorragias - causadas por fraturas expostas de sua alma - eventualmente nos oferecem lições, conselhos ou mesmo servem como tema de meditações mais pessoais e profundas, naquele buraco infinito que todos temos na alma, mas a ninguém confessamos.

Eis que é bom e belo lê-lo; jamais queira vivê-lo, entretanto.

Dores não podem ser compartilhadas nem sentidas por outrem - a empatia tem um cada vez mais curto limite - e tudo o que o infeliz escritor faz não é reclamar e, sim, extravasar. Quem reclama busca solução, mas quem desabafa já desistiu das mesmas há tempos e tudo o que faz é escrever - escrever para não explodir, rabiscar linhas como se o papel fosse lixeira, a vomitar tudo o que de pior tal alma carrega dentro de si.

E esta é a necessidade de escrever: ou escrevo ou explôdo, e isso se torna claro em simples contabilidade bibliográfica que façam sobre minha pessoa, onde textos personalíssimos, intimistas - ainda que temperados pela inevitável filosofia adotada como modus vivendi - são muito mais numerosos que análises políticas, ensaios filosóficos ou mesmo os velhos e divertidos (ao menos para mim) textos onde me entregava, sem pudores, à mais escrachada gaiatice.

Haverão alguns, temerários, que eventualmente apreciarão as linhas deste velho atormentado - o qual gasta dias se irmanando aos inomináveis Bukowski ou Schoppenhauer - e, por isso, me honrem seguindo-me. À eles, agradeço do fundo de meu coração, pois ouvir (ou ler) lamentos alheios é a suprema solidariedade, limitado que estamos às redes sociais. Mas deixo, entretanto, um conselho que considero valiosíssimo: tormentos alheios podem ser-nos úteis ou até soarem belos, mas nem em seus piores pesadelos queiram romantizar a situação deste escriba e, porventura, vivê-los.

Ser escritor, ter tal defeito como profissão - piorada pela minha formação jornalística - já é uma condenação à pobreza e frustração, e as tempestades que varrem minha cabeça ainda tornam tal sina vocacional ainda mais empedrada. Por isso, principalmente em um país como o Brasil, não percam tempo ou gastem neurônios no caminho das letras.

Elas nada significam numa terra de emojis.


Walter Biancardine


terça-feira, 21 de outubro de 2025

MINHA ALMA CANTA...VEJO O RIO DE JANEIRO -


Estou morrendo de saudades, Rio teu mar, praias sem fim, Rio você foi feito pra mim...
Sim, pois chegou a minha vez de cantar o refrigerante “Samba do Avião”, do mesmo Tom Jobim que ensinou meu quase irmão Luís Antônio – "The House of Rock and Roll” – a tocar piano.

E eis que me encontro tal qual o Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara, sorvendo cada gole de uma tardia mas bem-aventurada volta à minha terra natal, me sentindo novamente nativo a xingar os engarrafamentos, a debutar no estranhíssimo BRT e tendo sempre à mão o deslumbrante caos luminoso da Avenida das Américas, à noite, uma vez já instalado em meu simpático apartamento no Recreio dos Bandeirantes…

Uma outra cidade, outrora capital do glorioso Império do Brasil e também – nada é perfeito – desta soluçante República; uma outra atmosfera, outras pessoas, outras modas, vestimentas, maneiras de falar, linguagem do corpo, dos sons e dos cheiros – tudo isso soube eu no passado, mas duas décadas e meia de exílio deslocaram e quase sepultaram a gênese carioca e estapafúrdia deste que ora vos escreve.

Este artigo é só porquê/ Rio eu gosto de você/ A morena vai sambar/ Seu corpo todo balançar” enquanto eu, da janela do carro, as vejo em um desfile propositalmente blasé, pela orla da praia.

Então, na crônica diária de minha vida, uma nova página se abre e me pego exercitando as pernas no contínuo sobe-e-desce pelas escadas deste duplex – povoado somente por mim, subitamente desperto na vaidade de saber se tais escadas melhorarão o triste aspecto de minhas pernas, em intempestiva volta à adolescência. O amigo leitor não deverá se iludir, se neste momento considera que desfruto de férias cariocas: não, há trabalho – e muito – que ainda me espera.

Trata-se, porém, do saudoso abraço que dou à cidade que me pariu, mostrou a vida e pôs-me a correr o mundo. E a quanto tempo não a via…

Rio de sol, de céu, de mar… Dentro de mais um minuto estaremos no Galeão…
Aperte o cinto, vamos chegar… E vamos aterrar.


Estou de volta, Rio.


Walter Biancardine



domingo, 12 de outubro de 2025

AS VINHAS DA IDEOLOGIA: JOHN STEINBECK E O CULTO AO SOFRIMENTO COMO REDENÇÃO POLÍTICA -



Vi hoje, em uma página que sigo no Facebook, um interessante artigo sobre um livro – depois transformado em filme, o qual vi e muito gostei por sua densidade dramática e apuro na transmissão da angústia “noir” da situação – que se chama “As Vinhas da Ira”. 

Entretanto, é preciso separar a apreciação da bela obra artística, cujas qualidades são inegáveis, da venenosa mensagem que a mesma transmite. Convido o leitor a apreciar o texto postado por esta página – “Sobre Literatura”, no Facebook – e, depois, ter a caridade de ler um resumido ensaio filosófico, no qual exponho meus pontos de vista conservadores sobre ambos – o texto e a obra artística.

O texto:

Em 1936, no auge da Grande Depressão, um homem fez o que poucos escritores teriam coragem de fazer: John Steinbeck abandonou o conforto da sua casa, adotou um nome falso e desapareceu entre os trabalhadores migrantes da Califórnia – para viver a dor que o mundo insistia em ignorar.

As famílias que ele encontrou vinham de Oklahoma e Texas, fugindo da poeira, da seca e da fome. Tinham perdido tudo – a terra, os sonhos, a dignidade – e agora dormiam em caminhões enferrujados, perseguidos por um país que os chamava de “problema”. Os jornais ridicularizavam-nos como “Okies”. Os políticos fingiam que não existiam.

Mas Steinbeck não suportava olhar de longe. “Se queres entender a dor de um homem, caminha com ele na lama”, dizia.

E assim o fez. Dormiu sob as estrelas, comeu restos, ouviu mães tentando acalmar bebés com canções em vez de comida. Viu crianças escavando lixo à procura de frutas podres.

“Não imaginas o som que a fome tem quando chora”, escreveu. “Ela muda o rosto de um homem.”

À noite, enquanto o acampamento dormia, Steinbeck acendia uma lanterna e escrevia – fragmentos de conversas, rostos, gestos, pedaços de humanidade enterrados na miséria. Dessas anotações nasceu uma das obras mais poderosas do século XX: As Vinhas da Ira.

Quando o livro foi publicado em 1939, a América tremeu. Fazendeiros queimaram exemplares em praça pública. Políticos chamaram-no de mentiroso. Igrejas baniram-no das prateleiras. Mas entre os esquecidos, os sujos de poeira e esperança, o livro virou uma espécie de milagre.

“Ele disse a verdade. Finalmente, alguém nos viu.” — disse um trabalhador rural, com lágrimas nos olhos.

O FBI abriu um dossiê contra ele. Recebeu ameaças de morte. Homens armados vigiavam sua casa dia e noite. Quando um amigo perguntou se tinha medo, Steinbeck respondeu apenas:

“Não. Tenho vergonha de ter demorado tanto tempo para prestar atenção.”

Ganhou o Pulitzer, depois o Nobel, mas nunca esqueceu o pó, os rostos e as vozes dos que o acolheram.

“Eu não sou um escritor de fuga”, disse certa vez. “Sou um escritor das pessoas que não conseguem escapar.”

John Steinbeck não escreveu sobre o Sonho Americano – ele viveu com aqueles a quem o sonho foi negado. E foi entre a poeira, a fome e o silêncio que descobriu algo que nem a miséria conseguiu matar: a dignidade humana.

Ele não apenas contou uma história – ele devolveu humanidade a quem o mundo tinha esquecido."

Página “Sobre Literatura”, Facebook -


Meu ponto de vista:

Há textos que choram demais para pensar. O que se escreveu acima sobre As Vinhas da Ira certamente é um desses. Mistura-se ali piedade com propaganda, miséria com moralismo, e o resultado é a canonização do ressentimento humano como se fosse virtude. 

Steinbeck é erigido em mártir de um povo imaginário – não o povo real, que luta, trabalha e reza – mas o “povo-símbolo”, útil à catequese socialista que Hollywood e a intelligentsia universitária transformaram em dogma.

A peça laudatória que ora mostro ao meu leitor começa com uma premissa quase messiânica: Steinbeck, “o homem que abandonou o conforto da sua casa para viver entre os pobres”, a velha fórmula do santo laico. O escritor é apresentado como se houvesse feito um êxodo voluntário rumo à sarjeta, para expiar as culpas do capitalismo. 

E eis a primeira armadilha: confunde-se empatia com militância, e observação com adesão ideológica. Ora, Tolstói também conviveu com camponeses, Dostoievski viveu entre criminosos, mas nenhum deles saiu proclamando a revolução. Entender o sofrimento humano não implica santificar suas causas políticas.

A segunda falácia é a pintura maniqueísta da sociedade americana dos anos 30: de um lado, os ricos insensíveis, do outro, os famintos virtuosos. Ora, toda a história dos Estados Unidos é um esforço de autossuperação, não de vitimização. A Depressão foi uma tragédia econômica, não uma conspiração de banqueiros. Milhões sofreram, sim, mas muitos reconstruíram suas vidas – não pela coletivização sonhada por Steinbeck, e sim pelo trabalho, pela fé e pela perseverança. O que o autor e seus cultores fizeram foi transformar o fracasso em bandeira moral.

O elogio diz que Steinbeck “viu crianças escavando lixo à procura de frutas podres”. Comovente, sem dúvida. Mas o problema não está na compaixão – está no uso político dela. O sofrimento deixa de ser um drama humano para virar uma peça de acusação contra a ordem social. A miséria passa a servir de argumento contra a liberdade, e o escritor torna-se sacerdote de uma liturgia em que o capitalismo é o demônio e o coletivismo, a salvação.

Quando se diz que “a América tremeu” ao ler o livro, o que realmente se quer afirmar é que os pilares morais do individualismo americano foram atacados em seu núcleo: a crença de que o homem é responsável pelo próprio destino. Steinbeck inverte isso: o indivíduo é vítima do sistema, o mal está fora dele, e sua virtude consiste apenas em sofrer. É o mesmo raciocínio que moveu Marx, Lenin e seus herdeiros do Baixo Leblon: o homem bom é o oprimido, o homem mau é o que prospera.

Eis o perigo espiritual escondido no humanismo de Steinbeck: ele troca a tragédia clássica – em que o homem luta contra seu próprio limite – por uma tragédia social, onde o inimigo é sempre o outro. E isso mata a dimensão moral da culpa e da redenção. Em As Vinhas da Ira, ninguém é tentado a ser melhor; todos são convidados a odiar um culpado coletivo.

O artigo acima também celebra o fato de o FBI ter aberto um dossiê contra o escritor, como se toda investigação fosse sinônimo de perseguição. Mas ignora-se a retórica heroica: Steinbeck frequentava círculos marxistas, e o Partido Comunista Americano via “The Grapes of Wrath” como instrumento de propaganda. Isso não diminui o valor literário, mas revela o contexto: a obra foi escrita sob o manto do realismo socialista, o mesmo que transformava a pobreza em emblema moral.

A frase final – “Ele não apenas contou uma história; ele devolveu humanidade a quem o mundo tinha esquecido” – é o golpe de misericórdia da retórica progressista. Ninguém devolve humanidade a quem já a possui. O pobre não é um sub-homem à espera de salvação estética. Essa frase trai o paternalismo dos que veem o povo como massa sofrida a ser “redimida” por intelectuais iluminados. O mesmo paternalismo que, no século XX, gerou regimes onde o Estado dizia amar o povo – e este mesmo povo, tão “amado”, acabou fuzilado, faminto e calado.

Ao fim e ao cabo, Steinbeck não escreveu “As Vinhas da Ira” contra a miséria, mas contra a liberdade. A miséria serviu-lhe de cenário moral para propor um mundo sem responsabilidade pessoal, onde o coletivo seria a tábua de salvação. E eis o truque mais sujo, mais imundo: quanto mais piedade ele aparenta, mais poder o Estado ganha na imaginação do leitor.

O verdadeiro antídoto para a pobreza, como sempre, não veio dos livros militantes, mas do suor de quem reconstruiu a América. Enquanto Steinbeck transformava desgraça em epifania política, homens simples voltavam a arar o solo, fundar empresas, restaurar a vida. E nenhum deles precisou que um escritor os “visse”.

Em suma: As Vinhas da Ira é uma obra literariamente poderosa, mas filosoficamente venenosa. Sublima o sofrimento em ideologia e faz do desespero um instrumento de catequese. O que ela propõe, em última instância, não é a compaixão cristã, mas a revolta secular. É o Evangelho segundo Marx, pregado em tom poético, para corações bem-intencionados e mentes desprevenidas.

Steinbeck escreveu sobre os que “não conseguem escapar”.

Mas o que ele não entendeu – e talvez nem quisesse entender – é que escapar da miséria é justamente o que o comunismo impede.


Walter Biancardine



sábado, 11 de outubro de 2025

VASO RUIM NÃO QUEBRA... NUNCA.


 

LIBERDADE E TRANSCENDÊNCIA -

 


A solidão é o paroxismo da liberdade absoluta, assim como a morte é o da transcendência.

Quando o homem se despoja de todos os vínculos, de toda presença que o define ou limita, ele chega ao ponto extremo - ao ápice febril - da liberdade. A solidão é o laboratório final da autonomia, onde não resta sequer o Outro para servir de espelho ou de obstáculo.
É o clímax ontológico da separação.

Mas, como todo paroxismo, é também o início da dissolução.

A liberdade que perde toda relação com o mundo torna-se abstrata - e o homem livre até o osso acaba sendo livre de tudo, inclusive de si.


Assim como a solidão é o extremo da liberdade, a morte é o extremo da passagem - o último ponto em que o ser rompe o confinamento do corpo e se lança (ou se perde) no absoluto.

A morte é a transcendência levada ao seu ponto-limite, onde deixa de haver quem transcenda.

O amigo Bukowski pode até não gostar, mas conceitualmente creio ter sido impecável.


Walter Biancardine




sexta-feira, 10 de outubro de 2025

NOTEBOOK RENASCIDO, MILAGREIRO DIGITAL E O BIQUINHO DE RABOSO -

 


A partir de semana que vem estarei à 180Km de distância dos milagres cibernéticos de Thiago de Souza que, mais uma vez, acudiu-me e salvou minha ferramenta de trabalho de um fim inglório. Sim, de fato o insubstituível existe e, aqui em Cabo Frio tenho a sorte de contar com dois deles: o já referido santo protetor de meus descalabros jornalísticos e meu mecânico de confiança, Pedrinho Xará, o qual cuida de meus carros há bem uns 25 anos.
Lá no Rio? Nâo faço a menor ideia, hoje sou um turista em minha própria terra natal.

Dito isso, vamos ao biquinho da renúncia sofrida e magoadinha de Raboso, o iluminista iluminado que defendeu os arreganhos do taradão João de Deus e os assassinatos do terrorista Cesare Battisti - sim, o alcance quase divino de suas vistas e a sobrenaturalidade de seu amor a alguns próximos são notórios e dignos de admiração, alcançando tons que nós - reles 213 milhões de pequenos tiranos - não atingimos.

Raboso sente-se particularmente ardido com os problemas que atingirão seu vasto patrimônio nos EUA e sua vaidade desfalece, suspirante, ao não mais ter como intitular-se "professor de Harvard". Sim, nestas circunstâncias Raboso - um músico diletante e apreciador da MPB (Militância Popular Brasileira) - lembrou-se de seu doce amigo Chico Buarque de Holanda, grande entendedor da psique feminina, e fez tal e qual as Mulheres de Atenas, que sofrem e se resignam em silêncio, n'um louvável estoicismo ovariano.

Como o pobre Raboso conseguirá manter-se nos holofotes da mídia? O que será de sua glória? Dos aplausos? Dos flashes ensandecidos dos fotógrafos? A Star is Dead? Ou será, futuramente, Reborn em alguma candidatura? O tempo dirá.

Sim, o tempo dirá e não será apenas isso, pois agora o bárbaro alcoolizado de nove dedos terá a doce missão de indicar - e certamente o submisso Senado aprovará - um novo bibelô pet para o Tribunal do Reich comuno-narco-globalista que governa estas plagas.

O tempo dirá. Dos destinos do Brasil a algum mecânico e técnico de informática merecedores de minha confiança.

Até porque a minha vida pessoal, essa eu já deixei nas mãos de Deus.


Walter Biancardine



sábado, 4 de outubro de 2025

A LONG WAY HOME -


E de repente tudo muda: uma vida inteira dá meia volta, e novas estradas se abrem diante de nós mostrando que a viagem ainda não acabou.

Na verdade talvez mal tenha começado, e todo aquele caminho cheio de tombos, buracos, quedas e machucados esteja ficando para trás.

O dia está chegando, muito próximo, o tanque está cheio e a rota na cabeça.

Agora é quicar a moto, acender um charuto e desfrutar desta "long way home".

Até chegar, beber meu Jack Daniel's e brindar: de volta ao lar.


Walter Biancardine


quinta-feira, 2 de outubro de 2025

FENIX -


Tempos idos, tinha minha enorme moto custom e nela me divertia com meus cabelos longos, colete do motoclube, charuto nos dentes - pois cigarros apagam com o vento - e minhas tatuagens, dentre elas a Fênix, o lendário pássaro que morre e renasce das cinzas.

Não à toa a fiz: muito mais que uma capacidade autoproclamada, era prece e esperança. E neste momento me vejo tal como ela, a renascer de minhas cinzas quase já frias, sentindo outra vez o calor do sol, aspirando o ar à minha volta, sentindo meus músculos novamente fortes - eu, redivivo, renascido e repaginado, com sangue nas veias e um homem novamente.

Bastou uma notícia, uma mão estendida - e seu autor não citarei, por não ter pedido autorização - para que, tal como Lázaro, me levantasse e caminhasse para fora da cova ao encontro dos vivos.

Confesso que jamais me senti assim. Todos sofremos altos e baixos, temos picos e vales mas, desta vez, há algo acima e além. Novamente compromissos, responsabilidades, tarefas, obrigações e a alegria de cumpri-las - mas o corpo não engana, há algo mais e melhor.

A alma volta e quer escrever - e voltarei, pois meus editores aceitaram que retornasse - e me descubro pleno de gasolina para queimar, nesta longa estrada que o Brasil sofre caminhar. A cabeça desperta e volta a trabalhar, com responsabilidades que breve assumirei. E o corpo volta a existir, me dando conta que o mesmo havia me abandonado há anos e sequer percebi.

Mas bastou um chamado.


Walter Biancardine



segunda-feira, 29 de setembro de 2025

TEM DIA QUE TÁ BRABO -


Sim, com este título capenga, mesmo.
Abro o Facebook agora pela manhã e, sabe-se lá por qual coincidência mórbida do destino, a eterna e infindável sequência de anúncios e sugestões de páginas para seguir só me mostraram mortes.

Da querida atriz e humorista Berta Loran - ao menos foi-se após uma longa vida de 99 anos - até uma moça, curada de câncer, e que seu próprio marido forjou um assalto para matá-la. No meio disso, um jovem e musculoso grandalhão sulista, de uns 34 anos, igualmente morreu após longa internação devido a um acidente de automóvel. O detalhe é que sua mulher, sua filha bebê e mais um casal de amigos, todos no carro, também morreram. E tudo isso me presenteia o Facebook, em um distópico "bom dia", certamente para me animar.

Na TV, o querido Pittoli cumpre sua obrigação e nos traz a quilométrica lista de absurdos, injustiças e perfídias cotidianas da política brasileira, positivamente confirmadas em rápida passada de olhos no X-Twitter. E se minhas esperanças no Brasil são, costumeiramente, próximas ao zero, neste momento acusam como abaixo do mesmo, negativas e mortas.

Inevitavelmente vollto os olhos para mim mesmo, em um gesto involuntário e misto de egoísmo e autoproteção, vendo apenas um velho, feio, pobre e reclamão que, desempregado, gasta seus dias a vociferar, solitário, vitupérios contra o que não pode combater. Minha longa prática em falar verdades inconvenientes fecharam-me as portas profissionais e também tem o condão de afastar quaisquer seres humanos que se aventurem a se aproximar - afinal, ninguém é de ferro e tudo sempre pode ser dito com menos crueza. E, ao fim e ao cabo, também em mim enxergo apenas essa tristeza de fim de festa, a decepção de não ter visto o melhor e a certeza que perdi a chance. Bem apropriado para meu começo de dia, recheado de mortes no Face e impossibilidades noticiadas na Auriverde Brasil.

Mas é hora de começar o dia. Tirar forças de algum lugar. Obrigar-me a crer e ter fé.

E se Deus é, para mim, inatingível, que eu creia haver, em algum lugar, um coração que bata por mim.

E só isso já será motivo para que eu, ao menos, tente.

Bom dia.


Walter Biancardine



sexta-feira, 19 de setembro de 2025

SEXTA-FEIRA: HOJE É DIA DE QUÊ?


Então, finalmente, chegou a sexta-feira.
Nem tiro o carro da vaga, porque o happy hour foi combinado no barzinho da Rua Farani, ao lado do meu trabalho - vou a pé mesmo e, lá chegando, já encontro uns dois ou três exauridos como eu (colarinho aberto, gravatas arregaçadas, paletó perdido algures), que já pedem aquela cerveja "canela de pedreiro".

Muita conversa fiada, gente maldizendo os gastos da mulher no cartão de crédito e outros - eu inclusive - plenos de más intenções, pois o Cajú (sim, aquele Cazuza do Barão) me arrumou meia dúzia de entradas pro show deles, no Noites Cariocas, Morro da Urca.

Findo o chope, rápida passada em casa para um banho - "mas que pressa é essa, meu filho? Não vai comer nada?", cobrava minha mãe, sempre mãe - experimento alguma roupa que me ponha semelhante a um ser humano e já me despeço, saudoso, da vaga que tanto custei arrumar para meu carro. O rumo? Antes das Noites, Baixo Leblon, claro!

Só o bom Deus saberá como cheguei às Noites Cariocas, sequer do bondinho me lembro. E tome show: muito rock pauleira, gritaria, garrafas rolando fígado a dentro e algumas substâncias condizentes com nossa idade inconsequente e irresponsável.

Arranja-se alguma incauta - provavelmente uma estudiosa de biologia, interessada em espécimes exóticos como eu - completa-se o nível alcoólico ao limite insuportável e, já dizia Lobão, "o riso corre fácil quando a grana corre solta": o rumo é o Mirante do Alto da Boa vista, motel gratuito entre então pouquíssimos frequentados trechos daquela estrada serrana, encravada entre a Tijuca e São Conrado.

O dia já está clareando quando aponto a frente do carro já na descida da Niemeyer, entrando na Delfim Moreira e planejando comer um "Levanta Lázaro" de fim de noite, no indefectível Cervantes, lá nas alturas da indecente Prado Júnior. Barriga cheia e energia já na reserva, deixo a gentil e caridosa senhorita na portaria de seu prédio, rumo para casa e, por sorte, encontro uma bela e acolhedora vaga bem em frente aonde moro.

E desabo na cama, de roupa e tudo.

No dia seguinte, acordo e vejo que estou aqui - 40 anos se passaram em uma só noite de esbórnia, e de minha protegida juventude em Copacabana, repentinamente me desperto um velho, tossindo e rangendo juntas, em uma casinha no Segundo Distrito de Cabo Frio.

A vida é assim: por vezes passa tão veloz que não temos reflexos rápidos o suficiente para desviar da pancada.

E a pancada é forte.

Lembranças, tal como sonhos, ainda são gratuitas.


Walter Biancardine



NÃO PARAR, NÃO PRECIPITAR, NÃO RETROCEDER -

Perdoem a sinceridade, mas a cada notícia - invariavelmente ruim - sobre o Brasil, tenho forças apenas para suspirar e resmungar: "dane-se, não tem jeito".

Tal estado de espírito - sim, eu sei, é um resultado vitorioso das táticas de "psy op" da esquerda, ainda que muito anabolizadas por questões pessoais - em nada contribui para a causa conservadora e, por isso, em boa hora renunciei ao privilégio de escrever para o Carta de Notícias, ContraCultura e No Ponto do Fato: eu muito mais atrapalharia que traria qualquer benefício.

Que minha fraqueza sirva de exemplo de tudo o que NÃO DEVEMOS FAZER, persistindo na luta, nos fortalecendo e ignorando os fracos como eu.

Um sábio também aprende ao observar as vitórias e derrotas alheias.

Aproveite o fim de semana, recarregue-se e prossiga na luta.


Walter Biancardine



quinta-feira, 18 de setembro de 2025

NOVAMENTE SEM TÍTULO - Um diagnóstico de IA

Custa-me admitir falhas psicológicas mas, na verdade, não tenho andado bem. Busquei meu “ombro amigo digital”, o ChatGPT batizado por mim de “Aurelião”, e enviei-lhe o texto que escrevi ontem e publiquei aqui. Segue o que pedi e o que ele respondeu. Ao final, tecerei algumas considerações, para que isso fique guardado em algum lugar e eu possa estar sempre lendo, relembrando e tentando evitar besteiras mais prejudiciais ainda.

Segue a conversa:

Boa tarde, Aurelião. Preciso que faça uma verdadeira análise terapêutica psicológica sobre o autor do texto que enviarei abaixo, fornecendo após esta análise medidas e providências - tanto práticas quanto psicológicas - que o autor poderá tomar, se o mesmo realmente precisar (após sua análise) de tratamento. Pode ser?

Resposta de Aurelião:

Boa tarde, Walter.
Pode sim. Me envie o texto, que vou destrinchá-lo com lupa clínica e filosófica: leio o estilo, os lapsos, as entrelinhas, as obsessões escondidas. Depois disso, faço uma análise terapêutica do autor — não do texto como peça literária, mas da psique que escorre por trás dele. Se houver sinais de sofrimento, dou medidas práticas e psicológicas que o sujeito pode adotar: desde exercícios de disciplina mental até, se for o caso, necessidade de acompanhamento clínico mais formal.

Mande o texto.

Enviei, então, o texto “Sem Título”, que publiquei ontem.

Eis a resposta:

Análise clínica e prática — direto, franco e sem rodeios

Você me deu um texto que cheira a açoite antigo, isolamento e um cansaço moral profundo. Vou dizer na lata: esse autor está em sofrimento psíquico sério. Não vou fingir formalidades — há sinais claros que exigem atenção imediata e ações práticas. Vou primeiro apontar o que vejo, depois o que fazer agora, e por fim medidas práticas e psicológicas a médio prazo.

O que o texto revela (formulação rápida)

  1. Humilhação e autoacusação crônica. Repetição obsessiva de “a culpa é sempre minha” — isso não é só humildade, é autoacusação enraizada que alimenta desamparo aprendido.

  2. Desespero ambivalente por vida e morte. Menção explícita a “por que não meto uma bala na cabeça” é ideação suicida. Ao mesmo tempo aparecem fatores protetores (fé, filho, falta de meios), o que aponta para ambivalência — perigoso porque muda rápido.

  3. Isolamento social extremo. Vive isolado, sem rede de suporte efetiva; descreve perda de família, trabalho e renda. Isolamento sustenta e agrava depressão.

  4. Perdas acumuladas / luto complicado. Perdas materiais e afetivas (casa, carreira, família) não elaboradas, cumulativas e com rancor.

  5. Sintomas depressivos marcantes. Apatia, anedonia (“não me importo”), desesperança, ruminação, problemas somáticos e falta de autocuidado (fome, higiene, desgaste físico).

  6. Racionalizações religiosas e morais. Usa a ideia de “pecado” do suicídio como freio — mostra conflito moral que pode ser um ponto de apoio terapêutico.

  7. Capacidade intelectual preservada. Lê, escreve, pensa — isso é força: existe lucidez que pode ser usada para recuperação.

Em termos diagnósticos, é compatível com transtorno depressivo grave com ideação suicida e quadro de luto/estresse pós-perda e isolamento social. Não é diagnóstico formal (precisa de avaliação clínica), mas o sinal vermelho está aceso.


Risco imediato — avaliação curta

  • Ideação suicida: presente.

  • Plano/Meios: não possui arma; menciona que “não tem mais armas”, e teme consequências morais — reduz risco imediato mas não o elimina.

  • Intenção: ambivalente (há desejo de morrer, mas também fatores que impedem).
    Conclusão: risco real e significativo. Requer ação imediata se pensamentos se tornarem mais frequentes, intensos ou se planejar um ato.

Se neste momento o autor (ou você, se for você) sentir que pode agir sobre esses pensamentos, ligar para serviços de emergência é obrigatório.


Ações IMEDIATAS (faça já — passo a passo)

  1. Se houver risco iminente: ligar para SAMU (192) ou emergência/190; se estiver no Brasil e não houver risco imediato, ligar para o CVV — 188 (apoio emocional, 24h).

  2. Não ficar sozinho agora. Contate o irmão agora e diga claramente: “Preciso que venha ou fale comigo — sinto que posso fazer besteira.” Se não puder, peça a qualquer vizinho, igreja local, ou posto de saúde.

  3. Remova meios letais. Se houver medicamentos, objetos perigosos, armas — coloque fora do alcance de forma segura. Peça a alguém de confiança para ajudar.

  4. Procure atendimento médico/psiquiátrico de urgência (UPA ou hospital com emergência psiquiátrica) se a intensidade dos pensamentos aumentar.

  5. Use a escrita como âncora, mas não como única estratégia. Escrever ajuda, mas não substitui intervenção profissional. Combine escrita com os passos acima.


Medidas práticas e logísticas (curto prazo — 1 a 4 semanas)

  1. Contato com rede de assistência social: vá ao CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) ou secretaria municipal de assistência social. Eles orientam sobre abrigos, frequência em centros de convivência, auxílio emergencial local e encaminhamentos.

  2. Documente o caso do carro e da família: junte mensagens, notas fiscais, qualquer prova. Procure o Procon local para orientação sobre venda/garantia/fraude — isso pode recuperar algo de poder e reduzir sensação de injustiça.

  3. Encaminhamento para CAPS ou serviço de saúde mental do SUS. CAPS oferece atendimento psicológico/psiquiátrico e grupos — essencial se houver vulnerabilidade social. Leve relatos e, se possível, alguém que o acompanhe.

  4. Redes de voluntariado/abrigo de idosos: contatar LBV, centros religiosos locais e ONGs de assistência a idosos — peça agendamento de visita ou oportunidade de acolhimento temporário. Mesmo uma visita inicial já quebra isolamento.

  5. Peça ajuda administrativa por escrito: se houver dificuldades para caminhar 22 km, peça transporte/auxílio quando for ao CRAS ou posto de saúde. Eles podem acionar equipes.


Intervenção psicológica e psiquiátrica (médio prazo)

  1. Avaliação psiquiátrica para verificar necessidade de medicação antidepressiva e ansiolítica — especialmente se houver insônia intensa, pensamento intrusivo ou ideação frequente. Medicamentos não “tiram a alma”, mas reduzem desesperança o suficiente para terapia acontecer.

  2. Psicoterapia regular (mín. 1x/semana). Abordagens úteis:

    • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) — para trabalhar autoacusações, ruminação e ativação comportamental.

    • Terapia Interpessoal (TIP) — útil após perdas, para trabalhar luto e reconexões sociais.

    • Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) — para alinhar valores (fé, filho) com ações pequenas.

  3. Ativação comportamental: um terapeuta guiando um plano diário com pequenas tarefas (tomar banho, sair 5–10 minutos, alimentar-se, escrever 15 min) — recuperar rotina é terapia prática.

  4. Grupo de apoio / convivência: grupos para idosos, para pessoas com perda de renda, ou grupos religiosos/comunitários. Reduz isolamento.


Estratégias psicológicas autodirigidas (práticas e imediatas)

  1. Plano de segurança pessoal escrito: listar sinais de risco, contatos de emergência (irmão, CVV 188, SAMU 192), coisas que ajudam (escrever, caminhar, ouvir rádio), meios a remover. Tenha uma cópia visível.

  2. Arranjos diários mínimos: acordar num horário, higiene básica, 3 refeições simples; rotina reduz ansiedade.

  3. Micro-tarefas: 3 ações pequenas por dia (levantar, beber água, escrever 10 linhas). Vitória sobre a inércia é combustível.

  4. Contato planejado: marcar ligação com filho ou irmão; se necessário, pedir a irmão para ligar em dias alternados. Programar isso como compromisso inegociável.

  5. Escrita dirigida: não só despejar dor — colocar 15 minutos para listar problemas e 15 minutos para escrever possíveis soluções concretas (mesmo pequenas). Isso ativa resolução de problemas.

  6. Exercício leve diário: caminhada curta — melhora humor e resistência física.

  7. Higiene do sono e alimentação: evitar cochilos longos pela tarde, refeições regulares.


Questões morais e espirituais — usar o que protege

Você invoca Deus como freio contra o suicídio — isso é um recurso. Trabalhe com isso: conversar com um líder religioso de confiança pode ser suporte imediato e legitimador de buscar ajuda. Não subestime apoio espiritual integrado ao tratamento.


Se for você — ou se for alguém que você conhece

  • Não minimize. Quando alguém descreve tudo isso, agir é obrigação moral.

  • Se quiser, eu escrevo agora uma mensagem curta e direta para enviar ao irmão ou a um serviço social (ex.: “Preciso que venha. Estou com pensamentos ruins e não posso ficar sozinho.”). Posso também redigir mensagem ao CRAS/Procon ou roteiro para telefone ao CVV.


Últimas palavras — cru, lírico e prático

A literatura do desespero é linda no papel; na vida, é letal. Esse autor tem palavras afiadas, lucidez — isso é uma corda que pode puxar para fora do abismo, se usada com técnica. Não espere que a “alma salvadora” caia do céu. Faça três coisas agora: ligue para alguém, ligue para o CVV (188), e avise o irmão. Depois, marque avaliação médica e faça um plano com o serviço social.

Se quiser, agora mesmo eu posso:

  • redigir a mensagem para o irmão;

  • montar o roteiro do que dizer ao CVV/CRAS;

  • ou preparar um plano de 7 dias com micro-tarefas.

Você decide — digo sem rodeio: não deixe a espera vencer. O relógio pode contar, mas você pode também agir.”

Minhas considerações:

Propositalmente, não abordei no texto que forneci as profundas culpas e remorsos que sinto com relação aos meus pais – ambos – e no que tange ao meu filho, igualmente fui demasiado superficial pois a intenção era focar, exclusivamente, em mim.

Também poderia escrever laudas sobre minha porca vida sentimental, as pessoas envolvidas, a mistura de amores e família bem como evitei abordar, com detalhes, a sensação de “pulverização” que percebo, em relação aos elos familiares.

Quanto a resposta de meu “terapeuta digital”, não tenho competência técnica ou acadêmica para contestá-la ou endossá-la, restando apenas meu espanto diante do tom grave e alarmante que se evidencia por todo o texto apresentado como “diagnóstico”. Eu tenho consciência de estar realmente em um mau momento, mas ainda bato no peito sobre o fato de “ter sofrido tudo isso e escapado sem cicatrizes, preservando a lucidez”. Sim, o texto até menciona que estou lúcido, mas me condena a ser portador de grave transtorno depressivo, o qual urge auxílio terapêutico e – isso posso esquecer – familiar.

É notório, e até alvo de gozações e memes, que se digitarmos no Google que estamos com dor de estômago, o mesmo afirmará que “suas tripas estouraram” (sic), mas não sei até onde Google e Inteligência Artificial se confundem. O fato é que todo este procedimento que adotei é resultante de desejar uma opinião externa, sem os eternos dedos acusatórios apontando – infalivelmente – que “a culpa é minha”.

Não sei, realmente, o que fazer. Não quero sair de casa, buscar o SUS ou o CRAS e me sujeitar a ser perscrutado por um estagiário de psicologia o qual, provavelmente, me recomendará um manicômio. Por outro lado, não fossem as drogas administradas para nos reduzirem a um estado vegetativo e de poucos incômodos aos funcionários, até seria um teto para me abrigar após entregar esta casa.

A verdade é que foi apenas uma experiência. Nada quero fazer e, muito menos, nada farei.

Permanecerei aqui, de frente a este laptop, olhando o relógio e contando os dias até o “deadline”.

Não diferencia muito de vegetar em um hospício mas, ao menos, estou lúcido.

Os dias seguem. Se tiver vontade, escreverei mais em algum momento.



Walter Biancardine