A
Thelema, de Aleister Crowley, com sua ênfase na vontade individual,
autodescoberta e rejeição de dogmas tradicionais, tem raízes em
várias correntes filosóficas e espirituais. Uma das principais
influências é o filósofo Friedrich Nietzsche, cuja ideia do
"super-homem" (Übermensch) e a ênfase na vontade de poder
ressoam com o princípio thelêmico de "Faz o que tu queres será
o todo da Lei", mas outros filósofos e pensadores podem ser
também considerados precursores ou influências indiretas. Abaixo
exemplifico alguns deles:
François
Rabelais (1494–1553)
O
escritor e humanista renascentista francês é uma influência
direta, já que Crowley extraiu o termo "Thelema" da obra
“Gargantua e Pantagruel”, onde Rabelais descreve a fictícia
Abadia de Thélème, um lugar onde as pessoas vivem de acordo com sua
vontade, livres de restrições externas. A máxima "Faz o que
quiseres" de Rabelais é um precursor claro do princípio
central da Thelema.
Arthur
Schopenhauer (1788–1860)
A
filosofia de Schopenhauer, centrada na ideia de que a vontade é a
força motriz fundamental do universo, pode ser vista como uma
influência indireta. Embora Schopenhauer tenha uma visão mais
pessimista, sua ênfase na vontade como essência da existência ecoa
no foco de Crowley na vontade individual como força criativa e
espiritual.
Ralph
Waldo Emerson (1803–1882)
O
transcendentalismo de Emerson, com sua ênfase na autoconfiança,
intuição individual e conexão com o divino interior, compartilha
paralelos com a Thelema. A ideia de seguir a própria "verdadeira
vontade" ressoa com os conceitos de Emerson sobre a
autenticidade e a rejeição de conformismos sociais.
Max
Stirner (1806–1856)
O
individualismo radical de Stirner, expresso em “O Único e Sua
Propriedade” (tenho apenas em PDF), é uma influência
significativa. Sua rejeição de autoridades externas, incluindo
Estado, religião e moralidade convencional, e sua defesa do “egoísmo
consciente” como base para a liberdade individual, alinham-se com a
visão de Crowley sobre a soberania da vontade pessoal.
Eliphas
Lévi (1810–1875)
Não
o conhecia? Nem eu, fui apresentado ao mesmo pela internet. Embora
mais ocultista do que filósofo no sentido clássico, Lévi, com sua
síntese de magia, cabala e esoterismo ocidental, parece ter
influenciado profundamente Crowley. Suas ideias sobre a vontade
mágica e a unificação de opostos (como no conceito de Baphomet),
pelo que aduzi, moldaram o sistema thelêmico, especialmente em sua
dimensão esotérica.
William
Blake (1757–1827)
O
poeta e místico inglês, com sua visão antinomiana, rejeição de
instituições religiosas opressivas e celebração da imaginação e
da liberdade individual pode ser visto como um, digamos, precursor
espiritual. A ênfase de Blake na divindade interior e na
criatividade ecoa os ideais thelêmicos.
Heráclito
(c. 535–475 a.C.)
Embora
mais distante historicamente, o filósofo pré-socrático, com sua
visão de um universo em fluxo constante e a ideia de que o conflito
e a tensão são fundamentais à existência, pode ser considerado
uma influência indireta. A noção de harmonia através de opostos
ressoa com o conceito thelêmico de equilíbrio entre forças como
amor e vontade.
Giordano
Bruno (1548–1600)
O
conhecido filósofo renascentista, com sua visão panteísta de um
universo infinito e sua ênfase na liberdade intelectual contra
dogmas religiosos, compartilha afinidades com a Thelema. Sua ideia de
que o divino está presente em tudo e que o indivíduo pode acessar
essa divindade através da mente e da vontade influenciou o
esoterismo ocidental que Crowley absorveu.
Embora
esses pensadores não tenham conexão direta com a Thelema, suas
ideias sobre liberdade individual, vontade, rejeição de autoridades
externas e a aparente busca por um sentido mais profundo da
existência contribuíram para o caldo filosófico e espiritual que
Crowley sintetizou. Além disso, a Thelema também incorpora
elementos de tradições espirituais não ocidentais, como o
hinduísmo e o budismo, mas os nomes acima representam as influências
filosóficas mais relevantes no contexto ocidental e mais facilmente
acessíveis ao leitor.
Uma
questão conveniente:
Nietzsche
e todos os filósofos citados timbraram em ignorar a baixa – ou
nula – capacidade de discernimento do homem comum, tornando algo
como o "Faze o que tu queres, há de ser tudo dentro da lei"
um princípio perigoso, possivelmente dando origem a uma anomia
social e institucional que presenciamos nos dias atuais. A Thelema (e
a Sociedade Alternativa no Brasil) foram o recheio intelectual da
cultura hippie que, hoje sabemos, foi utilizada pelos serviços de
inteligência de outros países para minar a religião cristã (seus
valores e princípios), os governos (a ordem vigente) e as forças da
lei (pois eram contrárias a eles). Tal afirmação está correta?
Analisemos, pois:
Nietzsche,
os filósofos citados e a "baixa capacidade de discernimento do
homem comum"
Nietzsche,
assim como pensadores como Stirner, Rabelais ou Emerson, de fato
enfatizou a autonomia individual e a rejeição de dogmas
estabelecidos, muitas vezes dirigindo suas ideias a uma elite
intelectual ou a indivíduos capazes de transcender as normas
convencionais. Nietzsche, por exemplo, via o "super-homem"
(Übermensch) como uma figura excepcional, não como um ideal
acessível à massa, que ele frequentemente criticava como "rebanho".
Essa perspectiva pode ser interpretada como uma negligência da
capacidade de discernimento do "homem comum", já que esses
filósofos pressupunham que a verdadeira liberdade ou vontade
autêntica exigiria um nível elevado de autorreflexão e disciplina.
No
entanto, a ideia de que esses pensadores "ignoraram"
completamente o homem comum é discutível – ao menos, assim é
considerada pelas mentalidades “uspianas” (USP). Tais mentes
alegam que Rabelais, por exemplo, teria escrito com um tom satírico
e acessível, visando criticar a sociedade de sua época de forma que
pudesse ressoar com um público mais amplo. Stirner, por sua vez,
defenderia um individualismo radical que, teoricamente, qualquer
pessoa poderia adotar, embora exigisse um rompimento com estruturas
sociais. Assim, embora suas ideias possam ser desafiadoras para o
"homem comum", elas não necessariamente o excluem, mas
exigem um esforço de autocompreensão que nem todos estariam
dispostos ou preparados a fazer.
"Faze
o que tu queres" como princípio perigoso e anomia social
Alegam
os acadêmicos do sistema que a máxima thelêmica "Faze o que
tu queres, há de ser o todo da Lei" (complementada por "Amor
é a lei, amor sob vontade") é frequentemente mal interpretada
como uma apologia ao hedonismo ou à anarquia desenfreada. Crowley,
no entanto, enfatizava que a "verdadeira vontade" (True
Will) não é um desejo impulsivo, mas uma expressão profunda da
essência individual, alinhada com o propósito cósmico de cada
pessoa. Em Liber AL
vel Legis (O Livro
da Lei), ele sugere que seguir a verdadeira vontade requer
disciplina, autoconhecimento e harmonia com o universo, não
simplesmente "fazer o que der na telha".
Uma
vez que tais escusas sejam aceitas, admitiremos que a interpretação
superficial dessa máxima pode levar a mal-entendidos, especialmente
em contextos onde o discernimento ou a educação filosófica são
limitados. Não teria havido uma deliberada má intenção nisto?
A
ideia de liberdade absoluta, sem um entendimento claro de suas
implicações éticas, pode contribuir para comportamentos
individualistas que desafiam normas sociais ou institucionais. No
entanto, alegam eles, culpar diretamente a Thelema por uma "anomia
social e institucional" generalizada é uma simplificação. A
anomia, conforme descrita por Émile Durkheim, surge mais de rupturas
nas estruturas sociais e econômicas (como desigualdades, crises ou
perda de valores coletivos – resta saber provocados pelo quê) do
que de uma filosofia esotérica como a Thelema, que tem um alcance
relativamente limitado. A Thelema nunca foi um movimento de massa,
mas sim uma doutrina de nicho, adotada por pequenos grupos de
intelectuais, artistas e ocultistas – e sobre isso concordo,
deixando para comentar sobre a capilaridade das ideias das elites por
sobre a massa mais para a frente.
Thelema,
Sociedade Alternativa e a cultura hippie no Brasil
A
Sociedade Alternativa, idealizada por Raul Seixas e Paulo Coelho nos
anos 1970, foi fortemente inspirada pela Thelema, particularmente
pelo Liber Oz
de Crowley, que proclama os direitos individuais à liberdade. A
música "Sociedade Alternativa" (1974) reflete diretamente
a máxima "Faze o que tu queres" e a visão de uma nova era
(o "Novo Aeon" de Crowley). No Brasil, essa ideia ressoou
com a contracultura da época, que compartilhava com o movimento
hippie global uma rejeição às estruturas tradicionais, incluindo o
governo militar (1964–1985), a moral cristã conservadora e o
capitalismo dito “consumista”.
Embora
a Sociedade Alternativa tenha se alinhado com o espírito libertário
da cultura hippie, é importante notar que o movimento hippie no
Brasil foi mais amplo e heterogêneo, influenciado por diversas
correntes, como o tropicalismo, o rock psicodélico e ideais de
liberdade vindos dos EUA e da Europa. A Thelema, por meio da
Sociedade Alternativa, foi apenas uma das muitas influências
culturais, e sua penetração foi limitada, concentrando-se em
círculos artísticos e esotéricos, especialmente no Rio de Janeiro
e em São Paulo, mas foi realmente a âncora filosófica de todo o
processo gramsciano de degradação moral que se seguiu.
Os
empolados acadêmicos do sistema insistem em alegar que a afirmação
de que a Thelema ou a Sociedade Alternativa teriam sido o "recheio
intelectual" da cultura hippie no Brasil seja parcialmente
correta, por “exagerar” sua centralidade. Afirmam ter sido a
cultura hippie brasileira mais marcada por influências musicais
(como os Beatles, Rolling Stones e o tropicalismo), pelo uso de
drogas psicodélicas e pela resistência à “ditadura” do que por
uma adesão profunda à filosofia thelêmica – o que, de cara, já
expõe a contradição do argumento, ou não haveria a tal
“resistência” ao braço da lei vigente. Raul Seixas, por
exemplo, popularizou ideias thelêmicas de forma acessível, mas suas
canções muitas vezes misturavam esoterismo com crítica social, sem
exigir um compromisso filosófico profundo de seus ouvintes, além da
submissão aos feitiços gramscianos.
Suposta
manipulação por serviços de inteligência
A
alegação de que a cultura hippie, incluindo a Thelema e a Sociedade
Alternativa, foi utilizada por serviços de inteligência
estrangeiros para "minar a religião cristã, os governos e as
forças da lei" é uma teoria que circula em certos círculos,
mas carece de evidências sólidas e verificáveis, segundo essas
mesmas cabeças coroadas. Dizem ser essa narrativa frequentemente
baseada em especulações sobre o papel da CIA ou de outras agências
na promoção da contracultura dos anos 1960 e 1970, como parte de
operações como o MKUltra
ou esforços para desestabilizar movimentos de esquerda em diversos
países.
Ainda
segundo eles, no contexto brasileiro, a ditadura militar veria com
desconfiança qualquer movimento contracultural, incluindo o hippie e
a Sociedade Alternativa – e que se dane Golbery e sua tese da
“panela de pressão”. Raul Seixas e Paulo Coelho teriam
enfrentado a repressão do regime, com Coelho alegadamente sendo
preso e torturado em 1974, sob acusação de atividades subversivas,
possivelmente relacionadas à Sociedade Alternativa. Para piorar,
tais uspianos concluem que isso sugeriria que, longe de serem
instrumentos de serviços estrangeiros, tais movimentos eram
percebidos como “ameaças” pelo governo brasileiro – ou seja, o
fato de ser instrumento de governos estrangeiros não seria motivo
para tornarem-se “ameaças”.
A
ideia de que a cultura hippie foi orquestrada para minar o
cristianismo ou a ordem estabelecida ignora a natureza orgânica e
descentralizada do movimento
Embora
Crowley, com sua crítica aos valores cristãos tradicionais e sua
autoproclamação como a "Besta 666", tenha desafiado
abertamente a moral religiosa, seus defensores dizem que a Thelema
não tinha o alcance ou a organização para representar uma ameaça
sistêmica. Além disso, a cultura hippie global teria sido mais um
reflexo de tensões sociais (como a Guerra do Vietnã, os movimentos
pelos direitos civis e a revolução sexual) do que um projeto
coordenado por serviços de inteligência. Alegações nesse sentido
geralmente seriam baseadas em teorias conspiratórias, como as que
ligam a CIA à promoção de LSD, mas as evidências disponíveis,
cuidadosamente escolhidas por eles (como documentos desclassificados
do MKUltra),
mostram que tais experimentos tinham objetivos mais específicos,
como controle mental, e não uma agenda ampla de subversão cultural.
E sobre tais mixórdias argumentativas não há, realmente, o que se
dizer além de mandá-los à coisa mais imunda.
Thelema
e a religião cristã
Crowley,
criado em um ambiente cristão fundamentalista (os Irmãos de
Plymouth), rejeitou abertamente o cristianismo, considerando-o
limitante e dogmático. A Thelema propõe uma visão espiritual que
substitui a submissão à vontade divina cristã pela busca da
"verdadeira vontade" individual, o que pode ser visto como
uma crítica direta aos valores cristãos tradicionais. No entanto,
seus seguidores alegam que Crowley não negava completamente a
espiritualidade; ele reinterpretava elementos cristãos, como a ideia
de amor, sob a ótica thelêmica ("Amor é a lei, amor sob
vontade"), mesmo e apesar do fato da Besta 666 afirmar que a era
de Jesus (a Era de Peixes) estava terminando e que ele seria o
“substituto de Cristo” na Era de Aquário.
No
Brasil, a Sociedade Alternativa de Raul Seixas e Paulo Coelho não
atacava diretamente o cristianismo, mas promovia uma visão de
liberdade individual que contrastava com a moral conservadora da
Igreja Católica, predominante na época. Isso pode ter sido
percebido como uma ameaça por setores religiosos, mas não há
evidências de que a Thelema ou a Sociedade Alternativa tenham tido
um impacto significativo na erosão dos valores cristãos no Brasil.
Tal trabalho foi feito de forma muito mais eficiente por Leonardo
Boff e sua “Teologia da Libertação”, que não continha em si o
germe do “escândalo jovem” da contra-cultura.
Tal
afirmação estaria então correta?
A
atual academia julgaria que meu pensamento contém elementos que
podem ser parcialmente corroborados, mas, em sua totalidade, exagera
e simplifica as conexões entre a Thelema, a Sociedade Alternativa e
os fenômenos sociais mencionados. Seriam eles:
Sobre
a "baixa capacidade de discernimento":
Os filósofos citados, incluindo Nietzsche, de fato pressupunham um
certo nível de autorreflexão para suas ideias, mas não as
tornaram exclusivas de uma elite. A Thelema, em particular, exige
disciplina e autoconhecimento, o que limita sua interpretação como
um convite à anarquia desenfreada.
Sobre
a anomia social:
A Thelema e a Sociedade Alternativa não têm o alcance ou a
influência para causar anomia social generalizada. A desordem
social contemporânea é mais atribuível a fatores como
desigualdade, polarização política e crises institucionais do que
a filosofias esotéricas.
Sobre
a cultura hippie:
A Sociedade Alternativa foi uma expressão da contracultura
brasileira, inspirada pela Thelema, mas não o "recheio
intelectual" do movimento hippie, que era mais amplo e
diversificado.
Sobre
manipulação por serviços de inteligência:
Não há evidências concretas de que a Thelema ou a Sociedade
Alternativa tenham sido instrumentos de agências estrangeiras para
minar o cristianismo, governos ou forças da lei. Tais alegações
se baseiam mais em teorias conspiratórias do que em fatos
documentados.
Sobre
minar o cristianismo:
A Thelema desafia valores cristãos tradicionais, mas sua influência
no Brasil foi limitada a círculos restritos, sem impacto
significativo na estrutura religiosa do país.
Em
resumo, minhas afirmações conteriam alguns pontos válidos, como a
crítica à potencial má interpretação da máxima thelêmica e sua
ressonância com a contracultura, mas exagera o papel da Thelema e da
Sociedade Alternativa como forças desestabilizadoras e carece de
evidências para sustentar a ideia de manipulação por serviços de
inteligência. A Thelema permanece, para eles, como uma filosofia
esotérica de impacto cultural limitado, mais associada à expressão
artística (como as obras de Raul Seixas) do que a uma revolução
social ou política.
A
boa intenção dos condenados ao inferno
Pois
que minha afirmativa seja, realmente, exagerada. O ponto onde quero
chegar não é "o que resultou tudo isso", mas "quais
foram as intenções de seus promotores". Em termos de
objetivos, perseguidos e alcançados, tudo o que expus acima
possuiria maior base? Analisemos isso também:
Minha
pergunta foca nas intenções dos promotores da Thelema (Aleister
Crowley), da Sociedade Alternativa (Raul Seixas e Paulo Coelho) e,
por extensão, da cultura hippie, em vez dos resultados concretos
dessas ideias. Vamos analisar se minhas afirmativas – que sugerem
que esses movimentos tinham a intenção de minar a religião cristã,
os governos e as forças da lei, possivelmente como parte de uma
agenda orquestrada – possuem maior base quando consideramos os
objetivos declarados ou implícitos desses promotores.
Intenções
de Aleister Crowley e da Thelema
Aleister
Crowley (1875–1947), o criador da Thelema, tinha objetivos claros
expressos em seus escritos, particularmente em O
Livro da Lei
(Liber AL vel
Legis, 1904) e
outros textos, como Liber
Oz. Suas intenções
podem ser resumidas assim:
Subversão
do cristianismo tradicional:
Crowley, criado em um ambiente cristão fundamentalista (os Irmãos
de Plymouth), rejeitava abertamente o que via como dogmatismo e
repressão da moral cristã. Ele se autoproclamava a "Besta
666" e via a Thelema como a fundação de um "Novo Aeon"
(a Era de Hórus), que substituiria as estruturas religiosas
tradicionais, especialmente o cristianismo, por uma espiritualidade
centrada na vontade individual e na autodescoberta. Seu objetivo
era, de fato, desafiar os valores cristãos, que ele considerava
limitantes, promovendo uma visão onde o indivíduo encontra o
divino dentro de si (“Deus está morto”), sem intermediários
institucionais. Isso alinha-se com minha afirmativa de que a Thelema
buscava minar a religião cristã, através de uma crítica
filosófica e espiritual.
Rejeição
de autoridades externas:
A máxima "Faze o que tu queres, há de ser o todo da Lei"
enfatiza a soberania da "verdadeira vontade" individual
sobre qualquer autoridade externa, seja ela religiosa, política ou
social. Crowley não era anarquista no sentido político, mas sua
filosofia promovia a ideia de que as instituições (incluindo
governos e forças da lei) só têm legitimidade se alinhadas com a
vontade individual autêntica. Ele não buscava diretamente a
destruição de governos ou leis, mas sim uma transformação
cultural onde o indivíduo seria o centro da existência, o que
poderia ser interpretado como um desafio à ordem estabelecida.
Transformação
cultural, não anomia:
Crowley acreditava que a Thelema inauguraria uma nova era de
liberdade espiritual e intelectual, mas ele também enfatizava
disciplina e autoconhecimento. Sua intenção não era criar anomia
social (caos ou ausência de normas), mas sim substituir normas
opressivas por um sistema ético baseado na vontade individual. Ele
via isso como uma evolução, não como destruição, embora
acessível somente a elites do pensamento.
Conexão
com serviços de inteligência:
Há especulações sobre o envolvimento de Crowley com serviços de
inteligência britânicos durante a Primeira e a Segunda Guerra
Mundial, especialmente por sua presença em círculos influentes e
suas atividades nos EUA e na Alemanha. No entanto, não encontrei
evidências sólidas de que a Thelema tenha sido criada ou promovida
como um instrumento deliberado de agências de inteligência para
desestabilizar sociedades neste período. Essas alegações,
frequentemente baseadas em sua correspondência com figuras como o
ocultista Gerald Gardner ou em sua reputação controversa,
permanecem especulativas e carecem de documentação confiável. Já
seu uso posterior, é uma outra questão – vide Vietnã.
Avaliação:
Em um julgamento digno da inocência deliberada dos uspianos, as
intenções de Crowley apoiariam parcialmente minhas afirmativas, no
sentido de que ele buscava desafiar o cristianismo e as normas
sociais tradicionais. No entanto, jamais admitiriam haver alguma base
para afirmar que ele pretendia criar anomia social ou que agia como
agente de serviços de inteligência com uma agenda de subversão
global. Sua visão era mais esotérica e individualista do que
conspiratória – o que, dado o período histórico que viveu, não
é de todo falso.
Intenções
de Raul Seixas, Paulo Coelho e da Sociedade Alternativa
A
Sociedade Alternativa, concebida por Raul Seixas e Paulo Coelho nos
anos 1970, foi uma tentativa de popularizar ideias thelêmicas no
Brasil, adaptadas ao contexto cultural e político da ditadura
militar. Suas intenções podem ser inferidas de suas letras,
entrevistas e escritos da época:
Crítica
à repressão e à moral conservadora:
Raul Seixas, em músicas como "Sociedade Alternativa" e
"Gitá", expressava um desejo de liberdade individual
frente à “repressão da ditadura militar” e aos – importante
observar – valores conservadores da sociedade brasileira,
incluindo a influência da Igreja Católica. A Sociedade
Alternativa, inspirada no Liber
Oz de Crowley,
proclamava direitos individuais, como a liberdade de expressão e de
crença. Essa crítica ao status quo, incluindo a moral cristã e o
autoritarismo, alinha-se diretamente com minha afirmativa de que
havia uma intenção de desafiar a religião cristã e o governo,
aliada à perfídia gramsciana que começava a prosperar no país.
Construção
de uma nova visão social:
Raul e Paulo Coelho não visavam apenas destruir instituições, mas
propor uma alternativa utópica, onde os indivíduos pudessem viver
de acordo com sua "vontade verdadeira". A Sociedade
Alternativa era apresentada como uma comunidade ideal, embora mais
simbólica do que prática. Eles não pregavam anarquia no sentido
de caos, mas uma reestruturação da sociedade baseada na liberdade
individual, o que poderia ser visto como um desafio à ordem vigente
e um grotesco arremedo à Escola de Frankfurt – “Tudo destruir,
para que desse nada surja algo novo e melhor”.
Contexto
da ditadura militar:
Durante o regime militar (1964–1985), qualquer crítica ao governo
ou à moral tradicional era vista como subversiva. Raul e Paulo
Coelho supostamente enfrentaram a repressão – Paulo Coelho teria
sido preso e torturado em 1974, acusado de atividades subversivas
relacionadas à Sociedade Alternativa. Isso sugere que suas
intenções eram mais de resistência política do que de verdadeira
fé no ocultismo pregado. Alega o sistema atual que não há
evidências de Raul ou Paulo Coelho terem conexões com serviços de
inteligência estrangeiros ou que sua intenção fosse servir a
interesses externos, mas nisto se resume toda a cândida pintura
“Naïf” com que a esquerda mostra sua existência no Brasil.
Influência
da cultura hippie:
A Sociedade Alternativa absorveu elementos da contracultura hippie,
como a valorização da liberdade, do misticismo e da
experimentação, mas Raul e Paulo Coelho eram mais estruturados em
sua visão, inspirando-se diretamente na Thelema. Suas intenções
teriam sido supostamente mais artísticas e filosóficas do que
políticas, buscando inspirar uma transformação cultural por meio
da música e da escrita. Julgamentos são desnecessários.
Intenções
da cultura hippie (contexto global e brasileiro)
A
cultura hippie, surgida nos anos 1960 nos EUA e espalhada pelo mundo,
incluindo o Brasil, era heterogênea, abrangendo desde pacifistas até
ativistas políticos e espiritualistas. Suas intenções gerais podem
ser resumidas assim:
Rejeição
de normas tradicionais:
Os hippies criticavam o consumismo, a guerra (especialmente a do
Vietnã), a moral cristã tradicional e as estruturas de poder. No
Brasil, isso se manifestava na resistência à ditadura militar e à
rigidez social. Essa crítica pode ser vista como alinhada com a
intenção de "minar" valores cristãos e a ordem
estabelecida.
Busca
por liberdade e espiritualidade alternativa:
Os hippies promoviam valores como amor livre, experimentação
psicodélica e espiritualidades não ocidentais (como hinduísmo e
budismo). No Brasil, isso se misturava com influências locais, como
o tropicalismo e o esoterismo. A intenção era criar uma cultura
alternativa, não necessariamente destruir instituições, mas
transformá-las – em especial, a Igreja Católica.
Conexão
com serviços de inteligência:
A teoria de que a cultura hippie foi orquestrada por serviços de
inteligência (como a KGB) para desestabilizar sociedades é
recorrente e parcialmente demonstrada pelo filósofo Olavo de
Carvalho. Existem
provas, fornecidas por espiões russos,
mostrando que a
KGB experimentou com LSD e outros psicodélicos, bem como introduziu
o esquema empresarial no tráfico de drogas sulamericano. A
disseminação da cultura hippie foi um fenômeno ideológico,
impulsionado por circunstâncias sociais (como a Guerra do Vietnã e
os movimentos pelos direitos civis) e dono de uma agenda coordenada.
A
grosso modo, podemos afirmar sem medo que todo o movimento hippie e a
contra-cultura foram a expressão romantizada, cinematografada e
musicada da ideologia esquerdista, mirando no fim da religião
católica – por seu inegável peso moral – da família (amor
livre e comunidades hippies), da livre iniciativa (promoção do
artesanato e das plantações caseiras) e na máxima “somos todos
iguais”. Coroando tal proposição alienante, reinava o “faça
amor, não faça a guerra”.
Mergulhando
na causa primária: Nietzsche
Qual
será a razão para tantos filósofos (como Nietzsche, por exemplo)
combaterem e até odiarem a religião cristã. Sentiam-se reprimidos
em seus desejos ocultos? Sentiam-se preteridos em seus delírios de
poder e importância social?
A
crítica e até o aparente "ódio" de filósofos como
Nietzsche ao cristianismo é um tema fascinante que reflete questões
profundas sobre cultura, moralidade, poder e psicologia humana. O
foco são as motivações filosóficas, culturais e psicológicas.
Também abordarei a hipótese de repressão de desejos ocultos ou
delírios de poder, analisando se essas interpretações se
sustentam.
Razões
para a crítica ao cristianismo
Os
filósofos que criticaram o cristianismo, como Nietzsche,
Schopenhauer, Blake, e até mesmo Crowley (como figura esotérica
influenciada pela filosofia), tinham motivações variadas, mas
algumas razões centrais aparecem recorrentemente.
Rejeição
à moralidade cristã como repressiva – Nietzsche:
Em
O Anticristo (1888) e Assim Falou Zaratustra (1883–1885), Nietzsche
argumentava que o cristianismo promovia uma "moral de escravo",
que valorizava a humildade, a submissão e a negação da vida em
favor de um ideal transcendente (o céu, Deus). Ele via essa moral
como uma repressão dos instintos vitais, da criatividade e da
vontade de poder, que ele considerava essenciais à existência
humana. Para Nietzsche, o cristianismo glorificava a fraqueza e
demonizava a força, a ambição e a autoafirmação, criando uma
cultura de ressentimento entre os "fracos" contra os
"fortes".
Outros
pensadores:
Schopenhauer,
embora menos agressivo, criticava o cristianismo por sua visão
otimista de um mundo criado por um Deus benevolente, que ele via como
incompatível com o sofrimento inerente à existência. William
Blake, por sua vez, rejeitava o cristianismo institucional por sua
rigidez e hipocrisia, propondo uma espiritualidade mais criativa e
individualista. Crowley, no contexto da Thelema, via o cristianismo
como um obstáculo à liberdade individual e à descoberta da Vontade
Verdadeira, criticando sua moralidade repressiva.
Contexto
cultural:
Esses
pensadores viviam em épocas em que a Igreja Cristã (católica ou
protestante) exercia grande influência sobre a moral, a política e
a cultura. A crítica ao cristianismo era, em parte, uma reação
contra o controle social exercido por instituições religiosas, que
ditavam normas de comportamento e limitavam a expressão individual.
Busca
por uma nova espiritualidade ou filosofia – Nietzsche:
Nietzsche
não apenas criticava o cristianismo, mas propunha uma alternativa: a
filosofia do Übermensch (super-homem), que criaria seus próprios
valores em um mundo sem Deus. Ele declarou que "Deus está
morto" (A Gaia Ciência, 1882), não como uma celebração, mas
como um diagnóstico da crise cultural do Ocidente, que precisava de
novos fundamentos éticos. Sua crítica ao cristianismo era um passo
para abrir espaço para essa nova visão.
Outros
pensadores:
Crowley,
inspirado por Nietzsche, via a Thelema como a espiritualidade do novo
"Æon de Hórus", que superaria o cristianismo (associado
ao Æon de Osíris). Blake buscava uma mística poética que unisse o
humano e o divino, rejeitando a ortodoxia cristã. Mesmo Rabelais,
com sua sátira em Gargântua e Pantagruel, ridicularizava o
dogmatismo religioso para propor um humanismo mais livre.
Contexto
filosófico:
A
crítica ao cristianismo vinha de uma necessidade de romper com
sistemas de pensamento que, na visão desses filósofos, limitavam o
potencial humano. Eles viam a religião cristã como um obstáculo à
autoexpressão, à criatividade e à construção de uma ética mais
autônoma.
Crítica
ao poder institucional da Igreja – Nietzsche:
Ele
via a Igreja como uma instituição que manipulava as massas,
mantendo-as submissas por meio do medo do pecado e da promessa de
salvação. Ele acusava o cristianismo de usar a culpa como
ferramenta de controle, enfraquecendo o indivíduo em favor da
autoridade eclesiástica.
Outros
pensadores:
Crowley,
que foi criado em uma seita cristã rigorosa (os Irmãos de
Plymouth), tinha uma antipatia pessoal pela hipocrisia religiosa que
via na infância. Sua crítica ao cristianismo também mirava o poder
da Igreja de limitar práticas esotéricas e espirituais
alternativas. Blake criticava a Igreja Anglicana por sua aliança com
o poder político, que ele via como opressiva. No Brasil, Raul Seixas
e Paulo Coelho, influenciados pela Thelema, criticavam o suposto uso
do cristianismo pelo regime militar para justificar a repressão.
Contexto
histórico:
No
século XIX e início do XX, a Igreja ainda tinha forte influência
política e social na Europa e nas Américas. A crítica ao
cristianismo era também uma crítica ao seu papel em sustentar
estruturas de poder, como monarquias, colonialismo ou regimes
autoritários.
Reação
ao racionalismo e ao materialismo do Iluminismo – Nietzsche:
Embora
o Iluminismo tivesse enfraquecido a autoridade religiosa, Nietzsche
via o cristianismo como uma força que ainda moldava a moralidade
ocidental, mesmo em um mundo secular. Ele criticava o cristianismo
por sua visão dualista (bem vs. mal, corpo vs. alma), que ele
considerava alienante, mas também via o racionalismo iluminista como
insuficiente para preencher o vazio deixado pela "morte de
Deus".
Outros
pensadores:
Blake
e Crowley, de maneiras diferentes, buscavam uma espiritualidade que
transcendesse tanto o dogmatismo cristão quanto o materialismo
racionalista. A Thelema, por exemplo, combinava misticismo, magia e
individualismo como uma alternativa ao cristianismo e ao secularismo.
Contexto
cultural:
A
tensão entre religião, ciência e espiritualidade alternativa no
século XIX levou muitos pensadores a buscar sistemas que
conciliassem a liberdade individual com um senso de transcendência,
algo que viam como ausente no cristianismo tradicional.
Sentiam-se
reprimidos em seus desejos ocultos?
A
sugestão de que esses filósofos combatiam o cristianismo por se
sentirem reprimidos em seus "desejos ocultos" é uma
interpretação psicológica interessante, mas precisa ser analisada
com cuidado:
Nietzsche:
Há quem interprete a veemência de Nietzsche contra o cristianismo
como uma reação pessoal à sua criação luterana rígida. Ele
cresceu em um ambiente religioso e, como jovem, era profundamente
devoto. Sua ruptura com o cristianismo pode ter sido intensificada
por uma sensação de repressão, especialmente em relação à sua
visão de uma vida afirmativa, que celebrava os instintos e a
criatividade. No entanto, não há evidências claras de que ele
estivesse reprimindo "desejos ocultos" no sentido freudiano
(como desejos sexuais ou hedonistas). Sua crítica era mais
filosófica: ele via o cristianismo como uma força que reprimia a
vitalidade humana em geral, não apenas seus desejos pessoais. Sua
ênfase na vontade de poder sugere um desejo de transcendência, não
de libertinagem.
Crowley:
é um caso mais complexo. Criado em uma seita cristã extremamente
puritana, ele rebelou-se desde jovem, adotando comportamentos
provocativos (como sua bissexualidade e experimentações com magia e
drogas). É plausível que sua crítica ao cristianismo tenha raízes
em uma rejeição pessoal à repressão moral que experimentou na
infância. Seus "desejos ocultos" (sexuais, espirituais ou
de poder) eram expressos abertamente em sua vida e obra, e a Thelema
pode ser vista como um sistema para legitimar a exploração desses
desejos de forma disciplinada – “por trás de toda ideologia,
sempre está uma tara”. No entanto, aceitemos que sua intenção
não era apenas satisfazer desejos pessoais, mas criar um sistema
espiritual universal.
Outros
pensadores:
Blake,
por exemplo, canalizava sua rebelião contra o cristianismo em uma
visão mística que celebrava a imaginação e a divindade humana.
Não há indícios claros de repressão de desejos pessoais, mas sim
de uma frustração com a rigidez da Igreja. Schopenhauer, com sua
visão pessimista, não parece motivado por desejos reprimidos, mas
por uma crítica metafísica ao otimismo cristão. Raul Seixas e
Paulo Coelho, no contexto brasileiro, expressavam frustrações com o
conservadorismo da ditadura, sua crítica ao cristianismo era
fundamentalmente ideológica e pessoal.
Avaliação:
A ideia de "desejos ocultos" reprimidos pode aplicar-se
abertamente a Crowley, cuja vida pessoal reflete uma rebelião contra
a moral cristã. Para Nietzsche, a repressão era mais cultural e
filosófica do que pessoal, ligada à sua visão de que o
cristianismo sufocava a vitalidade humana. Para os outros, a crítica
ao cristianismo era mais intelectual ou espiritual do que uma reação
a desejos reprimidos, excetuando-se o caso brasileiro: ideologia pura
e taras ocultas, combinadas. A psicologia moderna (como a de Freud)
poderia interpretar tais críticas como projeções de conflitos
internos, mas isso seria visto apenas como especulativo e não sendo
a motivação principal.
Sentiam-se
preteridos em seus delírios de poder e importância social?
Nietzsche:
tinha uma visão elevada de si mesmo como filósofo, vendo-se como um
profeta de uma nova era (o Übermensch e a reavaliação de todos os
valores). Ele era frustrado pelo pouco reconhecimento que recebeu em
vida, o que pode ter intensificado sua crítica às instituições,
incluindo a Igreja, que ele via como perpetuadoras de uma cultura
medíocre. No entanto, chamar isso de "delírio de poder" é
uma simplificação. Sua crítica ao cristianismo era parte de um
projeto filosófico maior, não apenas uma reação a ser ignorado
socialmente. Ele queria transformar a cultura, não apenas conquistar
poder pessoal.
Crowley:
é um caso onde a acusação de "delírio de poder" tem
todo o peso. Ele se autoproclamava o "Grande Besta 666" e
buscava ser uma figura central no esoterismo ocidental. Sua crítica
ao cristianismo era, em parte, uma rejeição às instituições que
o marginalizavam (ele foi expulso de várias ordens esotéricas e
vilipendiado pela imprensa). Sua intenção com a Thelema era criar
um sistema espiritual que transcendesse o cristianismo, afirmando sua
importância social. Ele via a si mesmo como um profeta, um delírio
de grandeza.
Outros
pensadores: Blake sentia-se marginalizado como artista e poeta, e sua
crítica à Igreja Anglicana refletia sua frustração com uma
sociedade que não valorizava sua visão. No entanto, sua motivação
era mais espiritual e criativa do que um desejo de poder social.
Schopenhauer, apesar de seu pessimismo, alcançou certo
reconhecimento em vida e não parecia movido por ambições de poder,
mas por uma crítica filosófica. Raul Seixas e Paulo Coelho, no
Brasil, buscavam influência cultural como artistas, e sua crítica
ao cristianismo era um reflexo de suas ambições políticas e busca
por importância social.
As
razões para esses filósofos combaterem o cristianismo -
Rejeição
à moral repressiva: Eles viam o cristianismo como uma força que
limitava a liberdade, a criatividade e os instintos vitais,
promovendo uma moral de submissão. Busca por novas visões: Queriam
propor alternativas filosóficas ou espirituais (como o Übermensch
ou a Thelema) para substituir o cristianismo. Crítica ao poder
institucional: Atacavam a Igreja por seu controle social e político,
que viam como opressivo. Contexto cultural: Viviam em épocas de
tensão entre religião, ciência e individualismo, o que os levou a
questionar o papel do cristianismo. Sobre desejos ocultos: A
repressão pessoal pode ter influenciado Crowley, devido à sua
criação puritana, e, em menor grau, Nietzsche, mas a crítica ao
cristianismo era mais filosófica do que uma projeção de desejos
reprimidos. Para os outros, essa interpretação é menos
convincente.
Sobre
delírios de poder: Crowley buscava notoriedade, e Nietzsche tinha
uma visão elevada de seu papel como filósofo, mas suas críticas ao
cristianismo eram parte de projetos maiores, não apenas reações a
serem preteridos. Os outros pensadores parecem menos motivados por
ambições de poder social.
Perguntas
inevitáveis:
Se
Nietzsche criticava a Igreja como manipuladora das massas, suas
atividades como filósofo – publicando livros com suas ideias –
não seriam, igualmente, tentativas de manipulação reversa?
Tal
questionamento toca em uma questão central sobre a natureza da
filosofia, da influência intelectual e da coerência das críticas
de Nietzsche. Vamos analisar se suas atividades como filósofo podem
ser vistas como uma tentativa de "manipulação reversa"
das massas, considerando sua crítica à Igreja como manipuladora, e
explorar as nuances dessa comparação.
1.
Nietzsche e a crítica à Igreja como manipuladora
Nietzsche,
em obras como O Anticristo (1888) e Genealogia da Moral (1887),
acusava o cristianismo, e especialmente a Igreja, de manipular as
massas por meio de uma "moral de escravo". Ele argumentava
que a Igreja usava conceitos como pecado, culpa e salvação para
controlar os indivíduos, promovendo a submissão e reprimindo a
vitalidade humana (a "vontade de poder"). Para Nietzsche, a
Igreja manipulava ao impor uma narrativa moral que beneficiava os
"fracos" (os oprimidos, as massas) contra os "fortes"
(os criativos, os autônomos), criando uma cultura de ressentimento.
Essa manipulação era, em sua visão, um exercício de poder
disfarçado de espiritualidade.
2.
As atividades de Nietzsche como filósofo: manipulação reversa?
Ao
publicar livros como Assim Falou Zaratustra, Além do Bem e do Mal e
A Gaia Ciência, Nietzsche buscava influenciar leitores, desafiar a
moral cristã e propor uma nova visão filosófica centrada no
Übermensch (super-homem), na vontade de poder e na reavaliação de
todos os valores. A questão é: isso constitui uma forma de
manipulação, análoga à da Igreja, mas em sentido oposto
("reversa")?
Argumentos
a favor da ideia de manipulação reversa – a influência
intencional:
Nietzsche
escrevia com um tom profético e provocador, especialmente em
Zaratustra, buscando inspirar ou até "despertar" seus
leitores para uma nova forma de pensar. Ele queria romper com o
conformismo das massas e incitar uma transformação cultural. Essa
tentativa de moldar o pensamento alheio pode ser vista como uma forma
de influência psicológica, semelhante à manipulação que ele
atribuía à Igreja.
Retórica
poderosa:
Nietzsche
usava uma linguagem poética, aforística e muitas vezes emocional,
que visava capturar a imaginação e provocar reações intensas.
Essa estratégia retórica poderia ser interpretada como uma
tentativa de "seduzir" os leitores, assim como a Igreja
usava sermões e narrativas para conquistar fiéis.
Visão
elitista:
Embora
Nietzsche criticasse a manipulação das massas pela Igreja, ele
próprio não escrevia para as massas, mas para uma elite intelectual
capaz de compreender sua filosofia. No entanto, ao publicar suas
ideias, ele ainda buscava influenciar um público, mesmo que seleto,
o que poderia ser visto como uma tentativa de moldar mentes em
direção aos seus ideais (o Übermensch, a rejeição da moral
cristã), através da “capilaridade do pensamento”, que aleguei
anteriormente.
Paralelo
com o poder:
Nietzsche
via a vontade de poder como a força motriz de toda ação humana,
incluindo a da Igreja. Ao propor sua filosofia, ele também exercia
sua própria vontade de poder, tentando redefinir valores e afirmar
sua visão sobre a cultura. Isso poderia ser interpretado como uma
tentativa de substituir uma forma de controle (cristã) por outra
(nietzschiana).
Argumentos
contra a ideia de manipulação reversa – objetivo de libertação,
não controle:
Diferentemente
da Igreja, que Nietzsche via como uma instituição que impunha
dogmas para manter a submissão, sua filosofia buscava libertar o
indivíduo de sistemas opressivos, incentivando a autossuperação e
a criação de valores próprios. Ele não propunha uma nova doutrina
rígida, mas um convite à autonomia. Em Zaratustra, ele escreve:
"Vocês dizem 'creiam em mim', mas eu digo: 'sigam a si
mesmos'." Sua intenção era emancipar, não manipular.
Ausência
de estrutura institucional:
A
Igreja, como instituição, tinha um sistema organizado de poder
(clero, rituais, hierarquia) para impor sua moral. Nietzsche, por
outro lado, era um filósofo solitário, sem uma organização ou
seguidores diretos em vida. Seus livros eram um meio de disseminar
ideias, mas não vinham com uma estrutura de controle, como templos
ou dogmas obrigatórios.
Público-alvo
diferente:
Enquanto
a Igreja mirava as massas, Nietzsche escrevia para uma minoria capaz
de compreender sua filosofia. Ele desprezava a ideia de manipular as
massas, a quem chamava de "rebanho". Sua crítica à Igreja
era justamente por ela manipular as massas para mantê-las submissas,
enquanto ele buscava inspirar indivíduos excepcionais a
transcenderem essas limitações.
Método
reflexivo, não dogmático:
A
Igreja usava dogmas e autoridade divina para impor sua moral.
Nietzsche, ao contrário, usava argumentos, aforismos e provocações
para estimular o pensamento crítico. Seus livros não oferecem
respostas prontas, mas desafiam o leitor a questionar e criar. Isso é
mais próximo de uma dialética socrática do que de uma manipulação
autoritária.
Manipulação
X influência: uma distinção crucial
A
chave para responder tal questão está na diferença entre
manipulação e influência. Manipulação implica um controle
intencional, muitas vezes dissimulado, para moldar o comportamento
alheio em benefício próprio ou de uma agenda. Influência, por
outro lado, pode ser um esforço aberto para inspirar ou persuadir,
sem necessariamente buscar controle. Nietzsche certamente queria
influenciar, mas há diferenças significativas entre sua abordagem e
a manipulação que ele atribuía à Igreja.
Transparência:
Nietzsche
era aberto sobre seu objetivo de desafiar a moral cristã e propor
uma nova visão. A Igreja, na visão dele, escondia sua busca por
poder sob a fachada da espiritualidade.
Foco
na autonomia:
Nietzsche
encorajava os indivíduos a criarem seus próprios valores, enquanto
a Igreja impunha uma moral universal. Ele rejeitava a ideia de
seguidores cegos, como fica claro em Zaratustra, onde ele exorta seus
discípulos a abandoná-lo e seguirem seus próprios caminhos.
Falta
de coerção:
A
Igreja usava medo (inferno, pecado) e recompensas (salvação, céu)
para controlar. Nietzsche não tinha mecanismos de coerção; seus
livros dependiam da aceitação voluntária de suas ideias por
leitores dispostos a refletir.
Motivações
psicológicas de Nietzsche – frustração pessoal:
Nietzsche
viveu uma vida de relativo isolamento e teve pouco reconhecimento em
vida. Sua crítica à Igreja pode ter sido intensificada por uma
sensação de marginalização em uma sociedade dominada por valores
cristãos. No entanto, sua filosofia não parece uma busca por poder
pessoal, mas por uma transformação cultural que ele acreditava ser
necessária após a "morte de Deus".
Vontade
de poder:
Como
Nietzsche via a vontade de poder como a essência da vida, é natural
que sua própria atividade filosófica fosse uma expressão disso.
Ele queria afirmar sua visão sobre o mundo, mas isso não equivale a
um "delírio de poder". Sua escrita sugere uma convicção
genuína de que estava oferecendo uma alternativa para uma cultura em
crise, não manipulando por interesse egoísta.
Desejos
reprimidos:
Não
há evidências claras de que Nietzsche estivesse projetando desejos
reprimidos (como desejos sexuais ou hedonistas) em sua crítica à
Igreja. Sua vida pessoal era marcada por asceticismo, não
libertinagem, e sua crítica ao cristianismo era mais intelectual do
que emocional.
Comparação
com outros filósofos
Para
contextualizar, outros pensadores que criticaram o cristianismo, como
Crowley ou Voltaire, também podem ser analisados sob a lente da
manipulação:
Crowley:
Como criador da Thelema, Crowley buscava influenciar, mas sua
abordagem era mais carismática e, por vezes, autoritária,
especialmente em suas ordens esotéricas. Ele queria liderar uma
revolução espiritual, o que poderia ser visto como mais próximo de
manipulação do que a abordagem de Nietzsche, especialmente por seu
papel como "profeta" da Thelema.
Voltaire:
No Iluminismo, Voltaire criticava a Igreja por sua intolerância e
corrupção, mas usava sátira e argumentos racionais para persuadir,
não para controlar. Como Nietzsche, ele buscava influência
intelectual, não manipulação institucional.
Conclusão
As
atividades de Nietzsche como filósofo, ao publicar suas ideias,
podem ser vistas como uma tentativa de influenciar, mas não como uma
"manipulação reversa" no mesmo sentido que ele atribuía
à Igreja. Suas intenções eram:
Inspirar
autonomia:
Nietzsche
queria libertar os indivíduos do conformismo cristão, não impor
uma nova doutrina.
Desafiar
a cultura:
Ele
buscava transformar os valores ocidentais, não controlar as massas.
Expressar
sua visão:
Como
todo filósofo, ele usava a escrita para afirmar sua vontade de
poder, mas sem os mecanismos de coerção ou dissimulação que
associava à Igreja. Sua crítica à Igreja como manipuladora era
baseada em sua percepção de que ela usava dogmas e medo para
controlar, enquanto suas próprias ideias eram um convite à reflexão
e à autossuperação, sem uma estrutura institucional para impor
obediência. Embora sua retórica pudesse ser persuasiva e até
sedutora, ela não equivalia à manipulação da Igreja, que ele via
como sistemática e autoritária.
Mais
perguntas:
Nietzsche
acusava a Igreja de manipulação através de dogmas e medo. Pois o
que seria, então, as verdades de um filósofo impressas em um livro,
somadas ao seu grito "Deus está morto!"? Elimina-se o medo
sobrenatural, cria-se a submissão psicológica ao filósofo.
Troca-se seis por meia-dúzia, em um louco projeto de ambição
pessoal?
Tal
questão é afiada e provoca uma reflexão profunda sobre as
intenções de Nietzsche, a natureza de sua filosofia e a
possibilidade de que suas ideias, ao criticarem a manipulação da
Igreja, paradoxalmente replicassem uma forma de influência que
poderia ser vista como manipulação psicológica. Se, ao proclamar
"Deus está morto!" e publicar suas "verdades" em
livros, Nietzsche estaria substituindo o medo sobrenatural da Igreja
por uma submissão psicológica ao filósofo, em um projeto movido
por ambição pessoal, isso nos leva a explorar suas intenções, a
dinâmica de sua filosofia e se realmente se trata de "trocar
seis por meia-dúzia".
1.
Nietzsche e a crítica à manipulação da Igreja
Nietzsche
acusava a Igreja Cristã de manipular as massas por meio de dogmas
(como pecado e salvação) e medo (do inferno, da ira divina),
criando uma moralidade que ele chamava de "escrava". Em
Genealogia da Moral (1887) e O Anticristo (1888), ele argumentava que
a Igreja usava esses mecanismos para manter as massas submissas,
beneficiando o poder eclesiástico e suprimindo a vitalidade humana
(a "vontade de poder"). Para ele, o cristianismo
glorificava a fraqueza e reprimia os instintos criativos, manipulando
psicologicamente por meio da culpa e da promessa de uma vida após a
morte.
Quando
Nietzsche proclama "Deus está morto!" em A Gaia Ciência
(1882) e Assim Falou Zaratustra (1883–1885), ele não está apenas
celebrando o fim da fé religiosa, mas diagnosticando uma crise
cultural: a perda de um fundamento metafísico para os valores
ocidentais. Ele via isso como uma oportunidade para os indivíduos
criarem seus próprios valores, mas também como um risco, pois a
ausência de Deus poderia levar ao niilismo se não fosse superada.
2.
As "verdades" de Nietzsche: manipulação psicológica?
Perguntamos
se as ideias de Nietzsche, impressas em seus livros, e sua
proclamação de que "Deus está morto!" não seriam uma
forma de substituir o medo sobrenatural da Igreja por uma submissão
psicológica ao filósofo. Para avaliar isso, precisamos considerar o
que Nietzsche buscava com suas obras e como sua abordagem difere (ou
não) da manipulação que ele atribuía à Igreja.
Argumentos
a favor da ideia de manipulação psicológica: retórica poderosa e
tom profético
Nietzsche
escrevia de forma poética, aforística e, em Zaratustra, quase
messiânica, como se fosse um profeta anunciando uma nova era. Frases
como "Deus está morto!" são chocantes e destinadas a
provocar uma reação emocional, o que poderia ser visto como uma
tentativa de capturar a mente do leitor. Essa retórica poderia, em
teoria, criar uma forma de fascínio ou dependência psicológica em
relação às ideias de Nietzsche.
Autoridade
filosófica:
Ao
apresentar suas ideias como uma alternativa à moral cristã,
Nietzsche se coloca como uma figura de autoridade intelectual, alguém
que oferece "verdades" para preencher o vazio deixado pela
morte de Deus. Isso poderia ser interpretado como uma tentativa de
moldar a psique dos leitores, levando-os a adotar sua visão de mundo
(o Übermensch, a vontade de poder).
Eliminação
do medo sobrenatural:
Ao
proclamar "Deus está morto!", Nietzsche remove o medo do
julgamento divino, mas sua filosofia exige que o indivíduo enfrente
o peso da liberdade e da responsabilidade de criar seus próprios
valores. Para alguns, isso poderia ser tão psicologicamente
opressivo quanto o medo religioso, especialmente se o leitor se
sentisse compelido a seguir Nietzsche como um guia para navegar esse
novo mundo sem Deus.
Ambição
pessoal:
Nietzsche
tinha uma visão elevada de si mesmo como filósofo, vendo-se como um
"legislador do futuro" (como ele sugere em Zaratustra). Sua
ambição de transformar a cultura ocidental poderia ser lida como um
desejo de poder pessoal, com seus livros servindo como ferramentas
para conquistar influência sobre as mentes alheias.
Argumentos
contra a ideia de manipulação psicológica: foco na autonomia
individual
Diferentemente
da Igreja, que impunha dogmas universais, Nietzsche encorajava os
indivíduos a rejeitarem qualquer autoridade externa, incluindo a
dele próprio. Em Zaratustra, ele exorta seus discípulos a
abandoná-lo: "Agora vos ordeno que me percais e vos encontreis;
e só quando todos vós tiverdes me negado, voltarei a vós."
Sua intenção era inspirar a autossuperação, não criar seguidores
submissos.
Ausência
de dogmas rígidos:
A
Igreja usava dogmas fixos e uma narrativa linear (pecado, redenção,
salvação). Nietzsche, por outro lado, evitava sistemas fechados.
Suas ideias, como a vontade de poder ou o Übermensch, são mais
provocações filosóficas do que verdades absolutas. Ele desafiava o
leitor a pensar por si mesmo, não a aceitar suas palavras como
evangelho.
Falta
de estrutura de controle:
A
Igreja tinha uma instituição (clero, rituais, hierarquia) para
reforçar sua manipulação. Nietzsche era um filósofo solitário,
sem uma organização ou seguidores diretos em vida como já expus
anteriormente. Seus livros dependiam da aceitação voluntária dos
leitores, sem mecanismos de coerção como o medo do inferno ou a
promessa de salvação.
Crítica
ao niilismo, não imposição de verdades:
A
proclamação de "Deus está morto!" não era uma tentativa
de substituir o medo sobrenatural por uma nova forma de submissão,
mas um alerta sobre o niilismo que poderia surgir com a perda da fé.
Nietzsche queria que os indivíduos enfrentassem esse vazio e
criassem seus próprios valores, não que se submetessem a ele como
uma nova autoridade.
Ambição
filosófica, não pessoal:
Embora
Nietzsche tivesse ambições grandiosas (redefinir os valores
ocidentais), sua escrita sugere uma preocupação genuína com a
crise cultural do seu tempo, não um desejo de poder pessoal no
sentido de dominar as massas. Ele era frustrado pelo pouco
reconhecimento em vida, mas seus livros eram mais um chamado à
reflexão do que uma tentativa de manipular psicologicamente.
3.
Ambição pessoal ou projeto filosófico?
As
ações de Nietzsche poderiam refletir um "louco projeto de
ambição pessoal". Vamos analisar essa possibilidade:
Ambição
de Nietzsche:
Ele
via a si mesmo como um filósofo revolucionário, alguém destinado a
mudar o curso da história ocidental. Em cartas e textos, ele
expressava frustração por não ser reconhecido em vida, o que
sugere um desejo de impacto e relevância. Em Ecce Homo (1888), ele
escreve com um tom quase megalomaníaco, chamando-se de "dinamite"
e um "destino". Isso poderia ser interpretado como ambição
pessoal, uma vontade de afirmar seu poder intelectual sobre o mundo.
Projeto
filosófico:
No
entanto, a ambição de Nietzsche parece mais ligada a um projeto
cultural do que a um desejo de poder pessoal no sentido político ou
social. Ele acreditava que a cultura ocidental estava em crise após
a "morte de Deus" e que sua filosofia era necessária para
evitar o niilismo. Sua crítica à Igreja e suas ideias eram parte de
um esforço para criar um novo paradigma, não para conquistar
seguidores ou dominar as massas.
Psicologia
de Nietzsche:
Alguns
biógrafos, como Walter Kaufmann, sugerem que a veemência de
Nietzsche contra o cristianismo refletia, em parte, sua luta pessoal
com a educação religiosa luterana de sua juventude. No entanto, não
há evidências de que ele buscasse submissão psicológica dos
leitores. Sua insistência em que os leitores o abandonassem
(Zaratustra) sugere que ele queria inspirar pensadores independentes,
não criar discípulos.
Contestando
defesas de Nietzsche
Segundo
se convencionou, o filósofo dirigia seus escritos a uma elite
intelectual enquanto a Igreja focava nas massas. Ora, é inegável
que o pensamento das massas é o reflexo capilarizado dos conceitos
das elites, então o produto final é o mesmo, apenas levando mais
tempo para sua consecução.
Isso
levanta uma questão crucial sobre a dinâmica entre as ideias das
elites intelectuais e seu impacto nas massas, desafiando a distinção
exposta acima entre o público-alvo de Nietzsche (uma elite
intelectual) e o da Igreja (as massas). Como o pensamento das massas
acaba sendo um reflexo capilarizado das ideias das elites, o "produto
final" da influência de Nietzsche seria semelhante ao da
Igreja, apenas com uma execução mais demorada. Vamos analisar essa
crítica com cuidado, explorando se a distinção entre os
públicos-alvo realmente se sustenta e se as intenções de Nietzsche
equivalem, em última análise, à manipulação que ele atribuía à
Igreja.
1.
A premissa: ideias das elites moldam as massas
Sei
estar correto ao apontar que as ideias das elites intelectuais
frequentemente se disseminam, com o tempo, para as massas, moldando a
cultura de forma indireta. Esse fenômeno, conhecido como
capilarização ou difusão cultural, é bem documentado na história
das ideias. Conceitos filosóficos, artísticos ou políticos que
começam em círculos restritos (academia, salões, ordens
esotéricas) podem, ao longo do tempo, influenciar a sociedade mais
ampla por meio da arte, da mídia, da educação ou de movimentos
sociais. Exemplos incluem:
O
Iluminismo, cujas ideias de liberdade e razão, inicialmente
debatidas por filósofos como Voltaire e Rousseau, inspiraram
revoluções e reformas democráticas. O marxismo, que começou com
textos acadêmicos de Marx e Engels e se transformou em movimentos de
massa. A própria Thelema de Crowley, que, via Raul Seixas e a
Sociedade Alternativa, alcançou um público mais amplo no Brasil
através da música. Se aceitarmos que as ideias de Nietzsche, mesmo
voltadas para uma elite, eventualmente influenciariam as massas, tal
crítica ganha força: o impacto final de suas ideias poderia ser
semelhante ao da Igreja, que moldava diretamente as massas com seus
dogmas.
2.
Nietzsche e seu público-alvo: uma elite intelectual?
Nietzsche
era explícito em sua rejeição às massas, a quem chamava de
"rebanho" (Die Herde) em Assim Falou Zaratustra (1883–1885)
e outros textos. Ele escrevia para o que chamava de "espíritos
livres" (freie Geister), indivíduos capazes de questionar a
moral tradicional e criar seus próprios valores. Em Além do Bem e
do Mal (1886), ele diz: "Não escrevo para as massas, mas para
aqueles que são dignos de me ouvir." Sua filosofia, com
conceitos como o Übermensch (super-homem) e a vontade de poder,
exigia um nível de introspecção e independência intelectual que
ele acreditava ser raro.
No
entanto, sua crítica reconhece que as ideias de Nietzsche não
permaneceram confinadas a uma elite. Após sua morte em 1900, sua
filosofia influenciou amplamente a cultura ocidental, incluindo:
Movimentos
artísticos: O expressionismo, o modernismo e até o rock (via
figuras como Jim Morrison e David Bowie) absorveram ideias
nietzschianas. Filosofia existencial: Pensadores como Sartre e Camus
popularizaram versões de suas ideias, que alcançaram um público
mais amplo. Contracultura: Nos anos 1960, Nietzsche tornou-se um
ícone da contracultura, com sua crítica ao cristianismo e sua
ênfase na liberdade individual ressoando entre os jovens. Essa
difusão sugere que, embora Nietzsche mirasse uma elite, suas ideias
acabaram "capilarizando" para as massas, especialmente no
século XX, quando sua obra ganhou popularidade. Isso apoia minha
argumentação de que o "produto final" (influenciar o
pensamento coletivo) poderia ser semelhante ao da Igreja, ainda que
por caminhos mais lentos e indiretos.
3.
Igreja X Nietzsche: semelhanças no impacto final?
Para
avaliar se a distinção entre os públicos-alvo (elite para
Nietzsche, massas para a Igreja) é irrelevante, precisamos comparar
como cada um buscava influenciar e qual era o "produto final"
de suas ideias.
Semelhanças:
Influência
cultural ampla: Tanto a Igreja quanto Nietzsche, a longo prazo,
moldaram o pensamento coletivo. A Igreja usava sermões, rituais e
instituições para disseminar sua moral cristã diretamente às
massas. Nietzsche, embora mirasse uma elite, teve suas ideias
disseminadas por intelectuais, artistas e movimentos culturais,
eventualmente alcançando um público mais amplo. Como apontei, o
processo de capilarização significa que as ideias das elites (como
as de Nietzsche) podem acabar influenciando as massas, mesmo que
indiretamente.
Persuasão
psicológica:
A
Igreja usava narrativas de culpa, pecado e salvação para criar uma
adesão emocional e psicológica. Nietzsche, com sua retórica
poética e provocadora (como "Deus está morto!"), também
apelava às emoções, buscando chocar e inspirar. Ambas as
abordagens poderiam, em teoria, criar uma forma de "submissão
psicológica" — a Igreja ao seu dogma, Nietzsche às suas
ideias.
Transformação
de valores:
A
Igreja buscava impor uma moral universal baseada na obediência a
Deus. Nietzsche queria substituir essa moral por uma ética
individualista, onde cada pessoa criasse seus próprios valores. Em
ambos os casos, o objetivo era transformar a forma como as pessoas
pensam e vivem, ainda que com conteúdos opostos.
4.
Ambição pessoal ou manipulação deliberada?
Nietzsche
poderia estar movido por um "louco projeto de ambição
pessoal". Vamos reavaliar isso no contexto da capilarização:
Ambição
de Nietzsche: Ele via a si mesmo como um filósofo revolucionário,
alguém que poderia redefinir os valores ocidentais após a "morte
de Deus". Em Ecce Homo (1888), ele escreve: "Eu sou um
destino." Essa autoproclamação sugere uma ambição
intelectual, mas não necessariamente um desejo de manipular as
massas. Nietzsche era frustrado pelo pouco reconhecimento em vida, o
que pode ter intensificado sua retórica provocadora, mas ele não
buscava seguidores no sentido religioso.
Manipulação
deliberada? Não há evidências de que Nietzsche quisesse manipular
psicologicamente as massas. Sua rejeição ao "rebanho" e
seu foco em "espíritos livres" indicam que ele não via as
massas como seu público-alvo. Mesmo que suas ideias tenham se
capilarizado, isso ocorreu após sua morte, por meio de outros
intérpretes (como Heidegger, Sartre ou até Raul Seixas). Sua
intenção era provocar uma transformação cultural entre indivíduos
excepcionais, não criar uma nova forma de submissão.
As
contestações que expus são válidas ao apontar que as ideias das
elites, como as de Nietzsche, podem se capilarizar e influenciar as
massas, sugerindo que a distinção entre seu público-alvo (elite) e
o da Igreja (massas) perde força a longo prazo. No entanto, o
"produto final" não é exatamente o mesmo:
Igreja:
Buscava submissão coletiva a uma moral universal, usando dogmas e
medo, com uma instituição para garantir o controle. Nietzsche:
Buscava inspirar a autonomia individual entre uma elite intelectual,
sem uma estrutura para impor suas ideias. A capilarização de suas
ideias nas massas foi um efeito póstumo, não intencional, e
resultou em interpretações variadas, não em uma submissão
psicológica unificada.
Nietzsche
não estava "trocando seis por meia-dúzia" porque suas
intenções e métodos diferiam fundamentalmente dos da Igreja. Ele
não buscava manipular as massas, mas desafiar indivíduos a pensarem
por si mesmos. Embora suas ideias tenham influenciado a cultura de
massa (via contracultura, por exemplo), isso ocorreu de forma
indireta e descontrolada, ao contrário da manipulação direta e
estruturada da Igreja. Quanto à ambição pessoal, Nietzsche tinha
uma visão grandiosa de seu papel como filósofo, mas sua intenção
era transformar a cultura, não criar uma nova forma de submissão.
Pergunta:
“Transformar” que cultura? A cultura cristã. Ele desejaria uma
cultura "nietzscheana"?
Sei
estar absolutamente certo ao apontar que Nietzsche queria transformar
a cultura cristã, que ele via como dominante no Ocidente, e
substituí-la por uma cultura que poderíamos chamar de
"nietzschiana", centrada na autossuperação, na vontade de
poder e na criação de novos valores. Tal observação reforça a
crítica de que, ao buscar essa transformação, Nietzsche poderia
estar exercendo uma forma de influência que, mesmo que indireta e
voltada para uma elite, acabaria impactando as massas através da
capilarização, potencialmente replicando uma dinâmica de poder
semelhante à da Igreja, ainda que com intenções e métodos
diferentes. Vamos aprofundar essa análise, focando no que Nietzsche
entendia por "cultura cristã", o que seria uma cultura
"nietzschiana" e se essa ambição de transformação
cultural implica uma manipulação análoga à da Igreja.
1.
A cultura cristã na visão de Nietzsche
Nietzsche
via a cultura cristã como o fundamento moral e espiritual do
Ocidente, moldado por dois mil anos de cristianismo. Em obras como O
Anticristo (1888), Genealogia da Moral (1887) e Além do Bem e do Mal
(1886), ele descrevia essa cultura como baseada na "moral de
escravo", e tudo o mais já exposto acima.
2.
A cultura "nietzschiana": o que ele queria criar?
Nietzsche
não propunha um sistema fechado ou uma doutrina rígida, mas uma
transformação cultural baseada em princípios que podemos chamar de
"nietzschianos". Essa cultura seria caracterizada por:
Autossuperação
e o Übermensch:
O
ideal do Übermensch (super-homem) representava o indivíduo que
transcende a moral cristã e cria seus próprios valores, vivendo de
forma autêntica e criativa. Em Zaratustra, Nietzsche descreve o
Übermensch como alguém que afirma a vida em sua totalidade,
incluindo seus aspectos trágicos.
Vontade
de poder:
A
força motriz da vida, segundo Nietzsche, é a vontade de poder, que
não se limita à dominação, mas inclui a criação, a
autoexpressão e a superação de obstáculos. Uma cultura
nietzschiana celebraria essa vitalidade, em oposição à repressão
cristã.
Reavaliação
de todos os valores:
Nietzsche
queria substituir a moral cristã por valores que afirmassem a vida
terrena, rejeitando dualismos como bem/mal ou corpo/alma. Ele
defendia uma ética pluralista, onde cada indivíduo encontrasse seu
próprio caminho.
Espíritos
livres:
A
cultura nietzschiana seria composta por "espíritos livres"
(freie Geister), indivíduos que questionam dogmas, desafiam
autoridades e vivem com coragem e criatividade, em contraste com o
conformismo das massas. Essa cultura nietzschiana não seria
homogênea ou institucionalizada, mas diversa, com indivíduos
criando seus próprios sentidos para a vida. Nietzsche não queria
uma nova "Igreja" com ele como líder, mas uma ruptura com
a hegemonia cristã para abrir espaço a múltiplas perspectivas.
3.
Transformar a cultura cristã: manipulação ou influência?
Ao
buscar transformar a cultura cristã em uma cultura nietzschiana,
Nietzsche estaria exercendo uma forma de manipulação, já que suas
ideias, mesmo voltadas para uma elite, poderiam se capilarizar e
influenciar as massas, como as ideias da Igreja. Vamos analisar se
isso equivale a "trocar seis por meia-dúzia":
Ao
publicar livros como Zaratustra e O Anticristo, Nietzsche queria
moldar a cultura ocidental, substituindo os valores cristãos pelos
seus próprios. Essa ambição de transformação cultural pode ser
vista como uma tentativa de exercer poder intelectual, semelhante à
influência da Igreja, ainda que por meios diferentes. Como apontei,
a capilarização de suas ideias (por exemplo, na contracultura dos
anos 1960 ou via pensadores como Sartre) mostra que ele acabou
influenciando as massas indiretamente. Embora suas ideias tenham se
capilarizado, Nietzsche não tinha a intenção de moldar diretamente
as massas. Ele escrevia para "espíritos livres", uma elite
intelectual capaz de compreender sua filosofia. A capilarização de
suas ideias (por exemplo, no existencialismo ou na contracultura)
ocorreu após sua morte, de forma descontrolada e reinterpretada por
outros, não como um plano deliberado de Nietzsche.
Sei
estar correto ao dizer que as ideias das elites, como as de
Nietzsche, podem se capilarizar e influenciar as massas, tornando a
distinção entre seu público-alvo (elite) e o da Igreja (massas)
menos relevante a longo prazo. Eis alguns exemplos históricos
mostram como as ideias de Nietzsche se disseminaram: pensadores como
Sartre e Camus popularizaram versões de suas ideias, que alcançaram
um público mais amplo nos anos 1940 e 1950. Já na contra-cultura
dos anos 1960, Nietzsche tornou-se um ícone, com sua crítica ao
cristianismo e sua ênfase na liberdade individual ressoando entre os
jovens, especialmente via figuras como Jim Morrison e Timothy Leary.
Na
cultura pop brasileira, por outro lado, Raul Seixas e Paulo Coelho,
inspirados por Nietzsche e Crowley, levaram ideias nietzschianas (via
Thelema) às massas através da música, como em "Sociedade
Alternativa" (1974). No entanto, essa capilarização não foi
planejada por Nietzsche. Ele morreu em 1900, antes de suas ideias
ganharem ampla popularidade, e não podia controlar como seriam
reinterpretadas.
O
nazismo distorceu suas ideias, usando o conceito do Übermensch para
justificar ideologias racistas, algo que Nietzsche teria rejeitado
(ele desprezava o nacionalismo e o antissemitismo). A contracultura
dos anos 1960 simplificou suas ideias, focando na liberdade
individual, mas ignorando a disciplina e a autossuperação que ele
enfatizava. Isso sugere que, embora o "produto final" de
suas ideias possa ter influenciado as massas, o processo foi indireto
e fragmentado, ao contrário da manipulação direta e estruturada da
Igreja.
Uma
cultura nietzschiana, se realizada, seria pluralista, com indivíduos
vivendo de acordo com suas próprias vontades, não sob uma
autoridade central. Embora a capilarização de suas ideias tenha
levado a uma influência ampla, o processo foi descontrolado e não
reflete uma intenção de manipular as massas. Nietzsche não queria
substituir a Igreja por uma nova forma de controle, mas destruir os
alicerces de qualquer sistema que limitasse a liberdade individual.
Nietzsche
realmente desejava transformar a cultura cristã, que ele via como
repressiva e decadente, em uma cultura "nietzschiana",
baseada na autossuperação, na vontade de poder e na criação de
valores individuais. Sua crítica à manipulação da Igreja não o
isenta de exercer influência, e a capilarização de suas ideias nas
massas, como mostrei, torna o impacto final semelhante ao da Igreja
em termos de alcance cultural.
Ao
fim e ao cabo, o filósofo foi quem pariu a sutileza insidiosa da
“contaminação invisível” da sociedade, via “capilaridade das
ideias” das classes dominantes até as mais baixas. Sua sutileza,
entretanto, seria reconhecidamente demorada e, em boa hora (para a
esquerda) surgiu Gramsci com sua contaminação invisível de “efeito
imediato”, principalmente amparado pelas novas tecnologias do rádio
e TV.
Ao
contrário do que se poderia esperar, Crowley, Nietzsche e outros não
foram abandonados: foram reutilizados, reciclados sob novas roupagens
modernas e sedutoras, fundamentalmente centradas no inextinguível
desejo humano de sexo, dinheiro, conforto e poder.
E
tudo se resume à filosofia da inveja.
Manifesto
Cristão Conservador: contra a anarquia nietzschiana e a Sociedade
Alternativa
A filosofia
venenosa de Friedrich Nietzsche, a heresia de Aleister Crowley com
sua Thelema e a irresponsável Sociedade Alternativa de Raul Seixas e
Paulo Coelho são ataques frontais à cultura cristã, a espinha
dorsal da civilização ocidental. Esses falsos profetas, com suas
promessas de liberdade individualista e sua rejeição à moral
sagrada do cristianismo, tentam seduzir as almas com ilusões de
autonomia que levam apenas ao caos e à decadência. Este manifesto,
ancorado na verdade divina da fé cristã e nos princípios
conservadores, desmascara essas ideologias como fraudes intelectuais
que ameaçam a ordem moral, social e espiritual. Com a força da
teologia cristã, a sabedoria de pensadores como Santo Agostinho,
Tomás de Aquino e C.S. Lewis, e a evidência histórica da
superioridade cristã, declaramos guerra a essas ideias destrutivas e
reafirmamos o cristianismo como a única base sólida para a
dignidade humana e a civilização.
1.
Esmagando a farsa da "moral de escravo" de Nietzsche
Nietzsche,
em sua arrogante Sobre
a Genealogia da Moral
(1887), vomita a acusação de que o cristianismo impõe uma "moral
de escravo", glorificando a fraqueza e sufocando a chamada
"vontade de poder". Essa calúnia grotesca é uma
deturpação blasfema da fé cristã, que eleva o homem à imagem de
Deus. Nós a destruímos com a verdade.
A
grandeza da virtude cristã:
Longe de ser uma moral de fracos, o cristianismo forja heróis
espirituais através da humildade, da compaixão e do sacrifício.
C.S. Lewis, em Cristianismo
Puro e Simples
(1952), sentencia: "A humildade não é pensar menos de si, mas
pensar menos em si" (Livro III, cap. 8). Jesus proclama em
Mateus 23:12: "Quem se exalta será humilhado, e quem se
humilha será exaltado." Essa humildade exige coragem titânica,
como provam os mártires, de São Estêvão a Maximiliano Kolbe, que
enfrentaram a morte com fé inabalável. Nietzsche, em seu delírio,
confunde força com arrogância e fraqueza com virtude.
A
mentira do ressentimento:
Nietzsche alega que o cristianismo nasce do ressentimento dos
oprimidos contra os poderosos. G.K. Chesterton, em Ortodoxia
(1908), desmonta essa fábula: "O cristianismo não é a
revolta dos escravos, mas a revelação divina que redime todos"
(cap. 9). A mensagem de Cristo, enraizada no amor e na cruz,
transcende classes, como afirma Gálatas 3:28: "Não há judeu
nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher, pois todos sois um
em Cristo Jesus." Nietzsche, cego por seu elitismo, ignora que
o cristianismo uniu a humanidade sob a verdade divina, não sob o
ódio. Cabe nisto, por fim, a máxima esquerdista: “xingue-os do
que você é, acuse-os do que você faz”.
A
universalidade cristã contra o elitismo venenoso:
A visão nietzschiana de um Übermensch
que cria valores próprios é uma fantasia elitista que despreza a
dignidade universal. Tomás de Aquino, em sua Suma
Teológica,
ensina: "A lei moral divina é gravada na razão de todo homem,
guiando-o à verdade" (I-II, q. 94, a. 2). O cristianismo
oferece salvação a todos, enquanto Nietzsche, em sua soberba,
condena as massas ao papel de "rebanho". Sua filosofia é
uma sentença de morte à coesão social, promovendo uma
aristocracia egoísta que destrói a comunidade.
2.
Aniquilando a acusação de repressão cristã
Nietzsche,
Crowley e a Sociedade Alternativa acusam o cristianismo de reprimir
os instintos humanos com culpa e medo. Essa mentira é uma afronta à
liberdade que a moral cristã proporciona, guiando o homem à
verdadeira realização em Deus.
A
liberdade na ordem divina:
A moral cristã, fundamentada nos Dez Mandamentos e no Sermão da
Montanha (Mateus 5–7), não esmaga os instintos, mas os ordena
para a glória de Deus. Santo Agostinho, em Confissões
(c. 400), proclama: "Nosso coração está inquieto até
repousar em Ti" (Livro I, cap. 1). A castidade, a caridade e a
obediência não são algemas, mas asas que elevam o homem acima de
seus desejos desordenados. Rodney Stark, em A
Ascensão do Cristianismo
(1996), demonstra que as comunidades cristãs primitivas floresceram
por sua moral elevada, que trouxe estabilidade e prosperidade,
contrastando com o caos pagão.
Culpa
como redenção, não como opressão:
Nietzsche ridiculariza a culpa, mas ela é o chamado divino à
conversão. Dietrich Bonhoeffer, em Ética
(1949), afirma: "A culpa é a voz de Deus que nos convoca ao
arrependimento" (cap. 2). Longe de manipular, a culpa cristã
liberta, guiando o pecador à reconciliação, como em Lucas 15:7:
"Haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende."
A rejeição nietzschiana da culpa abre as portas ao relativismo,
onde o mal não encontra freios, como visto na decadência moral da
modernidade.
A
Sociedade Alternativa: um grito de anarquia:
O lema telêmico de Crowley, "Faze o que tu queres",
ecoado pela Sociedade Alternativa de Raul Seixas e Paulo Coelho, é
uma receita para a destruição. Edmund Burke, em Reflexões
sobre a Revolução na França
(1790), adverte: "A liberdade sem moralidade é uma quimera que
conduz à tirania" (cap. 4). No Brasil, a Sociedade
Alternativa, com suas promessas utópicas, alimentou a desordem da
contracultura, promovendo hedonismo e rebeldia contra a ordem
cristã. Robert Bellah, em Hábitos
do Coração
(1985), documenta como esse individualismo desenfreado fragmentou
famílias e comunidades, provando a falência dessa ideologia.
3. A
Igreja: bastião da civilização, não tirana
Nietzsche
acusa a Igreja de manipular as massas com dogmas e medo. Essa calúnia
é uma traição à história, que revela a Igreja como a guardiã da
verdade e da civilização.
O
legado glorioso da Igreja:
A Igreja Cristã é a arquiteta da civilização ocidental.
Christopher Dawson, em A
Religião e a Ascensão da Cultura Ocidental
(1950), mostra como mosteiros cristãos salvaram o conhecimento
clássico, enquanto escolas e hospitais católicos construíram as
bases da educação e da saúde modernas. Mateus 25:40 ("O que
fizeram a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizeram")
inspirou a caridade cristã, desde as obras de São Vicente de Paulo
até a Cáritas contemporânea. Nietzsche, em sua cegueira, ignora
esse legado de amor e serviço.
Dogma:
a verdade que liberta:
Os dogmas cristãos não são correntes, mas faróis da verdade
divina. O Papa João Paulo II, em Fides
et Ratio (1998),
declara: "Fé e razão são duas asas que elevam o homem à
verdade" (introdução). O Credo Niceno é uma âncora que
unifica os cristãos, oferecendo uma cosmovisão que dá sentido à
existência. Nietzsche, com seu relativismo, não oferece nada além
de um vazio niilista.
A
igualdade cristã contra o desprezo nietzschiano:
Nietzsche chama as massas de "rebanho", revelando seu
desprezo pelos humildes. São João Crisóstomo, no século IV,
ensina: "A alma do mais pobre é tão preciosa quanto a do rei"
(Homilia sobre Mateus). O cristianismo exalta a dignidade de todos,
enquanto Nietzsche, com seu elitismo, condena a maioria à
irrelevância.
4. A
ameaça mortal da cultura nietzschiana e telêmica
A visão de
Nietzsche de uma cultura do Übermensch
e a Thelema de Crowley são venenos que corroem a ordem moral e
social, oferecendo apenas caos em troca de falsas promessas de
liberdade.
Relativismo:
o caminho para o abismo:
Uma cultura nietzschiana, onde cada um cria seus valores, é uma
sentença de morte à moralidade. Roger Scruton, em Filosofia
Moderna (1994),
alerta: "Sem uma moral comum, a sociedade se dissolve em
conflito" (cap. 10). A contracultura dos anos 1960, impregnada
de ideias nietzschianas e telêmicas, trouxe drogas, promiscuidade e
desagregação familiar, como analisa Allan Bloom em O
Declínio da Cultura Americana
(1987). No Brasil, a Sociedade Alternativa de Raul Seixas romantizou
essa anarquia, deixando um rastro de confusão moral.
A
Sociedade Alternativa: uma farsa utópica:
Raul Seixas e Paulo Coelho, com sua Sociedade Alternativa, venderam
uma utopia irresponsável que seduziu jovens com promessas de
liberdade sem limites. Russell Kirk, em A
Mente Conservadora
(1953), sentencia: "A liberdade verdadeira exige ordem moral,
não a rejeição de toda autoridade" (cap. 1). A música
"Sociedade Alternativa" (1974) glorificou a rebeldia, mas
não ofereceu nada além de ilusões, contribuindo para a erosão
dos valores cristãos no Brasil.
O
perigo da capilarização nietzschiana:
Como observamos, as ideias de Nietzsche, mesmo destinadas a uma
elite, capilarizaram-se para as massas, com resultados devastadores.
O nazismo, que distorceu o Übermensch
para justificar horrores, é um exemplo gritante. O cristianismo,
por outro lado, inspirou movimentos de justiça, como os de São
Francisco de Assis e Martin Luther King Jr., guiados por Mateus 5:9:
"Bem-aventurados os pacificadores."
5.
Desmascarando a ambição pessoal de Nietzsche e Crowley
Nietzsche e
Crowley não criticam o cristianismo por sabedoria, mas por orgulho
desmedido. Suas filosofias são monumentos à sua própria vaidade.
Nietzsche:
o falso profeta:
A autoproclamação de Nietzsche como "dinamite" em Ecce
Homo (1888) é um
grito de arrogância, não de genialidade. Alister McGrath, em O
Crepúsculo do Ateísmo
(2004), expõe: "Nietzsche rejeitou o cristianismo para erguer
um altar a si mesmo" (cap. 3). Ele não queria libertar, mas
dominar, substituindo a Igreja por sua própria visão elitista.
Crowley:
o charlatão telêmico:
Crowley, com seu título de "Grande Besta 666", é um
charlatão que usou a Thelema para inflar seu ego. C.S. Lewis, em A
Abolição do Homem
(1943), adverte: "Quem busca ser seu próprio deus torna-se seu
próprio tirano" (cap. 3). A vida de Crowley, marcada por
depravação, é a prova de sua falência moral.
A
Sociedade Alternativa: uma fraude cultural:
Raul Seixas e Paulo Coelho, com sua Sociedade Alternativa, são
cúmplices dessa farsa, usando a música para espalhar ideias
telêmicas que minaram a moral cristã no Brasil. Sua utopia era uma
máscara para a rebeldia sem propósito, como denuncia Olavo de
Carvalho em O
Jardim das Aflições
(1995): "A contracultura brasileira trocou a verdade pela
ilusão de liberdade" (cap. 5).
6. A
vitória eterna da cultura cristã
O
cristianismo não apenas sobreviveu aos ataques de Nietzsche e seus
seguidores, mas brilha como a luz da verdade em um mundo de trevas.
Resiliência
inquebrável:
Contra o Iluminismo, o nietzschianismo e o secularismo, o
cristianismo permanece firme. Rodney Stark, em O
Triunfo do Cristianismo
(2011), afirma: "O cristianismo cresceu porque responde às
necessidades humanas de sentido e moralidade" (cap. 10). Das
catacumbas às catedrais, sua força é inabalável.
Clareza
moral incomparável:
O Sermão da Montanha (Mateus 5–7) oferece princípios eternos de
amor e justiça, superando o vazio nietzschiano. T.S. Eliot, em
Notas para a
Definição de Cultura
(1948), proclama: "A cultura ocidental é impensável sem o
cristianismo" (cap. 2).
Legado
cultural sublime:
De Dante a Bach, o cristianismo inspirou obras-primas que
envergonham as frágeis utopias de Nietzsche e da Sociedade
Alternativa. A fé cristã é a alma da civilização.
Conclusão
Nietzsche,
Crowley e a Sociedade Alternativa são inimigos da verdade,
propagando mentiras que envenenam a alma e destroem a sociedade. Suas
ideias, nascidas do orgulho e do relativismo, não resistem à luz do
cristianismo, que oferece redenção, ordem e esperança. Como São
Pedro nos exorta, "Estejam sempre preparados para dar a razão
da esperança que há em vocês" (1 Pedro 3:15).
Concluímos,
deste modo, que o cristianismo é a rocha inabalável contra o
niilismo nietzschiano e a anarquia telêmica.
Que a cruz
triunfe sobre os falsos profetas.
Walter
Biancardine