E chega a noite de sexta feira, as horas vão passando e a noite avança.
A primeira estrela, minha companheira desde a juventude, apareceu e fiz o pedido diário. Não mais alguém que me livre da solidão, como pedia desde meus 15 anos, mas meu sustento.
Sim, pois voltando à dignidade, poderei morar onde mora gente e encontrar, por mim mesmo, alguém que me queira.
Mas o relógio nunca pára e a noite seguiu.
Há muito qualquer chance de avistar alguém – um boiadeiro ou peão qualquer – já se foi. Normalmente não são vistos e em uma noite de sexta, desaparecem por direito e merecimento.
Saio de minha casinha e olho em torno: só escuridão, grilos cantando em coro com os sapos da lagoa e nem mesmo as amigas vacas ou os compadres cavalos estão por aí. Um deserto.
Um alucinante, silencioso e pesado deserto que pior fica ao lembrar-me que, em um raio de quilômetros, sou eu a única alma viva a contemplar a imensidão de nada a minha volta.
Me afasto de casa, caminhando lentamente e falando sozinho, como faço todas as noites. Aproveito a brisa fresca, entro pelo pasto onde só a lua o ilumina e procuro um cupinzeiro para sentar.
Continuo falando sozinho, resmungando confiante em minha decisão de virar a página, mas a lua não perdoa e enxergo claramente os quilômetros de vazio, que fazem as saudades da vida que tive crescerem em igual proporção à sua grandeza.
Sexta feira e não mais uma viagem com quem amo. Sexta feira e não mais um chope com amigos. Sexta feira e não mais receber alguém na casa que um dia tive. Sexta feira e não mais a conversa fiada no sofá da sala, ambos exaustos após um dia de trabalho – só eu e quem um dia me amou.
Sexta feira e não mais nada, solitário entre quilômetros de angústia, uma sentença perpétua medida em hectares. Em algum momento da madrugada o sono vencerá a solidão e adormecerei, eu e eu, dando boa noite a mim mesmo.
Mas amanhã é sábado e o sol nascerá novamente – só para mim, sozinho, andando pela estrada deserta e muda.
Eu fiz um pedido á minha estrela, ela não costuma falhar.
Quero resultados dos meus trabalhos, dos livros que escrevi, dos artigos que publiquei, dos vídeos tão perseguidos. Quero um emprego. Quero pagar aluguel.
Não peço mais ninguém em minha vida, pois bem sei o que sou.
Só quero dignidade.
Walter Biancardine
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Tais causos – a versão roceira das lendas urbanas – foram por mim escutados desde muito jovem, na então pequena e desconhecida cidade de Cabo Frio, Região dos Lagos, Rio de Janeiro.
Não ouso dizer que nenhuma delas seja verdadeira, contudo tantas e tão repetidas vezes as ouvi que resolvi publicá-las em livro, para que ganhem a notoriedade – ou infâmia – merecida.
Divirtam-se com elas.
Mas se me perguntarem se é tudo verdade, jurarei que só ouvi dizer.
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