terça-feira, 10 de junho de 2025

A SOLITUDE PROVIDENCIAL


Talvez alguns dos leitores já tenham percebido, ou sofrido em suas próprias peles, que quanto mais tempo um homem passa solteiro mais ele se torna forte, estratégico e livre. E não, não é solidão. É lapidação, construção silenciosa de um império interno.

Os mesmos leitores talvez tenham reparado também que existe um tipo de silêncio que não é vazio, mas uma expressão surda e, paradoxalmente, inescapável de poder. Pois digo que quanto mais um homem vive sozinho, mais ele se distancia da necessidade e se aproxima da maestria. Ele começa a enxergar que a solitude não é ausência de amor. É a presença de si mesmo. 

E é nesse espaço silencioso, longe das pressões sociais, longe da necessidade de aprovação, que ele aprende a ser o próprio porto seguro. A solteirice consciente é uma forja, onde o homem molda sua mente, afia sua disciplina e constrói uma vida que não depende de ninguém para ter sentido. 

Não é fuga, mas preparação. É ele se tornando dono do próprio destino sem ruídos, sem distrações, sem pressa.

A verdade é que quando o homem aprende a viver bem consigo mesmo, ele se torna um perigo para qualquer sistema que lucra com a carência pois um homem livre, que não precisa de ninguém para ser feliz, é um homem que ninguém controla. Ele escolhe com quem anda, o que consome, e o que constrói. E quando, e se, decidir se relacionar, será por abundância, nunca por carência. Será por escolha, e não por desespero. 

O tempo da solteirice consciente é o momento mais fértil da vida de um homem. É onde ele planta, onde ele cresce e onde, finalmente, entende que ser homem não é correr atrás de amor. É correr atrás de si mesmo.

Ser solteiro não é estar incompleto, mas estar inteiro o suficiente para se sustentar sozinho. Enquanto muitos enxergam como um período de carência, o homem consciente transforma em um período de construção.

Tem gente que acha que estar solteiro é estar perdido. Que é sinal de fracasso, de vazio. De alguém que não deu certo no amor.

Mas, na verdade, muitos homens hoje em dia escolheram a solitude não por desistência do amor, mas por entenderem que. antes de amar alguém, ele precisava aprender a ficar inteiro. Não é orgulho, nem isolamento: é maturidade. É aquele cara que acorda num sábado de manhã, faz seu café, senta em silêncio, olha pra dentro e percebe estar bem, seguro, sereno e confiante. Não depende de ninguém para ter um dia bom.

E nessa jornada, ele vai percebendo coisas que antes não via. Vai notando que quando ele está só, o tempo é dele. Os pensamentos são dele. O ritmo do dia é dele. Não tem que negociar a própria rotina. Não tem que disfarçar o que sente. Não tem que andar pisando em ovos. Ele pode mergulhar fundo em si mesmo, se reinventar, testar ideias, mudar de rota, recomeçar. E o mais curioso, quando um homem começa a gostar da própria companhia, tudo muda.

Ele come melhor, dorme melhor, pensa melhor. Não é porque estar solteiro ou solitário. Ele só aprendeu a se bastar. E isso não tem preço. Porque enquanto muitos estão tentando preencher um vazio com outra pessoa, ele está preenchendo com propósito. 

É claro que existem dias difíceis.

Existem certamente os dias em que bate o silêncio pesado, em que a cama parece grande demais. Mas até nesses momentos existe ouro escondido, porque é ali, na ausência do outro, que ele escuta com mais clareza a própria voz.

E nessa voz, vem respostas. Vem direção. Vem visão de futuro.

Ele só não se vende barato. Ele aprende a se valorizar. E por isso quando, e se, for amar de novo, vai fazer isso sem se apagar, sem se anular, sem se perder de si mesmo.

Ser solteiro não é estar pela metade. É estar tão inteiro que não precisa se desesperar pra ser aceito. E isso assusta.

Porque o sistema tá acostumado com homens dependentes, carentes, que fazem de tudo pra ter alguém. Mesmo que isso custe a liberdade, os sonhos e até o respeito próprio. Mas o homem que entendeu o valor de estar só, não tem mais pressa.

Ninguém vai lembrar de suas metas. Ninguém vai puxá-lo pelo braço quando a mente estiver pesada. Ele levanta porque precisa. Ele aprende a cozinhar porque cansou de viver de delivery. Aprende a limpar a própria casa porque entendeu que o ambiente onde ele vive molda o jeito que ele pensa. Aprende a olhar a fatura do cartão e pensar duas vezes antes de comprar por impulso.

Tudo isso em silêncio. Sem aplausos. Sem elogio. Sem ninguém dizendo “parabéns meu amigo”. Porque ele já entendeu: ou ele toma as rédeas, ou a vida passa por cima.

E é nessa rotina aparentemente simples, nesses pequenos hábitos, que ele constrói uma casca. Não de frieza, mas de autonomia. E quanto mais ele se cuida, mais ele se conhece.

Vai percebendo que certos gatilhos vêm sempre nos mesmos horários, nas mesmas situações. Começa a entender quando precisa de um descanso, quando está sabotando o próprio ritmo, quando está se traindo. Ele percebe quando está tentando fugir da dor com distração e quando realmente precisa relaxar. E isso só vem com o tempo consigo mesmo. Não é em dois meses de solteiro. Não é entre um romance e outro.

É no silêncio prolongado, quando não tem ninguém ao lado dizendo o que é certo ou errado, que ele aprende a confiar no próprio julgamento. Ele aprende que intuição não é mágica. É a experiência emocional acumulada que só se ativa quando ele presta atenção de verdade em si mesmo.

Essa liberdade, aos poucos, se transforma numa espécie de blindagem. Não porque ele se trancou emocionalmente, mas porque ele não depende mais de aplausos para seguir firme. O cara que se conhece de verdade não precisa mais provar nada.

Quando o homem para de gastar energia tentando consertar o que não depende só dele, algo por dentro começa a clarear. O tempo que antes era consumido em discussões, em justificativas, em expectativas frustradas, agora fica livre. E é nesse espaço livre que ele começa a se ver de fora, com mais calma. E essa liberdade emocional é o terreno fértil onde a independência financeira começa a florescer. Ele para de gastar para impressionar. Para de consumir como anestesia, começando a usar o dinheiro como ferramenta, não como distração. Cada tostão que sobra no fim do mês passa a ter um destino. Investimento, reserva, construção.

E isso não nasce de um curso milagroso. Nasce do silêncio, da clareza e da responsabilidade de saber que ninguém vai fazer por ele. 

Com o tempo, ele vai ganhando confiança. Aprende a dizer não sem culpa, porque entendeu que um sim mal dado custa muito caro. Vai se blindando de gastos emocionais, de relações que drenam, de hábitos que empobrecem. E quanto mais consciente fica do que realmente importa, mais ele começa a ganhar.

Não é só dinheiro. É poder de decisão. É visão estratégica.

Esse homem entende que amor é escolha, não necessidade. E enquanto ele não encontra alguém que caminhe na mesma frequência, ele segue. Não por orgulho, mas por maturidade. Ele não quer alguém para completar. Quer alguém para transbordar junto – e que tal observação fique como lembrete aos que eventualmente pensem estar este autor a defender o celibato e abominar a procriação e formação de famílias.

Pois o amor sem pressa é amor com critério, deixando de se enganar com carências disfarçadas de amor. Ele não entra em qualquer conexão só porque está carente ou quer companhia para passar o tempo. Ele aprendeu que o preço de se relacionar sem estar pronto é alto demais. Custa foco, custa paz, custa progresso. E agora que se reergueu com as próprias mãos, ele protege o que construiu. 

Ele sabe que um relacionamento saudável pode ser uma benção – que fique bem claro. Mas também sabe que um relacionamento mal escolhido pode atrasar a vida por anos. Por isso, ele espera.

E essa espera não é fraqueza, não é amargura. É sabedoria de quem entendeu que o tempo certo é mais importante do que o medo da solidão. Ele quer alguém que some, não que sugue. Alguém que caminhe ao lado, sem tentar mudar a direção. Ele quer profundidade, não distração. Presença, não cobrança. Ele não está à procura de perfeição, mas de verdade. Alguém que aceite a liberdade dele sem se sentir ameaçada. Alguém que entenda que o silêncio dele não é desinteresse, é paz. Que o espaço dele não é distância, é cuidado. E que amor não precisa ser um caos para ser intenso. Pode ser leve, pode ser consciente, pode ser construído devagar. Com respeito, com maturidade, com intenção. 

Esse homem sabe que relacionamento não é prêmio, nem fuga, é parceria. Ele não está esperando alguém para carregar, nem alguém para se escorar nele. 

Homem, se você está solteiro hoje, entenda, isso não é um castigo. É um convite para crescer, para dominar a si mesmo, para construir a versão mais potente de quem você nasceu para ser. Use esse tempo como um rei, usa o silêncio do castelo, planejando o próximo grande passo. 

Existe um poder bruto escondido. Nesse período em que ninguém o está chamando para a cama, ninguém cobra presença, ninguém ocupa seus pensamentos com jogos emocionais, esse silêncio é fértil. É nele que o seu foco começa a apontar para dentro.

É quando você se enxerga, de verdade, e percebe que já carrega tudo o que precisa para se levantar. Sem plateia, sem apoio, sem palmas. Só você, sua mente e o tempo. 

Esse é o solo onde a verdadeira grandeza brota. 


Walter Biancardine



sexta-feira, 6 de junho de 2025

TODOS DORMIRAM -

 


A pauta da anistia, que considero algo burro por não se perdoar inocentes, foi aparentemente esquecida.

A pauta do voto impresso desapareceu por completo, nas névoas da conveniência; e as tímidas proposições de impeachment contra o ditador Alexandre de Moraes, essas, foram cuidadosamente afogadas nas águas do medo e do rabo preso.

Que diabos, então, fazem hoje os políticos conservadores e "didireita" em Brasília?

Nada. A palavra de ordem é "deixa quieto", enquanto locupletam-se com nosso dinheiro e desfrutam dos privilégios da nata do crime organizado, no Brasil: o crime legalizado, legitimado pelo voto dos algoritmos.

Esse é o país que você vive, festejando as vitórias do Vasco ou sacolejando o derriére com um "proibidão".


Walter Biancardine



HOMENS SEM PROPÓSITOS SÃO MACACOS DEPRIMIDOS


Final de semana chegando, para uns é hora do churrasco e pagode enquanto, para outros, apresenta um bom momento para breves introspecções, aquele “balancete da vida” que periodicamente fazemos.

Sejam os aparentemente alienados frequentadores de churrasco ou os supostamente eruditos introspectivos, a verdade é que ambos escondem a agonia da falta de rumo, de objetivos, de propósito – a insuportável sensação de ser uma fraude, um fracasso, alguém que jamais chegará a alcançar os resultados (a maioria deles materiais) sonhados e gasta seu tempo sufocando a angústia em pequenos surtos de exibicionismo nas redes sociais.

Pois justamente nestes momentos depressores sempre bom é recorrer às muletas dos agonizantes que são os filósofos Kierkegaard, Nietzsche e Camus. O problema é que a grande maioria de leitores pode ceder às facilidades simplistas e valerem-se, na interpretação dos conceitos que exponho, de uma ótica destrutivamente niilista, enquanto outros, quase cínicos, exibirão satisfação íntima de burramente acharem-se “certos”.

Tais desvios à parte, vejamos:

"Toda escolha é a escolha errada" (Soren Kierkegaard)

"Não é a dor que mata. É o vazio" (Nietzsche)

Começo com a dupla acima para constatar que todos perseguem o sucesso, mas perambulam vazios de sentido.

A falta de um verdadeiro propósito na vida encalha o ser humano que, na maioria das vezes, se dá conta disso apenas na velhice – ou em crises de ansiedade e depressão, se for jovem.

Ainda amparado por Nietzsche, vale seu ensinamento: "Aquele que tem um porquê, suporta qualquer como".

O problema é que nem sempre – ou raramente – temos um porquê. E aí entra o outro filósofo citado, Albert Camus: "Temos de viver como se tivéssemos um propósito, ainda que seja de nossa própria invenção", pois a vida não tem manual de instruções nem nenhuma garantia que dará certo, ainda mais em um país como o Brasil, onde tudo conspira para que ninguém vença na vida – mas sobre isso falarei em outro artigo.

Sim, amigo leitor: como vimos, o sistema te quebra e ainda diz que a culpa é sua.

Esteja você entupindo-se de churrasco e cerveja Glacial ou recolhido à biblioteca de sua casa, aproveite para pensar. Um ideal, um propósito, em tese teria mais poder em nos tirar da cama que a necessidade de pagar o aluguel.

Tais palavras são belas, mas a realidade é que hoje persigo trabalho, não ideais. E não, não se trata de “paralaxe cognitiva” do professor Olavo de Carvalho, mas do fato de somente organismos vivos, mantidos assim pelo alimento e teto, poderem parar e conceber tais ideais.

Primeiro sobreviva. Depois, jamais deixe de acreditar e buscar o que deseja para si mesmo.

Ou terminará seus dias no churrascão com Glacial gelada.

Bom final de semana!


Walter Biancardine


quinta-feira, 5 de junho de 2025

OBITUÁRIO DE UM PAÍS CHAMADO BRASIL

 


No dia 4 de junho de 2025, data do massacre da Praça da Paz Celestial na China, o Brasil morreu mais uma vez – desta feita com transmissão ao vivo e direito a tapinhas nas costas entre os coveiros togados e do Congresso omisso e apavorado. Em votação praticamente decidida de antemão, será aprovado o novo pacote de censura digital, uma emenda velada e venenosa ao Marco Civil da Internet, que agora servirá não mais à proteção das liberdades civis, mas à consagração de um regime de vigilância e silenciamento sem precedentes.

A esquerda esfrega as mãos, os isentões baixam os olhos, e o Supremo Tribunal Federal – com Alexandre de Moraes à frente – confirma seu papel de verdadeira Junta Militar do século XXI: só que sem farda, sem quartel, e com uma verve stalinista que faria inveja ao DOPS.

No mesmo país em que um humorista é condenado por contar piadas, o funkeiro MC Pose do Rodo – apologista do crime, reincidente, profundamente envolvido no tráfico de drogas e símbolo ambulante da degradação moral – é libertado e celebrado como mártir cultural. A mensagem é clara: piada com minorias, cadeia; incitação à bandidagem, palmas. Ria de um gordo, português, gay ou papagaio e será crucificado. Cante sobre matar policiais e será premiado com likes e liberação judicial.

A coisa toda ganhou contornos definitivos esta semana, com a liberação (tardia) das gravações do interrogatório conduzido por Alexandre de Moraes. Ali, o Brasil pôde assistir a um ministro da Suprema Corte ameaçar diretamente dois cidadãos – Aldo Rebelo, ex-ministro de Estado, e Jair Bolsonaro, ex-presidente da República – com prisão imediata, caso não se dobrassem à humilhação inquisitorial da hora. Sem advogado, sem respeito, sem decoro. A toga virou porrete. A caneta, punhal.

O STF já não se dá mais ao trabalho de fingir. Não julga – impõe. Não interpreta – reescreve. Não aplica – fabrica. E o Legislativo? Cúmplice, com bolsos cheios e calças sujas. O Executivo? Sócio oculto. As instituições não funcionam. Ou melhor, funcionam sim, mas contra o povo.

O AI-5 DIGITAL: A CENSURA LEGALIZADA

Sob o pretexto de combater "fake news", o Estado passará a decidir o que é verdade, o que pode ser dito, o que pode ser pensado. A liberdade de expressão, cláusula pétrea da Constituição, será reduzida a pó. As big techs, antes defensoras da liberdade digital, agora se curvam ao arbítrio togado. O Twitter, rebatizado de X, foi multado em R$ 28,6 milhões por descumprir ordens de censura. O Telegram foi bloqueado por não deletar conteúdos que desagradam ao STF. O influenciador Monark teve suas redes sociais apagadas por determinação de Alexandre de Moraes, que também ordenou a remoção de postagens de parlamentares eleitos pelo povo, e hoje a internet brasileira, tal como a conhecemos, será calada.

A verdade, entretanto, é como a água que desce das montanhas: não se detém e termina por encontrar o melhor caminho até o mar. O que será feito dos poucos (e bons) canais conservadores do YouTube? Sim, serão calados, mas existe uma perigosa brecha, situada em um nível muito mais delicado de se calar, que é a TV de sinal aberto – eles censurarão um canal de TV?

É o que podemos apostar que não o farão. A TVD News, único canal abertamente conservador do país e única emissora de TV com sinal aberto (via parabólica, canal 581), já repete programas importantes como a Rádio Auriverde, TimeLine (o sucessor do Terça Livre, com Allan dos Santos e Lacombe) e Revista Oeste – e este certamente será o escoadouro de outros mais influenciadores, importantes e conservadores, que poderão migrar em massa para a TV aberta.

Terá o STF o despudor de censurar um canal de TV? Exporá ao mundo, de maneira tão explícita, a ditadura brasileira?

É o que veremos.

TUDO DEPENDE DE QUE LADO VOCÊ ESTÁ

Relembremos: o funkeiro MC Pose do Rodo, um apologista da marginalidade, da vulgaridade e da dissolução moral, foi solto. Saiu comemorando sua liberdade com sorrisinhos diante das câmeras e aclamação popular – sim, a turba furiosa o aplaudiu – liberdade esta que não se estende, curiosamente, a quem usa palavras para provocar o riso ou o pensamento. Léo Lins, humorista, foi condenado a oito anos de prisão por contar piadas. Sim, piadas, e pouco importa de que lado ele esteja, pois a lição que fica é que o escorpião acaba por picar quem o salva da enchente – “está em minha natureza”, diz ele, segundo a fábula.

Pior ainda são as gravações liberadas, que registram Alexandre de Moraes em ação durante os interrogatórios de Jair Bolsonaro e Aldo Rebelo. A postura ditatorial é escancarada: ameaças de prisão, desrespeito processual, abuso de autoridade. Um espetáculo grotesco que nem os militares de 1964 ousaram encenar com tamanha desfaçatez.

Por outro lado, acaba de ser decretada por – sempre ele – Alexandre de Moraes, a prisão da deputada Carla Zambelli, que em boa hora saiu do país. O abuso é flagrante, pouco importando se você gosta dela, de Leo Lins ou de qualquer outro: a serpente chegará até você.

O VEREDITO FINAL

O Brasil morreu. Foi assassinado por aqueles que deveriam protegê-lo. O STF, que deveria ser o guardião da Constituição, tornou-se seu algoz. A liberdade, a justiça e a democracia foram enterradas junto com Clezão, um dos mártires da ditadura togada. Resta-nos apenas a memória do que poderíamos ter sido.

Tudo isso, é claro, é apenas mais um capítulo da nossa interminável agonia institucional. Desde que derrubaram Dom Pedro II – o último estadista legítimo que tivemos – o que se seguiu foram regimes de fachada, democracias de papelão, e tiranias episódicas disfarçadas de progresso. A tal “Nova República”, parida sob o signo do Foro de São Paulo e amamentada por ONGs globalistas, foi apenas a mais recente prostituta institucional vestida de dama da liberdade.

E que ninguém espere das “gloriosas” Forças Armadas qualquer tipo de salvação. Quando a temperatura subir e o povo finalmente perceber que está trancado numa jaula com ar-condicionado desligado, as tropas não sairão às ruas para garantir seus direitos. Sairão – como sempre fizeram desde 1889 – para obedecer à ordem do poder de turno. Desta vez, a ordem virá de cima, direto do STF: conter os subversivos. Prender os “golpistas”. Acabar o serviço.

Aqui jaz o Brasil. Uma nação rica em solo, pobre em espírito, e há muito tempo órfã de sua identidade. Que nos reste ao menos a coragem de lembrar: liberdade não se pede, exige-se.

E tirania não se denuncia apenas — enfrenta-se.



Walter Biancardine



quarta-feira, 4 de junho de 2025

A SETE PALMOS ABAIXO DO CHÃO NÃO HÁ SINAL WI FI -

 


O artigo 19 do Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014) estabelece que as redes sociais e plataformas digitais só podem ser responsabilizadas por danos causados por conteúdo ilícito publicado por usuários se não removerem o conteúdo após uma ordem judicial específica.

A pretensão do ditador Alexandre de Moraes é adiantar o expediente, obrigando as plataformas a um processo de auto-censura e vigilância prévia de todo o conteúdo postado – coisa que já acontece, basta ver meus 28 vídeos excluídos e a desmonetização definitiva de meu canal no YouTube, feita sem nenhuma ordem judicial que assim determinasse – e as tornando solidárias, em responsabilidade, ao usuário infrator.

Tal realidade se daria de maneira independente de ordens judiciais e provocaria dois verdadeiros tsunamis: escritórios das plataformas ensandecidos e assoberbados de trabalho, sem condições de qualquer avaliação justa de conteúdo, bem como a corrida desenfreada ao Judiciário brasileiro, provocada pelos ofendidos em busca de reparação.

Não saberão, as iluminadas Excrescências, de todo o transtorno provocado? Isso para não comentarmos a clara imposição de uma espécie de “censura terceirizada para a iniciativa privada”?

É óbvio que sabem, pois de inocentes nada possuem. A manobra é deliberada e visa um ponto além da curva, tão além e absurdo que sequer foi ainda ventilado por canais como a Revista Oeste, Rádio Auriverde, Revista Time Line e outros. O que desejam é, realmente, provocar as queixas e apelos das partes envolvidas – big techs e queixosos – em decorrência das demoras, gastos e transtornos oriundos dos processos judiciais. E qual seria a solução?

A solução é a “galinha dos ovos de ouro” no coração pútrido dos togados: o sistema Judiciário brasileiro “assumiria” tais pesadas tarefas – docemente constrangidos – e se tornariam, finalmente, o Departamento Supremo de Censura Federal, comandado – é óbvio – pelo descapilarizado Imoraes. Este é o ponto onde querem chegar.

Lei Magnitski? Sanções dos EUA? Sequer uma única ruga provocam, pois o ladrão descondenado Lula está na França – precedido pela senhora Primeira-Galinha, Canja da Silva, a adular o socialistíssimo Macron – sim, aquele que levou a bofetada do traveco.

União Europeia? Igualmente pouco importam, pois Alemanha, Países Baixos e a própria Inglaterra – hoje um califado muçulmano – estarão ao seu lado. Do mesmo modo que Rússia, China, países (leia-se “ditaduras”) árabes, Coréia do Norte e até, quem sabe, o indecifrável Japão.

Por sua extensão territorial, posição geográfica estratégica, reservas minerais raras e capacidade de ser a horta sino-soviética, contando ainda com o infindável dinheiro do narcotráfico – sabe aquele garoto nóia, filho de sua prima? Pois é, ele é um dos que sustentam isso – a ditadura do consórcio Lulo-Moraesliano, amplamente amparada pelo Centrão, Farialimers, Michel Temer, José Sarney e outros, nada tem a temer (sem trocadilho, por favor).

Enquanto Luís Carlos Prestes e Leonel Brizola, lá debaixo no fundo dos infernos, olham e se deliciam com isso, José Dirceu sorri satisfeito ao perceber que sua inteligência limitada superou o cérebro simiesco de 230 milhões de brasileiros, incluindo entre eles parlamentares, militares e povo de modo geral.

Hoje inicia-se oficialmente a ditadura no Brasil, e estamos de parabéns.

Afinal, há uns bons 60 anos pedimos, imploramos por isso.



Walter Biancardine



terça-feira, 3 de junho de 2025

AMANHÃ COMEÇA A CENSURA: MUITO MAIS VAIDADE QUE MEDO -


Amanhã será decretada oficialmente - porque na prática já existe há muitos anos - a censura total sobre as redes sociais e meios de comunicação, no Brasil.

Bom lembrar que as bocas caladas são apenas um dos itens que compõem o rol das medidas já previstas para retirar o país da área de influência do ocidente (leia-se Estados Unidos, Trump) e entregá-lo, de bandeja, aos braços e apetites insaciáveis de China, Rússia e exércitos terroristas do Oriente Médio, que já possuem gratificante relacionamento com as facções criminosas do narcotráfico sulamericano.

Tal rede de relacionamento do Soviete Supremo candango mostra, de modo claro, que os efeitos da lei Magnitski sobre eles não significa problema insolúvel: claro, será um grande incômodo, mas nada que os cofres russos ou chineses - ou mesmo o dinheirinho escondido nos postos de gasolina, redes de farmácia e atacadões do narco-tráfico não possa amenizar.

Os narco-ditadores da Suprema Corte, entretanto e verdadeiramente, não tem nenhuma preocupação com as reações do principal interessado (e prejudicado) nesta história, que é o povo brasileiro. A censura não estará oficializada amanhã por exclusivos temores de reações, revoltas ou sublevações dos chimpanzildos verde-amarelos, pois a cada feriado prolongado as estradas lotam; a cada final do brasileirão tudo é esquecido e mesmo cada paredão do Big Brother joga os destinos do Brasil para segundo plano, nas preocupações de 210 milhões de alienados.

Basta sair às ruas e verificar que o brasileiro médio continua como sempre, um bipolar que oscila entre o "sou-só-sorrisos-malemolência-tropical" e o eterno chororô vitimista, que pede bujões de gás em troca do voto em algum vigarista parlamentar.

Ninguém se mexe, ninguém se revolta, ninguém reage - e assim permaneceremos, é fato inconteste.

Deste modo, a pesada censura oficial que sobre nós se abaterá amanhã não significa nada para nós - pois as bundas não serão proibidas e pouco nos importamos quanto ao resto - e para a Corte Togada, de maneira nenhuma reflete medo: trata-se, tão somente, de vaidade.

Sim, uma vaidade plena, que realmente se incomoda que, entre 210 milhões de súditos, uns 3 ou 4 digam desaforos (é só o que podem fazer) contra eles. E esta é a única e real motivação.

A ditadura não está nada preocupada conosco, não entramos nem como tópico de discussão.

E se o leitor duvida, poderá tirar a prova no vindouro feriado de Corpus Christi, dia 19.

As estradas estarão cheias - assim como minha paciencia.


Walter Biancardine



terça-feira, 27 de maio de 2025

CONTROLE SOCIAL, SOCIEDADE ALTERNATIVA E PODER: NIETZSCHE CRIOU UM MONSTRO?

 


A Thelema, de Aleister Crowley, com sua ênfase na vontade individual, autodescoberta e rejeição de dogmas tradicionais, tem raízes em várias correntes filosóficas e espirituais. Uma das principais influências é o filósofo Friedrich Nietzsche, cuja ideia do "super-homem" (Übermensch) e a ênfase na vontade de poder ressoam com o princípio thelêmico de "Faz o que tu queres será o todo da Lei", mas outros filósofos e pensadores podem ser também considerados precursores ou influências indiretas. Abaixo exemplifico alguns deles:

François Rabelais (1494–1553)

O escritor e humanista renascentista francês é uma influência direta, já que Crowley extraiu o termo "Thelema" da obra “Gargantua e Pantagruel”, onde Rabelais descreve a fictícia Abadia de Thélème, um lugar onde as pessoas vivem de acordo com sua vontade, livres de restrições externas. A máxima "Faz o que quiseres" de Rabelais é um precursor claro do princípio central da Thelema.

Arthur Schopenhauer (1788–1860)

A filosofia de Schopenhauer, centrada na ideia de que a vontade é a força motriz fundamental do universo, pode ser vista como uma influência indireta. Embora Schopenhauer tenha uma visão mais pessimista, sua ênfase na vontade como essência da existência ecoa no foco de Crowley na vontade individual como força criativa e espiritual.

Ralph Waldo Emerson (1803–1882)

O transcendentalismo de Emerson, com sua ênfase na autoconfiança, intuição individual e conexão com o divino interior, compartilha paralelos com a Thelema. A ideia de seguir a própria "verdadeira vontade" ressoa com os conceitos de Emerson sobre a autenticidade e a rejeição de conformismos sociais.

Max Stirner (1806–1856)

O individualismo radical de Stirner, expresso em “O Único e Sua Propriedade” (tenho apenas em PDF), é uma influência significativa. Sua rejeição de autoridades externas, incluindo Estado, religião e moralidade convencional, e sua defesa do “egoísmo consciente” como base para a liberdade individual, alinham-se com a visão de Crowley sobre a soberania da vontade pessoal.

Eliphas Lévi (1810–1875)

Não o conhecia? Nem eu, fui apresentado ao mesmo pela internet. Embora mais ocultista do que filósofo no sentido clássico, Lévi, com sua síntese de magia, cabala e esoterismo ocidental, parece ter influenciado profundamente Crowley. Suas ideias sobre a vontade mágica e a unificação de opostos (como no conceito de Baphomet), pelo que aduzi, moldaram o sistema thelêmico, especialmente em sua dimensão esotérica.

William Blake (1757–1827)

O poeta e místico inglês, com sua visão antinomiana, rejeição de instituições religiosas opressivas e celebração da imaginação e da liberdade individual pode ser visto como um, digamos, precursor espiritual. A ênfase de Blake na divindade interior e na criatividade ecoa os ideais thelêmicos.

Heráclito (c. 535–475 a.C.)

Embora mais distante historicamente, o filósofo pré-socrático, com sua visão de um universo em fluxo constante e a ideia de que o conflito e a tensão são fundamentais à existência, pode ser considerado uma influência indireta. A noção de harmonia através de opostos ressoa com o conceito thelêmico de equilíbrio entre forças como amor e vontade.

Giordano Bruno (1548–1600)

O conhecido filósofo renascentista, com sua visão panteísta de um universo infinito e sua ênfase na liberdade intelectual contra dogmas religiosos, compartilha afinidades com a Thelema. Sua ideia de que o divino está presente em tudo e que o indivíduo pode acessar essa divindade através da mente e da vontade influenciou o esoterismo ocidental que Crowley absorveu.

Embora esses pensadores não tenham conexão direta com a Thelema, suas ideias sobre liberdade individual, vontade, rejeição de autoridades externas e a aparente busca por um sentido mais profundo da existência contribuíram para o caldo filosófico e espiritual que Crowley sintetizou. Além disso, a Thelema também incorpora elementos de tradições espirituais não ocidentais, como o hinduísmo e o budismo, mas os nomes acima representam as influências filosóficas mais relevantes no contexto ocidental e mais facilmente acessíveis ao leitor.

Uma questão conveniente:

Nietzsche e todos os filósofos citados timbraram em ignorar a baixa – ou nula – capacidade de discernimento do homem comum, tornando algo como o "Faze o que tu queres, há de ser tudo dentro da lei" um princípio perigoso, possivelmente dando origem a uma anomia social e institucional que presenciamos nos dias atuais. A Thelema (e a Sociedade Alternativa no Brasil) foram o recheio intelectual da cultura hippie que, hoje sabemos, foi utilizada pelos serviços de inteligência de outros países para minar a religião cristã (seus valores e princípios), os governos (a ordem vigente) e as forças da lei (pois eram contrárias a eles). Tal afirmação está correta? Analisemos, pois:

Nietzsche, os filósofos citados e a "baixa capacidade de discernimento do homem comum"

Nietzsche, assim como pensadores como Stirner, Rabelais ou Emerson, de fato enfatizou a autonomia individual e a rejeição de dogmas estabelecidos, muitas vezes dirigindo suas ideias a uma elite intelectual ou a indivíduos capazes de transcender as normas convencionais. Nietzsche, por exemplo, via o "super-homem" (Übermensch) como uma figura excepcional, não como um ideal acessível à massa, que ele frequentemente criticava como "rebanho". Essa perspectiva pode ser interpretada como uma negligência da capacidade de discernimento do "homem comum", já que esses filósofos pressupunham que a verdadeira liberdade ou vontade autêntica exigiria um nível elevado de autorreflexão e disciplina.

No entanto, a ideia de que esses pensadores "ignoraram" completamente o homem comum é discutível – ao menos, assim é considerada pelas mentalidades “uspianas” (USP). Tais mentes alegam que Rabelais, por exemplo, teria escrito com um tom satírico e acessível, visando criticar a sociedade de sua época de forma que pudesse ressoar com um público mais amplo. Stirner, por sua vez, defenderia um individualismo radical que, teoricamente, qualquer pessoa poderia adotar, embora exigisse um rompimento com estruturas sociais. Assim, embora suas ideias possam ser desafiadoras para o "homem comum", elas não necessariamente o excluem, mas exigem um esforço de autocompreensão que nem todos estariam dispostos ou preparados a fazer.

"Faze o que tu queres" como princípio perigoso e anomia social

Alegam os acadêmicos do sistema que a máxima thelêmica "Faze o que tu queres, há de ser o todo da Lei" (complementada por "Amor é a lei, amor sob vontade") é frequentemente mal interpretada como uma apologia ao hedonismo ou à anarquia desenfreada. Crowley, no entanto, enfatizava que a "verdadeira vontade" (True Will) não é um desejo impulsivo, mas uma expressão profunda da essência individual, alinhada com o propósito cósmico de cada pessoa. Em Liber AL vel Legis (O Livro da Lei), ele sugere que seguir a verdadeira vontade requer disciplina, autoconhecimento e harmonia com o universo, não simplesmente "fazer o que der na telha".

Uma vez que tais escusas sejam aceitas, admitiremos que a interpretação superficial dessa máxima pode levar a mal-entendidos, especialmente em contextos onde o discernimento ou a educação filosófica são limitados. Não teria havido uma deliberada má intenção nisto?

A ideia de liberdade absoluta, sem um entendimento claro de suas implicações éticas, pode contribuir para comportamentos individualistas que desafiam normas sociais ou institucionais. No entanto, alegam eles, culpar diretamente a Thelema por uma "anomia social e institucional" generalizada é uma simplificação. A anomia, conforme descrita por Émile Durkheim, surge mais de rupturas nas estruturas sociais e econômicas (como desigualdades, crises ou perda de valores coletivos – resta saber provocados pelo quê) do que de uma filosofia esotérica como a Thelema, que tem um alcance relativamente limitado. A Thelema nunca foi um movimento de massa, mas sim uma doutrina de nicho, adotada por pequenos grupos de intelectuais, artistas e ocultistas – e sobre isso concordo, deixando para comentar sobre a capilaridade das ideias das elites por sobre a massa mais para a frente.


Thelema, Sociedade Alternativa e a cultura hippie no Brasil

A Sociedade Alternativa, idealizada por Raul Seixas e Paulo Coelho nos anos 1970, foi fortemente inspirada pela Thelema, particularmente pelo Liber Oz de Crowley, que proclama os direitos individuais à liberdade. A música "Sociedade Alternativa" (1974) reflete diretamente a máxima "Faze o que tu queres" e a visão de uma nova era (o "Novo Aeon" de Crowley). No Brasil, essa ideia ressoou com a contracultura da época, que compartilhava com o movimento hippie global uma rejeição às estruturas tradicionais, incluindo o governo militar (1964–1985), a moral cristã conservadora e o capitalismo dito “consumista”.

Embora a Sociedade Alternativa tenha se alinhado com o espírito libertário da cultura hippie, é importante notar que o movimento hippie no Brasil foi mais amplo e heterogêneo, influenciado por diversas correntes, como o tropicalismo, o rock psicodélico e ideais de liberdade vindos dos EUA e da Europa. A Thelema, por meio da Sociedade Alternativa, foi apenas uma das muitas influências culturais, e sua penetração foi limitada, concentrando-se em círculos artísticos e esotéricos, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, mas foi realmente a âncora filosófica de todo o processo gramsciano de degradação moral que se seguiu.

Os empolados acadêmicos do sistema insistem em alegar que a afirmação de que a Thelema ou a Sociedade Alternativa teriam sido o "recheio intelectual" da cultura hippie no Brasil seja parcialmente correta, por “exagerar” sua centralidade. Afirmam ter sido a cultura hippie brasileira mais marcada por influências musicais (como os Beatles, Rolling Stones e o tropicalismo), pelo uso de drogas psicodélicas e pela resistência à “ditadura” do que por uma adesão profunda à filosofia thelêmica – o que, de cara, já expõe a contradição do argumento, ou não haveria a tal “resistência” ao braço da lei vigente. Raul Seixas, por exemplo, popularizou ideias thelêmicas de forma acessível, mas suas canções muitas vezes misturavam esoterismo com crítica social, sem exigir um compromisso filosófico profundo de seus ouvintes, além da submissão aos feitiços gramscianos.


Suposta manipulação por serviços de inteligência

A alegação de que a cultura hippie, incluindo a Thelema e a Sociedade Alternativa, foi utilizada por serviços de inteligência estrangeiros para "minar a religião cristã, os governos e as forças da lei" é uma teoria que circula em certos círculos, mas carece de evidências sólidas e verificáveis, segundo essas mesmas cabeças coroadas. Dizem ser essa narrativa frequentemente baseada em especulações sobre o papel da CIA ou de outras agências na promoção da contracultura dos anos 1960 e 1970, como parte de operações como o MKUltra ou esforços para desestabilizar movimentos de esquerda em diversos países.

Ainda segundo eles, no contexto brasileiro, a ditadura militar veria com desconfiança qualquer movimento contracultural, incluindo o hippie e a Sociedade Alternativa – e que se dane Golbery e sua tese da “panela de pressão”. Raul Seixas e Paulo Coelho teriam enfrentado a repressão do regime, com Coelho alegadamente sendo preso e torturado em 1974, sob acusação de atividades subversivas, possivelmente relacionadas à Sociedade Alternativa. Para piorar, tais uspianos concluem que isso sugeriria que, longe de serem instrumentos de serviços estrangeiros, tais movimentos eram percebidos como “ameaças” pelo governo brasileiro – ou seja, o fato de ser instrumento de governos estrangeiros não seria motivo para tornarem-se “ameaças”.

A ideia de que a cultura hippie foi orquestrada para minar o cristianismo ou a ordem estabelecida ignora a natureza orgânica e descentralizada do movimento

Embora Crowley, com sua crítica aos valores cristãos tradicionais e sua autoproclamação como a "Besta 666", tenha desafiado abertamente a moral religiosa, seus defensores dizem que a Thelema não tinha o alcance ou a organização para representar uma ameaça sistêmica. Além disso, a cultura hippie global teria sido mais um reflexo de tensões sociais (como a Guerra do Vietnã, os movimentos pelos direitos civis e a revolução sexual) do que um projeto coordenado por serviços de inteligência. Alegações nesse sentido geralmente seriam baseadas em teorias conspiratórias, como as que ligam a CIA à promoção de LSD, mas as evidências disponíveis, cuidadosamente escolhidas por eles (como documentos desclassificados do MKUltra), mostram que tais experimentos tinham objetivos mais específicos, como controle mental, e não uma agenda ampla de subversão cultural. E sobre tais mixórdias argumentativas não há, realmente, o que se dizer além de mandá-los à coisa mais imunda.

Thelema e a religião cristã

Crowley, criado em um ambiente cristão fundamentalista (os Irmãos de Plymouth), rejeitou abertamente o cristianismo, considerando-o limitante e dogmático. A Thelema propõe uma visão espiritual que substitui a submissão à vontade divina cristã pela busca da "verdadeira vontade" individual, o que pode ser visto como uma crítica direta aos valores cristãos tradicionais. No entanto, seus seguidores alegam que Crowley não negava completamente a espiritualidade; ele reinterpretava elementos cristãos, como a ideia de amor, sob a ótica thelêmica ("Amor é a lei, amor sob vontade"), mesmo e apesar do fato da Besta 666 afirmar que a era de Jesus (a Era de Peixes) estava terminando e que ele seria o “substituto de Cristo” na Era de Aquário.

No Brasil, a Sociedade Alternativa de Raul Seixas e Paulo Coelho não atacava diretamente o cristianismo, mas promovia uma visão de liberdade individual que contrastava com a moral conservadora da Igreja Católica, predominante na época. Isso pode ter sido percebido como uma ameaça por setores religiosos, mas não há evidências de que a Thelema ou a Sociedade Alternativa tenham tido um impacto significativo na erosão dos valores cristãos no Brasil. Tal trabalho foi feito de forma muito mais eficiente por Leonardo Boff e sua “Teologia da Libertação”, que não continha em si o germe do “escândalo jovem” da contra-cultura.


Tal afirmação estaria então correta?

A atual academia julgaria que meu pensamento contém elementos que podem ser parcialmente corroborados, mas, em sua totalidade, exagera e simplifica as conexões entre a Thelema, a Sociedade Alternativa e os fenômenos sociais mencionados. Seriam eles:

  • Sobre a "baixa capacidade de discernimento": Os filósofos citados, incluindo Nietzsche, de fato pressupunham um certo nível de autorreflexão para suas ideias, mas não as tornaram exclusivas de uma elite. A Thelema, em particular, exige disciplina e autoconhecimento, o que limita sua interpretação como um convite à anarquia desenfreada.

  • Sobre a anomia social: A Thelema e a Sociedade Alternativa não têm o alcance ou a influência para causar anomia social generalizada. A desordem social contemporânea é mais atribuível a fatores como desigualdade, polarização política e crises institucionais do que a filosofias esotéricas.

  • Sobre a cultura hippie: A Sociedade Alternativa foi uma expressão da contracultura brasileira, inspirada pela Thelema, mas não o "recheio intelectual" do movimento hippie, que era mais amplo e diversificado.

  • Sobre manipulação por serviços de inteligência: Não há evidências concretas de que a Thelema ou a Sociedade Alternativa tenham sido instrumentos de agências estrangeiras para minar o cristianismo, governos ou forças da lei. Tais alegações se baseiam mais em teorias conspiratórias do que em fatos documentados.

  • Sobre minar o cristianismo: A Thelema desafia valores cristãos tradicionais, mas sua influência no Brasil foi limitada a círculos restritos, sem impacto significativo na estrutura religiosa do país.

Em resumo, minhas afirmações conteriam alguns pontos válidos, como a crítica à potencial má interpretação da máxima thelêmica e sua ressonância com a contracultura, mas exagera o papel da Thelema e da Sociedade Alternativa como forças desestabilizadoras e carece de evidências para sustentar a ideia de manipulação por serviços de inteligência. A Thelema permanece, para eles, como uma filosofia esotérica de impacto cultural limitado, mais associada à expressão artística (como as obras de Raul Seixas) do que a uma revolução social ou política.

A boa intenção dos condenados ao inferno

Pois que minha afirmativa seja, realmente, exagerada. O ponto onde quero chegar não é "o que resultou tudo isso", mas "quais foram as intenções de seus promotores". Em termos de objetivos, perseguidos e alcançados, tudo o que expus acima possuiria maior base? Analisemos isso também:

Minha pergunta foca nas intenções dos promotores da Thelema (Aleister Crowley), da Sociedade Alternativa (Raul Seixas e Paulo Coelho) e, por extensão, da cultura hippie, em vez dos resultados concretos dessas ideias. Vamos analisar se minhas afirmativas – que sugerem que esses movimentos tinham a intenção de minar a religião cristã, os governos e as forças da lei, possivelmente como parte de uma agenda orquestrada – possuem maior base quando consideramos os objetivos declarados ou implícitos desses promotores.

Intenções de Aleister Crowley e da Thelema

Aleister Crowley (1875–1947), o criador da Thelema, tinha objetivos claros expressos em seus escritos, particularmente em O Livro da Lei (Liber AL vel Legis, 1904) e outros textos, como Liber Oz. Suas intenções podem ser resumidas assim:

  • Subversão do cristianismo tradicional: Crowley, criado em um ambiente cristão fundamentalista (os Irmãos de Plymouth), rejeitava abertamente o que via como dogmatismo e repressão da moral cristã. Ele se autoproclamava a "Besta 666" e via a Thelema como a fundação de um "Novo Aeon" (a Era de Hórus), que substituiria as estruturas religiosas tradicionais, especialmente o cristianismo, por uma espiritualidade centrada na vontade individual e na autodescoberta. Seu objetivo era, de fato, desafiar os valores cristãos, que ele considerava limitantes, promovendo uma visão onde o indivíduo encontra o divino dentro de si (“Deus está morto”), sem intermediários institucionais. Isso alinha-se com minha afirmativa de que a Thelema buscava minar a religião cristã, através de uma crítica filosófica e espiritual.

  • Rejeição de autoridades externas: A máxima "Faze o que tu queres, há de ser o todo da Lei" enfatiza a soberania da "verdadeira vontade" individual sobre qualquer autoridade externa, seja ela religiosa, política ou social. Crowley não era anarquista no sentido político, mas sua filosofia promovia a ideia de que as instituições (incluindo governos e forças da lei) só têm legitimidade se alinhadas com a vontade individual autêntica. Ele não buscava diretamente a destruição de governos ou leis, mas sim uma transformação cultural onde o indivíduo seria o centro da existência, o que poderia ser interpretado como um desafio à ordem estabelecida.

  • Transformação cultural, não anomia: Crowley acreditava que a Thelema inauguraria uma nova era de liberdade espiritual e intelectual, mas ele também enfatizava disciplina e autoconhecimento. Sua intenção não era criar anomia social (caos ou ausência de normas), mas sim substituir normas opressivas por um sistema ético baseado na vontade individual. Ele via isso como uma evolução, não como destruição, embora acessível somente a elites do pensamento.

  • Conexão com serviços de inteligência: Há especulações sobre o envolvimento de Crowley com serviços de inteligência britânicos durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, especialmente por sua presença em círculos influentes e suas atividades nos EUA e na Alemanha. No entanto, não encontrei evidências sólidas de que a Thelema tenha sido criada ou promovida como um instrumento deliberado de agências de inteligência para desestabilizar sociedades neste período. Essas alegações, frequentemente baseadas em sua correspondência com figuras como o ocultista Gerald Gardner ou em sua reputação controversa, permanecem especulativas e carecem de documentação confiável. Já seu uso posterior, é uma outra questão – vide Vietnã.

Avaliação: Em um julgamento digno da inocência deliberada dos uspianos, as intenções de Crowley apoiariam parcialmente minhas afirmativas, no sentido de que ele buscava desafiar o cristianismo e as normas sociais tradicionais. No entanto, jamais admitiriam haver alguma base para afirmar que ele pretendia criar anomia social ou que agia como agente de serviços de inteligência com uma agenda de subversão global. Sua visão era mais esotérica e individualista do que conspiratória – o que, dado o período histórico que viveu, não é de todo falso.

Intenções de Raul Seixas, Paulo Coelho e da Sociedade Alternativa

A Sociedade Alternativa, concebida por Raul Seixas e Paulo Coelho nos anos 1970, foi uma tentativa de popularizar ideias thelêmicas no Brasil, adaptadas ao contexto cultural e político da ditadura militar. Suas intenções podem ser inferidas de suas letras, entrevistas e escritos da época:

  • Crítica à repressão e à moral conservadora: Raul Seixas, em músicas como "Sociedade Alternativa" e "Gitá", expressava um desejo de liberdade individual frente à “repressão da ditadura militar” e aos – importante observar – valores conservadores da sociedade brasileira, incluindo a influência da Igreja Católica. A Sociedade Alternativa, inspirada no Liber Oz de Crowley, proclamava direitos individuais, como a liberdade de expressão e de crença. Essa crítica ao status quo, incluindo a moral cristã e o autoritarismo, alinha-se diretamente com minha afirmativa de que havia uma intenção de desafiar a religião cristã e o governo, aliada à perfídia gramsciana que começava a prosperar no país.

  • Construção de uma nova visão social: Raul e Paulo Coelho não visavam apenas destruir instituições, mas propor uma alternativa utópica, onde os indivíduos pudessem viver de acordo com sua "vontade verdadeira". A Sociedade Alternativa era apresentada como uma comunidade ideal, embora mais simbólica do que prática. Eles não pregavam anarquia no sentido de caos, mas uma reestruturação da sociedade baseada na liberdade individual, o que poderia ser visto como um desafio à ordem vigente e um grotesco arremedo à Escola de Frankfurt – “Tudo destruir, para que desse nada surja algo novo e melhor”.

  • Contexto da ditadura militar: Durante o regime militar (1964–1985), qualquer crítica ao governo ou à moral tradicional era vista como subversiva. Raul e Paulo Coelho supostamente enfrentaram a repressão – Paulo Coelho teria sido preso e torturado em 1974, acusado de atividades subversivas relacionadas à Sociedade Alternativa. Isso sugere que suas intenções eram mais de resistência política do que de verdadeira fé no ocultismo pregado. Alega o sistema atual que não há evidências de Raul ou Paulo Coelho terem conexões com serviços de inteligência estrangeiros ou que sua intenção fosse servir a interesses externos, mas nisto se resume toda a cândida pintura “Naïf” com que a esquerda mostra sua existência no Brasil.

  • Influência da cultura hippie: A Sociedade Alternativa absorveu elementos da contracultura hippie, como a valorização da liberdade, do misticismo e da experimentação, mas Raul e Paulo Coelho eram mais estruturados em sua visão, inspirando-se diretamente na Thelema. Suas intenções teriam sido supostamente mais artísticas e filosóficas do que políticas, buscando inspirar uma transformação cultural por meio da música e da escrita. Julgamentos são desnecessários.

Intenções da cultura hippie (contexto global e brasileiro)

A cultura hippie, surgida nos anos 1960 nos EUA e espalhada pelo mundo, incluindo o Brasil, era heterogênea, abrangendo desde pacifistas até ativistas políticos e espiritualistas. Suas intenções gerais podem ser resumidas assim:

  • Rejeição de normas tradicionais: Os hippies criticavam o consumismo, a guerra (especialmente a do Vietnã), a moral cristã tradicional e as estruturas de poder. No Brasil, isso se manifestava na resistência à ditadura militar e à rigidez social. Essa crítica pode ser vista como alinhada com a intenção de "minar" valores cristãos e a ordem estabelecida.

  • Busca por liberdade e espiritualidade alternativa: Os hippies promoviam valores como amor livre, experimentação psicodélica e espiritualidades não ocidentais (como hinduísmo e budismo). No Brasil, isso se misturava com influências locais, como o tropicalismo e o esoterismo. A intenção era criar uma cultura alternativa, não necessariamente destruir instituições, mas transformá-las – em especial, a Igreja Católica.

  • Conexão com serviços de inteligência: A teoria de que a cultura hippie foi orquestrada por serviços de inteligência (como a KGB) para desestabilizar sociedades é recorrente e parcialmente demonstrada pelo filósofo Olavo de Carvalho. Existem provas, fornecidas por espiões russos, mostrando que a KGB experimentou com LSD e outros psicodélicos, bem como introduziu o esquema empresarial no tráfico de drogas sulamericano. A disseminação da cultura hippie foi um fenômeno ideológico, impulsionado por circunstâncias sociais (como a Guerra do Vietnã e os movimentos pelos direitos civis) e dono de uma agenda coordenada.


A grosso modo, podemos afirmar sem medo que todo o movimento hippie e a contra-cultura foram a expressão romantizada, cinematografada e musicada da ideologia esquerdista, mirando no fim da religião católica – por seu inegável peso moral – da família (amor livre e comunidades hippies), da livre iniciativa (promoção do artesanato e das plantações caseiras) e na máxima “somos todos iguais”. Coroando tal proposição alienante, reinava o “faça amor, não faça a guerra”.

Mergulhando na causa primária: Nietzsche

Qual será a razão para tantos filósofos (como Nietzsche, por exemplo) combaterem e até odiarem a religião cristã. Sentiam-se reprimidos em seus desejos ocultos? Sentiam-se preteridos em seus delírios de poder e importância social?

A crítica e até o aparente "ódio" de filósofos como Nietzsche ao cristianismo é um tema fascinante que reflete questões profundas sobre cultura, moralidade, poder e psicologia humana. O foco são as motivações filosóficas, culturais e psicológicas. Também abordarei a hipótese de repressão de desejos ocultos ou delírios de poder, analisando se essas interpretações se sustentam.

Razões para a crítica ao cristianismo

Os filósofos que criticaram o cristianismo, como Nietzsche, Schopenhauer, Blake, e até mesmo Crowley (como figura esotérica influenciada pela filosofia), tinham motivações variadas, mas algumas razões centrais aparecem recorrentemente.

Rejeição à moralidade cristã como repressiva – Nietzsche:

Em O Anticristo (1888) e Assim Falou Zaratustra (1883–1885), Nietzsche argumentava que o cristianismo promovia uma "moral de escravo", que valorizava a humildade, a submissão e a negação da vida em favor de um ideal transcendente (o céu, Deus). Ele via essa moral como uma repressão dos instintos vitais, da criatividade e da vontade de poder, que ele considerava essenciais à existência humana. Para Nietzsche, o cristianismo glorificava a fraqueza e demonizava a força, a ambição e a autoafirmação, criando uma cultura de ressentimento entre os "fracos" contra os "fortes".

Outros pensadores:

Schopenhauer, embora menos agressivo, criticava o cristianismo por sua visão otimista de um mundo criado por um Deus benevolente, que ele via como incompatível com o sofrimento inerente à existência. William Blake, por sua vez, rejeitava o cristianismo institucional por sua rigidez e hipocrisia, propondo uma espiritualidade mais criativa e individualista. Crowley, no contexto da Thelema, via o cristianismo como um obstáculo à liberdade individual e à descoberta da Vontade Verdadeira, criticando sua moralidade repressiva.

Contexto cultural:

Esses pensadores viviam em épocas em que a Igreja Cristã (católica ou protestante) exercia grande influência sobre a moral, a política e a cultura. A crítica ao cristianismo era, em parte, uma reação contra o controle social exercido por instituições religiosas, que ditavam normas de comportamento e limitavam a expressão individual.

Busca por uma nova espiritualidade ou filosofia – Nietzsche:

Nietzsche não apenas criticava o cristianismo, mas propunha uma alternativa: a filosofia do Übermensch (super-homem), que criaria seus próprios valores em um mundo sem Deus. Ele declarou que "Deus está morto" (A Gaia Ciência, 1882), não como uma celebração, mas como um diagnóstico da crise cultural do Ocidente, que precisava de novos fundamentos éticos. Sua crítica ao cristianismo era um passo para abrir espaço para essa nova visão.

Outros pensadores:

Crowley, inspirado por Nietzsche, via a Thelema como a espiritualidade do novo "Æon de Hórus", que superaria o cristianismo (associado ao Æon de Osíris). Blake buscava uma mística poética que unisse o humano e o divino, rejeitando a ortodoxia cristã. Mesmo Rabelais, com sua sátira em Gargântua e Pantagruel, ridicularizava o dogmatismo religioso para propor um humanismo mais livre.

Contexto filosófico:

A crítica ao cristianismo vinha de uma necessidade de romper com sistemas de pensamento que, na visão desses filósofos, limitavam o potencial humano. Eles viam a religião cristã como um obstáculo à autoexpressão, à criatividade e à construção de uma ética mais autônoma.

Crítica ao poder institucional da Igreja – Nietzsche:

Ele via a Igreja como uma instituição que manipulava as massas, mantendo-as submissas por meio do medo do pecado e da promessa de salvação. Ele acusava o cristianismo de usar a culpa como ferramenta de controle, enfraquecendo o indivíduo em favor da autoridade eclesiástica.

Outros pensadores:

Crowley, que foi criado em uma seita cristã rigorosa (os Irmãos de Plymouth), tinha uma antipatia pessoal pela hipocrisia religiosa que via na infância. Sua crítica ao cristianismo também mirava o poder da Igreja de limitar práticas esotéricas e espirituais alternativas. Blake criticava a Igreja Anglicana por sua aliança com o poder político, que ele via como opressiva. No Brasil, Raul Seixas e Paulo Coelho, influenciados pela Thelema, criticavam o suposto uso do cristianismo pelo regime militar para justificar a repressão.

Contexto histórico:

No século XIX e início do XX, a Igreja ainda tinha forte influência política e social na Europa e nas Américas. A crítica ao cristianismo era também uma crítica ao seu papel em sustentar estruturas de poder, como monarquias, colonialismo ou regimes autoritários.

Reação ao racionalismo e ao materialismo do Iluminismo – Nietzsche:

Embora o Iluminismo tivesse enfraquecido a autoridade religiosa, Nietzsche via o cristianismo como uma força que ainda moldava a moralidade ocidental, mesmo em um mundo secular. Ele criticava o cristianismo por sua visão dualista (bem vs. mal, corpo vs. alma), que ele considerava alienante, mas também via o racionalismo iluminista como insuficiente para preencher o vazio deixado pela "morte de Deus".

Outros pensadores:

Blake e Crowley, de maneiras diferentes, buscavam uma espiritualidade que transcendesse tanto o dogmatismo cristão quanto o materialismo racionalista. A Thelema, por exemplo, combinava misticismo, magia e individualismo como uma alternativa ao cristianismo e ao secularismo.

Contexto cultural:

A tensão entre religião, ciência e espiritualidade alternativa no século XIX levou muitos pensadores a buscar sistemas que conciliassem a liberdade individual com um senso de transcendência, algo que viam como ausente no cristianismo tradicional.

Sentiam-se reprimidos em seus desejos ocultos?

A sugestão de que esses filósofos combatiam o cristianismo por se sentirem reprimidos em seus "desejos ocultos" é uma interpretação psicológica interessante, mas precisa ser analisada com cuidado:

Nietzsche: Há quem interprete a veemência de Nietzsche contra o cristianismo como uma reação pessoal à sua criação luterana rígida. Ele cresceu em um ambiente religioso e, como jovem, era profundamente devoto. Sua ruptura com o cristianismo pode ter sido intensificada por uma sensação de repressão, especialmente em relação à sua visão de uma vida afirmativa, que celebrava os instintos e a criatividade. No entanto, não há evidências claras de que ele estivesse reprimindo "desejos ocultos" no sentido freudiano (como desejos sexuais ou hedonistas). Sua crítica era mais filosófica: ele via o cristianismo como uma força que reprimia a vitalidade humana em geral, não apenas seus desejos pessoais. Sua ênfase na vontade de poder sugere um desejo de transcendência, não de libertinagem.

Crowley: é um caso mais complexo. Criado em uma seita cristã extremamente puritana, ele rebelou-se desde jovem, adotando comportamentos provocativos (como sua bissexualidade e experimentações com magia e drogas). É plausível que sua crítica ao cristianismo tenha raízes em uma rejeição pessoal à repressão moral que experimentou na infância. Seus "desejos ocultos" (sexuais, espirituais ou de poder) eram expressos abertamente em sua vida e obra, e a Thelema pode ser vista como um sistema para legitimar a exploração desses desejos de forma disciplinada – “por trás de toda ideologia, sempre está uma tara”. No entanto, aceitemos que sua intenção não era apenas satisfazer desejos pessoais, mas criar um sistema espiritual universal.

Outros pensadores:

Blake, por exemplo, canalizava sua rebelião contra o cristianismo em uma visão mística que celebrava a imaginação e a divindade humana. Não há indícios claros de repressão de desejos pessoais, mas sim de uma frustração com a rigidez da Igreja. Schopenhauer, com sua visão pessimista, não parece motivado por desejos reprimidos, mas por uma crítica metafísica ao otimismo cristão. Raul Seixas e Paulo Coelho, no contexto brasileiro, expressavam frustrações com o conservadorismo da ditadura, sua crítica ao cristianismo era fundamentalmente ideológica e pessoal.

Avaliação: A ideia de "desejos ocultos" reprimidos pode aplicar-se abertamente a Crowley, cuja vida pessoal reflete uma rebelião contra a moral cristã. Para Nietzsche, a repressão era mais cultural e filosófica do que pessoal, ligada à sua visão de que o cristianismo sufocava a vitalidade humana. Para os outros, a crítica ao cristianismo era mais intelectual ou espiritual do que uma reação a desejos reprimidos, excetuando-se o caso brasileiro: ideologia pura e taras ocultas, combinadas. A psicologia moderna (como a de Freud) poderia interpretar tais críticas como projeções de conflitos internos, mas isso seria visto apenas como especulativo e não sendo a motivação principal.

Sentiam-se preteridos em seus delírios de poder e importância social?

Nietzsche: tinha uma visão elevada de si mesmo como filósofo, vendo-se como um profeta de uma nova era (o Übermensch e a reavaliação de todos os valores). Ele era frustrado pelo pouco reconhecimento que recebeu em vida, o que pode ter intensificado sua crítica às instituições, incluindo a Igreja, que ele via como perpetuadoras de uma cultura medíocre. No entanto, chamar isso de "delírio de poder" é uma simplificação. Sua crítica ao cristianismo era parte de um projeto filosófico maior, não apenas uma reação a ser ignorado socialmente. Ele queria transformar a cultura, não apenas conquistar poder pessoal.

Crowley: é um caso onde a acusação de "delírio de poder" tem todo o peso. Ele se autoproclamava o "Grande Besta 666" e buscava ser uma figura central no esoterismo ocidental. Sua crítica ao cristianismo era, em parte, uma rejeição às instituições que o marginalizavam (ele foi expulso de várias ordens esotéricas e vilipendiado pela imprensa). Sua intenção com a Thelema era criar um sistema espiritual que transcendesse o cristianismo, afirmando sua importância social. Ele via a si mesmo como um profeta, um delírio de grandeza.

Outros pensadores: Blake sentia-se marginalizado como artista e poeta, e sua crítica à Igreja Anglicana refletia sua frustração com uma sociedade que não valorizava sua visão. No entanto, sua motivação era mais espiritual e criativa do que um desejo de poder social. Schopenhauer, apesar de seu pessimismo, alcançou certo reconhecimento em vida e não parecia movido por ambições de poder, mas por uma crítica filosófica. Raul Seixas e Paulo Coelho, no Brasil, buscavam influência cultural como artistas, e sua crítica ao cristianismo era um reflexo de suas ambições políticas e busca por importância social.

As razões para esses filósofos combaterem o cristianismo -

Rejeição à moral repressiva: Eles viam o cristianismo como uma força que limitava a liberdade, a criatividade e os instintos vitais, promovendo uma moral de submissão. Busca por novas visões: Queriam propor alternativas filosóficas ou espirituais (como o Übermensch ou a Thelema) para substituir o cristianismo. Crítica ao poder institucional: Atacavam a Igreja por seu controle social e político, que viam como opressivo. Contexto cultural: Viviam em épocas de tensão entre religião, ciência e individualismo, o que os levou a questionar o papel do cristianismo. Sobre desejos ocultos: A repressão pessoal pode ter influenciado Crowley, devido à sua criação puritana, e, em menor grau, Nietzsche, mas a crítica ao cristianismo era mais filosófica do que uma projeção de desejos reprimidos. Para os outros, essa interpretação é menos convincente.

Sobre delírios de poder: Crowley buscava notoriedade, e Nietzsche tinha uma visão elevada de seu papel como filósofo, mas suas críticas ao cristianismo eram parte de projetos maiores, não apenas reações a serem preteridos. Os outros pensadores parecem menos motivados por ambições de poder social.

Perguntas inevitáveis:

Se Nietzsche criticava a Igreja como manipuladora das massas, suas atividades como filósofo – publicando livros com suas ideias – não seriam, igualmente, tentativas de manipulação reversa?

Tal questionamento toca em uma questão central sobre a natureza da filosofia, da influência intelectual e da coerência das críticas de Nietzsche. Vamos analisar se suas atividades como filósofo podem ser vistas como uma tentativa de "manipulação reversa" das massas, considerando sua crítica à Igreja como manipuladora, e explorar as nuances dessa comparação.

1. Nietzsche e a crítica à Igreja como manipuladora

Nietzsche, em obras como O Anticristo (1888) e Genealogia da Moral (1887), acusava o cristianismo, e especialmente a Igreja, de manipular as massas por meio de uma "moral de escravo". Ele argumentava que a Igreja usava conceitos como pecado, culpa e salvação para controlar os indivíduos, promovendo a submissão e reprimindo a vitalidade humana (a "vontade de poder"). Para Nietzsche, a Igreja manipulava ao impor uma narrativa moral que beneficiava os "fracos" (os oprimidos, as massas) contra os "fortes" (os criativos, os autônomos), criando uma cultura de ressentimento. Essa manipulação era, em sua visão, um exercício de poder disfarçado de espiritualidade.

2. As atividades de Nietzsche como filósofo: manipulação reversa?

Ao publicar livros como Assim Falou Zaratustra, Além do Bem e do Mal e A Gaia Ciência, Nietzsche buscava influenciar leitores, desafiar a moral cristã e propor uma nova visão filosófica centrada no Übermensch (super-homem), na vontade de poder e na reavaliação de todos os valores. A questão é: isso constitui uma forma de manipulação, análoga à da Igreja, mas em sentido oposto ("reversa")?

Argumentos a favor da ideia de manipulação reversa – a influência intencional:

Nietzsche escrevia com um tom profético e provocador, especialmente em Zaratustra, buscando inspirar ou até "despertar" seus leitores para uma nova forma de pensar. Ele queria romper com o conformismo das massas e incitar uma transformação cultural. Essa tentativa de moldar o pensamento alheio pode ser vista como uma forma de influência psicológica, semelhante à manipulação que ele atribuía à Igreja.

Retórica poderosa:

Nietzsche usava uma linguagem poética, aforística e muitas vezes emocional, que visava capturar a imaginação e provocar reações intensas. Essa estratégia retórica poderia ser interpretada como uma tentativa de "seduzir" os leitores, assim como a Igreja usava sermões e narrativas para conquistar fiéis.

Visão elitista:

Embora Nietzsche criticasse a manipulação das massas pela Igreja, ele próprio não escrevia para as massas, mas para uma elite intelectual capaz de compreender sua filosofia. No entanto, ao publicar suas ideias, ele ainda buscava influenciar um público, mesmo que seleto, o que poderia ser visto como uma tentativa de moldar mentes em direção aos seus ideais (o Übermensch, a rejeição da moral cristã), através da “capilaridade do pensamento”, que aleguei anteriormente.

Paralelo com o poder:

Nietzsche via a vontade de poder como a força motriz de toda ação humana, incluindo a da Igreja. Ao propor sua filosofia, ele também exercia sua própria vontade de poder, tentando redefinir valores e afirmar sua visão sobre a cultura. Isso poderia ser interpretado como uma tentativa de substituir uma forma de controle (cristã) por outra (nietzschiana).

Argumentos contra a ideia de manipulação reversa – objetivo de libertação, não controle:

Diferentemente da Igreja, que Nietzsche via como uma instituição que impunha dogmas para manter a submissão, sua filosofia buscava libertar o indivíduo de sistemas opressivos, incentivando a autossuperação e a criação de valores próprios. Ele não propunha uma nova doutrina rígida, mas um convite à autonomia. Em Zaratustra, ele escreve: "Vocês dizem 'creiam em mim', mas eu digo: 'sigam a si mesmos'." Sua intenção era emancipar, não manipular.

Ausência de estrutura institucional:

A Igreja, como instituição, tinha um sistema organizado de poder (clero, rituais, hierarquia) para impor sua moral. Nietzsche, por outro lado, era um filósofo solitário, sem uma organização ou seguidores diretos em vida. Seus livros eram um meio de disseminar ideias, mas não vinham com uma estrutura de controle, como templos ou dogmas obrigatórios.

Público-alvo diferente:

Enquanto a Igreja mirava as massas, Nietzsche escrevia para uma minoria capaz de compreender sua filosofia. Ele desprezava a ideia de manipular as massas, a quem chamava de "rebanho". Sua crítica à Igreja era justamente por ela manipular as massas para mantê-las submissas, enquanto ele buscava inspirar indivíduos excepcionais a transcenderem essas limitações.

Método reflexivo, não dogmático:

A Igreja usava dogmas e autoridade divina para impor sua moral. Nietzsche, ao contrário, usava argumentos, aforismos e provocações para estimular o pensamento crítico. Seus livros não oferecem respostas prontas, mas desafiam o leitor a questionar e criar. Isso é mais próximo de uma dialética socrática do que de uma manipulação autoritária.

Manipulação X influência: uma distinção crucial

A chave para responder tal questão está na diferença entre manipulação e influência. Manipulação implica um controle intencional, muitas vezes dissimulado, para moldar o comportamento alheio em benefício próprio ou de uma agenda. Influência, por outro lado, pode ser um esforço aberto para inspirar ou persuadir, sem necessariamente buscar controle. Nietzsche certamente queria influenciar, mas há diferenças significativas entre sua abordagem e a manipulação que ele atribuía à Igreja.

Transparência:

Nietzsche era aberto sobre seu objetivo de desafiar a moral cristã e propor uma nova visão. A Igreja, na visão dele, escondia sua busca por poder sob a fachada da espiritualidade.

Foco na autonomia:

Nietzsche encorajava os indivíduos a criarem seus próprios valores, enquanto a Igreja impunha uma moral universal. Ele rejeitava a ideia de seguidores cegos, como fica claro em Zaratustra, onde ele exorta seus discípulos a abandoná-lo e seguirem seus próprios caminhos.

Falta de coerção:

A Igreja usava medo (inferno, pecado) e recompensas (salvação, céu) para controlar. Nietzsche não tinha mecanismos de coerção; seus livros dependiam da aceitação voluntária de suas ideias por leitores dispostos a refletir.

Motivações psicológicas de Nietzsche – frustração pessoal:

Nietzsche viveu uma vida de relativo isolamento e teve pouco reconhecimento em vida. Sua crítica à Igreja pode ter sido intensificada por uma sensação de marginalização em uma sociedade dominada por valores cristãos. No entanto, sua filosofia não parece uma busca por poder pessoal, mas por uma transformação cultural que ele acreditava ser necessária após a "morte de Deus".

Vontade de poder:

Como Nietzsche via a vontade de poder como a essência da vida, é natural que sua própria atividade filosófica fosse uma expressão disso. Ele queria afirmar sua visão sobre o mundo, mas isso não equivale a um "delírio de poder". Sua escrita sugere uma convicção genuína de que estava oferecendo uma alternativa para uma cultura em crise, não manipulando por interesse egoísta.

Desejos reprimidos:

Não há evidências claras de que Nietzsche estivesse projetando desejos reprimidos (como desejos sexuais ou hedonistas) em sua crítica à Igreja. Sua vida pessoal era marcada por asceticismo, não libertinagem, e sua crítica ao cristianismo era mais intelectual do que emocional.

Comparação com outros filósofos

Para contextualizar, outros pensadores que criticaram o cristianismo, como Crowley ou Voltaire, também podem ser analisados sob a lente da manipulação:

Crowley: Como criador da Thelema, Crowley buscava influenciar, mas sua abordagem era mais carismática e, por vezes, autoritária, especialmente em suas ordens esotéricas. Ele queria liderar uma revolução espiritual, o que poderia ser visto como mais próximo de manipulação do que a abordagem de Nietzsche, especialmente por seu papel como "profeta" da Thelema.

Voltaire: No Iluminismo, Voltaire criticava a Igreja por sua intolerância e corrupção, mas usava sátira e argumentos racionais para persuadir, não para controlar. Como Nietzsche, ele buscava influência intelectual, não manipulação institucional.

Conclusão

As atividades de Nietzsche como filósofo, ao publicar suas ideias, podem ser vistas como uma tentativa de influenciar, mas não como uma "manipulação reversa" no mesmo sentido que ele atribuía à Igreja. Suas intenções eram:

Inspirar autonomia:

Nietzsche queria libertar os indivíduos do conformismo cristão, não impor uma nova doutrina.

Desafiar a cultura:

Ele buscava transformar os valores ocidentais, não controlar as massas.

Expressar sua visão:

Como todo filósofo, ele usava a escrita para afirmar sua vontade de poder, mas sem os mecanismos de coerção ou dissimulação que associava à Igreja. Sua crítica à Igreja como manipuladora era baseada em sua percepção de que ela usava dogmas e medo para controlar, enquanto suas próprias ideias eram um convite à reflexão e à autossuperação, sem uma estrutura institucional para impor obediência. Embora sua retórica pudesse ser persuasiva e até sedutora, ela não equivalia à manipulação da Igreja, que ele via como sistemática e autoritária.


Mais perguntas:

Nietzsche acusava a Igreja de manipulação através de dogmas e medo. Pois o que seria, então, as verdades de um filósofo impressas em um livro, somadas ao seu grito "Deus está morto!"? Elimina-se o medo sobrenatural, cria-se a submissão psicológica ao filósofo. Troca-se seis por meia-dúzia, em um louco projeto de ambição pessoal?

Tal questão é afiada e provoca uma reflexão profunda sobre as intenções de Nietzsche, a natureza de sua filosofia e a possibilidade de que suas ideias, ao criticarem a manipulação da Igreja, paradoxalmente replicassem uma forma de influência que poderia ser vista como manipulação psicológica. Se, ao proclamar "Deus está morto!" e publicar suas "verdades" em livros, Nietzsche estaria substituindo o medo sobrenatural da Igreja por uma submissão psicológica ao filósofo, em um projeto movido por ambição pessoal, isso nos leva a explorar suas intenções, a dinâmica de sua filosofia e se realmente se trata de "trocar seis por meia-dúzia".

1. Nietzsche e a crítica à manipulação da Igreja

Nietzsche acusava a Igreja Cristã de manipular as massas por meio de dogmas (como pecado e salvação) e medo (do inferno, da ira divina), criando uma moralidade que ele chamava de "escrava". Em Genealogia da Moral (1887) e O Anticristo (1888), ele argumentava que a Igreja usava esses mecanismos para manter as massas submissas, beneficiando o poder eclesiástico e suprimindo a vitalidade humana (a "vontade de poder"). Para ele, o cristianismo glorificava a fraqueza e reprimia os instintos criativos, manipulando psicologicamente por meio da culpa e da promessa de uma vida após a morte.

Quando Nietzsche proclama "Deus está morto!" em A Gaia Ciência (1882) e Assim Falou Zaratustra (1883–1885), ele não está apenas celebrando o fim da fé religiosa, mas diagnosticando uma crise cultural: a perda de um fundamento metafísico para os valores ocidentais. Ele via isso como uma oportunidade para os indivíduos criarem seus próprios valores, mas também como um risco, pois a ausência de Deus poderia levar ao niilismo se não fosse superada.

2. As "verdades" de Nietzsche: manipulação psicológica?

Perguntamos se as ideias de Nietzsche, impressas em seus livros, e sua proclamação de que "Deus está morto!" não seriam uma forma de substituir o medo sobrenatural da Igreja por uma submissão psicológica ao filósofo. Para avaliar isso, precisamos considerar o que Nietzsche buscava com suas obras e como sua abordagem difere (ou não) da manipulação que ele atribuía à Igreja.

Argumentos a favor da ideia de manipulação psicológica: retórica poderosa e tom profético

Nietzsche escrevia de forma poética, aforística e, em Zaratustra, quase messiânica, como se fosse um profeta anunciando uma nova era. Frases como "Deus está morto!" são chocantes e destinadas a provocar uma reação emocional, o que poderia ser visto como uma tentativa de capturar a mente do leitor. Essa retórica poderia, em teoria, criar uma forma de fascínio ou dependência psicológica em relação às ideias de Nietzsche.

Autoridade filosófica:

Ao apresentar suas ideias como uma alternativa à moral cristã, Nietzsche se coloca como uma figura de autoridade intelectual, alguém que oferece "verdades" para preencher o vazio deixado pela morte de Deus. Isso poderia ser interpretado como uma tentativa de moldar a psique dos leitores, levando-os a adotar sua visão de mundo (o Übermensch, a vontade de poder).

Eliminação do medo sobrenatural:

Ao proclamar "Deus está morto!", Nietzsche remove o medo do julgamento divino, mas sua filosofia exige que o indivíduo enfrente o peso da liberdade e da responsabilidade de criar seus próprios valores. Para alguns, isso poderia ser tão psicologicamente opressivo quanto o medo religioso, especialmente se o leitor se sentisse compelido a seguir Nietzsche como um guia para navegar esse novo mundo sem Deus.

Ambição pessoal:

Nietzsche tinha uma visão elevada de si mesmo como filósofo, vendo-se como um "legislador do futuro" (como ele sugere em Zaratustra). Sua ambição de transformar a cultura ocidental poderia ser lida como um desejo de poder pessoal, com seus livros servindo como ferramentas para conquistar influência sobre as mentes alheias.

Argumentos contra a ideia de manipulação psicológica: foco na autonomia individual

Diferentemente da Igreja, que impunha dogmas universais, Nietzsche encorajava os indivíduos a rejeitarem qualquer autoridade externa, incluindo a dele próprio. Em Zaratustra, ele exorta seus discípulos a abandoná-lo: "Agora vos ordeno que me percais e vos encontreis; e só quando todos vós tiverdes me negado, voltarei a vós." Sua intenção era inspirar a autossuperação, não criar seguidores submissos.

Ausência de dogmas rígidos:

A Igreja usava dogmas fixos e uma narrativa linear (pecado, redenção, salvação). Nietzsche, por outro lado, evitava sistemas fechados. Suas ideias, como a vontade de poder ou o Übermensch, são mais provocações filosóficas do que verdades absolutas. Ele desafiava o leitor a pensar por si mesmo, não a aceitar suas palavras como evangelho.

Falta de estrutura de controle:

A Igreja tinha uma instituição (clero, rituais, hierarquia) para reforçar sua manipulação. Nietzsche era um filósofo solitário, sem uma organização ou seguidores diretos em vida como já expus anteriormente. Seus livros dependiam da aceitação voluntária dos leitores, sem mecanismos de coerção como o medo do inferno ou a promessa de salvação.

Crítica ao niilismo, não imposição de verdades:

A proclamação de "Deus está morto!" não era uma tentativa de substituir o medo sobrenatural por uma nova forma de submissão, mas um alerta sobre o niilismo que poderia surgir com a perda da fé. Nietzsche queria que os indivíduos enfrentassem esse vazio e criassem seus próprios valores, não que se submetessem a ele como uma nova autoridade.

Ambição filosófica, não pessoal:

Embora Nietzsche tivesse ambições grandiosas (redefinir os valores ocidentais), sua escrita sugere uma preocupação genuína com a crise cultural do seu tempo, não um desejo de poder pessoal no sentido de dominar as massas. Ele era frustrado pelo pouco reconhecimento em vida, mas seus livros eram mais um chamado à reflexão do que uma tentativa de manipular psicologicamente.

3. Ambição pessoal ou projeto filosófico?

As ações de Nietzsche poderiam refletir um "louco projeto de ambição pessoal". Vamos analisar essa possibilidade:

Ambição de Nietzsche:

Ele via a si mesmo como um filósofo revolucionário, alguém destinado a mudar o curso da história ocidental. Em cartas e textos, ele expressava frustração por não ser reconhecido em vida, o que sugere um desejo de impacto e relevância. Em Ecce Homo (1888), ele escreve com um tom quase megalomaníaco, chamando-se de "dinamite" e um "destino". Isso poderia ser interpretado como ambição pessoal, uma vontade de afirmar seu poder intelectual sobre o mundo.

Projeto filosófico:

No entanto, a ambição de Nietzsche parece mais ligada a um projeto cultural do que a um desejo de poder pessoal no sentido político ou social. Ele acreditava que a cultura ocidental estava em crise após a "morte de Deus" e que sua filosofia era necessária para evitar o niilismo. Sua crítica à Igreja e suas ideias eram parte de um esforço para criar um novo paradigma, não para conquistar seguidores ou dominar as massas.

Psicologia de Nietzsche:

Alguns biógrafos, como Walter Kaufmann, sugerem que a veemência de Nietzsche contra o cristianismo refletia, em parte, sua luta pessoal com a educação religiosa luterana de sua juventude. No entanto, não há evidências de que ele buscasse submissão psicológica dos leitores. Sua insistência em que os leitores o abandonassem (Zaratustra) sugere que ele queria inspirar pensadores independentes, não criar discípulos.


Contestando defesas de Nietzsche

Segundo se convencionou, o filósofo dirigia seus escritos a uma elite intelectual enquanto a Igreja focava nas massas. Ora, é inegável que o pensamento das massas é o reflexo capilarizado dos conceitos das elites, então o produto final é o mesmo, apenas levando mais tempo para sua consecução.

Isso levanta uma questão crucial sobre a dinâmica entre as ideias das elites intelectuais e seu impacto nas massas, desafiando a distinção exposta acima entre o público-alvo de Nietzsche (uma elite intelectual) e o da Igreja (as massas). Como o pensamento das massas acaba sendo um reflexo capilarizado das ideias das elites, o "produto final" da influência de Nietzsche seria semelhante ao da Igreja, apenas com uma execução mais demorada. Vamos analisar essa crítica com cuidado, explorando se a distinção entre os públicos-alvo realmente se sustenta e se as intenções de Nietzsche equivalem, em última análise, à manipulação que ele atribuía à Igreja.

1. A premissa: ideias das elites moldam as massas

Sei estar correto ao apontar que as ideias das elites intelectuais frequentemente se disseminam, com o tempo, para as massas, moldando a cultura de forma indireta. Esse fenômeno, conhecido como capilarização ou difusão cultural, é bem documentado na história das ideias. Conceitos filosóficos, artísticos ou políticos que começam em círculos restritos (academia, salões, ordens esotéricas) podem, ao longo do tempo, influenciar a sociedade mais ampla por meio da arte, da mídia, da educação ou de movimentos sociais. Exemplos incluem:

O Iluminismo, cujas ideias de liberdade e razão, inicialmente debatidas por filósofos como Voltaire e Rousseau, inspiraram revoluções e reformas democráticas. O marxismo, que começou com textos acadêmicos de Marx e Engels e se transformou em movimentos de massa. A própria Thelema de Crowley, que, via Raul Seixas e a Sociedade Alternativa, alcançou um público mais amplo no Brasil através da música. Se aceitarmos que as ideias de Nietzsche, mesmo voltadas para uma elite, eventualmente influenciariam as massas, tal crítica ganha força: o impacto final de suas ideias poderia ser semelhante ao da Igreja, que moldava diretamente as massas com seus dogmas.

2. Nietzsche e seu público-alvo: uma elite intelectual?

Nietzsche era explícito em sua rejeição às massas, a quem chamava de "rebanho" (Die Herde) em Assim Falou Zaratustra (1883–1885) e outros textos. Ele escrevia para o que chamava de "espíritos livres" (freie Geister), indivíduos capazes de questionar a moral tradicional e criar seus próprios valores. Em Além do Bem e do Mal (1886), ele diz: "Não escrevo para as massas, mas para aqueles que são dignos de me ouvir." Sua filosofia, com conceitos como o Übermensch (super-homem) e a vontade de poder, exigia um nível de introspecção e independência intelectual que ele acreditava ser raro.

No entanto, sua crítica reconhece que as ideias de Nietzsche não permaneceram confinadas a uma elite. Após sua morte em 1900, sua filosofia influenciou amplamente a cultura ocidental, incluindo:

Movimentos artísticos: O expressionismo, o modernismo e até o rock (via figuras como Jim Morrison e David Bowie) absorveram ideias nietzschianas. Filosofia existencial: Pensadores como Sartre e Camus popularizaram versões de suas ideias, que alcançaram um público mais amplo. Contracultura: Nos anos 1960, Nietzsche tornou-se um ícone da contracultura, com sua crítica ao cristianismo e sua ênfase na liberdade individual ressoando entre os jovens. Essa difusão sugere que, embora Nietzsche mirasse uma elite, suas ideias acabaram "capilarizando" para as massas, especialmente no século XX, quando sua obra ganhou popularidade. Isso apoia minha argumentação de que o "produto final" (influenciar o pensamento coletivo) poderia ser semelhante ao da Igreja, ainda que por caminhos mais lentos e indiretos.

3. Igreja X Nietzsche: semelhanças no impacto final?

Para avaliar se a distinção entre os públicos-alvo (elite para Nietzsche, massas para a Igreja) é irrelevante, precisamos comparar como cada um buscava influenciar e qual era o "produto final" de suas ideias.

Semelhanças:

Influência cultural ampla: Tanto a Igreja quanto Nietzsche, a longo prazo, moldaram o pensamento coletivo. A Igreja usava sermões, rituais e instituições para disseminar sua moral cristã diretamente às massas. Nietzsche, embora mirasse uma elite, teve suas ideias disseminadas por intelectuais, artistas e movimentos culturais, eventualmente alcançando um público mais amplo. Como apontei, o processo de capilarização significa que as ideias das elites (como as de Nietzsche) podem acabar influenciando as massas, mesmo que indiretamente.

Persuasão psicológica:

A Igreja usava narrativas de culpa, pecado e salvação para criar uma adesão emocional e psicológica. Nietzsche, com sua retórica poética e provocadora (como "Deus está morto!"), também apelava às emoções, buscando chocar e inspirar. Ambas as abordagens poderiam, em teoria, criar uma forma de "submissão psicológica" — a Igreja ao seu dogma, Nietzsche às suas ideias.

Transformação de valores:

A Igreja buscava impor uma moral universal baseada na obediência a Deus. Nietzsche queria substituir essa moral por uma ética individualista, onde cada pessoa criasse seus próprios valores. Em ambos os casos, o objetivo era transformar a forma como as pessoas pensam e vivem, ainda que com conteúdos opostos.

4. Ambição pessoal ou manipulação deliberada?

Nietzsche poderia estar movido por um "louco projeto de ambição pessoal". Vamos reavaliar isso no contexto da capilarização:

Ambição de Nietzsche: Ele via a si mesmo como um filósofo revolucionário, alguém que poderia redefinir os valores ocidentais após a "morte de Deus". Em Ecce Homo (1888), ele escreve: "Eu sou um destino." Essa autoproclamação sugere uma ambição intelectual, mas não necessariamente um desejo de manipular as massas. Nietzsche era frustrado pelo pouco reconhecimento em vida, o que pode ter intensificado sua retórica provocadora, mas ele não buscava seguidores no sentido religioso.

Manipulação deliberada? Não há evidências de que Nietzsche quisesse manipular psicologicamente as massas. Sua rejeição ao "rebanho" e seu foco em "espíritos livres" indicam que ele não via as massas como seu público-alvo. Mesmo que suas ideias tenham se capilarizado, isso ocorreu após sua morte, por meio de outros intérpretes (como Heidegger, Sartre ou até Raul Seixas). Sua intenção era provocar uma transformação cultural entre indivíduos excepcionais, não criar uma nova forma de submissão.

As contestações que expus são válidas ao apontar que as ideias das elites, como as de Nietzsche, podem se capilarizar e influenciar as massas, sugerindo que a distinção entre seu público-alvo (elite) e o da Igreja (massas) perde força a longo prazo. No entanto, o "produto final" não é exatamente o mesmo:

Igreja: Buscava submissão coletiva a uma moral universal, usando dogmas e medo, com uma instituição para garantir o controle. Nietzsche: Buscava inspirar a autonomia individual entre uma elite intelectual, sem uma estrutura para impor suas ideias. A capilarização de suas ideias nas massas foi um efeito póstumo, não intencional, e resultou em interpretações variadas, não em uma submissão psicológica unificada.

Nietzsche não estava "trocando seis por meia-dúzia" porque suas intenções e métodos diferiam fundamentalmente dos da Igreja. Ele não buscava manipular as massas, mas desafiar indivíduos a pensarem por si mesmos. Embora suas ideias tenham influenciado a cultura de massa (via contracultura, por exemplo), isso ocorreu de forma indireta e descontrolada, ao contrário da manipulação direta e estruturada da Igreja. Quanto à ambição pessoal, Nietzsche tinha uma visão grandiosa de seu papel como filósofo, mas sua intenção era transformar a cultura, não criar uma nova forma de submissão.

Pergunta: “Transformar” que cultura? A cultura cristã. Ele desejaria uma cultura "nietzscheana"?

Sei estar absolutamente certo ao apontar que Nietzsche queria transformar a cultura cristã, que ele via como dominante no Ocidente, e substituí-la por uma cultura que poderíamos chamar de "nietzschiana", centrada na autossuperação, na vontade de poder e na criação de novos valores. Tal observação reforça a crítica de que, ao buscar essa transformação, Nietzsche poderia estar exercendo uma forma de influência que, mesmo que indireta e voltada para uma elite, acabaria impactando as massas através da capilarização, potencialmente replicando uma dinâmica de poder semelhante à da Igreja, ainda que com intenções e métodos diferentes. Vamos aprofundar essa análise, focando no que Nietzsche entendia por "cultura cristã", o que seria uma cultura "nietzschiana" e se essa ambição de transformação cultural implica uma manipulação análoga à da Igreja.

1. A cultura cristã na visão de Nietzsche

Nietzsche via a cultura cristã como o fundamento moral e espiritual do Ocidente, moldado por dois mil anos de cristianismo. Em obras como O Anticristo (1888), Genealogia da Moral (1887) e Além do Bem e do Mal (1886), ele descrevia essa cultura como baseada na "moral de escravo", e tudo o mais já exposto acima.

2. A cultura "nietzschiana": o que ele queria criar?

Nietzsche não propunha um sistema fechado ou uma doutrina rígida, mas uma transformação cultural baseada em princípios que podemos chamar de "nietzschianos". Essa cultura seria caracterizada por:

Autossuperação e o Übermensch:

O ideal do Übermensch (super-homem) representava o indivíduo que transcende a moral cristã e cria seus próprios valores, vivendo de forma autêntica e criativa. Em Zaratustra, Nietzsche descreve o Übermensch como alguém que afirma a vida em sua totalidade, incluindo seus aspectos trágicos.



Vontade de poder:

A força motriz da vida, segundo Nietzsche, é a vontade de poder, que não se limita à dominação, mas inclui a criação, a autoexpressão e a superação de obstáculos. Uma cultura nietzschiana celebraria essa vitalidade, em oposição à repressão cristã.

Reavaliação de todos os valores:

Nietzsche queria substituir a moral cristã por valores que afirmassem a vida terrena, rejeitando dualismos como bem/mal ou corpo/alma. Ele defendia uma ética pluralista, onde cada indivíduo encontrasse seu próprio caminho.

Espíritos livres:

A cultura nietzschiana seria composta por "espíritos livres" (freie Geister), indivíduos que questionam dogmas, desafiam autoridades e vivem com coragem e criatividade, em contraste com o conformismo das massas. Essa cultura nietzschiana não seria homogênea ou institucionalizada, mas diversa, com indivíduos criando seus próprios sentidos para a vida. Nietzsche não queria uma nova "Igreja" com ele como líder, mas uma ruptura com a hegemonia cristã para abrir espaço a múltiplas perspectivas.

3. Transformar a cultura cristã: manipulação ou influência?

Ao buscar transformar a cultura cristã em uma cultura nietzschiana, Nietzsche estaria exercendo uma forma de manipulação, já que suas ideias, mesmo voltadas para uma elite, poderiam se capilarizar e influenciar as massas, como as ideias da Igreja. Vamos analisar se isso equivale a "trocar seis por meia-dúzia":

Ao publicar livros como Zaratustra e O Anticristo, Nietzsche queria moldar a cultura ocidental, substituindo os valores cristãos pelos seus próprios. Essa ambição de transformação cultural pode ser vista como uma tentativa de exercer poder intelectual, semelhante à influência da Igreja, ainda que por meios diferentes. Como apontei, a capilarização de suas ideias (por exemplo, na contracultura dos anos 1960 ou via pensadores como Sartre) mostra que ele acabou influenciando as massas indiretamente. Embora suas ideias tenham se capilarizado, Nietzsche não tinha a intenção de moldar diretamente as massas. Ele escrevia para "espíritos livres", uma elite intelectual capaz de compreender sua filosofia. A capilarização de suas ideias (por exemplo, no existencialismo ou na contracultura) ocorreu após sua morte, de forma descontrolada e reinterpretada por outros, não como um plano deliberado de Nietzsche.

Sei estar correto ao dizer que as ideias das elites, como as de Nietzsche, podem se capilarizar e influenciar as massas, tornando a distinção entre seu público-alvo (elite) e o da Igreja (massas) menos relevante a longo prazo. Eis alguns exemplos históricos mostram como as ideias de Nietzsche se disseminaram: pensadores como Sartre e Camus popularizaram versões de suas ideias, que alcançaram um público mais amplo nos anos 1940 e 1950. Já na contra-cultura dos anos 1960, Nietzsche tornou-se um ícone, com sua crítica ao cristianismo e sua ênfase na liberdade individual ressoando entre os jovens, especialmente via figuras como Jim Morrison e Timothy Leary.

Na cultura pop brasileira, por outro lado, Raul Seixas e Paulo Coelho, inspirados por Nietzsche e Crowley, levaram ideias nietzschianas (via Thelema) às massas através da música, como em "Sociedade Alternativa" (1974). No entanto, essa capilarização não foi planejada por Nietzsche. Ele morreu em 1900, antes de suas ideias ganharem ampla popularidade, e não podia controlar como seriam reinterpretadas.

O nazismo distorceu suas ideias, usando o conceito do Übermensch para justificar ideologias racistas, algo que Nietzsche teria rejeitado (ele desprezava o nacionalismo e o antissemitismo). A contracultura dos anos 1960 simplificou suas ideias, focando na liberdade individual, mas ignorando a disciplina e a autossuperação que ele enfatizava. Isso sugere que, embora o "produto final" de suas ideias possa ter influenciado as massas, o processo foi indireto e fragmentado, ao contrário da manipulação direta e estruturada da Igreja.

Uma cultura nietzschiana, se realizada, seria pluralista, com indivíduos vivendo de acordo com suas próprias vontades, não sob uma autoridade central. Embora a capilarização de suas ideias tenha levado a uma influência ampla, o processo foi descontrolado e não reflete uma intenção de manipular as massas. Nietzsche não queria substituir a Igreja por uma nova forma de controle, mas destruir os alicerces de qualquer sistema que limitasse a liberdade individual.

Nietzsche realmente desejava transformar a cultura cristã, que ele via como repressiva e decadente, em uma cultura "nietzschiana", baseada na autossuperação, na vontade de poder e na criação de valores individuais. Sua crítica à manipulação da Igreja não o isenta de exercer influência, e a capilarização de suas ideias nas massas, como mostrei, torna o impacto final semelhante ao da Igreja em termos de alcance cultural.

Ao fim e ao cabo, o filósofo foi quem pariu a sutileza insidiosa da “contaminação invisível” da sociedade, via “capilaridade das ideias” das classes dominantes até as mais baixas. Sua sutileza, entretanto, seria reconhecidamente demorada e, em boa hora (para a esquerda) surgiu Gramsci com sua contaminação invisível de “efeito imediato”, principalmente amparado pelas novas tecnologias do rádio e TV.

Ao contrário do que se poderia esperar, Crowley, Nietzsche e outros não foram abandonados: foram reutilizados, reciclados sob novas roupagens modernas e sedutoras, fundamentalmente centradas no inextinguível desejo humano de sexo, dinheiro, conforto e poder.

E tudo se resume à filosofia da inveja.



Manifesto Cristão Conservador: contra a anarquia nietzschiana e a Sociedade Alternativa

A filosofia venenosa de Friedrich Nietzsche, a heresia de Aleister Crowley com sua Thelema e a irresponsável Sociedade Alternativa de Raul Seixas e Paulo Coelho são ataques frontais à cultura cristã, a espinha dorsal da civilização ocidental. Esses falsos profetas, com suas promessas de liberdade individualista e sua rejeição à moral sagrada do cristianismo, tentam seduzir as almas com ilusões de autonomia que levam apenas ao caos e à decadência. Este manifesto, ancorado na verdade divina da fé cristã e nos princípios conservadores, desmascara essas ideologias como fraudes intelectuais que ameaçam a ordem moral, social e espiritual. Com a força da teologia cristã, a sabedoria de pensadores como Santo Agostinho, Tomás de Aquino e C.S. Lewis, e a evidência histórica da superioridade cristã, declaramos guerra a essas ideias destrutivas e reafirmamos o cristianismo como a única base sólida para a dignidade humana e a civilização.

1. Esmagando a farsa da "moral de escravo" de Nietzsche

Nietzsche, em sua arrogante Sobre a Genealogia da Moral (1887), vomita a acusação de que o cristianismo impõe uma "moral de escravo", glorificando a fraqueza e sufocando a chamada "vontade de poder". Essa calúnia grotesca é uma deturpação blasfema da fé cristã, que eleva o homem à imagem de Deus. Nós a destruímos com a verdade.

  • A grandeza da virtude cristã: Longe de ser uma moral de fracos, o cristianismo forja heróis espirituais através da humildade, da compaixão e do sacrifício. C.S. Lewis, em Cristianismo Puro e Simples (1952), sentencia: "A humildade não é pensar menos de si, mas pensar menos em si" (Livro III, cap. 8). Jesus proclama em Mateus 23:12: "Quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado." Essa humildade exige coragem titânica, como provam os mártires, de São Estêvão a Maximiliano Kolbe, que enfrentaram a morte com fé inabalável. Nietzsche, em seu delírio, confunde força com arrogância e fraqueza com virtude.

  • A mentira do ressentimento: Nietzsche alega que o cristianismo nasce do ressentimento dos oprimidos contra os poderosos. G.K. Chesterton, em Ortodoxia (1908), desmonta essa fábula: "O cristianismo não é a revolta dos escravos, mas a revelação divina que redime todos" (cap. 9). A mensagem de Cristo, enraizada no amor e na cruz, transcende classes, como afirma Gálatas 3:28: "Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher, pois todos sois um em Cristo Jesus." Nietzsche, cego por seu elitismo, ignora que o cristianismo uniu a humanidade sob a verdade divina, não sob o ódio. Cabe nisto, por fim, a máxima esquerdista: “xingue-os do que você é, acuse-os do que você faz”.

  • A universalidade cristã contra o elitismo venenoso: A visão nietzschiana de um Übermensch que cria valores próprios é uma fantasia elitista que despreza a dignidade universal. Tomás de Aquino, em sua Suma Teológica, ensina: "A lei moral divina é gravada na razão de todo homem, guiando-o à verdade" (I-II, q. 94, a. 2). O cristianismo oferece salvação a todos, enquanto Nietzsche, em sua soberba, condena as massas ao papel de "rebanho". Sua filosofia é uma sentença de morte à coesão social, promovendo uma aristocracia egoísta que destrói a comunidade.

2. Aniquilando a acusação de repressão cristã

Nietzsche, Crowley e a Sociedade Alternativa acusam o cristianismo de reprimir os instintos humanos com culpa e medo. Essa mentira é uma afronta à liberdade que a moral cristã proporciona, guiando o homem à verdadeira realização em Deus.

  • A liberdade na ordem divina: A moral cristã, fundamentada nos Dez Mandamentos e no Sermão da Montanha (Mateus 5–7), não esmaga os instintos, mas os ordena para a glória de Deus. Santo Agostinho, em Confissões (c. 400), proclama: "Nosso coração está inquieto até repousar em Ti" (Livro I, cap. 1). A castidade, a caridade e a obediência não são algemas, mas asas que elevam o homem acima de seus desejos desordenados. Rodney Stark, em A Ascensão do Cristianismo (1996), demonstra que as comunidades cristãs primitivas floresceram por sua moral elevada, que trouxe estabilidade e prosperidade, contrastando com o caos pagão.

  • Culpa como redenção, não como opressão: Nietzsche ridiculariza a culpa, mas ela é o chamado divino à conversão. Dietrich Bonhoeffer, em Ética (1949), afirma: "A culpa é a voz de Deus que nos convoca ao arrependimento" (cap. 2). Longe de manipular, a culpa cristã liberta, guiando o pecador à reconciliação, como em Lucas 15:7: "Haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende." A rejeição nietzschiana da culpa abre as portas ao relativismo, onde o mal não encontra freios, como visto na decadência moral da modernidade.

  • A Sociedade Alternativa: um grito de anarquia: O lema telêmico de Crowley, "Faze o que tu queres", ecoado pela Sociedade Alternativa de Raul Seixas e Paulo Coelho, é uma receita para a destruição. Edmund Burke, em Reflexões sobre a Revolução na França (1790), adverte: "A liberdade sem moralidade é uma quimera que conduz à tirania" (cap. 4). No Brasil, a Sociedade Alternativa, com suas promessas utópicas, alimentou a desordem da contracultura, promovendo hedonismo e rebeldia contra a ordem cristã. Robert Bellah, em Hábitos do Coração (1985), documenta como esse individualismo desenfreado fragmentou famílias e comunidades, provando a falência dessa ideologia.

3. A Igreja: bastião da civilização, não tirana

Nietzsche acusa a Igreja de manipular as massas com dogmas e medo. Essa calúnia é uma traição à história, que revela a Igreja como a guardiã da verdade e da civilização.

  • O legado glorioso da Igreja: A Igreja Cristã é a arquiteta da civilização ocidental. Christopher Dawson, em A Religião e a Ascensão da Cultura Ocidental (1950), mostra como mosteiros cristãos salvaram o conhecimento clássico, enquanto escolas e hospitais católicos construíram as bases da educação e da saúde modernas. Mateus 25:40 ("O que fizeram a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizeram") inspirou a caridade cristã, desde as obras de São Vicente de Paulo até a Cáritas contemporânea. Nietzsche, em sua cegueira, ignora esse legado de amor e serviço.

  • Dogma: a verdade que liberta: Os dogmas cristãos não são correntes, mas faróis da verdade divina. O Papa João Paulo II, em Fides et Ratio (1998), declara: "Fé e razão são duas asas que elevam o homem à verdade" (introdução). O Credo Niceno é uma âncora que unifica os cristãos, oferecendo uma cosmovisão que dá sentido à existência. Nietzsche, com seu relativismo, não oferece nada além de um vazio niilista.

  • A igualdade cristã contra o desprezo nietzschiano: Nietzsche chama as massas de "rebanho", revelando seu desprezo pelos humildes. São João Crisóstomo, no século IV, ensina: "A alma do mais pobre é tão preciosa quanto a do rei" (Homilia sobre Mateus). O cristianismo exalta a dignidade de todos, enquanto Nietzsche, com seu elitismo, condena a maioria à irrelevância.

4. A ameaça mortal da cultura nietzschiana e telêmica

A visão de Nietzsche de uma cultura do Übermensch e a Thelema de Crowley são venenos que corroem a ordem moral e social, oferecendo apenas caos em troca de falsas promessas de liberdade.

  • Relativismo: o caminho para o abismo: Uma cultura nietzschiana, onde cada um cria seus valores, é uma sentença de morte à moralidade. Roger Scruton, em Filosofia Moderna (1994), alerta: "Sem uma moral comum, a sociedade se dissolve em conflito" (cap. 10). A contracultura dos anos 1960, impregnada de ideias nietzschianas e telêmicas, trouxe drogas, promiscuidade e desagregação familiar, como analisa Allan Bloom em O Declínio da Cultura Americana (1987). No Brasil, a Sociedade Alternativa de Raul Seixas romantizou essa anarquia, deixando um rastro de confusão moral.

  • A Sociedade Alternativa: uma farsa utópica: Raul Seixas e Paulo Coelho, com sua Sociedade Alternativa, venderam uma utopia irresponsável que seduziu jovens com promessas de liberdade sem limites. Russell Kirk, em A Mente Conservadora (1953), sentencia: "A liberdade verdadeira exige ordem moral, não a rejeição de toda autoridade" (cap. 1). A música "Sociedade Alternativa" (1974) glorificou a rebeldia, mas não ofereceu nada além de ilusões, contribuindo para a erosão dos valores cristãos no Brasil.

  • O perigo da capilarização nietzschiana: Como observamos, as ideias de Nietzsche, mesmo destinadas a uma elite, capilarizaram-se para as massas, com resultados devastadores. O nazismo, que distorceu o Übermensch para justificar horrores, é um exemplo gritante. O cristianismo, por outro lado, inspirou movimentos de justiça, como os de São Francisco de Assis e Martin Luther King Jr., guiados por Mateus 5:9: "Bem-aventurados os pacificadores."

5. Desmascarando a ambição pessoal de Nietzsche e Crowley

Nietzsche e Crowley não criticam o cristianismo por sabedoria, mas por orgulho desmedido. Suas filosofias são monumentos à sua própria vaidade.

  • Nietzsche: o falso profeta: A autoproclamação de Nietzsche como "dinamite" em Ecce Homo (1888) é um grito de arrogância, não de genialidade. Alister McGrath, em O Crepúsculo do Ateísmo (2004), expõe: "Nietzsche rejeitou o cristianismo para erguer um altar a si mesmo" (cap. 3). Ele não queria libertar, mas dominar, substituindo a Igreja por sua própria visão elitista.

  • Crowley: o charlatão telêmico: Crowley, com seu título de "Grande Besta 666", é um charlatão que usou a Thelema para inflar seu ego. C.S. Lewis, em A Abolição do Homem (1943), adverte: "Quem busca ser seu próprio deus torna-se seu próprio tirano" (cap. 3). A vida de Crowley, marcada por depravação, é a prova de sua falência moral.

  • A Sociedade Alternativa: uma fraude cultural: Raul Seixas e Paulo Coelho, com sua Sociedade Alternativa, são cúmplices dessa farsa, usando a música para espalhar ideias telêmicas que minaram a moral cristã no Brasil. Sua utopia era uma máscara para a rebeldia sem propósito, como denuncia Olavo de Carvalho em O Jardim das Aflições (1995): "A contracultura brasileira trocou a verdade pela ilusão de liberdade" (cap. 5).

6. A vitória eterna da cultura cristã

O cristianismo não apenas sobreviveu aos ataques de Nietzsche e seus seguidores, mas brilha como a luz da verdade em um mundo de trevas.

  • Resiliência inquebrável: Contra o Iluminismo, o nietzschianismo e o secularismo, o cristianismo permanece firme. Rodney Stark, em O Triunfo do Cristianismo (2011), afirma: "O cristianismo cresceu porque responde às necessidades humanas de sentido e moralidade" (cap. 10). Das catacumbas às catedrais, sua força é inabalável.

  • Clareza moral incomparável: O Sermão da Montanha (Mateus 5–7) oferece princípios eternos de amor e justiça, superando o vazio nietzschiano. T.S. Eliot, em Notas para a Definição de Cultura (1948), proclama: "A cultura ocidental é impensável sem o cristianismo" (cap. 2).

  • Legado cultural sublime: De Dante a Bach, o cristianismo inspirou obras-primas que envergonham as frágeis utopias de Nietzsche e da Sociedade Alternativa. A fé cristã é a alma da civilização.



Conclusão

Nietzsche, Crowley e a Sociedade Alternativa são inimigos da verdade, propagando mentiras que envenenam a alma e destroem a sociedade. Suas ideias, nascidas do orgulho e do relativismo, não resistem à luz do cristianismo, que oferece redenção, ordem e esperança. Como São Pedro nos exorta, "Estejam sempre preparados para dar a razão da esperança que há em vocês" (1 Pedro 3:15).

Concluímos, deste modo, que o cristianismo é a rocha inabalável contra o niilismo nietzschiano e a anarquia telêmica.

Que a cruz triunfe sobre os falsos profetas.



Walter Biancardine