Azucrinado por me julgar incompreendido por aqueles que leem meus artigos, livros ou acompanham as análises do YouTube, resolvi racionar aparições e comentários não apenas por frustrações pessoais mas, principalmente, por chegar ao ponto de eu mesmo provocar brigas e desentendimentos entre os poucos que ainda prestam atenção em mim.
Uma longa semana de abstenção se passou e ontem, domingo, seria o dia de fazer a live da semana mas – não ouso apontar quem o provocou – meu computador pifou poucas horas antes.
Demorada jornada de reparos se seguiu e nesse meio tempo deu a hora da Ave Maria. Como de costume, acendi uma vela e rezei, ainda que desconcentrado e ansioso para resolver o problema de meu instrumento de trabalho. As horas passaram, nada de solucionar o defeito mas uma coisa curiosa aconteceu: sei, por experiência, que a vela acendida às 18h dura em média três horas e já eram quase onze da noite e a mesma, já derretida, espalhara sua chama pelos pavios de velas anteriores que eu acendera – o fogo persistia, me chamando ou, na realidade, me puxando pelas orelhas para meditar.
Era Deus Pai, Todo Poderoso, esfregando em minha cara as verdades que o orgulho, a infantilidade e a preguiça me impediam de ver.
Não vou narrar o longo caminho que percorri até entender a mensagem – na verdade, uma determinação generosa – que agora exponho: os que me acompanham sabem dos problemas que enfrento e, portanto, é desnecessário repeti-los aqui. Entretanto, na verdade, não são problemas e sim uma oportunidade que o Pai me oferece.
Em meio a uma barafunda de pecados insistentemente cometidos ao longo de uma vida inteira – salpicados por declarações pomposas de desejos de solidão rural – compreendi que nada mais tenho a buscar nessa vida, a missão que me foi dada está (porcamente) cumprida e tudo o que se sucede hoje é, na verdade, uma generosa mão estendida por Deus para que eu tenha ainda alguma chance de redimir minha alma e, se tudo der certo, tentar merecer ao menos a oportunidade do purgatório.
Sim, pois sem essa chance o meu destino post mortem seria o inferno, puro e simples. Direto, sem escalas.
Tudo se encaixa: o lugar aqui é lindo – eu poderia cumprir esta sentença sob uma marquise ou em uma favela – mas é árido, duro, exige força; e mesmo a solidão que tanto me queixo é providencial, pois impede que minhas ações, decisões ou falas prejudiquem mais gente além das que já infelicitei.
E não há como não reparar no sutil senso de humor de Deus Pai, que me sentencia cumprir pena (melhor dizendo, buscar minha chance) em um tipo de lugar que tanto quis! Um misto de ironia e generosidade!
Faltavam exatos sete minutos para a meia noite quando o último resto de pavio, entre os restantes afogados na cera de orações anteriores, se apagou. E compreendi a verdade.
Deus é justo, está sempre presente, não nos abandona e mesmo aquilo que julgamos um mal é, na verdade, carinhosa advertência que Ele nos dá – e, no meu caso, a mão de um pai ajudando a salvar minha alma com a chance do purgatório.
Nada mais tenho a reclamar, tudo está compreendido, devo apenas agradecer.
E cumprir o tempo que me resta.
Walter Biancardine
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