domingo, 31 de março de 2024

REFLEXÕES DE UM DOMINGO DE PÁSCOA -

 


A Páscoa possui um significado particularmente marcante para mim, pois nesta data batizei-me tardiamente, puxado pelas orelhas por Santa Therezinha de Lisieux.

Mais que limpar-se de uma vida de erros, o batismo – tal qual o domingo pascal de hoje – representou um real renascimento para mim. Mal compreendido por uns, gerador de expectativas frustradas para outros, esta ressurreição pessoal custou-me um preço exorbitante, doloroso, mas vejo por fim ser impossível arrepender-me.

Vivendo este dia, cujo significado pessoal reputo possuir algo além do usual, achei-me particularmente disposto a escrever, produzir artigos e exercer o simples desejo de contribuir para que outras pessoas compartilhem pontos de vista e observações que considero importantes. Se para mim funcionou, talvez funcione e ajude outros igualmente.

Os mesmos seguem abaixo.


A POBREZA TEM SOLUÇÃO?

Um problema insolúvel não é um problema, é uma contingência.

O "problema social", "problema da pobreza", tudo isso é histórico e contingente à condição humana.

Políticos, filósofos, intelectuais e mesmo setores da igreja que conclamam "soluções", ou dizem possuí-las, para tais questões - apresentadas como "problemas" - não são nada além de fraudes, aproveitadores carreiristas ou singelos proclamadores de sua própria ignorância.

Quando não há solução, sempre restará a misericórdia.


SEM TÍTULO -

Neste domingo de Páscoa lembro que, ao menos por três dias, Nietzsche esteve certo: "Deus está morto", escreveu.

Até o mais miserável dos pecadores merece a misericórdia.

Agnus Dei, quis tollit pecatus mundi, miserere nobis.

Kirie Eleison


SEM TÍTULO II -

É fácil compreender o mundo e solucionar todos os problemas quando somos progressistas.

A causa é a burrice apoteótica do marxismo, que a tudo simplifica, dividindo conflitos em "nós" e "eles" e tornando tudo palatável, com "figurinhas para colorir".

Apenas a mais reles semântica.

O esquerdismo é burro.


A Palavra de Deus - A Revelação:

As Escrituras e a tradição da Igreja, ensinando ao longo dos séculos o que não está registrado nas Escrituras, compõem a Palavra de Deus, ou seja, a soma das Escrituras e da tradição é a Palavra de Deus.

O Magistério da Igreja Católica é o intérprete legítimo disto, e este é o tripé da Igreja e da fé cristã.

Ora, a teologia se extrai a partir deste Magistério mas, por razões outras, iniciou-se um movimento para se obtê-la a partir de outras óticas. E estas outras óticas podem ser as mais diversas e absurdas possíveis, tais como vê-las sob o ponto de vista dos pobres (teologia da libertação), dos gays, dos gordos, dos sem-terra e por aí em diante; tudo que fomente uma reflexão que quebre com a tradição será válido.

Um exemplo claro de tal pensamento - que fizeram de padres meros "coaches" motivacionais ou militantes ideológicos - é a "Campanha da Fraternidade 2024", elaborada por um sindicato de padres militantes chamado CNBB.

Quem se der ao trabalho de ler tal publicação, incansavelmente anual, verá que mais parece uma cartilha do PSOL, em suas exposições.

Hoje, é público e notório que a CNBB é o marxismo dentro da Igreja e que é dever, obrigação do verdadeiro católico, denunciar, combater e demonstrar publicamente seu repúdio à estes elementos - travestidos de sacerdotes - para sanear a Igreja.

O próprio Santo Tomás de Aquino já conclamava os fiéis a este bom combate, dizendo que "toda reação, se destinada a restabelecer a verdade, não só é correta como necessária.

Quem realmente possui algum estofo intelectual saberá que somente salvando a Igreja Católica, salvaremos o Brasil.


MISSA NÃO É FESTA -

Aplauso em uma missa, não importam as razões, é estupidez qualificada.

A missa é o ato de reviver o sacrifício de Jesus. Ora, e quem - fariseus à parte - aplaudiria o Cristo crucificado?

Não à toa as missas tradicionais (missas tridentinas, recomendo) tem, como única música, um soturno e transcendente órgão - nada de violões, baterias ou palmas.

Lembro tudo isso para manifestar minha estranheza, ao ver o padre de minha cidade conclamar os fiéis a aplaudirem o Cristo ressuscitado.

Pouco importa sua boa intenção: o estimado sacerdote esqueceu-se do caráter sacrificial desta liturgia, cedendo - na melhor hipótese - à postura de "coach motivacional".

Recomendo aos que me leem buscar, no Google, as igrejas de rito tridentino em seus estados.

É rezada em latim, segue a liturgia pré Concílio Vaticano II e o sacerdote está de costas para os fiéis, nunca para o altar de Deus.

Entendam: não se trata de condenar iniciativas como a Renovação Carismática, este é um outro assunto e merece artigo à parte. O que intenciono é vacinar o irmão católico, mostrando como é a liturgia tradicional, e imunizá-lo contra as inovações ce-ene-be-bistas (CNBB) que contaminam muitas paróquias em nosso país.

Irmão católico, salve sua igreja e você salvará o Brasil.


SOBRE COMO UM PRÉ-CONCEITO PODE ATROFIAR O PENSAMENTO -

Jamais escondi minha admiração e dilecção pelo filósofo francês Jacques Maritain.

Pensador profundíssimo, fui por ele cativado tal qual um leitor deixa-se seduzir pela capa de um livro, e a publicação que me chamava atenção era sua orientação tomista, pois Santo Tomás de Aquino – creio que todos sabem – é um dos objetos perenes de meus estudos. E este foi o pontapé inicial, para que eu mergulhasse em suas obras e pensamentos.

Portador de orientação católica, as obras deste filósofo influenciaram o conceito europeu de Democracia cristã – um conceito amplamente discutível mas que eu, em minha inocência intelectual de simples jovem dos anos 80, nada via de mal – pelo contrário.

Maritain escreveu mais de sessenta obras e é considerado por alguns como um dos pilares da renovação do pensamento tomista no século XX – o que não consigo concordar plenamente – e por outros, como inspirador ideológico das democracias cristãs na América Latina. Talvez nisto resida a explicação para a difusão de muitas obras suas, em um Brasil particularmente avesso à filosofia e cultura.

Segundo sua biografia, o filósofo nasceu em Paris em 1882, num ambiente familiar republicano e antiliberal, e morreu em Toulouse, 1973. Seus pais, Paul Maritain e Geneviève Favre, não o quiseram batizar – uma estranha coincidência com vicissitudes de minha própria vida, que tive de batizar-me de motu proprio.

Maritain estudou Filosofia na Sorbonne, onde prevalecia uma orientação positivista e ateia, pouquissimamente recomendável para a formação intelectual de qualquer pensador. Em Heidelberg conhece o poeta Charles Péguy e Raissa Oumansoff, uma imigrante judia cheia de intensa inquietude pela verdade, com a qual contrai matrimônio civil em 1904 em Berlim.

Maritain não encontrou no cientificismo da Sorbonne, onde estudou, as respostas para as suas inquietudes existenciais, o que o fez sintonizar-se com a aflição existencial de Raissa. Ambos decidem se suicidar – um comportamento explicitamente existencialista – mas, seguindo o conselho do seu comum amigo Peguy, o casal segue cursos com Henri Bergson, e apreendem dele o "sentido do absoluto", que será incorporado na peculiar metafísica "maritainiana". Trajetória estranha e arrítmica, que ora decide dar cabo de suas próprias vidas e, logo após, embrenham-se em cursos e aprendizados filosóficos.

Mas tarde conhece Leon Bloy, que o aproxima da Igreja Católica a ponto de converter o casal ao catolicismo e se tornar seu padrinho de batismo.

Acontecimentos posteriores levaram-no a se tornar um ácido crítico ao partido Democrata Cristão – quase uma obra sua – preferindo a criação de um movimento democrata-cristão que transcendesse os três partidos católicos franceses, local que adotara para viver. Seu pensamento teve profunda repercussão na América Latina, onde o "maritanismo" foi importante para as democracias-cristãs, mãe parideira de teatralidades políticas tais como Fernando Henrique Cardoso, PSDB e outras tristes lembranças – ainda ativas, contudo – na cena política brasileira.

Entre os autores influenciados por suas ideias estão Gabriela Mistral, Victoria Ocampo, Esther de Cárceres, Alceu Amoroso Lima, Gustavo Corção e Mário de Andrade – e esta breve lista nos fornece mais uma explicação para a difusão de seu pensamento em nossas terras.

O pensamento de Maritain provém de espírito positivista da Sorbonne e isso, entretanto, não me impediu de admirar a profundidade intelectual deste filósofo. O fato é que, após seu encontro com a filosofia de Bergson, na França, ele recupera suas esperanças na metafísica e a constrói, em seu modo sui generis.

Graças a sua esposa – paradoxalmente uma judia – e a Charles Peguy, conhece a Leon Bloy e se converte ao cristianismo, como já disse. Mas, neste contexto, conhece um dominicano (Padre Clérissac) que o aproxima da obra de Santo Tomás e, posteriormente, de Aristóteles.

Vivendo na França, cercado de todos os venenos filosóficos que o século XX fartamente produziu e de alguns de seus autores, encontrou naquele ambiente várias heresias: o modernismo, a teologia liberal, o personalismo e o pensamento social entre outros, além da alarmante iminência da eclosão da Segunda Grande Guerra. O período entre as guerras – Primeira e Segunda – é muito carregado de questionamentos da realidade e de procura existencial mas, tendo enfim se aprofundado na filosofia, estaria destinado a influenciar a ideologia da democracia-cristã.

O propósito deste artigo é mostrar, para aqueles que me seguem, que é possível divergir sem abominar e que existem alguns poucos autores, dos quais é sempre possível extrair contribuições e acréscimos, na construção de nosso intelecto, sem que venhamos a adotar seu pensamento na integralidade.

Em um momento excessivamente dualista como o que vivemos, onde a realidade é apresentada como binária – bem contra o mal – será pouco provável algum progresso intelectual, adotando-se esta postura. E não se trata de dar voz ou palco à "perniciosidades" já amplamente divulgadas mas, sim, utilizá-las discretamente em nosso favor, em nossas proposições dialéticas particulares e que podem – por quê não? - parirem teses filosóficas sadias.

Caso perguntem se recomendo a leitura de Jacques Maritain, responderei tal qual um comercial de bebidas: aprecie com moderação.



Walter Biancardine




2 comentários:

Camila disse...

Gosto muito, não apenas do conteúdo, mas também da maneira como você escreve seua textos. Parabéns

Revista Opinião disse...

Muito obrigado, Camila.
Espero que siga esta página, bem como no Facebook.
Será uma grande alegria para mim.
O link para o Facebook é meu nome,
Walter Biancardine.
Obrigado!