Não deixe flores em minha tumba,
Não traga coral nem carpideira imunda,
Sem discurso de amigo ou mesmo oração,
Só me deixe na terra que me fez.
Não sou a soma de suas rezas,
Não sou nem o tipo que tu prezas,
Segui na estrada fechando a mão,
Sem perguntar ao fazer outra vez.
Não peça licença para me enterrar,
Não encomende minha alma de novo,
Fiz as pazes com a ferrugem e o pecado,
Sem roupas melhores para o homem que fui.
Sem verdades na lápide, nem última olhada,
Só deixe o silêncio me puxar,
Não deixei uma última edição,
Me enterre sem permissão.
A cova não pergunta quem trai,
Nem se importa com dívidas,
Sete palmos abaixo, nenhum favor me deve,
Ela só guarda o que o tempo vai apagar.
Me enterre sem permissão, sem padre ou contrição,
Me xingue de nomes ou cuspa o meu,
Mas não finja que começo de novo,
Sem mãos postas ou palavras bonitas.
Ganhei o direito ao bem e ao mal,
Não é nenhuma superstição,
Apenas me enterre
Sem esperar permissão.
Walter Biancardine

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