terça-feira, 23 de dezembro de 2025

NATAL COM UM AMIGO -


Nunca fui referência para ninguém; toda a minha vida sempre foi estranha e contraditória e mesmo tantos anos frequentando redes sociais - os quais acabaram por situar-me como um "conservador" aos olhos alheios - jamais conseguiram aprisionar meu monstro interior em rótulos, embalagens e definições, as quais apenas tornam todo o universo que habita a alma humana em um porco e simplório estereótipo.

Onde um conservador - dos atuais, daqueles que postam no Instagram e estão a apenas um degrau abaixo da santidade do padre Pio de Pietrelcina - se embebedaria até cair desmaiado, em casa? Onde um legítimo guardião da moral e dos bons costumes espiaria, sedento, a bunda de sua linda amada em qualquer descuido que ela desse, mesmo não sendo ainda casado com ela? Em que hipótese apocalíptica este conservador - bastião da correção de atitudes - jamais teria oferecido uma "merreca" pro guarda liberar seu carro com IPVA atrasado?

Sim, esta coisa imunda, abominável, falha e quase inviável - também chamada de "ser humano médio" - sou eu, e por isso o cotidiano hipócrita da "direita conservadora" (essa, a do Instagram) tem me enojado e forçado a conclusão de que a mesma é apenas uma esquerda com sinal trocado.

Se a esquerda tem papagaios que apenas repetem slogans e palavras de ordem, os "conservadores de Instagram" são capazes de repetir artigos, textos ou até videos inteiros, como fossem de sua autoria. Repetem ad nauseam temas que já passaram, se detém em factóides que são, claramente, "false flags" - a sandália Hawaiana é um deles, pois enquanto todos repetiam opiniões alheias, ninguém comentou a sobretaxa de 30% de imposto em bebidas alcoólicas (o "Imposto do Pecado", aprovado pelos deputados Federais) ou a nova lei que invalida a CNH de devedores.

E então chega o Natal, data que a vida já se encarregou - com soberba competência - de retirar todo o significado para mim e transformou a Noite Feliz em um enorme e empoeirado galpão de lembranças inúteis. Olho para o que fiz, no inevitável balanço de fim de ano, e descubro que passei uma vida lutando contra o inimigo errado: soubesse eu o que sei hoje e jamais teria desperdiçado tanto tempo lutando contra ideologias, quando o maior problema é a falta de caráter dominante.
E me sento no sofá.

Quis o bom Deus que eu tivesse ao menos um amigo fiel, o bom e velho Jack, e com ele me consolasse de tais desvios do destino.

Sim, Jack - o Daniel's - é um bom sujeito: me dá a liberdade de falar o que sequer sabia que poderia, me deixa à vontade para me perder em galanteios chorosos pela amada que não me quer, me faz esquecer uma lenda chamada dinheiro - sim, em minha vida é lenda - e me dá a coragem necessária para dizer um amplo, sonoro e corajoso "dane-se" para todas as minhas dívidas, minhas lutas inglórias, minhas asneiras olímpicas e toda a ampla coleção de equívocos que me tornaram isso que sou: alguém que chamam de "conservador" mas não passa de imundo pecador.

Sim, pois não tenho estofo d'alma para preencher os requisitos morais do conservadorismo do Instagram.

Resta-me eu, o amigo Jack e uma boa ressaca no dia 25.

Feliz Natal a todos!


Walter Biancardine


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